null Líderes para um novo tempo

Qui, 21 Janeiro 2021 18:51

Líderes para um novo tempo

Saiba como as inteligências múltiplas ajudam no desenvolvimento da liderança profissional


Inteligências múltiplas: teoria foi desenvolvida pelo psicólogo americano Howard Gardner (Foto: Getty Images)
Inteligências múltiplas: teoria foi desenvolvida pelo psicólogo americano Howard Gardner (Foto: Getty Images)

Desenvolver o ser humano para um novo tempo é um desafio que consome esforços da academia e das empresas. O perfil dos profissionais e, especialmente, dos líderes são lapidados sobre novos signos a cada geração quando as exigências tarimbadas no mercado de trabalho já não atendem mais aos propósitos dos negócios. E uma teoria criada na década de 1980 deve guiar os recrutamentos e as operações das empresas no Século XXI.  

É o que acredita Julio Cesar Pereira da Silva, administrador e professor da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz. "Nós precisamos desenvolver pessoas baseadas em princípios e valores. E isso não tem nada a ver com religião e política. Tem a ver com negócios", afirma, ao apontar a teoria das inteligências múltiplas do psicólogo americano Howard Gardner como a adequada para tal. 

Até 1983, o teste de QI era o mais usado para avaliar a capacidade intelectual de um indivíduo, mas Gardner desenvolveu uma forma mais adequada para este objetivo a partir do estudo com gênios e pessoas com algum tipo de deficiência. Ele observou que os testes de QI têm uma relevância limitada para vida real e apontou nove inteligências as quais fariam da mente humana um computador para todos os fins, como o próprio autor escreveu. 

São elas as inteligências Lógico-Matemática, Linguística, Espacial, Físico-Cinestésica, Interpessoal, Intrapessoal, Musical, Natural e Existencial. 

Eis que a compreensão e a aplicação dessas capacidades focadas em um objetivo comum a um grupo/empresa são consideradas as competências de um líder deste novo tempo. Realidade na qual exigências profissionais como comunicativo, com inteligência emocional, resolutivo, de visão sistêmica, proativo, dentre tantas outras, não fazem mais parte. 

“Desenvolver o líder é falar de inteligências. Tratar o ser humano como uma engrenagem funcional não é o correto. A pergunta das empresas, agora, é diferente: qual o valor eu quero entregar? E que tipo de profissional eu preciso ter para isso?”, provoca o professor sobre os métodos de contratação. De acordo com ele, na pandemia, este entendimento foi acelerado e os negócios que obtiveram sucesso abandonaram a metodologia anterior. 

Já na academia, Julio Cesar cita o trabalho com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), elegidas pela Organização das Nações Unidas, como uma das iniciativas louváveis. Na Unifor, as 17 ODS’s são aplicadas para despertar, desenvolver e estimular os alunos em projetos cujo objetivo central seja coletivo, ou seja, beneficie mais pessoas na sociedade. 

“A causa dos problemas são as pessoas. Mas as soluções também são. E a solução vem dos líderes”, ressalta o professor da Administração.  

Novas necessidades, novos perfis 

O entendimento é aplicado principalmente no recrutamento, como confirma Victor Aderaldo, professor do curso de Psicologia da Unifor. Ele alerta para a necessidade de o líder ser mais próximo de sua equipe, desenvolvendo o que os teóricos chamam de “softskills”, o que é apontado por Aderaldo como “competências mais humanas”. Empresas no Ceará já têm essa percepção, segundo ele, e direcionam o recrutamento para pinçar perfis neste escopo. 

“Dentro do mercado de trabalho há vários aspectos que o líder precisa ter além do técnico. No contexto bem atual, a liderança exigida não é só competência técnica, mas comportamental. Empatia, capacidade de ouvir e integrar a equipe, dar feedback...”, enumera o professor. 

