null Entrevista Nota 10: Fernanda Colares e o combate à segunda onda de Covid-19 no Ceará

Ter, 23 Março 2021 19:20

Entrevista Nota 10: Fernanda Colares e o combate à segunda onda de Covid-19 no Ceará

Docente do curso de Medicina da Unifor e superintendente de um dos principais hospitais de Fortaleza, Fernanda Colares conta como a rede de saúde tem lidado com o aumento de infecções causadas pelo coronavírus e suas novas cepas.


Natural do Rio de Janeiro, Fernanda Colares é doutoranda em Saúde Coletiva pela Unifor, onde também atua como docente. (Foto: Acervo Pessoal)
Natural do Rio de Janeiro, Fernanda Colares é doutoranda em Saúde Coletiva pela Unifor, onde também atua como docente. (Foto: Acervo Pessoal)

Nos meses de fevereiro e março, cerca de um ano após a chegada da pandemia do novo coronavírus ao Brasil, o país começou a vivenciar um aumento do que seria considerada a “segunda onda” de infecções. Tal evento tem preocupado autoridades estaduais e, no Ceará, um novo isolamento rígido foi decretado no início deste mês, perdurando por semanas.

Para discutir como os sistemas de saúde têm lidado com o aumento de casos, bem como a resposta da academia ao atual momento de crise sanitária, o Entrevista Nota 10 conversou com a pesquisadora Fernanda Colares de Borba Netto, doutoranda em Saúde Coletiva pela Universidade de Fortaleza, instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz, onde também integra o time de docentes do curso de Medicina. Atualmente, no campo profissional, Fernanda assume a posição de superintendente de Recursos Próprios Hospitalares da Unimed Fortaleza, um dos principais hospitais de rede privada do Estado.

Leia a entrevista na íntegra a seguir. 

Entrevista Nota 10: Professora, poderia nos contar um pouco de sua trajetória acadêmica e profissional?

Fernanda Colares: Eu sou carioca de família cearense. Fiz a minha graduação em Medicina, Residência em Pediatria e Mestrado em Saúde Pública no Rio de Janeiro. Em 2009, me mudei para Fortaleza. Ainda no finalzinho de 2008, fiz o processo seletivo para a Unifor e, quando vim em janeiro de 2009 para a cidade, já vim como professora do curso de Medicina. Da parte assistencial, eu faço terapia intensiva pediátrica e comecei, quase que simultaneamente à Unifor, a trabalhar no Hospital Waldemar Alcântara como plantonista da UTI Pediátrica. 

Como professora, atuei em vários semestres do curso, sendo inclusive coordenadora de módulo, coordenadora do internato e coordenadora de semestre. Atualmente, estou na coordenação do Internato de Saúde da Criança e Adolescente. 

Como médica, acabei enveredando para a gestão, tendo sido coordenadora da UTI Pediátrica do Hospital Waldemar Alcântara, Diretora de Processos Assistenciais e Diretora Geral. Em 2019, recebi o convite para ficar à frente da Direção Geral do Hospital Unimed e atualmente estou na Superintendência de Recursos Próprios Hospitalares da Unimed Fortaleza.

Entrevista Nota 10: Atualmente, o Brasil vive a segunda onda da pandemia do novo coronavírus. Era previsto pela área da saúde que isso poderia ocorrer em 2021?

Fernanda Colares: Sim, era uma possibilidade. À medida que se foi descobrindo que a imunidade adquirida pela infecção não era duradoura, essa possibilidade foi ficando cada vez mais forte.

Entrevista Nota 10: Como gestora de um hospital em Fortaleza, poderia detalhar como os hospitais locais têm se preparado para enfrentar essa nova alta de casos? As medidas de cuidado e prevenção são as mesmas de antes?

Fernanda Colares: Como havia a possibilidade da segunda onda, nos mantivemos sempre em alerta. Diariamente, monitoramos os números e conseguimos identificar, imediatamente, os indícios de aumento. Dessa forma, antecipamos compras de medicamentos e dos equipamentos necessários para a expansão de leitos e atendimentos. Desenvolvemos um modelo estatístico para prever o comportamento da doença entre os nossos clientes com uma antecipação de quinze dias, então temos conseguido abrir unidades e ampliar nossas capacidades de maneira a atender a essa demanda.

Em relação aos cuidados com a doença, o distanciamento, uso de máscaras e a higiene das mãos são as principais medidas. 

Entrevista Nota 10: Recentemente, o governo do Ceará anunciou a compra de 5 milhões de vacinas para a população do Estado. A distribuição rápida delas traria alguma melhora em curto-prazo para o cenário atual? Ou apenas a médio ou longo prazo?

Fernanda Colares: Em geral, a resposta imunológica completa se dá a partir de duas semanas da segunda dose. No entanto, é possível que já dê para se ver alguma resposta parcial enquanto não se completa o esquema. Assim, a vacinação é uma medida muito importante para o combate à pandemia. Especialmente para evitar que novas ondas aconteçam.

Entrevista Nota 10: Como o curso de Medicina da Unifor vem implementando o estudo de novos casos da Covid-19 em sala de aula? O contágio por novas cepas vem sendo estudado na academia?  

Fernanda Colares: Desde o semestre inicial de 2020, o tema passou a ser discutido em sala de aula. Temos buscado inserir nos contextos de discussão, não só do quadro clínico e tratamento da doença em si, mas também do que isso traz de mudança na nossa forma de cuidar e de organizar o sistema de saúde. Em relação às novas cepas, mais estudos são necessários. O conhecimento sobre a Covid-19 é todo muito recente e até mesmo a análise dos estudos e das evidências tem sido tema de discussão com os alunos. Tudo se torna uma oportunidade de aprendizado. Não só para os alunos, mas para nós, professores, também.

Entrevista Nota 10: Por fim, gostaria de deixar uma mensagem de conscientização aos nossos leitores? 

Fernanda Colares: É muito importante passar uma mensagem de esperança, de que nós, enquanto gestores, estamos fazendo a nossa parte para garantir as melhores condições de enfrentamento à pandemia. Os profissionais da saúde estão sendo verdadeiros anjos sem asas, se doando não só para cuidar do corpo, mas também para manter um bom ânimo nos pacientes que necessitam de atendimento. Assim, é muito importante que cada um faça a sua parte, seguindo as medidas de contenção dessa infecção. E ter sempre a certeza de que tudo vai dar certo!