null Entrevista Nota 10: Jorge Grimberg e a busca por sua própria voz

Qui, 24 Junho 2021 17:50

Entrevista Nota 10: Jorge Grimberg e a busca por sua própria voz

Dono de um currículo exemplar, Grimberg é plural: o comunicador, autor, correspondente, consultor de moda e de comportamento diz o que pensa uma geração inteira, mas sem abrir mão da própria autenticidade.


Em 06 de julho, Jorge Grimberg realizará masterclass em parceria com a Universidade de Fortaleza. (Foto: Acervo Pessoal)
Em 06 de julho, Jorge Grimberg realizará masterclass em parceria com a Universidade de Fortaleza. (Foto: Acervo Pessoal)

Persistência, dedicação e intuição são alguns dos elementos frequentemente mencionados pelo consultor de tendências e comunicador Jorge Grimberg quando o assunto é enveredar profissionalmente no ramo da moda. Eleito em 2015 pelo portal Style como “a voz da sua geração para moda brasileira”, ele, que possui mais de 100 mil seguidores nas redes sociais e já viajou o mundo acumulando experiências, faz questão de acrescentar mais um item à lista: encontrar sua própria voz.

Combinando uma formação ímpar a uma carreira extensa, Grimberg é graduado em Administração de Empresas e atuou por dez anos como diretor comercial e de marketing na Worth Global Style Network (WGSN), uma das maiores empresas ligadas à moda e lifestyle do mundo. E não para por aí: após “saltar de paraquedas” no jornalismo (área com a qual flertava desde sempre), foi correspondente para grandes veículos da imprensa internacional, como Vogue e Business of Fashion, e lançou o livro “Vida Criativa”.

Hoje, ele busca transmitir suas lições de mercado e ajudar profissionais criativos por meio de workshops e masterclasses, como a que ministrará virtualmente junto à Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, com o tema “Por que estudar Design de Moda?”. O evento está programado para acontecer no dia 06 de julho, às 18h, nas redes sociais da instituição e com inscrições gratuitas.

Enquanto a data não chega, o Entrevista Nota 10 conversou com Jorge Grimberg a respeito do impacto da sociedade na moda, sua trajetória profissional e sua identidade enquanto criador de conteúdo. Leia a conversa na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 - Jorge, ao longo de sua brilhante carreira, você acumula passagens no portal de pesquisa de tendências WGSN e em algumas das mais cobiçadas publicações internacionais sobre moda, beleza e comportamento, como a Business of Fashion, a Vogue Runway e a CNN Style. Hoje, nas redes sociais, você prega muito sobre autoexpressão e encontrar a própria voz. Como trabalhar escrevendo para tantos veículos de destaque te ajudou nessa jornada?

Jorge Grimberg - Trabalhar em tantos veículos de mídia diferentes fez eu entender que cada revista ou plataforma de conteúdo tem uma voz, tem um tom de voz. Então, se você escreve para a Vogue, você está falando de uma maneira para um determinado tipo de leitor; se você escreve no Estadão, está falando de uma determinada maneira para outro, e assim por diante. Trabalhando em tantos lugares diferentes, eu percebi que não sabia exatamente qual era o meu tom de voz. Então, muito do trabalho que eu tenho feito hoje, de ajudar pessoas a encontrarem as suas vozes, vem dessa minha jornada particular de encontrar qual era o meu tom de voz, como era a minha narrativa. E toda essa bagagem, toda essa experiência, fez eu entender caminhos editoriais muito diferentes que só enriqueceram minha jornada! Todas essas passagens foram muito, muito enriquecedoras para meu processo.

Entrevista Nota 10 - Dentre seus muitos conteúdos, você produz semanalmente uma série de vídeos chamada “3 Minutos de Moda”, em que comenta temas pertinentes à contemporaneidade – alguns inclusive tabus – sob uma ótica da indústria fashion. Você acredita que, com tanta informação a postos, a sociedade já se encontra mais consciente sobre o impacto que ela tem na moda, e vice-versa? Ou ainda há um longo caminho a ser percorrido?