Para a analista de RH e aluna egressa do curso de Psicologia da Unifor Maria Marianna Araújo, a adaptação no perfil do líder foi algo que esteve entre as prioridades das empresas desde que a pandemia acelerou mudanças na operação, como os processos de trabalho remoto. Ela conta que o escritório de contabilidade e consultoria para qual trabalha optou por não voltar mais as equipes para o escritório, mantendo apenas um número básico de pessoas na sede da empresa definitivamente. 

Não cobramos mais horas trabalhadas, mas as entregas. Controlamos prazos e entregas e não mais o ponto. Isso faz parte da nossa nova realidade”, destaca, acrescentando ainda que a decisão atendeu aos desejos dos colaboradores, os quais haviam apontado em pesquisa interna a vontade de permanecer em home office.  

Pandemia e saúde mental 

O entendimento das pessoas está na esteira da tarefa do líder, de acordo com o professor Victor Aderaldo. E foi o que o estudante de Administração da Unifor Célio Melo Negreiros Júnior adotou na empresa de confecção que conduz com o pai ao longo do último ano. “Acredito que um líder dever mais compreensível, flexível e fazer a equipe estar motivada”, afirma. 

Em 2020, como revela, as metas ficaram estagnadas e o propósito foi se manter ativo até este ano, quando eles esperam reagir e voltar a crescer. “Para este ano, resgatamos o planejamento do ano passado e vemos trabalhar, afinal, o problema que nos atingiu foi global”. 

Aderaldo alerta que a crise deflagrada pela pandemia de Covid-19 acelerou esse processo de adaptação das empresas e a necessidade de ter líderes cujas habilidades humanas estivessem mais em primeiro plano se tornou urgente. “No contexto da pandemia, que é central, exige cada vez mais sensibilidade das lideranças independente da área de atuação para o aspecto de saúde mental dos colaboradores. Embora o líder não vá tratar diretamente isso, ele precisa identificar, ter a sensibilidade porque no ano passado a quantidade de pessoas que apresentaram transtornos claros de ansiedade, de transtornos alimentares, de uso de substâncias psicoativas entre outros foram bastante significativas”, destaca. 

O apoio e a segurança foram um dos suportes aos colaboradores que a empresa na qual Marianna trabalha dispôs como trabalho de amparo. Além da estrutura física para viabilizar o trabalho, como cadeiras, apoios ergonômicos e o pagamento de parte da conta de energia, ela se dispôs a atender as pessoas cujo comportamento notou diferente. Via ligação, ou presencial, quando foi elegida como uma das profissionais que deveriam trabalhar na sede, a psicóloga recebeu os colaboradores para conversas de apoio. 

“Muitas vezes, dependendo da organização para qual ele trabalha, é exigido forte produtividade, alto desempenho, questão da performance, reinventar-se e resiliência, que são aspectos muito batidos enquanto competência, e às vezes a adaptação a isso não é por falta de querer daquela pessoa. Pode ser que ela esteja num processo de sofrimento ou adoecimento muito grande também”, conclui Alderaldo. 

As múltiplas inteligências de Howard Gardner: 

  • Inteligência Lógico-Matemática: capacidade de realizações operacionais de uma pessoa. Ou seja, operações numéricas e dedutivas. 

  • Inteligência Linguística: relacionada à habilidade de aprender idiomas variados, assim como uso da fala e a escrita para um fim 

  • Inteligência Espacial: capacidade de compreensão, reconhecimento e manipulação de situações 

  • Inteligência Físico-Cinestésica: relacionada à capacidade de utilizar os movimentos corporais para resolução de algo, como habilidades manuais 

  • Inteligência Interpessoal: entendimento das intenções e desejos das pessoas 

  • Inteligência Intrapessoal: desenvolvimento de uma compreensão de si, para que possa se conhecer e agir para alcançar objetivos pessoais 

  • Inteligência Musical: é a aptidão por compor, tocar ou estar inserido no universo musical 

  • Inteligência Natural: relacionada ao reconhecimento e classificação de uma espécie da natureza 

  • Inteligência Existencial: ligada a reflexão sobre temas que estão presentes na nossa vida