O poder da prospecção
Cidades grandes, aldeias, lugares celebrados ou esquecidos. Vislumbrar tendências no mundo do trabalho não é mais uma questão de onde, e sim do quanto você está disposto e atua para romper com as barreiras do invisível. Traduzir sinais de tempos vindouros para ajudar sociedade e empresas na tomada de decisões do presente tornou-se a especialidade da economista Lilia Porto, CEO da plataforma O Futuro das Coisas, que nesta entrevista discute as mudanças que mesmo profissões “tradicionais” estão sofrendo neste exato momento e como a universidade pode criar um ambiente de aprendizagem que desenvolva habilidades de adaptação.
Como surgiu a ideia de criar O Futuro das Coisas?
Quando idealizei O Futuro das Coisas, há quase quatro anos, não existia no Brasil uma plataforma que reunisse assuntos sobre o futuro e sobre Foresight e Forecasting (conhecidos como Futurismo). Sempre acreditei que a conexão com o futuro, ou melhor dizendo, “futuros”, pode mudar o nosso presente. O Futuro das Coisas existe para ser a lente que aproxima e antecipa o que está por vir, com a finalidade de sensibilizar e inspirar pessoas a mudar a realidade. A gente aqui auxilia pessoas, marcas e instituições a terem acesso às melhores evidências disponíveis sobre o futuro de diversas áreas para que protagonizem transformações ao redor. Passados esses anos, a plataforma evoluiu e, hoje, somos considerados o principal ecossistema de futuros do país, englobando aprendizagem, experiências imersivas, conteúdos autorais, curadoria e pesquisa.
Quando pensamos em inovação, é quase automático vir à cabeça carreiras ligadas à criação, tecnologia, design. Mas você defende que setores mais “tradicionais”, como Direito, estão sendo remodelados num ritmo expressivo. Como estudantes e futuros profissionais podem se preparar para esta realidade?
Tenho uma filha de 15 anos e vejo como as escolas não estão preparando os jovens para as mudanças no mundo do trabalho. Mas, isso nem é novidade. O fato é que todas as profissões serão impactadas por três forças: tecnológicas, demográficas e pressões de mercado, incluindo nessa última a Economia GIG e as plataformas globais de acesso aos profissionais e aos melhores talentos. O Direito já está convivendo com tecnologias de ponta, como Blockchain, Big Data e Machine Learning. Estão surgindo profissões como Engenharia Jurídica, Direito Digital, Legal Ops, Taxologist, advogados como donos de produto (product owners) em legaltechs, Legal Growth Hacking, entre outras. As carreiras não vão ser extintas, elas serão adaptadas.
Como estudantes e futuros profissionais podem preparar para essa nova realidade?
Eles precisam entender que a aprendizagem não está só na universidade ou faculdade, tem que fazer parte do dia a dia. Pode ser através de novas experiências, de cursos paralelos, de conversas com pessoas e de redes que possam trazer aprendizados. A questão comportamental, ou as soft skills, são importantíssimas, pois vai ajudar você a interagir melhor com as pessoas. Nem tudo é tecnologia: a empatia e a cooperação são fundamentais.
No manifesto d’O Futuro das Coisas, você diz que não é preciso estar no Vale do Silício para vislumbrar as mudanças que estão por vir. Mas vivemos num país com um alto índice de analfabetismo e evasão escolar. Como equalizar passado, presente e futuro numa realidade tão desigual quanto a brasileira?
Sim, não precisamos estar em Vale nenhum (risos). Em qualquer lugar que estejamos, com esse mundo hiperconectado onde vivemos agora, podemos entender as mudanças que provavelmente surgirão mais cedo do que a gente espera. Não somos mais vítimas do amanhã e de alguma forma estou contribuindo um pouquinho para distribuir o futuro. O maior desafio para o nosso país será reduzir a desigualdade social, resultado de uma grande desigualdade de oportunidades. Nascer pobre no Brasil significa ter pior atendimento no sistema de saúde antes mesmo de nascer, não ter acesso à pré-escola, frequentar escolas ruins, passar fome, morar em bairros sem saneamento básico e ser vítima constante de violência. A educação no Brasil é uma máquina de exclusão. Muito mais do que explorar futuros longínquos demais para a realidade da maioria dos brasileiros, n’O Futuro das Coisas nos interessa mais o futuro que pode ser aplicado de imediato para transformar a realidade presente. Trazemos as melhores referências, cases, tendências e sinais fracos para instrumentalizar pessoas e governos a mudar o que existe.
Qual é o papel da universidade (e dos pilares de ensino, pesquisa e extensão) no futuro das profissões?
Educação é o que as pessoas fazem com você; aprender é o que você faz consigo, diz Joi Ito, do Mit Media Lab. Precisamos aprender melhor, seja em que profissão for. Aprendizagem é diferente de aquisição de conteúdo. Aprender é colocar pra fora e fazer melhor. O papel das universidades é preparar um ambiente de aprendizagem que estimule o aluno a aprender melhor, que estimule habilidades essenciais nele, que lhe dê um banho de tecnologia e o prepare para o futuro do mercado de trabalho. Os avanços tecnológicos e outras mudanças aceleradas estão transformando a aprendizagem e a melhor maneira de dar significado para a aprendizagem é oferecê-la como uma potencial solução para os problemas reais do universo dos estudantes. Navegar nesse novo mundo requer novas habilidades e formas de aprender!
Feira de Profissões Unifor
(85) 3477-3113
feiradeprofissoes@unifor.br