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Ter, 22 Dezembro 2020 18:58

Entrevista Nota 10: Alejandro Sepúlveda e o jornalismo em transformação

Docente da Universidade de Fortaleza há mais de dez anos, o jornalista Alejandro Sepúlveda opina sobre o presente e o futuro da comunicação social. Confira entrevista completa abaixo.


Alejandro Sepúlveda é docente da Unifor e mestre em Ciência Política. (Foto: Ares Soares)
Alejandro Sepúlveda é docente da Unifor e mestre em Ciência Política. (Foto: Ares Soares)

Creio que o grande desafio do jornalista hoje é tornar inteligível para o cidadão o acontecer diário.” É com essa afirmação que Alejandro Vivanco Sepúlveda, docente do curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza, instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz, sumariza o constante dever da imprensa para a sociedade.

Mestre em Ciência Política e acadêmico premiado, Alejandro atua há quase quarenta anos como comunicador social - desses, mais de duas décadas como professor - e pontua que, embora as responsabilidades do jornalista sejam essencialmente as mesmas desde o início da profissão, as recorrentes mutações na forma como ela é exercida sempre trazem novos desafios. 

Em depoimento à Entrevista Nota 10, o docente compartilha parte da sua trajetória profissional e destaca assuntos que marcam o jornalismo contemporâneo, como o avanço de ferramentas digitais e a disseminação de fake news. Por estar bem próximo aos comunicólogos em formação, Sepúlveda também fala brevemente sobre suas perspectivas para o futuro do jornalismo.

Confira a entrevista na íntegra.

Unifor Notícias - Professor, quando teve início sua caminhada com o Jornalismo?

Alejandro Sepúlveda - Comecei a trabalhar em empresas de jornalismo ainda durante a faculdade, por volta da metade da década de 1980, em Campinas, no interior de São Paulo. E entrei pela porta da área comercial de um jornal impresso de tamanho médio. Conheci o setor de vendas de anúncios classificados, o que me ajudou muito a entender o mecanismo de funcionamento do jornalismo enquanto negócio. Logo que me formei, fui para a redação em uma época em que estavam sendo aposentadas as antigas máquinas de escrever Remington, e entravam em cena os primeiros processadores de texto, ou seja, no início do processo de informatização das empresas de comunicação. Vi velhos jornalistas resistirem até às lágrimas a essas mudanças. Já o ambiente político era de abertura, vivia-se o clima das sessões da Assembleia Nacional Constituinte que elaborou a Constituição de 1988, a chamada Constituição Cidadã, que inaugurava o processo de redemocratização do Brasil. Então iniciei a caminhada tendo o privilégio de acompanhar esse e outros momentos históricos de dentro de uma redação de jornal, em companhia do olhar crítico dos jornalistas.


Unifor Notícias - Sua trajetória nas salas de aula já se estende por mais de duas décadas, sendo uma delas como docente do curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza. Durante esse período, devido ao surgimento de novas ferramentas de comunicação, o jornalismo sofreu (e vem sofrendo) diversas mutações em sua prática. Em sua opinião, esses fatores facilitaram ou dificultaram o trabalho do jornalista?

Alejandro Sepúlveda - Penso que essas novas ferramentas trouxeram benefícios, mas também novos desafios para os jornalistas. Destaco que nunca antes foi possível tornar pública uma enorme quantidade de informação, para milhões de pessoas e em tempo real. Hoje, os jornalistas dispõem de recursos tecnológicos que lhes permitem noticiar fatos com a urgência que eles merecem. Mas, por outro lado, essa imediatez em noticiar não permite a devida reflexão e interpretação dos acontecimentos do nosso cotidiano. Em suma, a necessidade em refletir sobre as causas e efeitos dos acontecimentos. Creio que o grande desafio do jornalista hoje é tornar inteligível para o cidadão o acontecer diário.


Unifor Notícias - Nos últimos anos, o cenário mundial tem sido marcado pelo bombardeamento de fake news, inclusive durante a pandemia do novo coronavírus. Qual o papel do jornalista no combate dessa prática criminosa?

Alejandro Sepúlveda - Acredito que o papel dos jornalistas na sociedade contemporânea torna-se muito mais imprescindível dado o emaranhado de informação com que todos nós somos bombardeados diariamente. A informação se multiplica de forma exponencial e junto surgem as fake news, que não são um fenômeno novo, pois elas existem desde o início da imprensa. O que acontece é que hoje se propagam de forma muito mais intensa e perigosa, o que gera um clima de incertezas no ambiente da internet e interferem na opinião pública. Elas colocam em questão a credibilidade de personalidades públicas, das instituições públicas e privadas. Então é cada vez mais preciso um profissional para organizar, separar, hierarquizar e dar sentido a toda essa informação que circula diariamente nos meios de comunicação. E é necessário redobrar o compromisso com a verdade; o profissional jornalista deve estar atento e sempre se perguntar a quem interessa tornar ou não pública uma determinada informação, quais interesses atende, quem será beneficiado e quem será prejudicado.


Unifor Notícias - Enquanto docente, o senhor contribui ativamente para a formação de comunicadores “do futuro”. O que podemos esperar da próxima geração de jornalistas?

Alejandro Sepúlveda - Espero que caminhem no sentido de ajudar a construir uma sociedade mais justa e solidária, que tenham sempre em mente o poder conscientizador que tem o jornalismo quando trabalha para tornar os indivíduos em verdadeiros cidadãos.


Unifor Notícias - Para encerrar, gostaríamos de destacar o convite que recebeu para ser jurado do Prêmio Gandhi de Comunicação 2020, realizado pela Agência da Boa Notícia e com grande destaque no setor jornalístico. Esse convite trouxe muito orgulho para a Universidade de Fortaleza. Como o senhor pode definir esse momento de reconhecimento em sua carreira?

Alejandro Sepúlveda - A Agência da Boa Notícia busca construir a paz pela comunicação e, desde 2007, realiza o Prêmio Gandhi de Comunicação. Trata-se de um projeto consolidado e que desfruta de enorme reconhecimento no nosso segmento. Portanto, receber um convite para participar como jurado desse evento é de uma enorme alegria para qualquer pessoa. Poder contribuir em um projeto que incentiva jornalistas e estudantes de jornalismo a promover uma comunicação que desenvolva uma cultura pacífica e fraterna para nossa sociedade é uma enorme realização profissional.