null Produções de alunos da Unifor são selecionadas para o 28º Cine Ceará

Sex, 13 Julho 2018 15:51

Produções de alunos da Unifor são selecionadas para o 28º Cine Ceará

Três curtas-metragens de ficção disputarão a Competitiva Brasileira de Curta-Metragem e um documentário participa da Mostra Olhar do Ceará. Festival acontece de 04 a 11 de agosto, em Fortaleza.


Filme  A Canção de Alice, dirigido por Bárbara Cariry (Foto: Divulgação)
Filme A Canção de Alice, dirigido por Bárbara Cariry (Foto: Divulgação)

Todos os dias, quando ia para a Unifor, Bárbara Cariry avistava sua vizinha, de 80 anos, no ponto de ônibus. Rotineiramente, a estudante seguia o caminho da universidade, enquanto aquela senhora, sempre de cabelos molhados, apanhava uma condução em direção à praia.

A curiosidade no olhar de Bárbara, aguçado às delicadezas do cotidiano, foi o impulso para, certo dia, perguntar o que, há algum tempo, tomava conta dos seus pensamentos: “para onde a senhora está indo?”. “Secar o cabelo na praia”, responde.

E, a partir dessa surpresa, foi construído o curta-metragem A Canção de Alice, dirigido pela ex-aluna da Unifor. A produção é uma das realizações de ex-alunos e alunos da universidade selecionadas para o Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema, que acontece de 4 a 11 de agosto, em Fortaleza.

Alegria, gratidão e nervosismo. O misto dessas sensações é o que representa o entusiasmo de ter sido selecionado para o Cine Ceará. Em sua 28ª edição, o festival se consolida como um dos mais tradicionais do Brasil e da América Latina. Estar entre os selecionados multiplica, cada vez mais, a urgência e, consequentemente, a determinação de se fazer cinema. Isso é o que afirmam os alunos e ex-alunos da Unifor, que apresentam suas produções no Festival.

Além de A Canção de Alice, dirigido por Bárbara Cariry, os curtas-metragens Nova Iorque, produzido por Arthur Leite, também graduado pela Unifor, e Capitais, com equipe composta por Lola Melo, Pedro Emílio Sá e Yago Rodrigues, alunos de Cinema e Audiovisual, foram selecionados para a Mostra Competitiva Brasileira de Curta-Metragem. Maria Maculada, dirigido por Bruno Bressam e Leão Neto, também alunos de Cinema, participa da Mostra Olhar do Ceará.

Percursos artísticos

“Essa oportunidade, de ter essa première nacional no Ceará, que é a minha casa, onde eu faço cinema e tenho toda uma relação com a cidade e com as pessoas, é muito feliz”, conta Bárbara. Ela destaca que essa felicidade tem um motivo especial: “eu estou bastante animada com essa estreia, principalmente porque é dentro do Cine Ceará. Eu acho que é uma bela maneira de começar a carreira do filme”.

A Canção de Alice retrata como a alma de Alice, apesar de estar em um corpo doente, ainda consegue perceber as vivências, como o tempo, a estrada, o vento e o mar. Segundo Cariry, a situação real, parte do seu cotidiano com sua vizinha, despertou o olhar para construir uma narrativa ficcional.

Depois do roteiro ter sido selecionado para o edital “Ceará de Cinema e Vídeo”, ela se deparou com outra surpresa: “Eu conheci uma atriz que tinha uma série de questões reais que me interessavam. Então, é como se eu tivesse voltado, quando eu fui filmar, pro meu ponto de partida, que foi uma situação que eu vi acontecendo. E eu acho que isso é muito bonito, porque traz uma verdade. Eu me sinto muito grata de ter vivido esse processo com pessoas tão legais, tão bacanas”, conta, enfatizando as trocas entre ela e o seu elenco - completamente feminino -, com atrizes como Tereza Fará, Natasha Faria e Samya de Lavor.

Assim como Bárbara, Arthur Leite, que produziu o curta-metragem Nova Iorque, se mostra bastante animado com a seleção para a mostra competitiva do Cine Ceará. “É uma felicidade enorme, que o Nova Iorque, que é um filme tão bonito, que a gente se esforçou tanto pra fazer, com uma equipe de 50 pessoas no projeto, tenha sido selecionado”.

