null Edson Queiroz: do sonho à realidade

Seg, 12 Abril 2021 11:53

Edson Queiroz: do sonho à realidade

Hoje, dia 12 de abril, é aniversário do homem que idealizou a Fundação Edson Queiroz e a Universidade de Fortaleza.


Edson Queiroz nasceu em 12 de abril de 1925, em Cascavel (CE)
Edson Queiroz nasceu em 12 de abril de 1925, em Cascavel (CE)

Tenacidade e perspicácia. Há meio século, precisamente em 1971, o industrial Edson Queiroz (1925-1982) colhia os louros de uma extraordinária carreira empresarial, ocupando um merecido e confortável lugar de destaque no ranking brasileiro dos milionários de então.

Acontece que o mais ousado dos caprichos ainda estava por vir. E em março daquele mesmo ano ele faria acontecer: em cartório, lavrou a escritura pública que instituía a Fundação Edson Queiroz, embrião e primeiro passo em direção ao seu mais novo investimento: a Universidade de Fortaleza

Era com conhecimento, moeda de valor inestimável, que Edson Queiroz queria homenagear o lugar que lhe movia por dentro e foi berço originário de todo aprendizado empírico acumulado no ramo dos negócios. “Nas nossas conversas durante a infância, lembro-me de ouvir que ele ia criar uma fábrica de doutores”, revela a filha e atual Presidente da FEQ, Lenise Queiroz Rocha.  

Ousado, o sonho precisava ser sonhado junto. E já em setembro a primeira estratégia para tal foi posta em prática, justo quando um grupo de investidores da Bolsa de Valores e renomados jornalistas econômicos viajaram do Rio de Janeiro para Fortaleza, em voo fretado pelo empresário, a fim de conhecer de perto o conglomerado empresarial que tinha sede no Ceará e vinha chamando atenção do resto do País. Ao longo de dois dias, o tour pelas empresas impressionou ainda mais quem só associava o Nordeste à pobreza.

Mas ficaria para o final o real propósito do esforço de marketing: Edson Queiroz queria tornar público o exato local onde ergueria toda a infraestrutura daquela que seria a maior e melhor instituição particular de ensino, pesquisa e extensão do Norte-Nordeste. “É interessante lembrar que esse sonho foi sonhado junto com a minha mãe, Yolanda, que embora não fosse empresária diretamente, participava a sua maneira das decisões estratégicas”, complementa Lenise.

Pedra fundamental

Em dois ônibus de luxo, acomodou a claque convidada. Fez-se então o trajeto claudicante que foi dar nas areias frouxas de uma área de mangue ainda não urbanizada da cidade, próxima ao Rio Cocó. No horizonte, nada além do branco das Salinas Diogo. E enfim chegou-se ao destino: um descampado a perder de vista onde, ao desembarcar, o cicerone fez valer seu planejado ato simbólico: a instauração da pedra fundamental da Unifor, fincada ao mesmo tempo em que ele próprio, sob holofotes, enterrou fundo naquele chão promissor uma caixa metálica com moedas, cédulas e páginas de jornais da época, espécie de relicário. “Até hoje temos esse espaço dedicado à memória de um momento significativo não só para nós, como para o Ceará e o Nordeste”, destaca Lenise.

A tática para dar visibilidade ao novo empreendimento pouco serviu ao propósito imediatista do empresário, que tinha pressa em pôr as mãos na autorização oficial da União para dar início ao funcionamento da Unifor. Pela frente, apesar das insistentes articulações nos meios político e empresarial, ainda amargou dois anos de espera. Mas nunca de braços cruzados. Ao passo em que articulava apoios, seguiu erguendo prédios, equipando laboratórios com a mais alta tecnologia da época, engordando o acervo de uma portentosa biblioteca, contratando mestres e doutores de excelência onde quer que eles estivessem.

