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Qua, 24 Fevereiro 2021 17:52

Entrevista Nota 10: Eduardo Jucá e a Medicina que transforma o amanhã

Neurocirurgião pediátrico e professor reflete sobre a importância da construção de uma sociedade mais saudável


O professor e neurocirurgião pediátrico, Eduardo Jucá, é coordenador do curso de Medicina da Unifor (Foto: Ares Soares)
O professor e neurocirurgião pediátrico, Eduardo Jucá, é coordenador do curso de Medicina da Unifor (Foto: Ares Soares)

Unir ciência e amor ao próximo para transformar o futuro é a missão do médico e professor Eduardo Jucá. Neurocirurgião pediátrico e coordenador do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, ele compartilha com jovens médicos em formação a busca pelo aprendizado que trará dias melhores. 
 
Graduado em Medicina pela USP e especialista em Neurocirurgia Pediátrica pela Universidade de Paris, a escolha de ser professor foi inspirada pelos pais e grandes mestres que o acompanharam em sua formação médica. Com exclusividade ao Entrevista Nota 10, Eduardo Jucá ressalta a importância da dedicação e do afeto ao exercer uma profissão tão importante para a sociedade. Confira a seguir: 
 
Entrevista Nota 10 - Como surgiu a afeição pela área da neurocirurgia pediátrica? Recordo que em 2018 você participou das cirurgias para separação de gêmeas craniópagas Maria Ysabelle e Maria Ysadora Freitas, foi um feito emocionante que ganhou visibilidade nacional. 
 

Eduardo Jucá - A inclinação pela Neurocirurgia Pediátrica foi inspirada também por um professor, Dr. Hélio Machado. Acredito que esse é um exemplo entre tantos de como o papel do professor é fundamental como modelo para os estudantes, capaz de inspirar e influenciar carreiras que duram toda uma vida profissional. 
 
A participação na separação das gêmeas craniópagas cearenses, primeiro caso do tipo na história da medicina brasileira, realmente foi uma grande oportunidade de atuar em um momento em que trabalho de equipe e inovação fizeram toda a diferença na vida de uma família e contribuíram para o progresso da medicina no nosso país. 
 
Além deste caso muito gratificante, tivemos a chance de introduzir no nosso Estado algumas técnicas avançadas de Neurocirurgia Pediátrica, como a neuroendoscopia em crianças, o tratamento avançado das cranioestenoses, a hemisferotomia para tratamento de epilepsias de difícil controle, o tratamento cirúrgico da espasticidade e a cirurgia fetal intrauterina para correção de defeitos do tubo neural. 

Entrevista Nota 10 - Como neurocientista, gostaria de compartilhar algum estudo recente conosco?
 
Eduardo Jucá - Recentemente nosso Estado foi pioneiro na elucidação de vários aspectos da microcefalia associada ao zika vírus. Tivemos participação neste processo com alguns artigos importantes em revistas internacionais relacionando a microcefalia com hidrocefalia. 
 
Um outro estudo em fase de conclusão demonstra que conceitos equivocados sobre a relação entre cranioestenose e fechamento de fontanela pode levar a dificuldades de referenciamento e encaminhamento. Temos ainda trabalhos em andamento sobre os resultados da neurocirurgia fetal, que reduz os riscos de prejuízos neurológicos nos fetos com malformações do sistema nervoso. 

Entrevista Nota 10 - Professor, em seu site, há uma seção de poesia intitulada “Neuroletras”. Como literatura e Medicina se relacionam, para você? 
 
Eduardo Jucá - Medicina e literatura estão profundamente relacionadas. Para além do caráter técnico, a atividade médica investiga a profundidade da natureza humana em toda a sua complexidade, o que também é explorado pela literatura. O médico necessita desenvolver suas habilidades de empatia e de conhecimento sobre as mais variadas realidades do existir humano, o que é muito facilitado pela literatura. Nesse contexto, há grandes obras clássicas que envolvem a Medicina em narrativas literárias, como “A Peste”, de Albert Camus ou “Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago. 

Entrevista Nota 10 - Falando sobre o curso de Medicina da Unifor: sabemos que tem grande reconhecimento no país, com nota máxima (5) atribuída pelo MEC. Quais são os principais diferenciais que o consolidam assim? 
    
Eduardo Jucá - O reconhecimento do Curso de Medicina da Universidade de Fortaleza em múltiplas avaliações, certificações e rankings é baseado em múltiplos fatores. Inovação, ênfase em metodologias ativas que incluem simulação, inserção do estudante desde muito cedo em atividades práticas na comunidade, oportunidade de pesquisa e desenvolvimento pessoal, integração entre conhecimentos diversos e uma estrutura de ponta são alguns destes elementos. Entretanto, acredito que o maior diferencial do nosso curso é ter um corpo docente de altíssimo nível técnico e humano, além de extremamente comprometido com a formação dos médicos do futuro e com a saúde das pessoas e da sociedade em geral. 

Entrevista Nota 10 - Em meio à pandemia, os profissionais da saúde desempenham papel mais que essencial para o enfrentamento da doença. Como você acredita que os estudantes de Medicina da Unifor podem refletir sobre esse momento? Tendo em vista que essa é uma profissão de grandes desafios e momentos de crise como esse nos dão a prova real…
 
Eduardo Jucá - De fato, as profissões da área da saúde vêm dando uma colaboração heroica no enfrentamento da pandemia, ajudando a salvar vidas ou a aliviar sofrimento, apesar de todas as dificuldades. Um momento tão dramático nos faz refletir sobre as bases da nossa profissão, que precisam ser sempre reforçadas ao longo de toda a carreira: a preocupação com o próximo, a ética, a base na ciência. Estes elementos têm sido fundamentais para que possamos exercer um papel tão fundamental nesta época difícil que atravessamos. 

Entrevista Nota 10 - Ainda falando sobre a Covid-19, pacientes, profissionais e familiares enfrentam a exaustão física e emocional. Qual a importância do olhar humanizado diante disso? 
 
Eduardo Jucá - A ênfase no aspecto humano é fundamental para que se possa enfrentar com resiliência um período tão desafiador.Nesse sentido, é preciso exercitar de maneira intensa a empatia, buscando compreender as necessidades de cada paciente e de cada família, a fim de que a promoção ou a recuperação da saúde sejam conduzidas com o mínimo de sofrimento. Uma doença ainda tão desconhecida afeta o organismo de maneira sistêmica e acarreta muita angústia e ansiedade, que podem por sua vez prejudicar a condução do tratamento. 
 
Por outro lado, é também muito importante zelar pelo autocuidado dos profissionais, que devem reconhecer seus momentos de fragilidade e proteger sua própria saúde física, mental e emocional. Há muitas estratégias para isto, que incluem a prática regular de atividades físicas, o descanso necessário e a busca de ajuda profissional em situações de risco à saúde mental. Só assim estaremos aptos a prestar os melhores cuidados aos pacientes e a suas famílias. 

Entrevista Nota 10 - Para finalizar: que conselho deixa aos jovens que pretendem trilhar a carreira de Medicina? 
 
Eduardo Jucá - Ingressar na profissão médica é uma grande oportunidade de influenciar positivamente a vida das pessoas e contribuir na evolução da sociedade para uma condição mais justa e humana. Valorizar a profissão e zelar para que seja exercida com dedicação, com rigor científico, com ética e com amor é a melhor recomendação que podemos fazer aos nossos jovens futuros colegas.