O Método do Post-it
Uma cena cada vez mais comum nas salas de aula é o aluno apontar o celular para a lousa e tirar uma foto do conteúdo redigido pelo professor. Apesar de permitir o acesso rápido a um grande número de conteúdos, a tecnologia traz o risco de suplantar uma série de processos cognitivos essenciais no processo de aprendizado. Foi a partir dessa lógica que o estudante Gabriel Mattucci bolou, de forma intuitiva, um método peculiar de preparação para o vestibular: resumir, à mão, os principais conteúdos em post-its, que depois eram colados na parede do quarto.
Com a genialidade das coisas simples, Gabriel aliou a capacidade de condensar informações por palavras e desenhos e a visualização cotidiana para, literalmente, incorporar equações, regras gramaticais e fases do desenvolvimento celular. Mas este foi apenas o ápice de uma preparação que começou no primeiro ano do Ensino Médio, almejando uma das provas mais concorridas do Brasil: o vestibular de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Planejamento, uso de questões da própria banca organizadora para praticar e tempo adequado para o lazer completaram a estratégia de Gabriel, que nesta entrevista também, fala da importância das atividades extracurriculares.
Como se deu a escolha da Medicina como carreira? Quais foram suas inspirações? Você participou de alguma feira das profissões ou avaliação vocacional?
Não foi nada fácil tomar essa decisão... Brinco que só fui ter certeza da Medicina no dia da inscrição para o vestibular. Acabei escolhendo a Medicina por gostar muito de estar em contato com as pessoas e poder ajudá-las, mesmo que minimamente. Minha tia é médica e sempre tive um brilho nos olhos quando a via trabalhar. Participei de várias feiras de profissões e fiz três orientações vocacionais. Cada experiência de autoconhecimento e conhecimento das carreiras foi válido e contribuiu para a tomada da melhor decisão naquele momento.
Você se considera um aluno com facilidade para os estudos, que aprende de primeira, ou mais o tipo esforçado?
Acho que um pouco dos dois. Os resultados que eu obtive foram, com certeza, fruto de muito esforço. Porém, ao mesmo tempo, seria muito injusto com tantos outros que se esforçaram dizer que foi só isso. Considero que tenho certa facilidade para os estudos também.
Seu método de estudo não se resume a apenas usar post-its. Como foi que você construiu seu método de estudo? Houve pessoas e/ou leituras que te influenciaram nesse caminho?
Não, com certeza não se resume só a isso. Talvez os post-its fossem só uma ferramenta que eu encontrei que funcionou pra mim, depois de algumas experiências com os estudos. Percebi que, no Ensino Médio, a gente já traz muitos conceitos prontos dos outros anos de escola, que não valia a pena ficar reescrevendo. Era mais importante anotar só os tópicos principais — que eu tinha chance de esquecer — e de maneira bem resumida, pra não ter preguiça de olhar depois. Foram essas reflexões comigo mesmo e a observação de como o conhecimento seria cobrado de mim depois que me levaram a desenvolver esse método.
Você acredita que seu método de estudo pode ser replicado por estudantes que se preparam para áreas como Humanas ou Exatas? Ou você acha que cada um deve buscar seu próprio método?
Com certeza pode ser replicado. Querendo ou não, em todas as áreas a gente precisa armazenar um número considerável de informações não tão óbvias. O jeito que se vai fazer pra colocar isso em prática depende de cada um, é importante ir testando e vendo aquilo que funciona melhor pra você. Nós não somos iguais e isso se reflete também na maneira de estudar.
Como você define a vocação para uma carreira? Que elementos um jovem como você deve levar em conta para fazer a melhor escolha?
Eu, particularmente, não consigo acreditar que cada um esteja destinado a determinado curso, e somente a ele. É possível se encontrar mais ou menos em várias carreiras, acho que o curso superior deve ser visto como uma ferramenta muito flexível e que pode te levar para vários caminhos. Essa escolha não deve ser vista como definitiva. Acho que para tomar uma decisão mais acertada é preciso se conhecer bastante, em termos de gostos e valores. É importante ter aptidão com a atividade central da profissão escolhida, e para isso vale a pena conversar com quem já atua nessa área e ver se há de fato uma afinidade genuína. Considerar, também, como é o mercado para aquele curso e quais as possibilidades que se abrem para alguém formado naquela área.
Você chegou a fazer trabalho voluntário ensinando alunos de escolas públicas. Isso te ajudou de alguma forma na sua preparação para o vestibular? No que mais o trabalho voluntário agregou na sua vida, em termos de formação humana?
Acho que, para mim, o trabalho voluntário foi uma forma de aliviar a tensão da rotina pesada do vestibular. Sempre gostei muito de ensinar, e quando é um conteúdo mais leve — como o do Ensino Fundamental, nesse caso — a ser ensinado, torna-se ainda mais relaxante. O maior diferencial, porém, foi em termos de formação humana. Acredito ser muito comum um estereótipo já consolidado de que os alunos de escola pública são naturalmente mais despreocupados com a formação acadêmica. O trabalho voluntário me provou o contrário: há muita gente boa vinda dessas escolas, que só precisa de um incentivo para deslanchar. Infelizmente, grande parte desses alunos jamais vai receber o estímulo de que necessitam, e era esse impulso que tentávamos proporcionar ministrando as aulas preparatórias.
Há quem diga que, para passar num curso concorrido como Medicina, é preciso abrir mão da vida social. Você não fez isso. Mas como era, de fato, a sua vida social, o que te ajudava a desanuviar a cabeça? Você fazia algum esporte?
A minha vida social no ano de vestibular não foi tão ativa quanto costumava ser, isso é um fato. Mesmo assim, não deixei de ir ao cinema, a lanchonetes com os amigos e até festas de aniversário. Para desanuviar a cabeça, também gostava de fazer atividades sozinho — assistir a séries e jogar videogame eram as minhas favoritas. Quanto aos esportes, nunca fui de praticar... Ano passado não fiz nenhuma atividade física regular, e acho que isso não me prejudicou muito.
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