Diabéticos relatam aumento da glicemia durante a quarentena, aponta pesquisa

Uma pesquisa realizada com 1.700 brasileiros, divulgada pela revista Diabetes Research and Clinical Practice, mostrou quais os impactos da Covid-19 em pessoas com diabetes. O estudo, conduzido por um grupo de instituições nacionais e internacionais, revelou que os portadores da doença alteraram seus hábitos durante a quarentena, causando uma piora nos níveis glicêmicos.

Segundo o mesmo estudo, pacientes têm tido dificuldades em receber os insumos necessários para controlar o metabolismo. Do total de 64% dos pacientes que obtêm os produtos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), apenas 21% deles receberam os medicamentos para 90 dias, conforme é recomendado pelo Ministério da Saúde.

Ainda de acordo com a pesquisa, dos 91% que monitoram a glicemia, a maioria (59%) percebeu alterações como aumento (20%), diminuição (8,2%) ou maior variabilidade (31%) nos níveis de glicose. A maioria dos entrevistados (95%) também passou a ficar mais tempo em casa e diminuiu a atividade física.

Foi o que aconteceu com a dona de casa Aurelita Forte. Antes da pandemia, ela seguia todas as recomendações médicas, incluindo dieta e exercícios físicos, mas a quarentena mexeu com sua rotina.

“Antes da pandemia, a minha rotina era a de tomar a medicação no horário, cuidados com a dieta e práticas de exercícios físicos. Com a quarentena, continuei alguns cuidados, exceto os exercícios físicos que tive que me reinventar e realizá-los em casa, bem restritos. Com essa restrição, fiquei preocupada em alterar o índice de glicemia, por conta do fator psicológico”, explica ela.

Aurelita Forte também revela que a quarentena mexeu com sua programação de consultas e realização de exames, pois ela fazia de forma presencial. “Tudo isso fugiu da minha rotina, ocasionando preocupação, o que impactou na alteração do índice glicêmico”, revela a dona de casa.

Controle glicêmico

Apesar de o risco de contrair Covid-19 não variar entre indivíduos com diabetes mellitus tipo 1 ou tipo 2, pessoas com mais idade e com mais complicações da doença costumam apresentar um quadro mais grave.

Filipe Brito, nutricionista e professor do curso de Nutrição da Universidade de Fortaleza, explica que o principal fator responsável por incluir todos os indivíduos com diabetes no grupo de risco é o controle glicêmico.

“A capacidade do nosso sistema imune de combater uma infecção está diretamente relacionada à quantidade de glicose no sangue. Isso se deve ao fato de a glicose em excesso comprometer nossos vasos sanguíneos, impedindo a chegada das células de defesa, ao mesmo tempo que atrai bactérias para esse local”, explica.

“Daí a importância de o indivíduo com diabetes manejar sua glicemia diariamente: quanto mais glicose no sangue, menor a capacidade de defesa do nosso organismo”, completa o professor.

Nutricionista Filipe Brito

Dicas do especialista

Para tentar contornar essa situação, Filipe Brito dá algumas dicas que podem ajudar pessoas que convivem com diabetes a enfrentar a quarentena de forma mais saudável.

  • A primeira delas, segundo o nutricionista, é tentar manter o tratamento e o acompanhamento clínico da doença.
     
  • Uma segunda dica é manter a dieta e preparar a própria comida. Não comprar tantos produtos industrializados e evitar alimentos prontos (o famoso delivery).
     
  • Outra dica: faça atividade física, seja caminhando dentro de casa ou com exercícios adaptados. Movimente-se como puder!
     
  • Desenvolva estratégias para gerenciar o estresse ou a ansiedade. Tente utilizar a tecnologia, por exemplo, para falar com amigos, seja pelas redes sociais ou por videochamadas. Leia livros, assista filmes e séries.

“A ansiedade pode aumentar a quantidade de açúcar no sangue, por conta da produção de alguns hormônios como o cortisol e adrenalina”, alerta Filipe Brito. O nutricionista ainda lembra que, em virtude da pandemia, o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) liberou a modalidade de teleconsulta, dando à população a possibilidade de seguir com seu tratamento. “A gente tem essa estratégia auxiliar, que pode atender o paciente no conforto da sua casa, sem redução da qualidade”, afirma Brito.

Números da pesquisa

  • Entre os entrevistados que monitoram a glicemia (91%), os níveis:
  • Variaram mais - 31%
  • Aumentaram - 20%
  • Diminuíram - 8,2%

Mudança de hábitos

  • 95% dos entrevistados passaram a ficar mais tempo em casa
  • 53% acessaram mais a internet
  • 48,8% passaram mais tempo vendo televisão
  • 38,4% adiaram consultas médicas e exames de rotina
  • 59,5% reduziram atividade física

Os dados da pesquisa foram coletados entre 22 de abril e 4 de maio de 2020.