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Seg, 10 Janeiro 2022 10:27

Professores desenvolvem e-book sobre reabilitação na síndrome pós-Covid

O livro digital visa auxiliar profissionais da Fisioterapia e Educação Física no tratamento de pacientes com sintomas prolongados


E-book apresenta casos clínicos de pessoas portadoras da síndrome pós-Covid-19 (Foto: Getty Images)
E-book apresenta casos clínicos de pessoas portadoras da síndrome pós-Covid-19 (Foto: Getty Images)

No Brasil, a pandemia da Covid-19, causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), está próxima de completar dois anos. Em meio a novas variantes, campanhas massivas de vacinação e pesquisas contínuas realizadas pelas comunidades médica e científica, o vírus, assim como suas possíveis complicações no corpo humano, ainda traz muitos questionamentos. 

Em março de 2021, uma revisão de literatura intitulada "Post-acute COVID-19 syndrome", publicada no periódico médico Nature Medicine, constatou que, mesmo após a recuperação, os indivíduos que foram diagnosticados com Covid-19 continuam necessitando de cuidados e recursos de saúde. Esse fenômeno é atrelado, como o próprio nome do artigo já esclarece, à Síndrome pós-Covid-19, caracterizada por uma série de sintomas prolongados, como fadiga intensa, falta de ar e diminuição da força muscular. 

Para amenizar e conter essas manifestações clínicas persistentes, e promover uma recuperação ainda mais rápida, a melhor estratégia é o acompanhamento multidisciplinar. Ou seja, para lidar com as possíveis sequelas decorrentes da infecção, o tratamento vai muito além de medicamentos, devendo ser priorizada uma abordagem contínua e integrada de diversos profissionais da saúde, como fisioterapeutas e educadores físicos. 

Observando esse cenário, professores dos cursos de Fisioterapia e Educação Física da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, desenvolveram, em conjunto, o e-book "Reabilitação física e funcional na síndrome pós-Covid-19" que visa, por meio da apresentação de casos clínicos, auxiliar profissionais de ambas as áreas que assistem pessoas portadoras da Síndrome em locais como domicílio, academias e ambulatórios. 

Um melhor direcionamento 

De acordo com Paulo Henrique Palácio, coordenador do curso de Fisioterapia da Unifor e um dos responsáveis pelo desenvolvimento do livro digital, a ideia para o projeto surgiu na metade do ano de 2021, com o aumento da demanda de pessoas que tiveram a doença mas ainda apresentavam restrições funcionais relacionadas à síndrome. 

"Como ainda era um assunto novo tanto para o público em geral como para os profissionais, a equipe resolveu produzir um livro on-line para ter um alcance maior, com as principais informações sobre essa síndrome e direcionamentos para o processo de reabilitação física e funcional", destaca o professor Paulo Henrique Palácio.

A fisioterapeuta Julyana Maia, também professora do curso e, assim como seu colega, organizadora do projeto, reforça que a Síndrome pós-Covid-19 é sistêmica, e a recuperação e abordagem do indivíduo diagnosticado envolve uma equipe multidisciplinar. Contudo, ela diz que, muitas vezes, a atuação dos diversos profissionais pode ficar confusa. 

"Nós procuramos trazer essas interseções, as fases em que os dois [fisioterapeuta e profissional da educação física] podem atuar, e também esses limites. Até onde um vai, onde o outro passa a ser a prioridade. Então, nós queríamos também trazer isso, a importância desses dois profissionais na reabilitação física e funcional, que ao mesmo tempo que vão trabalhar juntos com interseções, também tem suas particularidades”, afirma Julyana Maia, professora do curso de Fisioterapia. 

Além disso, para o coordenador, a colaboração entre a Fisioterapia e a Educação Física é essencial, pois ambas as áreas possuem uma ferramenta em comum no processo de recuperação do paciente: o exercício. Palácio diz que, esse mecanismo, assim como suas particularidades nas respectivas profissões, quando trabalhados em conjunto trazem grandes benefícios para a saúde da população nas mais diversas condições crônicas. 

Experiência enriquecedora 

O e-book foi uma colaboração entre professores, profissionais convidados e alunos de ambos os cursos. Para a fisioterapeuta, essa junção foi desafiadora, mas, acima de tudo, foi também uma experiência muito enriquecedora. "A gente teve muito cuidado de pegar pessoas que estavam na linha de frente, que estavam atuando na prática, mas com base na ciência, para a gente construir exatamente esse material para aquele profissional que não é cientista, mas que quer atender com qualidade", diz. 

A docente explica que a escolha do formato digital se deve à facilidade na hora do acesso e ao rápido manuseio. Dessa forma, os profissionais podem acessar pelo celular, tablet ou computador, no seu horário de trabalho ou em um intervalo entre um paciente e outro. A obra, com sua linguagem simples e objetiva, porém cientificamente embasada, é compacta, assertiva e possui as principais informações sobre o assunto, além de possibilidades de novos estudos. 

De acordo com o coordenador do curso de Fisioterapia, uma das metas relacionadas ao projeto é criar uma atualização digital contínua do livro, para que possa servir de base para novas produções científicas, e integrar o serviço de reabilitação pós-Covid-19, que já existe no setor fisioterapêutico do Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) da Unifor.

Ciência para quem não é cientista 

Produções como essa são importantes dentro e fora do meio acadêmico. Elas transmitem os valores da instituição e agregam conhecimento de diversas áreas. Segundo Paulo Henrique Palácio, "o e-book vem como uma forma de expressar o compromisso da universidade no que tange ao ensino, pesquisa e extensão, pois a obra pode ser utilizada como ferramenta pedagógica na graduação, e seu aprimoramento trará novas publicações científicas que contribuem para a oferta de serviços de extensão pautados na ciência".

Julyana Maia possui uma visão parecida. Ela acredita que a comunidade acadêmica tem o compromisso de levar ciência para quem não é cientista, para todos aqueles que não fazem parte da academia, incluindo os profissionais que estão atuando em domicílio e nas clínicas, que são, de acordo com ela, aqueles que irão receber e atuar como fisioterapeutas e educadores físicos junto a pessoas que passaram pela infecção causada pelo novo coronavírus. 

"Então, como universidade, como cientistas da educação física e da fisioterapia, nós decidimos fazer um material objetivo, claro, sobre o formato de casos clínicos, para que seja de fácil entendimento, com uma linguagem rápida para que o profissional da linha de frente, estando nas academias, em domicílios e clínicas, possa rapidamente, ao ler, ter uma informação de qualidade gerada por cientistas, que somos nós", finaliza.