null Medicina veterinária: amor à saúde animal

Seg, 21 Junho 2021 17:33

Medicina veterinária: amor à saúde animal

A primeira turma de medicina veterinária da Unifor se forma comprometida com o bem-estar animal e às voltas com pesquisas inovadoras e empreendedorismo.


Da esquerda para a direita: Carlos Gabriel, Beatriz d'Almeida e Kesia Alves de Queiroz, futuros veterinários apaixonados pela profissão. (Fotos: Acervo Pessoal)
Da esquerda para a direita: Carlos Gabriel, Beatriz d'Almeida e Kesia Alves de Queiroz, futuros veterinários apaixonados pela profissão. (Fotos: Acervo Pessoal)

Um filhote sim. Mas com potencial para crescer robusto e rugir alto no campus. Esbanjando saúde animal, o curso de graduação em Medicina Veterinária da Universidade de Fortaleza, instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz, completa cinco anos de existência, legando ao mercado profissional sua primeira turma de 12 concludentes. 

Na bagagem, ecos de inconteste aprovação: egressos não veem a hora de colocar à prova competências técnico-científicas experimentadas in loco e creditadas à infraestrutura-modelo que apostou não só na funcionalidade de salas de aulas, laboratórios, clínicas e centros cirúrgicos, como também no aprendizado orgânico nascido em meio a 757,10 m² de natureza viva intencionalmente adaptada para simular fielmente um ambiente rural e a rotina de manejo e criação em uma fazenda. 

Um campus dentro do campus, com três blocos estrategicamente dispostos em torno de um Centro de Treinamento Veterinário capaz de acolher animais de pequeno e grande portes, incluindo aves, caprinos, ovinos, bovinos, suínos e equinos. Tudo em uníssono, voltado à compreensão simultânea das múltiplas habilidades exigidas para o exercício da profissão; contemplando, portanto, as mais diversas especialidades e áreas de atuação possíveis em medicina veterinária.


“Nosso curso já nasce diferenciado porque aposta em metodologias ativas. O aprendizado é contextualizado e parte da resolução de problemas, convidando à aplicação do conhecimento, já que o aluno encontra no campus as condições ambientais e tecnológicas para ter contato direto não só com cães e gatos, mas também com animais de produção, adquirindo em paralelo uma real noção do que é trabalhar com Saúde Única, ou seja, ciente de que cuidar da saúde animal é cuidar da saúde do ambiente e das pessoas que fazem parte de um mesmo ecossistema”
- Marília Taumaturgo, coordenadora do curso de Medicina Veterinária.

Para Marília Taumaturgo, coordenadora do curso de Medicina Veterinária, o currículo feito de módulos integrados é outro “pulo do gato”. Isso porque todo saber epidemiológico, fisiológico, patológico ou morfofuncional envolvendo a prática clínica e os procedimentos cirúrgicos em animais de companhia ou produção não aflora sozinho em sala de aula, associando-se a teorias correlatas e tópicos afins, como legislação e ética profissional, bem-estar animal, normas da vigilância sanitária ou agronegócio. Assim, ensino, pesquisa e empreendedorismo vêm crescendo juntos em um curso que se pretende referencial – e já coleciona provas de que é e será.

“Graças ao alto nível de nosso corpo docente não demoramos a conquistar reconhecimento nacional e protagonismo em pesquisas experimentais que dizem respeito à produção, inspeção e tecnologia de produtos de origem animal. Vinculados ao Núcleo de Biologia Experimental (NUBEX), professores-pesquisadores da medicina veterinária têm envolvido cada vez mais discentes em laboratórios e grupos de estudos interdisciplinares que se voltam para investigações científicas de ponta, a exemplo da clonagem de animais transgênicos e produção in vitro de embriões para o desenvolvimento de fármacos essenciais ao tratamento de raras e complexas doenças humanas. O futuro, portanto, nos parece mais do que promissor”, torce Marília. 

Veterinária, com louvor!


Lorena Santos esteve entre os primeiros alunos
da graduação em Medicina Veterinária da Unifor. (Foto: Acervo Pessoal)

O voo Fortaleza-Brasília às vésperas da colação de grau foi para concluir com louvor o estágio supervisionado obrigatório que antecede a conclusão do curso de Medicina Veterinária na Unifor. Prestes a figurar entre os 12 concludentes da primeira turma, em julho próximo, a futura veterinária Lorena Santos Bezerra, 25, já comemora o fato de ter se beneficiado desse intercâmbio oferecido aos graduandos particularmente interessados em Patologia Animal

“Um dos diferenciais e motivos pelos quais optei pela graduação na Unifor foi o amplo leque de oportunidades que uma formação voltada às mais diversas áreas de atuação da Medicina Veterinária pode dar. Também ressalto a vivência prática que experimentamos junto aos animais de companhia, como cães e gatos, e principalmente entre os animais de fazenda presentes no campus e ao alcance de nossas mãos. Tudo isso cedo me fez escolher a Patologia Animal como área central de atuação profissional”, afirma Lorena. 

