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Ter, 2 Junho 2020 10:23

Entrevista Nota 10: Alexandra Siebra e os caminhos e habilidades do profissional de Contábeis

Coordenadora do curso de Ciências Contábeis da Universidade de Fortaleza fala sobre novos caminhos e habilidades profissionais.


Alexandra Siebra é Contadora, pedagoga, psicopedagoga e doutoranda em Administração e Controladoria (Foto: Ares Soares)
Alexandra Siebra é Contadora, pedagoga, psicopedagoga e doutoranda em Administração e Controladoria (Foto: Ares Soares)

“Eu não queria ser uma contadora dando aula, eu queria ser uma educadora”. Foi com esse pensamento que Alexandra Siebra, atual coordenadora do curso de Ciências Contábeis da Universidade de Fortaleza, pautou sua formação. Contadora, pedagoga, psicopedagoga e doutoranda em Administração e Controladoria com ênfase em estratégia, ela consegue pensar a área em suas múltiplas possibilidades. Por isso, quando passou a liderar o curso - logo após voltar de uma temporada de estudos na Dinamarca – Alexandra imprimiu a marca do diálogo e do contato com o mercado. Na entrevista a seguir, a educadora fala sobre o relacionamento com as empresas, a formação multidisciplinar e as habilidades necessárias para os profissionais de ciências contábeis.

Entrevista Nota 10 – Como nasceu a sua relação com a Unifor?

Alexandra Siebra - Eu estava fazendo o meu doutorado na Dinamarca, quando recebi o convite da diretora do CCG e ela me perguntou se eu tinha interesse na vaga e eu fiquei muito envolvida, pois era um desafio muito grande. Eu já sabia que a Universidade de Fortaleza havia recebido o reconhecimento internacional, dentre vários outros prêmios que ela já possuía e eu fui estudar a empresa. Porque, eu costumo dizer para os meus alunos o seguinte: quando alguém me entrevista, eu também entrevisto a empresa. Eu preciso saber quem é. Eu sabia o papel da Unifor entre outras IES, pois a minha mãe trabalhou aqui por 18 anos. Eu cresci nos corredores da Unifor, estudei na biblioteca, eu brincava aqui. Quando veio a proposta, teve o momento da emoção, pois eu estava voltando à casa da minha mãe, onde ela viveu por 18 anos, mas teve a questão de identificar se a Universidade de Fortaleza era, realmente, uma universidade que tinha como proposta a qualidade tanto no ensino, quanto na pesquisa e extensão. Que é a minha proposta de vida, enquanto contadora e professora. Comecei a estudar e descobri que o fundador da universidade, o chanceler Edson Queiroz, era técnico contábil. Foi revelador, saber que tudo veio de uma pessoa com formação em contabilidade, de uma ciência social aplicada, e isso já me motivou muito. Quando eu percebi que a Unifor tinha toda essa estrutura e tinha o ideal de transformação da sociedade, foi definitivo. Mesmo da Dinamarca, eu falei com a diretora Danielle Coimbra que aceitava passar pelo processo seletivo, fui entrevistada de lá, e quando cheguei no Brasil, já estava decidido que seria na Unifor o meu lugar. Essa nova trajetória, e que, de alguma forma, eu conseguiria propiciar uma transformação social por meio da profissão, do curso e dos alunos.

Entrevista Nota 10 – Como está sendo esse novo momento liderando a graduação em ciências contábeis na Universidade de Fortaleza?

Alexandra Siebra - Bom, esse momento é único na minha vida por vários motivos, e é importante relembra uma frase proferida, em 1973, na criação da Unifor pelo então chanceler Edson Queiroz: "Educação é gênero de primeira necessidade e investimento prioritário". Ou seja, sempre foi e continua sendo nossa maior riqueza a educação, sendo agora, em 2020, reconhecida como uma das melhores instituições de ensino em economias emergentes. Eu tenho experiência em liderar professores, mas é sempre diferente, pois as pessoas são diferentes assim como as instituições, mas posso dizer que estou muito animada em promover ações que possibilitem, cada vez mais, a parceria do curso com a sociedade, por meio da pesquisa, da extensão e do ensino.

Entrevista Nota 10 – E como começou tua história com a educação? 

