seg, 3 fevereiro 2020 12:31
Entrevista Nota 10: O corpo em movimento
Coordenador do Curso de Fisioterapia, Paulo Henrique Palácio reflete sobre os novos campos de atuação profissional e o respaldo dos fisioterapeutas no mercado de trabalho
Uma área em constante expansão. É assim que podemos entender a Fisioterapia. Antes relacionado somente a reabilitação de indivíduos com traumas ortopédicos, esse campo de atuação ganhou novos ares, novas funcionalidades e, claro, novas perspectivas profissionais. Agora, ao invés de apenas ajudarem pacientes lesionados a recuperar força e movimento, os fisioterapeutas são responsáveis por trabalhar prevenção, beleza, cuidado e tantos outros aspectos.
Os constantes aprimoramentos tecnológicos, a ampliação da expectativa de vida da população brasileira e os estudos especializados fizeram a Fisioterapia se tornar uma área essencial para a saúde. Quem fala sobre esse tema é o professor Paulo Henrique Palácio, coordenador da graduação em Fisioterapia da Universidade de Fortaleza (Unifor), posto que ele considera “uma honra”.
Antes de ser professor, Paulo Henrique foi primeiramente aluno do curso. Após passar pelo mercado de trabalho e realizar seus estudos acadêmicos de pós-graduação, ele retornou para Unifor e, atualmente, lidera o time de docentes responsáveis por formar novos profissionais.
Na entrevista, o coordenador fala sobre o bacharelado da Unifor, que tem duração de dez semestres e no qual os alunos têm a oportunidade de entender processos que perpassam todos os níveis da saúde: primário, secundário e terciário. Desde as primeiras aulas, ele explica, os futuros fisioterapeutas são incentivados a buscar a pesquisa científica e têm espaço para desenvolver as vivências práticas. Confira!
Entrevista Nota 10 - Quais aspectos tornam o curso de Fisioterapia de Universidade de Fortaleza diferente de outras graduações oferecidas no Nordeste e no Brasil?
Paulo Henrique Palácio - O primeiro fato é o curso de Fisioterapia ser oferecido dentro de uma universidade. Isso já é realmente um grande diferencial pela dinâmica da universidade. Traz mais pesquisas, traz parcerias internacionais. Temos diversos alunos do curso de Fisioterapia que estão, nesse momento, na Europa. E também recebemos alunos de fora para fazer esse tipo de intercâmbio. Temos diferenciais também nos laboratórios. Temos o parque montado - tanto de salas de aulas como de laboratórios. E temos integração dos diversos cursos. O curso de Fisioterapia sempre tem desenvolvido muitas parcerias com diversos cursos da Universidade de Fortaleza- desde a área da saúde como também cursos da tecnologia.
Entrevista Nota 10? Sabemos que a Fisioterapia está bastante relacionada à prática. Quais laboratórios existem na Unifor para possibilitar que os alunos tenham experiências reais? Como os alunos têm contato com as práticas do mercado de trabalho?
Paulo Henrique Palácio - Desde o primeiro semestre, os alunos já têm contato com os diversos cenários da Fisioterapia. No primeiro semestre e no segundo semestre, eles fazem algumas visitas observacionais e têm algumas vivências relacionadas à Fisioterapia que incluem os laboratórios. E, do segundo semestre até o quinto semestre, existem diversos laboratórios para formação básica. Então, são laboratórios relacionados à Cinesioterapia, laboratórios relacionados à especialidade cardiorrespiratória, laboratórios relacionados a recursos terapêuticos. E também a parte da manualidade da Fisioterapia, a articulação também com laboratórios de práticas clínicas e de atendimentos de pacientes. Então, das diferentes expertises e das diferentes especialidades da fisioterapia, nós temos laboratórios específicos nos quais os alunos - desde os semestres iniciais até os semestres mais avançados - frequentam. Eles participam tanto de aulas e de momentos curriculares, como também de atividades complementares. Todas as habilidades do fisioterapeuta contemporâneo - sejam habilidades manuais, habilidades técnicas envolvendo exercícios, habilidades envolvendo uso de tecnologia, de equipamentos, de acessórios e de aparelhos - nós temos disponíveis.
Entrevista Nota 10 - Os laboratórios são utilizados de forma aberta ao público? Existem projetos que atendam ao público externo e onde os alunos podem praticar e aprender?
Paulo Henrique Palácio – Os laboratórios para o desenvolvimento das habilidades dos futuros fisioterapeutas - dos fisioterapeutas em formação - são exclusivos dos alunos da universidade. Mas nós temos que pontuar, também, a existência da nossa “clínica escola”, que é o Núcleo de Atenção Médica Integrada, o Nami. Lá é um laboratório, de certa forma, podemos considerar apenas para atendimentos. E é lá onde se concentram os módulos, se concentram as atividades, tanto de extensão como curriculares de atendimento de pacientes. Os alunos já estão no nível de práticas tanto assistidas como supervisionadas. Então, nesse momento, a comunidade pode se beneficiar dos serviços da Fisioterapia.