A mão no canudo, portanto, é só a confirmação de uma investigação contínua em torno de doenças que acometem animais domésticos, silvestres e de produção e as alterações por elas causadas nos níveis celular, tecidual e orgânico dos bichanos. “Daí porque até a qualidade dos microscópios de ponta que tive acesso na Unifor fez total diferença na minha formação, já que a anatomia patológica utiliza ferramentas de diagnóstico microscópicos e macroscópicos, considerando os níveis moleculares, citológicos e histológicos das alterações provocadas por doenças”, explica.  

Digna de nota, a graduação em Medicina Veterinária não deixou de apresentar desafios. Lorena lembra que, em meio à pandemia da Covid-19, bateu a insegurança quando se viu impedida de realizar atividades presenciais em um curso predominantemente prático. “A turma toda se perguntava como consolidar o conhecimento sem a prática, mas, surpreendentemente, a Unifor elaborou e nos apresentou novas metodologias de ensino virtual que acabaram funcionando bem [...]. Ou seja, os recursos tecnológicos entregues foram muito eficazes na transmissão do conteúdo [...]. Prova disso são os resultados satisfatórios que obtivemos em nossos respectivos estágios obrigatórios”, reforça.

Canudo na mão, bem-estar na cabeça


A estrutura é um dos principais diferenciais do curso de Medicina Veterinária
ofertado pela Unifor (Foto: Acervo Pessoal / Késia Alves)

Muito estudo sim, inclusive com o auxílio luxuoso da chamada “bibliovet”, biblioteca virtual com títulos especializados em Medicina Veterinária especialmente criada em meio ao acervo de livros da Biblioteca Central da Unifor. Tudo em nome do bem-estar animal. A formanda Késia Alves de Queiroz, 37, deixa a graduação em Medicina Veterinária na Unifor certa de que, para ser uma boa clínica, até o espaço físico destinado à consulta ou internação faz a diferença quando a ordem é amenizar a dor de um animalzinho doente ou não causar estresse desnecessário aos que são forçados a deixar temporariamente seu habitat natural. 

“Cada detalhe no ambiente e no modo de tratar repercute no processo de recuperação de um animal. Engana-se quem pensa o contrário. Eu sou do tipo que já entro no canil conversando e acarinhando os que estão ali internados ou presos. Na hora de aplicar um medicamento até a entonação da voz precisa mudar e é assim, atenta não só às doenças mas também aos sentimentos dos animais, que devo atuar profissionalmente”, anuncia.

Como integrante da primeira turma de concludentes do curso, Késia enfileira ganhos, embora também se ressinta das perdas acarretadas pela interrupção das aulas presenciais em meio à pandemia da Covid-19. “Em primeiro lugar é preciso ressaltar a qualidade do corpo docente, porque os professores deram um show, sobretudo quando as aulas passaram a ser virtuais! Segundo, destaco a eficiência dos estudos de caso na Unifor. Acho que a partir da resolução de problemas, aprendemos os conteúdos para sempre”, destaca. 

Para Késia, outro ponto alto na Medicina Veterinária é o contato direto com os animais de fazenda, desde o primeiro semestre. “Já havia iniciado Veterinária em outra Universidade e não havia nada parecido com essa infraestrutura disponibilizada pela Unifor. As disciplinas ofertadas também eram bem aquém, não havendo, por exemplo, nada voltado aos animais silvestres e nem um menu tão variado de optativas quanto a que tivemos acesso. Foi a partir de uma delas, aliás, que me decidi pela oftalmologia: estudando neonato e geriatria encontrei o norte que precisava para a clínica de cães e gatos recém-nascidos e idosos”, festeja.  

De Dolly a Gluca

É com orgulho e ciente de que a pesquisa no vasto campo da Medicina Veterinária está com o futuro garantido na Universidade de Fortaleza que o médico veterinário, professor e pesquisador Leonardo Tondello exalta a sintonia cada vez mais fina entre docentes e discentes no Laboratório de Biologia Molecular e do Desenvolvimento. Vinculado ao Núcleo de Biologia Experimental (NUBEX), é lá que ele próprio coordena pesquisas com foco em engenharia genética, utilizando ferramentas diversas que passam pela Medicina Veterinária e se valem de conhecimentos específicos da área. 

Em destaque, estão os projetos relacionados à produção de biofármacos a partir de animais geneticamente modificados. Uma concentração de esforços e competências técnico-científicas voltadas para o desenvolvimento das “drogas inteligentes” mais caras do mundo, aquelas capazes de atuar no combate a diversos tipos de câncer ou doenças auto-imunes em humanos.