Alexandra Siebra - A minha experiência, enquanto profissional de contabilidade, precede a minha formação. Eu comecei trabalhando com o meu pai, que é contador e advogado, e ao conhecer a profissão fiquei muito envolvida, pois gostava muito do que a contabilidade era capaz de proporcionar nas empresas e nas vidas das pessoas. Eu passei a fazer o curso de Ciências Contábeis na Universidade Federal do Ceará, depois fiz Finanças Corporativas – em uma busca de ter recursos, de ter uma estabilidade financeira, e de mercado. Então, para mim, foi muito tranquilo nesse primeiro momento. Mas eu passei pela indústria, pelo comércio, e quando montei a minha consultoria, que comecei a dar palestras, algumas pessoas me disseram assim: “você tem uma pegada de educadora, acho que você podia começar a ministrar aulas”. E em uma das minhas pós-graduações – eu tenho dois bacharelados, três pós-graduações, um mestrado e estou fazendo o doutorado, pois eu gosto de estudar, além dos cursos de extensão que eu estou sempre fazendo – um dos coordenadores disse que “eu acho que você está se perdendo, você deveria estar na sala de aula”. Porque, realmente, eu tenho empatia com o que o aluno está aprendendo, então, a minha preocupação era muito sobre o meu ouvinte compreender o que estou falando, e muitas vezes, provocá-lo a sair da zona de conforto. “O que você acha que é isso?” Então, eu tiro ele do senso comum, e trago ele para a realidade a partir da minha experiência. Foi aí que resolvi fazer Pedagogia. Eu não queria ser uma contadora dando aula, eu queria ser uma educadora. Eu queria ser capaz de construir essas pontes para que as pessoas pudessem alcançar o aprendizado. Elas sendo protagonistas do próprio conhecimento, não tendo que passar pelo meu conhecimento, mas eu provocando, e, de alguma forma, mostrando que esse conhecimento é acessível a todos. E percebi, durante a Pedagogia e quando comecei a dar as aulas, que as pessoas têm dificuldades de aprendizado. Dificuldades, inclusive, sinestésicas, corporais, cognitivas, procedimentais e atitudinais. Foi aí que resolvi fazer Psicopedagogia, onde eu entendi que essa dificuldade das pessoas, que é uma dificuldade muito particular, e que ela, muitas vezes, lhe impede de avançar, mesmo que você queira. E passando por isso, eu tive a oportunidade de fazer Gestão Escolar para que pudesse não só identificar as dificuldades, mas de alguma forma, trazer para o institucional os processos que eles seriam capazes de atender esse aluno. Não bastava eu ter um cenário da dificuldade do aluno, eu precisava trazer isso para dentro da instituição e mostrar para ela: “esse aluno precisa disso para conseguir atender ao resultado dele”. Então, toda a minha trajetória, enquanto profissional de contabilidade, passará a fazer todo sentido.

Entrevista Nota 10 – Como é a relação da Unifor com as empresas?
Alexandra Siebra - Hoje, nós temos o NAF - Núcleo de Apoio Contábil e Fiscal, que tem uma parceira grande com as instituições como a Receita Federal, a Secretária da Fazenda e a Secretária de Finanças. Nós temos um projeto de parceria de cooperação técnica a partir de 2020 com o Tribunal do Trabalho, onde os alunos vão ser capacitados dentro do TRT. Nós temos trazido palestrantes com temas relevantes no momento, não algo que foi relevante há três meses, mas naquela semana. Então, a gente está se antecipando às mudanças sinalizadas no mercado e trazendo as empresa para cá. Assim, a universidade abre as portas, tanto para as empresas parceiras quanto para profissionais de contabilidade e, também para nosso egressos, oportunizando essa conexão para os alunos, essa rede de contatos, que é fundamental.

Entrevista Nota 10 – Gostaria que a senhora falasse mais sobre sua formação. O profissional da contabilidade precisa ser multidisciplinar?

Alexandra Siebra - Fundamental, pois cada formação me transforma e transforma a minha percepção do outro, iniciei a contabilidade e a especialização em finanças para ser capaz de atender às demandas mais específicas do mercado em um cenário diferente do que hoje nos deparamos. Quando decidi ser professora pensei que não queria ser mais uma contadora em sala, mas uma educadora que pudesse provocar nos alunos a curiosidade sobre o que a ciência contábil propõe. Entender quais as principais dificuldades de aprendizagem que os alunos poderiam apresentar em sala e como eu poderia lhes ajudar sendo uma ponte para seus objetivos. Entendo que todos nós somos líderes de nós mesmos, precisamos gerenciar nossas turmas, pois nos importamos com cada um de forma particular. Quando ele está desmotivado, sem recursos, com dificuldades ou sem ideias ele precisa de alguém que os apoie, que tenha uma escuta e olhar sensível para perceber mesmo quando eles não pedem.

Entrevista Nota 10 – E quais são as novas habilidades necessárias para o profissional de ciências contábeis?

Alexandra Siebra - De forma muito sucinta, de acordo com a IFAC, International Federation of Accountants, a profissão contábil inclui, mas não se limita a: 1) preparar, analisar e relatar informações financeiras e não financeiras relevantes e fielmente representadas por meio de demonstrativos que estejam à disposição dos usuários diversos e que eles possam compreender o impacto de cada situação em seu negócio ou sociedade; 2) Deve também ter a habilidade de junto aos tomadores de  decisões formular e implementar estratégias organizacionais; e 3) Auditar informações financeiras e não financeiras e fornecer outros serviços de consultoria e garantia; como preparar e analisar informações fiscais relevantes.

Entrevista Nota 10 – Quais os diferenciais do curso ofertado pela Unifor?

