null Nova exposição traz diálogo das artes visuais com literatura, arquitetura e música

Qua, 23 Março 2022 17:43

Nova exposição traz diálogo das artes visuais com literatura, arquitetura e música

A exposição "100 anos da Semana de Arte Moderna em acervos do Ceará" tem acesso gratuito


A abertura da exposição faz parte da programação da II Semana de Arte Unifor (Fotos: Ares Soares)
A abertura da exposição faz parte da programação da II Semana de Arte Unifor (Fotos: Ares Soares)

Visitar o Espaço Cultural Unifor é embarcar em um passeio no tempo e nas diversas  conexões da Semana de Arte Moderna de 1922 com o Ceará. Em cartaz até 31 de julho de 2022, a mostra “100 anos da Semana de Arte Moderna em Acervos do Ceará” apresenta um caminho guiado pela pesquisa que selecionou mais de 150 trabalhos representativos do período divididos em três núcleos.
 
A abertura da mostra aconteceu nesta terça-feira, 22 de março, com a presença dos curadores e da presidente da Fundação Edson Queiroz, Lenise Queiroz Rocha, da curadora da exposição Regina Teixeira de Barros, da reitora da Universidade de Fortaleza, Fátima Veras, vice-reitores da Universidade, professores e alunos entre outros convidados.  
 
“Esta exposição joga luz sobre os ecos do moderno, para guiar-nos sobre o que foi produzido no Ceará e no Brasil. Buscamos, assim, contemplar o local sem preterir o cenário das artes que repercutiu além dos nossos muros”, diz a presidente da FEQ. A abertura da exposição faz parte da programação da II Semana de Arte Unifor.
 


A presidente da Fundação Edson Queiroz, Lenise Queiroz Rocha, e a curadora Regina Teixeira de Barros (Foto: Ares Soares)

Para a curadora Regina Teixeira de Barros, que é doutora em Estética e História da Arte pela Universidade de São Paulo (USP) e professora de história da arte, a mostra é uma oportunidade rara de ver um conjunto de obras como as provenientes de diversos acervos públicos e particulares, além da coleção da Fundação Edson Queiroz. A curadora destaca ainda que a exposição é acessível a diversos públicos, com textos curtos e introdutórios sobre o Modernismo e sobre os antecedentes do Modernismo. A exposição conta com a consultoria de Aracy Amaral, crítica de arte, curadora e doutora em artes pela USP.

Passeio na História

Os visitantes do Espaço Cultural Unifor podem transitar nas galerias e no tempo com paradas na originalidade da Padaria Espiritual (criada em 1892), nas características arquitetônicas do Theatro José de Alencar (inaugurado em 1910) ou no balanceio musical de Lauro Maia.
 
“As primeiras evidências da busca pelo moderno têm início em fins do século XIX e adentram o século XX, quando o Modernismo floresce como movimento artístico. A mostra abrange todo esse período, acompanhando as concepções de moderno e suas diversas particularidades”, explica a curadora da exposição.
 
 “A ideia não é mostrar a influência do modernismo nos artistas cearenses. É mostrar o que os cearenses estavam produzindo nesse período, mostrar que as produções aconteciam ao mesmo tempo, mas com características próprias”, destaca Regina Teixeira de Barros.

 Obra-símbolo

A mostra tem como obra-símbolo a tela “Figuras”, de Emiliano Di Cavalcanti, que está entre os artistas que manifestaram a vontade de renovação, assim como Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Victor Brecheret, entre outros. A exposição em cartaz no Espaço Cultural Unifor, além de privilegiar a produção de artistas plásticos modernos, também apresenta os passos do movimento modernista na literatura, artes plásticas, arquitetura, fotografia e música do Ceará.

“A exposição 100 anos da Semana de Arte Moderna em acervos do Ceará apresenta obras da Fundação Edson Queiroz e de importantes coleções públicas e privadas do Ceará, em celebração ao centenário desta efeméride que marcou a arte e a cultura no Brasil. Além das artes visuais, os trabalhos expostos abordam linguagens como teatro, literatura e música, sempre sob um forte viés pedagógico, aliando arte e educação, de modo a atender os públicos mais diversos”, salienta o professor Randal Pompeu, Vice-Reitor de Extensão e Comunidade Universitária da Unifor.

Repercussão

A presidente da Fundação Sérvulo Esmeraldo, Dodora Guimarães, destacou o papel que a Fundação Edson Queiroz tem desempenhado no fomento à cultura. “O Espaço Cultural Unifor tem ao longo desses anos se consolidado  como um centro catalisador de arte no Nordeste brasileiro, no Brasil, porque a Fundação Edson Queiroz tem uma coleção em constante movimento, que é trabalhada sistematicamente. É um espaço que tem contribuído enormemente para a cultura e a história social cearense e brasileira”, disse.