Aluno do 4º semestre do curso de Medicina Veterinária da Unifor, Carlos Gabriel Almeida Maia, 19, não demorou a descobrir que pesquisas do tipo são a sua “praia”. Tornar-se bolsista de iniciação científica para integrar todo e qualquer projeto que contemple sua área de interesse - a embriologia molecular - passou então a ser prioridade. 

“Já no Ensino Médio, não tinha dúvida sobre vir a ser cientista. Quando optei pela Unifor, sabia da existência do NUBEX e da fama de pesquisas pioneiras relacionadas à clonagem e produção in vitro de embriões. Então, imagina o tamanho da minha empolgação quando me vi emergindo frente ao desafio de desenvolver um anticorpo monoclonal, como o Anti-VEGF para, a partir do leite de uma cabra transgênica, auxiliar no tratamento de alguns tipos de câncer. Melhor do que isso só se tivesse participado do nascimento da Gluca!”, afirma Carlos, com entusiasmo.

Em tempo: Gluca nasceu em Fortaleza, ainda em 2014. Foi ela quem ficou famosa por ser a primeira cabra clonada e transgênica do Brasil, despertando em Calos Gabriel a paixão pela ciência ao alcance das mãos, já que a Unifor participou diretamente do experimento que resultou no desenvolvimento da proteína glucocerebrosidase, a partir da transgenia de caprinos, revolucionando assim o tratamento da doença de Gaucher, que pode causar aumento do fígado e baço, entre outras manifestações clínicas. “Meu ímpeto é, cada vez mais, colocar a mão na massa e me dedicar à pesquisa para que outras ‘Glucas’ venham ao mundo trazendo mais saúde humana e animal”, encerra Carlos.

Como produzir um animal geneticamente modificado?



“Primeiro precisamos dispor de um rebanho de animais. No caso da Medicina Veterinária da Unifor trabalhamos mais com os caprinos, então a partir daí precisamos atentar para manejo sanitário, manejo nutricional, bem-estar animal... Some-se a isso a ferramenta para produção dos animais geneticamente modificados: clonagem animal. É a mesma técnica usada para a geração da ovelha Dolly, a primeira clone do mundo, gerada a partir de células adultas. Mas agregamos uma etapa a mais, justamente para inserirmos o transgene nos animais geneticamente modificados. E o que isso envolve? Manipulação de ovócitos e embriões, transferência de embriões por via cirúrgica, o atendimento neonatal, já que os partos são feitos por cesariana em animais geneticamente modificados... então todos os caminhos levam à Medicina Veterinária”

Leonardo Tondello, médico veterinário, docente e pesquisador no Núcleo de Biologia Experimental (NUBEX).

Os unguentos das terapias restaurativas

Não à toa, para além das pesquisas mencionadas, Leonardo Tondello orgulha-se por mais um de seus filhotes: “Outro projeto de pesquisa que tem empolgado voluntários ou bolsistas de iniciação científica é aquele relacionado ao desenvolvimento de diferentes terapias regenerativas para tratamento de doenças em animais. Nesse caso, está em jogo o uso de células-tronco e do plasma rico em plaquetas. Também temos desenvolvido produtos biológicos para terapia gênica em animais. E isso reverbera no empreendedorismo, outro foco de atenção da universidade ao formar profissionais do século XXI. É que grande parte dos projetos de pesquisa são desenvolvidos em cooperação com empresas e startups. E assim os alunos, desde cedo, começam a ter contato com o ambiente empresarial, algo fundamental para o crescimento profissional e o fomento da própria pesquisa no Brasil e no mundo”.

Estudante do 9º semestre da graduação em Medicina Veterinária da Unifor, Beatriz d’Almeida, 23, tem dupla motivação para mergulhar fundo nas pesquisas relacionadas às terapias regenerativas: antes mesmo de prestar vestibular, sua cadelinha Julieta enfrentou uma cirurgia na coluna e precisou como nunca do saber científico para chegar à plena recuperação. “Foi assistindo de perto à cirurgia e acompanhando os procedimentos adotados pela veterinária que acabei descobrindo minha própria vocação profissional e vi também despertar minha curiosidade científica, já que ela colaborava, à época, com os grupos de pesquisa ligados ao NUBEX”, relembra.

O ímpeto, desde então, foi cursar Medicina Veterinária para que pesquisas científicas tivessem alcance massivo, beneficiando a quem mais precisa. E assim é que os bioprodutos voltados à cicatrização e tratamento de lesões em animais se tornaram centro de interesse. “O caminho que tem início com os testes laboratoriais até chegar às prateleiras para a comercialização e acesso a esses produtos é longo e exige de nós um conhecimento correlato sobre empreendedorismo e marketing. Quero investir nisso também e ser uma cientista capaz de empreender e mobilizar parcerias para democratizar tratamentos que irão, cada vez mais e com crescente rigor científico, combater doenças em animais e humanos”, declara Beatriz, cheia de sonhos e propósito.