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Qui, 14 Maio 2020 14:07

É preciso fôlego: fisioterapeutas relatam cotidiano na luta contra o coronavírus 

Egressos de Fisioterapia da Unifor contam os desafios diários no front contra a Covid-19 em unidades de saúde


O fisioterapeuta Paulo Henrique Palácio, professor e coordenador do curso de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza (Foto: Ares Soares)
O fisioterapeuta Paulo Henrique Palácio, professor e coordenador do curso de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza (Foto: Ares Soares)

Em todos os esforços despendidos na luta contra a pandemia mundial causada pelo Coronavírus, o trabalho dos profissionais de saúde está sob significativo holofote de necessidade e reconhecimento. Dentre os especialistas em questão, o fisioterapeuta desempenha uma função vital para o tratamento e recuperação dos pacientes acometidos pela Covid-19.  

“[Fisioterapeuta] é o profissional responsável pelo controle da função cardiorrespiratória através de estratégias manuais e de movimentos, do uso de acessórios/equipamentos e do gerenciamento das variáveis do ventilador mecânico de forma sistemática e integrada”, explica o professor Paulo Henrique Palácio, coordenador do curso de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza – instituição da Fundação Edson Queiroz –, sobre a atuação do fisioterapeuta no contexto atual de pandemia.

Conversamos com alguns fisioterapeutas egressos da Unifor que estão hoje atuando na frente de trabalho contra a Covid-19 e eles contam sobre suas rotinas, expectativas e principais desafios nessa empreitada mundial para salvar vidas. Confira os depoimentos abaixo:

Dedicação cotidiana

Wesley Fernandes, 24 anos, é fisioterapeuta no setor de Emergência do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) e revela a necessidade de atenção redobrada em relação a Covid-19 para quem está na linha de frente contra a doença. “O medo existe, mas temos que salvar vidas. Foi para isso que viramos fisioterapeutas”, declara o profissional, egresso da Unifor, que também comenta sobre exaustão física e psicológica de estar em plantão noturno. 

“Está sendo uma rotina bem corrida dentro do hospital. Alguns profissionais estão tendo que usar fraldas porque não podemos estar saindo do setor”, explica Wesley, acrescentando ainda que a alimentação da equipe acontece em uma sala separada dos demais profissionais. No ambiente pessoal ele também toma as precauções necessárias: “Quando chego em casa, tiro toda a roupa, ponho para lavar e vou direto para o banho. Temos que lidar com o medo de contaminar o ambiente com nossos familiares”.

O fisioterapeuta entende que os tempos são difíceis para todos, mas sabe que cada vida perdida é uma família que sofre. “Temos que nos conscientizar de que o vírus é algo muito sério e que as medidas de isolamento são necessárias para que menos vidas sejam perdidas”, assevera Wesley.

O cuidado com o outro

Coordenadora das Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) COVID do Instituto Dr. José Frota (IJF), Lenise Castelo é especialista em Fisioterapia em Terapia Intensiva e trabalha em UTI há 24 anos. A profissional conta que tem ultrapassado diariamente seu horário de trabalho por conta da sobrecarga, até mesmo resolvendo problemas profissionais após chegar em casa. Apesar do alto fluxo, Lenise confessa que foi pior no começo por conta do medo, mas que agora já entrou no ritmo intenso de trabalho. “Tenho prazer e me sinto útil nessa missão de ajudar a salvar vidas”, completa.

A fisioterapeuta, que é egressa da Unifor, explica que sua rotina pessoal também foi bastante afetada. Castelo, 55 anos, precisou sair de casa para preservar a saúde da mãe, 84 anos, e instalar-se na casa da irmã, que também é profissional de saúde. 

Lenise percebe que o contexto da pandemia está aumentando a consciência sobre a importância da presença de profissionais de Fisioterapia nas UTIs. Ela revela que, após 10 anos de tentativas, há exato um ano aconteceu a implantação da Fisioterapia em período noturno no IJF. “E agora, na pandemia, todas as unidades [de atendimento] COVID estão com plantão noturno de Fisioterapia, mostrando assim a necessidade do fisioterapeuta 24 horas”, finaliza.

Técnicas que salvam

“Dentro de uma UTI participamos diretamente no manuseio de ventiladores mecânicos, intubação e [suporte em] paradas cardiorrespiratórias ou outras ocorrências que venham a acontecer”, esclarece o fisioterapeuta Wagner Cordeiro, 27 anos, egresso da Unifor. “Nas enfermarias atuamos com técnicas manuais de expansão pulmonar, remoção de secreção [por aspiração], atividades motoras de fortalecimento muscular global e orientações aos pacientes e acompanhantes”, complementa.

O fisioterapeuta explica que trabalhou a maior parte de sua carreira em consultório, mas que foi convocado para prestar serviço na Medicina Preventiva do Hapvida por conta da grande demanda gerada pela pandemia. “Tem sido bastante difícil e desafiador, mas também muito gratificante e engrandecedor saber que estou ajudando a quem mais precisa nesse momento difícil que estamos vivendo”, confessa Wagner.

Isolado da família e dos amigos para evitar o risco de transmissão devido ao contato diário com pacientes infectados, Cordeiro reflete que todos estão ligados diretamente na manutenção da vida. “Junto outros profissionais da saúde formamos uma equipe onde o principal e único objetivo é o bem estar do paciente”, conclui.