A presidente do Instituto Sérvulo Esmeraldo destaca relevância de garantir acesso à fruição da arte

Ela reforça que a Unifor e a Fundação Edson Queiroz reúnem um conjunto de qualidades que favorecem a fruição da arte. Para Dodora, “uma exposição é um ato civilizatório, porque ela trata do conhecimento, ela traz informações da arte. E a arte, juntamente com a ciência, são dois eixos principais da humanidade”.

As obras que compõem a mostra sobre os 100 anos da Semana de Arte Moderna são provenientes da Fundação Edson Queiroz, detentora de um dos acervos mais importantes do Brasil, bem como de coleções cedidas pela Prefeitura de Fortaleza, Governo do Estado do Ceará, Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC), Museu da Fotografia, pelo fotógrafo Gentil Barreira e curadora Patrícia Veloso, entre outros colecionadores particulares.

O reitor da UFC, Cândido Albuquerque, destacou a relevância da mostra e dos serviços prestados à cultura do Ceará por parte da Fundação Edson Queiroz. “É importante que instituições como a Unifor atuem para que os jovens saibam o que a Semana de Arte Moderna representou. Essa exposição é absolutamente fundamental”, disse Albuquerque. 

Núcleos da mostra

A exposição "100 anos da Semana de Arte Moderna em acervos do Ceará" divide-se em três núcleos. Um deles reúne obras de artistas que antes de 1922 já esboçavam o desejo de renovação, seja pelos temas tratados ou pela maneira de pintar. Neste espaço, as obras de Eliseu Visconti, Belmiro de Almeida e Arthur Timótheo da Costa dialogam com a produção singular da Padaria Espiritual, agremiação de escritores e intelectuais cearenses que pregavam a renovação das artes. 

Uma das salas deste núcleo é dedicada exclusivamente à arquitetura de Fortaleza no início do século XX. Além de se deparar com uma maquete do Theatro José de Alencar (inaugurado em 1910), o visitante verá projeções fotográficas de exemplares da arquitetura do ferro e da arquitetura eclética da capital cearense na época.

Na última sala desta sequência, instrumentos musicais do final do século XIX contam um pouco da história da música feita no Ceará naquela época, enquanto projeções sonoras envolvem o visitante e o transportam às primeiras décadas dos anos 1900. A pesquisa musical para a montagem do espaço foi realizada pelos maestros da Unifor. Partituras originais de marchinhas e maxixes serão expostas ao lado de um gramofone e um oficleide, instrumento raríssimo, antecessor do trompete.

Um segundo núcleo é composto de obras de artistas que participaram diretamente da Semana de 1922, como Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret e Vicente do Rego Monteiro, e artistas da chamada “primeira geração modernista”, como Ismael Nery, Antônio Gomide, Tarsila do Amaral, Lasar Segall e Cícero Dias. “Esse segmento apresenta uma seleção de obras dos artistas que se destacaram ao longo da década de 1920, seja pela busca de uma representação da identidade nacional, seja pela evidente liberdade de experimentação.”


 

O catálogo da exposição no Teatro Municipal (desenhado por Di Cavalcanti), os programas dos concertos e palestras que aconteceram durante a Semana, o Manifesto Antropofágico e outros documentos também estão nessa sala.

O terceiro núcleo é dedicado aos anos 1930 e início dos anos 1940, quando a preocupação social se torna essencial para os artistas. O artista mais emblemático desse período é Cândido Portinari, que está representado na exposição por quase uma dezena de pinturas. Além dele, grandes nomes que surgem nos anos 1930 e se tornam destaques do modernismo nacional, como José Pancetti, Alfredo Volpi, Burle-Marx, entre outros, também poderão ser vistos neste núcleo.

“A primeira sala desse segmento é dedicada aos pintores cearenses Vicente Leite e Raimundo Cela e a vitrines com livros de Rachel de Queiroz e do Grupo Clã. No fundo, vamos ter uma série de surpresas, com trechos do filme de Orson Welles, fotografias da estada dele em Fortaleza, fotografias do cangaço e, ao mesmo tempo, as primeiras obras do Antônio Bandeira, que vai constituir, vamos dizer, a onda de pintura moderna que vai começar no Ceará nos anos 1940. A exposição termina com três cartazes que Jean Pierre Chabloz fez para a Campanha da Borracha, em 1943. A chegada dele dá início a um novo capítulo da história da arte no Ceará”, conta Regina Teixeira de Barros.

Serviço

Exposição “100 anos da Semana de Arte Moderna em acervos do Ceará”
Em cartaz até 31 de julho de 2022
Local: Espaço Cultural Unifor (Av. Washington Soares, 1321 – Edson Queiroz)
Visitação: de terça a sexta-feira, das 9h às 19h – sábados e domingos, das 10h às 18h
Mais informações: (85) 3477.3319