Entrevista Nota 10 – Como os profissionais formados e professores acompanham a atuação dos estudantes que participam do Núcleo de Atenção Médica Integrada?
Paulo Henrique Palácio – No Nami não há apenas Fisioterapia. São vários andares com praticamente todos os cursos da área da saúde e áreas complementares. E nosso primeiro andar - uma parte bem extensa - é da Fisioterapia. Lá funcionam diversos módulos que são de práticas assistidas e práticas supervisionadas. Ou seja, nas práticas assistidas os alunos fazem o atendimento com o acompanhamento do professor e nas práticas supervisionadas também têm o acompanhamento - mas os alunos possuem mais autonomia, pois já estão no último ano do curso e têm uma expertise maior. [O atendimento] é aberto para a comunidade. Os alunos estão fazendo atendimentos e estão colocando em prática tudo aquilo que aprenderam lá nos laboratórios, colocando em prática para atendimento da comunidade.
Entrevista Nota 10 - Atualmente, qual é o perfil dos professores que lecionam no curso da Unifor? São pessoas que possuem experiências no mercado de trabalho e na pesquisa?
Paulo Henrique Palácio – Todos os professores são mestres e doutores. Isso é uma prerrogativa, mas também não deixa de ser um grande diferencial. E são professores conhecedores das suas especialidades. Temos, no nosso corpo docente, professores que realmente exercem a profissão e têm uma produção tanto científica como também uma produção de trabalho bem interessante. Temos professores da área hospitalar, temos professores da área esportiva, temos professores da área pediátrica, temos professores da área neurofuncional, temos professores da área neurológica, temos professores da área traumatoortopédica, temos professores da área dermatofuncional e estética. Temos diversos professores especialistas em suas áreas e que têm seus consultórios, clínicas e pacientes particulares. Eles possuem negócios dentro de áreas agregadas e são professores da universidade para que possamos construir juntos. Isso possibilita ao aluno, ao futuro profissional, desenvolver uma visão mais ampla da própria formação ao invés de ficar de uma forma linear apenas no contexto acadêmico. Buscamos formar alunos e formar cidadãos que vão ser fisioterapeutas. Mas fisioterapeutas que não vão olhar apenas a questão profissional, mas vão olhar a questão local, ambiental. Ou seja, têm uma visão sistêmica pra intervir através da sua expertise de Fisioterapeuta. E isso vem da interface, vem da relação professor-aluno. E com um professor que tem uma vivência de mercado. Essa troca realmente na academia - ou seja, de ensino superior e mercado - é uma troca rica. E hoje nós vemos isso cada vez mais forte. É o mercado influenciando o surgimento de novas áreas de atuação, a remodelação de novas áreas. O mercado está mostrando e o ensino superior vai realmente se adequar a essas novas realidades. É bastante rica essa troca com os docentes não apenas professores profissionais - que é importante - mas que têm uma expertise fora do âmbito acadêmico.
Entrevista Nota 10 - A população brasileira está vivendo mais. Com o aumento da expectativa de vida, entretanto, crescem também os problemas de saúde relacionados à terceira idade. Como os profissionais da Fisioterapia têm encarado esse novo cenário e como os alunos estão sendo formados para encarar essa nova realidade brasileira?
Paulo Henrique Palácio - Quando eu era estudante, nos livros e nos artigos, nós líamos que, em 2020, o Brasil seria o quinto país com o maior número de idosos no mundo. E em 2020 já chegamos. Aqui estamos, como você falou, vivenciando a realidade desse contexto da terceira idade. E a Fisioterapia tem um papel importantíssimo e fundamental dentro da equipe multidisciplinar para a atenção, para o cuidado, para a recuperação funcional e para a prevenção de agravos nessa faixa etária. Uma das principais intercorrências que acontecem na terceira idade são as quedas. E só um adendo: é importante desmitificar que o envelhecimento é um processo ruim, que envelhecimento é um processo de doença, temos que desmitificar. Claro que, com o envelhecimento, nós vamos perdendo algumas funções, nós vamos ficando realmente mais vulneráveis. Mas essa curva que começa a cair depois de certa idade pode cair de uma forma lenta e suave – na qual a pessoa não vai perceber. E percebemos, hoje, que, cada vez mais, os idosos estão se aposentando mais tarde, estão conseguindo realmente ter uma maior expectativa de vida e com qualidade de vida. Esse realmente é o grande desafio. Mas, com o fator envelhecimento, você vai perdendo um pouco a força e perde também o equilíbrio. E isso pode deixar o indivíduo mais suscetível a quedas. Um dos grandes desfechos de quedas em idosos são as fraturas, principalmente, as fraturas no colo do fêmur. Acontecendo uma fratura desse estilo pode ser necessário um procedimento cirúrgico, dependendo da gravidade, e a internação. E, se ficar vulnerável a complicações respiratórias, depois de algum tempo pode até vir a óbito. Estou sendo, digamos, um pouco fatalista, mas é algo que pode acontecer. A estratégia da Fisioterapia - junto com a Educação Física e junto com a Medicina - é desenvolver estratégias de educação e saúde. Não apenas para o idoso, mas para a família. Para desenvolver força nos membros inferiores, desenvolver o equilíbrio e prevenir essas quedas. Na Universidade nós temos alguns projetos e professores especialistas na área de Fisioterapia Geriátrica e também campos de estágios onde há essa parcela da população. Assim, conseguimos desenvolver no aluno também essas habilidades.
