Princípio da Economia Reversa

Desde o Feudalismo, que os cenários econômicos em todo o mundo sempre se transformaram por uma razão natural. A riqueza é dinâmica, motivada por um conjunto de forças exógenas incontroláveis, que apontam novas tendências econômicas em determinados períodos. Nos referimos ao atual cenário em que vivemos, cheios de inovações tecnológicas, processos limpos, e mutações mercadológicas continuadas. Após a febre neoliberal dos anos 90, estamos diante de uma economia que intitulamos Ecotecnológica, pois, semelhante a Revolução Industrial que protagonizou o liberalismo entre os Séculos XVIII à XIX, a demanda global por “Startups” com foco na sustentabilidade, marcam esse novo momento que surgiu a partir do século XX, devendo se estabelecer até 2030.

Em recente pesquisa FIESP/CIESP, intitulada “DRIVERS DE MUDANÇA MUNDIAL ATÉ 2030”, aponta oportunidades para o aumento da demanda mundial de alimentos, reutilização da água, geração e distribuição de energias renováveis, assim como, gestão e tratamento da biomassa de resíduos. Essa é a razão pela qual o grupo de países que compõem o G7 já começa a adotar restrições comerciais a processos poluidores, inclusive como poder de barganha na reversão do aquecimento global. 

Estamos ou não diante do Princípio da Economia Reversa?

Em Fortaleza, desde 2015, a gestão municipal tem aplicado esse conceito na Limpeza Urbana. Contrariando a ideia de que a problemática do lixo é apenas um problema de educação da população, a adoção desse modelo econômico reverso vem transformando o comportamento da sociedade, independente da classe social.

Por isso afirmo que a economia é quem suja, e a economia é quem limpa. Pergunto: será a economia sinônimo de ecologia?

Desde 1997 o lixo em Fortaleza não se limita apenas a uma simples coleta pública domiciliar. Surgiram os “Pontos de Lixo” espalhados na cidade. A limpeza urbana passou a ser complementada por um serviço extra conhecido por Coleta Especial Urbana, responsável pelo aumento significativo no custo da administração municipal. Tudo isso motivou o esforço da gestão pública em fazer frente a esses desafios, elaborando, implantando e substituindo o antigo modelo de limpeza urbana, por um Programa de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos em Fortaleza.

Na prática, o binômio limpeza urbana e desenvolvimento econômico em Fortaleza vem sendo priorizado a efetividade dos mecanismos de gestão com base no Princípio da Economia Reversa, forma pragmática para combater não apenas o impacto ambiental e o custo municipal, mas também, desigualdades sociais em pelo menos 37,1% das famílias, cuja renda é menor que 1 salário. Observamos, que o desordenamento do lixo não é causa, e sim consequência de um viés econômico, haja vista, que Fortaleza possui uma área de cobertura de coleta de lixo em todas as suas 12 regionais não havendo motivo para o descarte irregular.

Procurando enfrentar o desafio, em 5 anos foi implantada uma rede de 90 Ecopontos possibilitando que a população realize o descarte correto de mais de 300 mil toneladas de resíduos sólidos, dos quais cerca de 6 mil toneladas foram de materiais recicláveis. Este modelo já gerou, até agora, para além da limpeza na cidade, mais de R$ 6,2 milhões distribuídos para mais de 30.000 usuários e 1.279 carroceiros que se cadastraram no sistema, incentivando cada vez mais as comunidades a participarem da limpeza urbana na cidade. 

Mas, o que significa essa política pública? Sobretudo uma estratégia de economia circular do lixo segregado na condição de Reserva Técnica. Cônscios dessa problemática, consideramos como “INPUT” a logística Reversa de resíduos sólidos e efluentes líquidos, e como “OUTPUT” a demanda por um PIB Verde, a partir da criação de Leis, Incentivos Fiscais e tributários em troca da adoção de processos limpos por parte das empresas, Ações e Projetos capazes de medir e apontar transformações no cenário econômico, desincentivando a exploração de matéria-prima virgem. Essa equação é o grande desafio transformador, haja vista, o baixo valor agregado dos materiais pós-consumo, causando resistência a determinados investimentos privados.

A experiência de Fortaleza demonstra ser possível, desde que o poder público permute políticas públicas assistenciais por sociais, com inclusão da força de trabalho informal na cadeia produtiva.

É possível observar que a produção terceirizada é uma grande ação de combate a pobreza, sobretudo, quando considerada janela de oportunidade como estratégia competitiva. O Projeto E-carroceiro é o maior exemplo. A inserção dos carroceiros na composição do serviço da concessionária substituindo o tradicional serviço de caçambas são motivados pelos munícipes, que, direcionam resíduos de entulhos e podas ao Ecoponto através dos carroceiros, sendo esses remunerados em torno de R$ 1.500,00 por mês pela produção.

Em contrapartida, foi possível promover mensalmente um superávit financeiro nos diferentes segmentos e nichos do mercado de resíduos de Fortaleza. Atualmente, pelo menos 9.613 toneladas de recicláveis já chegam segregados na indústria, 2.938 toneladas. de podas são transformadas em briquetes, 16.901 toneladas. de entulhos de construção são reusados em vias, e 77.067 toneladas de matéria orgânica deixam de ser lixo, sendo transformadas em 5.395,95 toneladas de Biogás.

É importante reconhecer que a cientificidade do Princípio da Economia Reversa vem mundialmente sendo aprimorado a cada ano, pois, se de um lado a sua consolidação depende de decisões geopolíticas, por outro, estamos diante de uma oportunidade ímpar para garantir sustentabilidade e melhoria na qualidade de vida da sociedade.

Albert Gradvohl, professor da Universidade de Fortaleza