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Ter, 23 Março 2021 14:52

Entrevista Nota 10: Leonilha Lessa e a biblioteca que cativa gerações

Biblioteca Central da Universidade de Fortaleza destaca as contribuições da leitura para construir novos saberes


Leonilha Lessa, gerente da Biblioteca Central da Unifor, faz parte da instituição há quase 40 anos (Foto: Ares Soares)
Leonilha Lessa, gerente da Biblioteca Central da Unifor, faz parte da instituição há quase 40 anos (Foto: Ares Soares)

Há quase 40 anos, a bibliotecária de formação Leonilha Lessa entrelaçou sua história com a da Universidade de Fortaleza, que este ano chega aos 48. De lá para cá, são muitas as memórias celebradas e transformações vividas na Biblioteca Central da Unifor, a qual hoje ela gerencia com afeto e dedicação, firmando diariamente o compromisso em promover a atualização e diversificação do acervo para atender a toda a comunidade acadêmica. 
 
Atual presidente da Comissão Brasileira de Bibliotecas Universitária (CBBU), ligada à Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas de Informação e Instituições (FEBAB), Leonilha Lessa é especialista em Organização e Métodos e também em Tecnologia Digitais na Educação. Com exclusividade ao Entrevista Nota 10, ela fala sobre a importância dos saberes proporcionados pela leitura e destaca ainda o papel do bibliotecário como gestor de informações. Confira a seguir:
 
Entrevista Nota 10 - Como surgiu o interesse pela formação em Biblioteconomia? 

Leonilha Lessa -  Minha escolha pela biblioteconomia é jocosa. Foi por indicação de uma prima, Luiza Alcântara, que era bibliotecária da UFC, e me orientou ser um curso muito bom, e com empregabilidade em ascensão, isto nos idos de 1976. Nunca me arrependi da escolha. 

Entrevista Nota 10 - E esse encontro com a Unifor? Como foi? 

Leonilha Lessa - Em 1979, fui estagiária na Biblioteca da Unifor e já me encantei. Em 1981, a biblioteca iniciou um processo de organização do seu acervo e contratou um grupo de 8 bibliotecários, 8 datilógrafos e 8 auxiliares de biblioteca para organizar sua coleção de 40 mil livros. Eu fui uma destas bibliotecárias. Em um ano surgiu os catálogos de autores, títulos, assuntos, e topográfico da Biblioteca da Unifor, em fichas datilografadas e armazenadas adequadamente em armários de aço com 10 gavetas. Estou aqui há quase 40 anos e tenho muito orgulho da biblioteca moderna e dinâmica que construímos.

Entrevista Nota 10 - E de lá para cá, quais as transformações mais importantes pelas quais a Biblioteca passou? 

Leonilha Lessa - Foram muitas transformações: área física, variedade de seu acervo, e muita tecnologia. A área inicial da biblioteca era 1.200 m². Hoje, ela possui quase 5.000 m², e sempre foi localizada na Praça Central do campus da Unifor, que é um local privilegiado, sempre ao alcance de todos.

 Em 1991, a Biblioteca abriu suas portas com sistema automatizado, sendo uma das primeiras bibliotecas do Brasil a ter seu catálogo do acervo e sistema de circulação de livros funcionando em microcomputadores (sistema local). A Biblioteca foi priorizada pela Unifor no processo de automatização de seus sistemas. Com a chegada da internet nas instituições de ensino superior, em 1995, as renovações de empréstimos de obras já eram feitas de casa, tudo isto foi uma grande inovação para a época.

A partir de 2012, começamos a aquisição de livros digitais. O acervo atual de e-books é composto de 20 mil títulos, e a coleção de periódicos digitais é atual e diversificada. Hoje, o acervo total é de 300 mil obras entre livros, periódicos, vídeos, teses e dissertações, TCCs, e artigos das revistas científicas da Universidade de Fortaleza. E tudo isto numa única interface denominada de Busca Integrada.

Entrevista Nota 10 - Como você acredita que a Biblioteca Central da Unifor tem contribuído para disseminar o acesso ao conhecimento ao longo da sua história? 

Leonilha Lessa - A biblioteca atende, de acordo com suas disponibilidades e condições, aos professores, alunos, funcionários, egressos e visitantes da Universidade, facultando-lhes o empréstimo local e domiciliar, do seu acervo impresso, e disponibilizando conteúdo, em diversos formatos, que atenda às necessidades das disciplinas constantes dos currículos de cursos integrantes da estrutura acadêmica da Universidade. A equipe da biblioteca mantém-se atualizada com as novas tecnologias, para que possa conhecer e utilizar os melhores recursos e oportunidades de busca e localização da informação acadêmica, íntegra, e confiável. 