Determinado, o empresário Edson Queiroz não deu descanso aos ouvidos dos maiorais, capitaneando toda e qualquer atenção que pudesse vir de Brasília. Em setembro de 1972, ela veio, in loco: foi quando o empresário cedeu a área já construída do campus para hospedar os jovens atletas do XXIII Jogos Universitários Brasileiros, em Fortaleza.

Presente ao evento, o então presidente Médici seria novamente sensibilizado para a causa, desta vez vendo com os próprios olhos as plenas condições de funcionamento da Unifor. Tudo porque desistir não estava nos planos, embora diante de tamanha espera Edson já tivesse jurado de pé junto que ali seria a maior fábrica de papel higiênico da América Latina caso não conseguisse, à revelia dos muitos interesses político-econômicos em jogo, erguer a Unifor.

O primeiro vestibular

Suada, a homologação chegou no ano seguinte. Em 4 de janeiro de 1973, o mesmo presidente Médici enfim assinaria o decreto oficializando o surgimento da Universidade de Fortaleza. Duas semanas depois, a catarse: o primeiro vestibular aconteceria para cerca de dois mil inscritos que disputavam 1270 vagas entre 17 cursos ofertados. E coube ao então ministro da Educação, Jarbas Passarinho, a aula inaugural, em 21 de março.

Realizado, o desejo de um visionário que nunca chegou a cursar faculdade também quebrou paradigmas em um discurso célebre: para o chanceler Edson Queiroz, educação, no Nordeste do Brasil, deveria ser vista como problema de subsistência e artigo de primeira necessidade. 

Ao empresário, incomodava o fato de se ver forçado a recrutar lá fora os cérebros que poderiam ser treinados para alcançar alto desempenho aqui dentro. Portanto, somente com formação técnica e tecnológica de excelência sabia ser possível fazer brotar em solo esquecido as sementes do desenvolvimento econômico, da empregabilidade, da capacidade empreendedora e da diminuição das desigualdades sociais.  Com a Unifor, surgia assim justo o que Edson Queiroz chamou de "fábrica de doutores", fincada a ferro e a fogo numa das regiões historicamente desassistidas do País.

Pelo empenho em aplicar na prática uma ideia iluminista, o persistente criador da Fundação Edson Queiroz não demorou a ouvir aplausos: justo no dia 12 de abril de 1975, ao completar 50 anos de idade, foi surpreendido com uma festa organizada na surdina por estudantes entusiasmados com o retorno do investimento em educação que haviam feito. Naquele dia, Chanceler e universitários cantaram e dançaram ao som da banda de música formada por alunos das Engenharias. Era a celebração de uma aposta certeira – e de um legado educacional de valor inestimável que figura como a cereja do bolo de 50 anos da Fundação Edson Queiroz.

Responsabilidade social 

Passados os anos, não cessam os motivos para festa. Longe de brilhar sozinha, a primogênita da Fundação Edson Queiroz é a base de uma árvore genealógica que cresce e se ramifica. Dela fazem parte, além da Unifor, iniciativas únicas e para sempre celebradas, como o Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI), criado em 1978 para suprir com Atenção Básica a Comunidade do Dendê e hoje confortavelmente instalado em 14 mil metros quadrados para atendimentos especializados e multidisciplinares, e a Escola de Aplicação Yolanda Queiroz, fundada em 1982 e “segunda casa” de crianças em situação de vulnerabilidade social que têm acesso à educação gratuita e de qualidade.

Aos 50, afirmando a responsabilidade social como valor ético comum, a Fundação Edson Queiroz comemora a extensão do próprio corpo. São braços que vêm dela o Espaço Cultural Unifor; o Centro de Formação Profissional; o Escritório de Práticas Jurídicas; o Parque Desportivo e sua Escola de Esportes; o Parque Tecnológico e as pesquisas baseadas em inovação e tecnologia aplicada; a coleção inestimável de obras de arte reunidas em um dos mais importantes acervos privados do Brasil, além de outros tantos projetos científicos, parcerias, convênios e ações socioculturais que impactam positivamente interna e externamente.