null Exposição do Espaço Cultural Unifor celebra 100 anos da Semana de Arte Moderna

Seg, 24 Janeiro 2022 16:39

Exposição do Espaço Cultural Unifor celebra 100 anos da Semana de Arte Moderna

Com abertura prevista para março, a nova exposição analisa diferentes expressões e incidências do movimento modernista no Brasil


Curadora da exposição, Regina Teixeira contará com apoio de Aracy Amaral e um time de professores e maestros da Unifor (Foto: Paulo Portella Filho)
Curadora da exposição, Regina Teixeira contará com apoio de Aracy Amaral e um time de professores e maestros da Unifor (Foto: Paulo Portella Filho)

Há cem anos, o Brasil vivenciou uma verdadeira revolução cultural. De 13 a 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, acontecia a Semana de Arte Moderna, mostra artística que teve um papel fundamental na consolidação do modernismo no país. Dentre os participantes, estavam Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Candido Portinari e Ismael Nery, entre outros grandes nomes das artes plásticas. Entretanto, engana-se quem pensa que o movimento nasceu ali: o pensamento “modernista” já era disseminado entre artistas e intelectuais brasileiros há pelo menos duas décadas.

Fazendo jus à posição de destaque que assume enquanto equipamento artístico e educacional do Ceará, o Espaço Cultural Unifor, da Fundação Edson Queiroz, prepara a exposição sobre o centenário da Semana de Arte Moderna que explora o impacto do movimento modernista na identidade brasileira. Sob a curadoria de Regina Teixeira de Barros, a consultoria de Aracy Amaral e com abertura prevista para 22 de março, a mostra reunirá peças de colecionadores particulares e públicos e deve ficar em cartaz até dezembro de 2022.

“A exposição, na verdade, é um tributo à Semana de 1922, mas ao mesmo tempo mostraremos que o modernismo aconteceu em vários lugares do Brasil. Queremos desfazer a ideia de que a semana é um ‘divisor de águas’ e mostrar que o modernismo é um processo de idas e vindas, que ocorre em diversos momentos, em diversos lugares e de maneiras bem distintas”, comenta Regina Teixeira. 

Adriana Helena, gestora do Espaço Cultural Unifor, complementa afirmando que “com a exposição, apresentaremos a Semana de 1922 como parte de um processo que é maior, de uma vontade de modernização do País. Nesse âmbito, além de obras de artistas que estiveram presentes nessa ocasião histórica, serão mostrados trabalhos modernistas que antecederam esse período, assim como obras de artistas que surgiram depois da Semana de 1922, cuja contribuição é essencial para compreender quais foram os rumos que a arte moderna tomou no Brasil. Então, nesse sentido, a pesquisa vai abranger um arco temporal que vai desde o início do século XX até 1943”.

Indo além de 1922

Para a exposição, a curadoria escolheu explorar um período de quase meio século, e não somente a tão conhecida Semana de Arte Moderna. Regina conta que, no final do século XIX, já podia-se enxergar um desejo de modernização das cidades, sendo este explicitado na construção de grandes teatros em municípios brasileiros fora do eixo RJ-SP, dentre eles o tão querido Theatro José de Alencar. Já a determinação de encerrar o recorte no ano de 1943 considera a chegada de Jean-Pierre Chabloz em Fortaleza, “que vai dar início a um novo momento do modernismo no Ceará”, ela explica.

“A ideia é que a exposição seja estruturada em três momentos: artistas anteriores a esse ‘primeiro modernismo’ formam o primeiro núcleo; o segundo núcleo terá os artistas que a gente associa diretamente à primeira geração modernista, como Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, entre muitos outros; e um terceiro espaço com os artistas atuantes nas década de 1930 e 1940 que também são importantes para entender o modernismo, incluindo Raimundo Cela, Vicente Leite e Chico de Albuquerque”, destaca Regina. 

Modernismo “fora da caixa”

Para a mostra, Regina Teixeira e Aracy Amaral contam com uma parceria mais do que especial: elas se unem a um time de professores da Universidade de Fortaleza, que ficará incumbido de destacar como o movimento modernista esteve presente fora da esfera das artes plásticas. 

Sobre a contribuição, Teixeira conta: “Estamos chamando professores de diversas áreas da Unifor para fazer algumas vitrines na exposição sobre setores como arquitetura, música e literatura. Queremos abordar acontecimentos como a Padaria Espiritual e a escrita de Rachel de Queiroz, por exemplo. Ou então, percorrer da música erudita de Alberto Nepomuceno até a música popular, como forró, que também foi bem importante na primeira metade do século. Nossa ideia é abranger de uma forma bem generosa o modernismo”.

De acordo com Adriana Helena, a colaboração abre espaço para que aconteça uma forte inclusão do “cearensês” na forma como estudamos a trajetória do modernismo. “Acho que isso caracteriza nossa exposição como uma que pensa na identidade do cearense, na questão do pertencimento, de se ver na história e na arte. Ela vai mostrar como é que aconteceu esse movimento modernista aqui no Ceará, ressaltando como o Estado se movimentava na época dele”, comenta ela.

Além da participação dos professores, a gestora do Espaço Cultural conta que também estão sendo planejadas apresentações musicais concebidas pelos maestros da instituição: “Os maestros dos nossos grupos de arte estão pesquisando pra compreender, para mostrar, para nos dar pistas e referências de como é que a música também estava se movimentando dentro desse momento do modernismo aqui”.

Experiência transformadora

Ao possibilitar uma viagem às várias manifestações artísticas e identitárias do século passado ligadas ao modernismo, a exposição que residirá no Espaço Cultural Unifor em 2022, assim como outras realizadas anteriormente, promete grande potencial educacional e de entretenimento. “Eu acredito que as artes ampliam as possibilidades de sensibilidade, da percepção e da linguagem dos estudantes, além de desenvolver neles, e também nos professores e colaboradores, o senso crítico e a capacidade de estabelecer associações”, pontua Adriana Helena. 

Ela continua: “a arte na educação permite que o público, especialmente o jovem, se desenvolva não apenas na forma cognitiva, mas também socialmente. Acho que, para eles, vai ser bastante importante essa ampliação do arcabouço teórico do movimento modernista no Brasil, especificamente no Ceará”. 

Quanto à recepção do público geral, Regina Teixeira alimenta expectativas positivas: “O público pode esperar muito bem dessa exposição, porque vai ter muita coisa bacana. Vamos ‘re-pensar’ o modernismo, explorar a ideia de mudanças e de vontade, de renovação, em diversas linguagens, não só nas artes visuais. Evidentemente, elas vão ser o grande destaque, mas nós não queremos deixar de lado a literatura, a música, a arquitetura, a fotografia e outros múltiplos aspectos”, finaliza a curadora.

*Matéria originalmente publicada na 10ª edição (2022.1) da Revista Unifor.