Nossa biblioteca também ensina, quando desenvolve projetos culturais que contribuem, de forma diferenciada,  para a formação da comunidade, disponibilizando a Cordelteca  Maria das Neves Baptista Pimentel, e uma sala especial com grande parte da coleção  particular da escritora cearense Rachel de Queiroz. 

Entrevista Nota 10 - Neste momento de pandemia, quais foram as principais iniciativas realizadas pela Biblioteca?

Leonilha Lessa - Nossa moderna infraestrutura, assim como a equipe de profissionais qualificados, possibilitaram, nesta pandemia, dar grande suporte à comunidade acadêmica da Universidade de Fortaleza com ofertas diárias de capacitações sobre uso de base de dados, normas bibliográficas, uso de gerenciadores de referências, orientações sobre formatação de trabalhos acadêmicos, currículo Lattes, como publicar em revistas científicas e como evitar plágios. Tudo de forma remota, das 7h às 22h, para grupos ou de forma individual.O resultado deste esforço foi que em 2020, mesmo com isolamento social, ultrapassamos nossas metas: a projeção para o número de pessoas capacitadas foi 1.180, e atingimos 5.183. Planejamos ofertar 450 capacitações e realizamos 623.

Em tempo recorde, adaptamos os serviços de empréstimos e devoluções para acontecerem de forma agendada, e criamos o BiblioZap, um novo canal de comunicação rápida com a biblioteca. Agora em novo lockdown mantemos os funcionários seguros em suas residências. A Biblioteca está com suas portas fechadas, mas continuamos atendendo, na medida do possível, e de forma remota: realizando várias capacitações e orientando no uso dos conteúdos digitais disponíveis, para auxiliar professores e alunos em suas atividades acadêmicas. Fornecemos ainda cópias digitalizadas de artigos de periódicos ou pequenos trechos de livros.

Entrevista Nota 10 - Qual a importância do bibliotecário na atualidade? 

Leonilha Lessa - O bibliotecário é um profissional de múltiplas funções, com domínio sobre técnicas de organização e disseminação da informação, gestor de unidades de informação, tendo papel fundamental de facilitador de acesso às fontes confiáveis de informação, sendo um dos principais articuladores da promoção da leitura e na formação do leitor crítico. Nas Bibliotecas Universitárias, é ainda mediador do conhecimento técnico-científico, e dá suporte aos professores na formação das bibliografias de cursos e disciplinas.

No fim dos anos 80, com a implantação dos sistemas automatizados de bibliotecas, cedo os bibliotecários  assumiram o protagonismo na organização e disponibilização de informação digital, dominando os vários sistemas que armazenam, buscam e disponibilizam informações. Quase tudo que envolve a biblioteconomia, hoje, exige algum grau de conhecimento computacional, sendo necessário estar permanente em formação.

No entanto, o bibliotecário da atualidade não é apenas mais tecnológico. Gosto de ressaltar importância do bibliotecário como agente de transformação social, uma vez que ele capacita os indivíduos na busca e localização da informação de qualidade, podendo, assim, participar no desenvolvimento de uma sociedade mais justa, acessível e igualitária, ao mesmo tempo que forma cidadãos que podem, influenciar positivamente outros cidadãos criando,assim, uma grande corrente.

Cito aqui  a bibliotecária da USP, Elisabeth Adriana Dudziak, sobre o bibliotecários como agente de transformação social e educacional “[...] assume para si, além do papel de educador, renovação de sua própria competência informacional, adotando e disseminando práticas transformadoras no comunidade: pratica o aprender a aprender, difunde e populariza a ciência, explica as implicações da tecnologia, discute a realidade social e política, alerta para a responsabilidade social e ambiental [...]’ (DUDZIAK, 2007, p. 96).

Entrevista Nota 10 - Para finalizar: que mensagem deixa à comunidade acadêmica sobre as contribuições que os livros podem promover em sua formação? 

Leonilha Lessa - Gostaria de falar não dos livros, mas da leitura. A leitura não está apenas nos livros, ela  está nas revistas, nos jornais, nos periódicos, nos cordéis, nas redes sociais, blogs, etc. O importante é saber escolher suas fontes, e delas beber novos saberes, curiosidades, culturas e costumes, e a partir daí, desenvolver o poder da crítica e da reflexão. Os livros também têm inverdades...

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