null Projeto da Unifor transforma a vida de crianças e adolescentes

Ter, 23 Outubro 2018 13:51

Projeto da Unifor transforma a vida de crianças e adolescentes

A Escola de Esportes para Crianças do Dendê incentiva a prática de esportes e revela talentos


A Escola de Esportes recebe crianças e adolescentes da comunidade do Dendê, do bairro Edson Queiroz e entorno. (Foto: Ares Soares)
A Escola de Esportes recebe crianças e adolescentes da comunidade do Dendê, do bairro Edson Queiroz e entorno. (Foto: Ares Soares)

O esporte, além de divertido e saudável, pode transformar a vida das pessoas, construindo sonhos e fazendo a diferença. Foi com esse espírito que a Escola de Esportes para Crianças do Dendê, nasceu. Criado pela Vice-Reitoria de Extensão e pelo curso de Educação Física da Unifor, o projeto é voltado para crianças e adolescentes em estado de vulnerabilidade social. Mas não se restringe a esse público
 
O projeto é aberto para a comunidade em geral, toda vizinhança da comunidade do Dendê e do bairro Edson Queiroz. Por meio do esporte, crianças e adolescentes podem expressar suas emoções e angústias de uma maneira mais saudável. 
 
O sentimento é de orgulho para Ralciney Barbosa, idealizador do projeto e coordenador da Divisão de Assuntos Desportivos (DAD). Professor de educação física da Unifor, ele comenta que o projeto é uma das paixões de sua vida. “Não me vejo afastado da escola porque aqui eu me realizo como pessoa, como profissional. Ver essa meninada aqui, praticando esportes, longe do risco social que vivenciam em suas comunidades, pelo menos enquanto estão aqui”.
 
A prioridade da escola, segundo o professor Ralciney, é estimular entre meninos e meninas a adoção de um estilo de vida saudável, além de afastá-los das tentações da criminalidade e das drogas. “Só depois procuramos revelar talentos esportivos”, ressalta.
 
Vários talentos foram descobertos na escola. Entre eles Ulisses Mateus, um dos melhores atletas brasileiros no salto triplo. Maria Neidiane Herculano hoje é atleta universitária e disputa competições no eixo Rio-São Paulo também no salto triplo. Já Lara Ferrer representou o Brasil em competições de lançamento de dardo.

Um salto para a cidadania

Jhonatan da Silva é atleta oriundo da Escola de Esportes do Dendê. Iniciou o treinamento esportivo aos 13 anos. Experimentou várias modalidades, mas foi no atletismo que se encontrou. Hoje com 22 anos, Jhonatan, foi aprimorando a técnica e ganhando experiência, e hoje é destaque nos 400 metros com barreira.
 
Mesmo que o jovem não se torne um atleta profissional, Jhonatan garante que o esporte abre um leque de possibilidades para o jovem se desenvolver socialmente, possibilidades que quem mora em comunidades carentes teria dificuldade de alcançar. “Um projeto desse numa comunidade é muito enriquecedor em questão de aprendizagem, de saúde. Socialmente é muito bom”.
 
Perguntado sobre como é ser uma referência para a garotada que se identifica com o atletismo, Jhonatan se diz feliz. “Fico lisonjeado, sabendo que eu posso, de alguma maneira, servir de exemplo para as pessoas. Quero que elas percebam o lugar onde você mora não define seu caráter, sua evolução, quem você vai ser futuramente. Só quem pode buscar mudar de vida, é você”.

Do tatame para a vida

Os esportes de luta são outro baú de tesouros da escola. Um dos destaques é Ana Virginia Maia, atleta de jiu-jítsu desde os seis anos e atualmente uma iniciante na escola em judô. Ana Virginia se tornou recentemente campeã brasileira universitária de jiu-jítsu, categoria absoluto. 

“No geral, as lutam desenvolvem o senso de disciplina. O judô, o jiu-jítsu, o caratê, todas as lutas, os combates, têm uma filosofia, então eles sempre vão ensinar a respeitar. Não importa quem for, não importa a faixa, todos vão se respeitar da mesma forma. Então, esse aprendizado sai do tatame para casa, e de casa para a vida”, enfatiza.

Hoje, Ana Virgínia é estudante de educação física e conta que, desde os 10 anos, gostava de dar aulas para crianças no bairro onde morava. “Comecei a dar aula pras crianças do meu bairro em Maranguape, e sempre recebi muito incentivo de um dos meus professores na época. Eu acredito que seja a área que eu vá trabalhar futuramente”, comenta.
 
Já Felipe Teles do Nascimento, engenheiro mecânico pela Unifor, era atleta universitário na modalidade de judô. Hoje ele se divide entre a especialização em Engenharia de Segurança, também na Unifor, e as aulas de judô como professor voluntário do projeto.

De aluno a professor, ele comenta como o projeto reverbera na vida dos participantes. “Eu acredito que é um papel muito grandioso perante o crescimento das crianças, pois a gente trabalha disciplina, seriedade, compromisso. Mas também tem brincadeiras, diversão, e isso para o crescimento do ser humano é bastante relevante. Fico bastante satisfeito em contribuir para o crescimento de pessoas que serão o futuro da nação.”

O professor da seção de lutas da escola, Ricardo Igor, explica que as artes marciais, além da disciplina, proporcionam a melhora de problemas como sedentarismo e sobrepeso. “A gente acaba unindo o útil ao agradável e tem um percentual da sociedade que precisa disso, mas não tem acesso a esse tipo de esporte. Os alunos também precisam se testar, precisam iniciar a prática deles, e nada melhor do que fazer isso com profissionais que têm uma grande bagagem”, destaca.

O professor Ricardo conta que fica feliz ao ver o processo de mudança nos alunos. “A gente vê que muitos novatos têm problemas de indisciplina. E com pouco tempo, eles se adaptam e melhoram essa questão. Os próprios pais vêm aqui pra falar com a gente e é até engraçado, porque eles dizem: ‘Professor, venha falar com o meu filho porque ele não está mais me obedecendo’. Ou seja, eles levam muito a sério o que fazem aqui, eles veem que tem a questão das regras, que a didática do ensino, a metodologia, é diferente da dos pais, já que temos o esporte”.

Pais na escola

A escola não trabalha sozinha e busca a participação dos pais no projeto. Um exemplo é Monteles Ancelmo dos Santos. Funcionária da Unifor, ela soube do projeto por trabalhar na universidade. Um ambiente que ela considera familiar e seguro para o filho Guilherme, de 13 anos. Ele começou na escola semestre passado, na turma de iniciação esportiva. “Foi uma ótima iniciativa da Unifor, porque é algo gratuito com forte aspecto social. Sem contar que é muito bom fazer atividade física. Além de emagrecer, de interagir, o Guilherme aprende a ter mais educação, a trabalhar em equipe, a entender o outro, a respeitar o próximo. E tudo isso vai influenciar positivamente no futuro dele”.

Monteles destaca a importância do acompanhamento dos pais. Não só para deixar e pegar a criança, como também participar das reuniões e justificar quando ela não puder vir. “O projeto é tão bom, que tem muita gente atrás, tem lista de espera. E se você não estiver engajado, seu filho sai da atividade e perde a vaga”.

Ela ainda destaca outras atividades atreladas ao projeto. “Além da atividade física, tem passeios artísticos. Eles entram em contato com a arte, conhecendo as galerias da Unifor, vão ao cinema, é muito bom. Ele vai conhecer um mundo numa idade em que eu não tive oportunidade”.