Entrevista Nota 10 – O leque do profissional de Fisioterapia está maior. A estética está crescendo, a área preventiva está crescendo. Quais são os ramos de atuação possíveis para os futuros fisioterapeutas e como a Unifor está diversificando as formações?
Paulo Henrique Palácio - A imagem que algumas pessoas ainda têm da Fisioterapia é só pensar no nosso trabalho depois que acontece alguma lesão. Isso remete, um pouco, a nossa própria existência. Pois, historicamente, a Fisioterapia surgiu nesse contexto: de atenção secundária e de atenção terciaria. Mas, com o desenvolvimento e com o crescimento da profissão, a Fisioterapia deu um salto. Há um respaldo muito grande do ponto de vista técnico e do ponto de vista cientifico. E também de iniciação no mercado. Tanto os profissionais se desenvolveram em diversas áreas como também a população começou a identificar realmente essas nossas atuações. Fisioterapia não é apenas recuperação funcional e não é apenas a atuação quando você se lesiona, mas é a perspectiva de prevenção. Hoje, a prevenção é um campo de pesquisa. E não apenas da Fisioterapia, mas um campo de investigação grande. Há um custo menor e é mais impactante positivamente, para todo mundo, prevenir do que tratar. Chega a ser óbvio, mas a questão da prevenção é um desafio grande - porque mexe com estratégias de educação e de saúde, com coisas culturais. São alguns desafios, não são empecilhos. Então, hoje, o fisioterapeuta não é um profissional que só vai ser procurado depois que passar pelo médico ou por outro profissional. Ele é um profissional de primeira consulta e - com toda a sua expertise de avaliação, de tratamento, de prescrição de exercícios ou de prescrição do tratamento como um todo e encaminhamento para os profissionais. Eu posso dar a dica aqui pra vocês irem no site do Coffito (coffito.org.br). É a página do Conselho de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Lá existem todas as especialidades de fisioterapia - que vão desde a especialidade em Fisioterapia Traumatoortopédica, Fisioterapia em Osteopatia, Fisioterapia em Quiropraxia, Fisioterapia Pediátrica, Fisioterapia Neurofuncional, Fisioterapia em estética e em Fermatofuncional. São várias especialidades da Fisioterapia. E isso é controlado e organizado através de provas de especialistas, existem os cursos de pós-graduação e existe um ciclo de provas e de testes para que os profissionais tenham esses títulos de especialistas e possam atender com qualidade. E a população tem a garantia de que está realmente recebendo um serviço de qualidade do profissional.
Entrevista Nota 10 – E como estas especialidades e expertises estão contempladas dentro da graduação de Fisioterapia oferecida pela Universidade de Fortaleza?
Paulo Henrique Palácio - A nossa formação da fisioterapia está dividida em dez semestres – que, por sua vez, estão divididos em vários ciclos. Nós contemplamos algumas especialidades. O profissional formado é um profissional generalista. Vai sair da graduação um fisioterapeuta com competência para atuar em diversas áreas de atuação profissional. Mas, durante a atuação dele, já vai vir com alguns conhecimentos de especialidades. Por exemplo, aqui na universidade, eles já vivem a área da fisioterapia manipulativa e postural. O aluno vê não cursos de Osteopatia ou de Quiropraxia – mas passa por vertentes diferentes, ele detém conhecimentos, ele é exposto a habilidades e desenvolve, principalmente, o raciocínio para quando chegar lá no mercado. E, no curso de pós-graduação, já estará mais familiarizado com alguns termos, com alguns testes e com algumas abordagens.
Entrevista Nota 10 - O profissional fisioterapeuta está ganhando mais respaldo no mercado?
Paulo Henrique Palácio – Exato! A Fisioterapia deu um salto nos últimos quinze anos. De qualidade, de respaldo, de integração com a ciência. A Fisioterapia baseada em evidências, as tomadas de decisões clínicas bem mais respaldadas, o desenvolvimento tecnológico, o desenvolvimento de mercado e os novos horizontes para o profissional. Nós estamos em franca ebulição, realmente. Claro que precisando realmente de alguns ajustes, de algumas melhorias em alguns campos. E há algumas dificuldades que não são apenas da Fisioterapia, mas dificuldades compartilhadas por todas as profissões de saúde. Mas, realmente, se você for fazer o levantamento, existem mais ganhos na profissão do que perdas. A Unifor vem contribuindo no Ceará, porque foi o primeiro curso de Fisioterapia em Fortaleza. Esse desenvolvimento profissional é notório. Existem muitos desafios contemporâneos. A questão do mercado de trabalho sempre é dinâmica, mas a universidade acompanha também! E a coordenação do curso, no novo modelo de gestão, sempre vai estar buscando alinhar, cada vez mais, mercado e universidades. Vamos alinhar tudo isso, porque não dá para ficar parado.