Jorge Grimberg - O impacto da sociedade na moda é muito grande porque todo mundo se veste para sair. Eu vejo a moda de uma maneira muito simples: ela afeta todas as pessoas, porque a moda é muito sobre o comportamento que a gente tem e as nossas decisões; o que a gente veste da hora em que a gente acorda até a hora em que vamos dormir. Então, se a gente consome peças que são feitas na China, com uma mão de obra que pode ser análoga à escravidão ou que a gente não conhece a procedência dos materiais, estamos sim causando um impacto grande na indústria. A indústria também tem um impacto enorme na sociedade, porque eles geram desejo o tempo todo; a indústria de moda é uma máquina de criação de desejo.

Então, se a moda é o retrato dos nossos tempos, hoje a gente está nessa velocidade de informação e a moda também vem na mesma velocidade. Nunca tivemos tantos produtos sendo produzidos e também tanto lixo sendo gerado pela indústria de moda. E [isso] é algo que tem muita gente trabalhando [para mudar], o que também é um reflexo da tendência muito forte da sustentabilidade e da mudança de processos. É um trabalho muito lento, que deve acontecer durante as próximas décadas, eu diria.

Entrevista Nota 10 - Em 2017, já com uma carreira de correspondente consolidada na imprensa, você enveredou por outros caminhos editoriais e lançou o livro “Vida Criativa”, que aborda as influências da era da tecnologia nos processos criativos. Podemos esperar outras publicações suas no futuro?

Jorge Grimberg - Ah, com certeza! Eu tenho muita vontade de escrever outros livros. Inclusive, o meu livro foi o que me levou muito para o digital, [e me ajudou a] entender que, se eu quisesse me comunicar de uma maneira mais efetiva hoje, o digital era um caminho maior. Acho que com uma base maior de seguidores, como estou conquistando, e de pessoas acompanhando meu trabalho, eu tenho vontade de escrever muitos livros ainda e acho que vai ter um impacto mais legal em muito mais pessoas.

Entrevista Nota 10 - Com a vacinação, estamos caminhando para um novo momento da pandemia, no qual surgem novas tendências de comportamento. Enquanto consultor de inovação, que efeitos você acha que podemos esperar disso para o futuro próximo?

Jorge Grimberg - Eu sinto que a vacinação é o começo de uma nova etapa na nossa vida como sociedade, onde a gente vai sentir os efeitos transformadores que todo mundo teve durante a pandemia e todos os traumas gerados, né? Então, eu sinto que as indústrias de “bem estar” vão estar muito em evidência; eventos e marcas que promovam conexão entre pessoas também. Os mercados de turismo e eventos com certeza vão ter uma ascensão enorme, até porque são mercados que ficaram parados muito tempo. Mas é muito cedo para dizer, porque eu sinto que, no Brasil, o maior assunto de 2022 vai ser a eleição, e isso vai impactar muito o nosso comportamento.

Entrevista Nota 10 - Você é graduado em Administração de Empresas. Como a formação de administrador ajudou você a enxergar a moda como um negócio? Se estivesse ingressando na Universidade hoje, ainda escolheria esse curso ou migraria para algum voltado à comunicação ou design?

Jorge Grimberg - Eu sinto que a formação em Administração realmente me ajudou a entrar na indústria de moda na área de negócios. Comecei trabalhando na área comercial, depois em Marketing, depois eu fui diretor de uma empresa de tendências norte-americana... e aí me apaixonei pelo Jornalismo. Minha primeira opção de graduação era em Jornalismo e eu não passei, mas passei em Administração, que era minha segunda opção. Acabei cursando. Então, o jornalismo entrou na minha vida depois, como uma paixão. Mas eu acho que foi muito boa a base [que a administração deu] de olhar para o jornalismo como um negócio nesse momento em que ele está tão frágil [devido à desvalorização dos veículos de informação].

Entrevista Nota 10 - Qual o seu conselho para os jovens acadêmicos que buscam uma carreira semelhante à sua? Qual caminho devem seguir?

Jorge Grimberg - O meu conselho para jovens acadêmicos que querem seguir uma carreira como a minha é ter muita persistência, seguir muito a sua intuição e entregar bem [suas demandas]. Eu acho que o que faz ter algum tipo de conhecimento é você ir atrás das oportunidades, e quando você conseguir elas, você entrega tudo e ainda algo a mais.