Nova Iorque conta a história de "uma professora que não quer ser professora, que não quer estar ali naquela cidade, e a história de uma criança, um aluno dela, que é abandonado pela mãe”, revela o produtor. A produção, que retrata o encontro e o desencontro dessas personagens, conta com as premiadas atrizes Hermila Guedes e Marcélia Cartaxo no elenco, além da edição de Tiago Therrien, professor de Cinema e Audiovisual da Unifor.

O curta estreou em 2018, na Mostra de Cinema de Tiradentes em Minas Gerais e, depois, participou do Festival Guarnicê de Cinema, no Maranhão. “A terceira exibição vai ser aqui no Ceará, ele é inédito no estado. Então, eu tô muito feliz que esse filme, produzido por mim, dirigido pelo meu sócio [Léo Tabosa], com realização da Pontilhado Cinematográfico, produtora do Recife, tenha sido selecionado para esse festival que é tão simbólico, pra mim e pro estado”, celebra Arthur.

Felicidade duplicada

Por ser coordenador de Formação em Audiovisual do Porto Iracema das Artes, a felicidade de Arthur Leite é duplicada. Isso porque o curta Capitais, escrito e dirigido por Kamila Medeiros e Arthur Gadelha, realizado no “Preamar Audiovisual”, programa de realização da escola, também foi selecionado para a mostra competitiva do Cine Ceará. “Eu fico muito feliz. Esse filme, Capitais, tem alguns alunos da Unifor na equipe, que são de Cinema e Audiovisual que também passaram aqui pelo Porto Iracema”, declara.

Capitais conta com Lola Melo na assistência de direção e direção de arte, além de Pedro Emílio Sá e Yago Rodrigues, na assistência de som. Além de ter tido a participação dos alunos de Cinema da Unifor, o curta reúne a tutoria dos professores, também do curso de Cinema, Marcelo Müller, durante um percurso de roteiro realizado em 2017, e Tiago Therrien, durante a fase de montagem. A produção, segundo Lola Melo, é inspirada nas obras do artista cearense Belchior, que faleceu em abril do ano passado.

Narrativa Documental

Quando pensaram em uma produção para fazer parte do trabalho final da disciplina de Documentário, do curso de Cinema e Audiovisual da Unifor, os estudantes Bruno Bressam, do sétimo semestre, e Leão Neto, do primeiro semestre, tiveram como tema norteador a solidão. Como um gênero híbrido, cheio de surpresas, o documentário Maria Maculada acabou percorrendo outros caminhos e, consequentemente, indo além.

A busca por um personagem foi demorada, mas Bressam nem imaginava que estaria tão próximo: sua tia. “A Maria do filme é a Maria que sempre esteve presente em minha vida, desde criança, mas nunca havia sentido e parado para entender o seu passado”, revela.

“Tínhamos um personagem, mas acabamos trocando de última hora, o que levou nosso filme para outro caminho. As vivências marcadas na pele, e como convivemos com essas máculas, é a ideia governante do filme. A nossa personagem, Maria do Socorro, não poderia ter aparecido em melhor hora. São os acasos afortunados de se fazer documentário”, conta, em êxtase, o estudante do 1º semestre do curso de Cinema, Leão Neto.

Para Bruno Bressam, a sensação, de estar no Cine Ceará, é de gratidão. “É sempre muito gratificante ver um trabalho seu ser reconhecido, ver algo que era apenas uma ideia se tornar real, e chamar a atenção de outras pessoas. Também me sinto muito grato, pois foi o único filme produzido inteiramente dentro da Unifor que entrou para a mostra. Com muito orgulho, estaremos lá representando nossa universidade”, festeja.

Reconhecimento

A coordenadora do curso de Cinema, Bete Jaguaribe, observa a importância de estar entre os selecionados no Festival Ibero-americano de Cinema. “A seleção de nossos alunos e ex-alunos no Cine Ceará é importante, porque o Festival é uma das principais esferas de reconhecimento da produção audiovisual brasileira. Inscrevem-se realizadores do país inteiro”, opina. Segundo ela, a própria seleção já é um reconhecimento, indepedentemente das possíveis premiações.

“O CineCeará é um evento de tradição no país, um dos mais longevos, com uma programação bastante interessante. A participação de nossos alunos é importante também nos espaços de debates conceituais, de encontro de realizadores”, enfatiza.