Alexandra Siebra - A Unifor apresenta, em 2020, uma proposta muito voltada ao que se espera de um profissional contábil no século XXI, e para tanto temos como diferencial por exemplo o NAF, que é um núcleo de apoio contábil e fiscal, projeto desenvolvido pela Receita Federal, cujo objetivo é oferecer serviços contábeis e fiscais gratuitos para pessoas físicas e pessoas jurídicas de menor poder aquisitivo, não substituindo, porém, um escritório de contabilidade. Temos como premissa promover a educação fiscal e cidadã e nossos alunos voluntários, após processo seletivo, são capacitados pela Receita Federal, pela Sefaz e pela Sefin para prestar esclarecimentos posteriores à população.  Temos trilhas de conhecimento em que o aluno pode durante o curso se especializar ainda mais com foco em Marketing, Finanças, Negócios Internacionais, Cenários Econômicos e Gestão Estratégica Além disso, ofertamos disciplinas em inglês, grupos de pesquisa para iniciação científica com foco em congressos nacionais e internacionais e monitoria para alunos que desejam a carreira acadêmica. Outro diferencial repousa no fato de que, por meio de uma parceria técnica, oferecemos vagas para alunos serem capacitados em cálculos trabalhistas por professores e servidores do TRT. E também realizamos pericias em sala de aula, em parceria com Tribunal de Justiça, vivenciando casos concretos, além de palestras com temas pertinentes e relevantes para a sociedade.

Entrevista Nota 10 – A Unifor também oferta a possibilidade dos estudantes concluírem os cursos de Administração e Ciências Contábeis em apenas cinco anos. É um diferencial para o mercado?

Alexandra Siebra - Sim, isso é muito importante, pois o aluno que curso administração pode fazer o aproveitamento de suas disciplinas e concluir o curso de Ciências Contábeis em aproximadamente 18 meses, sendo um diferencial competitivo muito forte para o mercado, pois passa a contemplar um leque maior de opções de oportunidades.

Entrevista Nota 10 – O profissional de contabilidade atua também na tomada de decisões. Como os estudantes são preparados para atuar como consultores para as organizações?

Alexandra Siebra - Sua formação agora está muito voltada para analisar estrategicamente as empresas, de acordo com o ambiente em que atuam ou que vivem, e a contabilidade por ser uma ciência social aplicada é fundamental nesse processo, pois avança enquanto ciência e oportuniza soluções que atendam ao mercado cada vez mais complexo e dinâmico. A consultoria requer habilidades de gestão como a de ser capaz de elaborar planejamentos financeiros, tributários e de controle de custos. Oferecer soluções para o cliente na tomada de decisão sobre investimentos e fortalecer sua capacidade de formular estratégias com foco no objetivo do negócio e que sejam, a partir da informação, ser capazes de auxiliar as empresas na busca de vantagem competitiva e maximização da riqueza gerada. 

Entrevista Nota 10 – Muitas vezes, os contadores são lembrados apenas quando precisamos realizar a declaração do Imposto de Renda. Qual é a importância do profissional de contabilidade no cotidiano das pessoas? Esse profissional, claro, não está restrito apenas ao IR... 

Alexandra Siebra – Como eu disse, estamos em processo de evolução contínua, tanto que o que espera esse novo contador quanto o que o mercado espera dele. Eu sempre digo que nossa profissão tem fé pública e o governo demanda muitas informações para que possa acompanhar as empresas sob vários aspectos, desde seus resultados quanto ao gerenciamento de seus empregados. Mas para acompanhar todas as demandas da sociedade é preciso ir além do que se espera e oferecer mais do que atendimento de obrigações acessórias, mas construir junto das empresas o plano de ação assertivo e específico para cada organização com ou sem finalidade de lucro como associações, ONGs, fundações no seu papel social.

Entrevista Nota 10 – Nos últimos tempos, nós estamos vendo o crescimento de influenciadores que falam sobre finanças e assuntos afins. O profissional de contabilidade pode atuar como orientador para quem deseja fazer investimentos? 

Alexandra Siebra - Como eu mencionei, a contabilidade passa por um momento de disrupção e essa ocorre quando a inovação no produto ou serviço cria um novo mercado e desestabiliza os concorrentes que antes o dominavam. Para ser um influenciador, o profissional deve ser antes um pesquisador, pois o ambiente e as pessoas mudam, por isso deve ser capaz de oferecer propostas direcionadas a cada atividade, situação ou objetivo da empresa. Ou seja, como sua influência será necessária para auxiliar as empresas de qualquer porte a identificar as oportunidades e propor informações para as tomadas de decisões tempestiva e úteis.

Entrevista Nota 10 – Como o profissional da contabilidade consegue se diferenciar em um mercado tão concorrido?

Alexandra Siebra - Para se diferenciar é precisa saber onde quer chegar e como chegar. É preciso avaliar as opções e identificar as habilidades e competências demandas para essa sociedade que espera respostas cada vez mais assertivas, tempestivas e de qualidade. A acreditação da profissão deve contemplar a qualidade do serviço prestado a partir do seu potencial de evolução e adaptação às novas demandas, sejam de natureza técnica, atitudinal ou conceitual. A capacidade dinâmica do contador deve ser principalmente a de antecipar os riscos e evidenciar as oportunidades a partir da qualidade da informação contábil.