null Entrevista Nota 10: Rodrigo Marudi e o elogio ao ensino híbrido

Ter, 18 Agosto 2020 13:49

Entrevista Nota 10: Rodrigo Marudi e o elogio ao ensino híbrido

Marudi é coordenador do Programa Alunos Tutores de Tecnologia Google e membro do GT de Inovação da Semesp


Rodrigo Marudi é também cientista da Computação e especialista em Tecnologias e Sistemas de Informação (Foto: Divulgação)
Rodrigo Marudi é também cientista da Computação e especialista em Tecnologias e Sistemas de Informação (Foto: Divulgação)

Rodrigo Marudi acredita no poder da educação transformadora e híbrida. Para o docente, palestrante, mentor, consultor e entusiasta em metodologias ativas de ensino, inovação e tecnologia as ferramentas digitais estão finalmente sendo abraçadas em prol do protagonismo dos estudantes no processo educacional. E se há desafios pedagógicos, tecnológicos e sociais no ensino remoto que os educadores, presencialmente, tomem as rédeas do repasse do conhecimento com a criatividade e multiplicidade que o momento exige. 

Como cientista da Computação, especialista em Tecnologias e Sistemas de Informação, organizador do Google Developers e Google Educator Group São João, coordenador do Programa Alunos Tutores de Tecnologia Google e membro do GT de Inovação da Semesp, Marudi quer ver a colaboração tomar gradativamente o lugar da competição no ambiente educacional, de forma que o uso das novas tecnologias não seja passivo e possa aprimorar cada vez mais as insubstituíveis práticas presenciais de ensino.

Entrevista Nota 10 - Quais os desafios pedagógicos, tecnológicos e sociais do ensino remoto?

Rodrigo Marudi - O Brasil como um todo não tinha uma grande aceitação do ensino híbrido. Hoje, o que estamos buscando é um modelo híbrido. Enquanto estamos 100% no ensino remoto a ideia continua sendo a de que quanto mais práticas presenciais melhor. Isso é o ensino híbrido. Competências presenciais e manuais são necessárias. E isso foi escancarado agora: a necessidade de repensar o híbrido. E também a aceitação, a percepção das pessoas que mudou. As pessoas, em sua grande maioria, achavam que não conseguiam aprender remotamente. E estão reaprendendo a se organizar e focar no conteúdo mesmo a distancia. Houve uma mudança de postura do público consumidor e das instituições de ensino. O produto de comunicação tende a mudar, o que levou as instituições a repensarem suas estratégias tecnológicas. As instituições que deram maior ênfase e já estavam investindo em suas estratégias tecnológicas e nesse planejamento do modelo híbrido conseguiram se destacar no mercado nesse momento.

Entrevista Nota 10 - Como podemos criar experiências de aprendizado significativas nesse contexto?

Rodrigo Marudi - Não existe segredo. O que existe é um bom planejamento e estratégias alinhadas para isso. O aprendizado não é linear. As pessoas aprendem de maneiras diferentes. Precisamos pensar nas questões que já conhecemos, a taxonomia de Bloom e soft skills, que o mercado exige. Isso não é um modismo, é uma necessidade do próprio mercado. Hoje a dinâmica mudou. Estamos com extensões do nosso corpo cibernéticas, tecnológicas. Um simples celular é uma extensão de uma tecnologia superavançada. O computador que levou o homem à lua é 100 vezes mais ultrapassado que o celular dos dias atuais. Você estende suas funcionalidades do dia a dia com inteligências artificiais. Isso tem que se estender no ambiente acadêmico. As instituições estão aprendendo que as necessidades de novas tecnologias, aplicadas a sua metodologia e às suas estratégias, dão resultado. Para criar experiências de aprendizado significativas eu preciso alinhar as minhas metodologias com as ferramentas. A ferramenta pela ferramenta não tem sentido. O que tem sentido é alinhar metodologias ágeis e estratégias de ensino ativas que vão fazer com que o estudante seja protagonista de seu aprendizado. O estudante aprende muito mais colocando em prática o que aprendeu de maneira real e no dia a dia. 

Entrevista Nota 10 - Uma aplicação do conhecimento de forma personalizada, é isso?

Rodrigo Marudi - Vejo um grande mix de estratégias antigas com as novas. De se utilizar inteligência artificial, big datas, dados.  Eu preciso entender o perfil para trazer o ensino personalizado, preciso entender a cada encontro a experiência do estudante, do docente, da comunidade, para gerar informações, insights e tomar decisões. A instituição de hoje precisar estar 100% assertiva com seu público e pra isso preciso de muitas informações e dados. E também interações com inteligências artificiais. Mas a inteligência artificial vai tirar o emprego do docente? Não. O feeling do docente nunca vai ser substituído, tanta criatividade e empatia são imprescindíveis. Mas precisamos diversificar as estratégias e investir em tecnologia. Esse será o diferencial.  

Entrevista Nota 10 - Quais as habilidades exigidas de professores e alunos em um mundo em que momentos de inconstância serão cada vez mais constantes? Que novos letramentos se fazem urgentes?

Rodrigo Marudi - É extremamente necessário as competências que o letramento digital pode trazer. Precisamos tomar as rédeas quanto ao uso das tecnologias e utilizar de maneira ativa - e não passiva como é costumeiro. Quando usamos o facebook é de uma maneira passiva, sem entender nem eticamente a sua utilização. E esses dilemas agora são parte do nosso dia a dia. Todos necessitam aprender tecnologia e programação. Bill Gates e Barack Obama, há muitos anos, já estipulavam no ensino fundamental a linguagem de programação como uma segunda língua. E hoje sabemos da diferenciação que é o pensamento computacional. Essa é uma competência é necessária para o mercado atual, para docentes e discentes. O docente precisa ter competências digitais para também falar a linguagem do estudante e trazer conteúdos com os quais eles possam se identificar. Um docente que hoje não entende o youtube, um podcast, as diversas plataformas de ferramentas colaborativas e de gameficação não só fica para trás como não gera engajamento. Então, docente e estudante precisam estar alinhados às tecnologias que possam trazer benefícios a eles. É preciso, portanto, capacitar os professores e estudantes com novas tecnologias através de oficinas e treinamentos para que todos estejam preparados para esse mercado atual. 

Entrevista Nota 10 - O que significa aprender no século XXI? E como podemos extrair lições da pandemia que nos farão avançar para uma educação mais inovadora e inclusiva?

Rodrigo Marudi - Falando de maneira realista: por um certo tempo, acredito que as relações humanas vão mudar, terão um impacto e um gosto diferente ao longo do retorno do convívio e das atividades presenciais. Mas o ser humano se adapta às situações muito rapidamente. As pessoas já não estão dando atenção à higienização como antes. Se há lições em longo prazo seria a questão da evolução tecnológica mesmo. Algumas áreas davam mais importância a isso e outras eram omissas. Empresas que nunca deram importância ao “Google meus negócios”, por exemplo, se viram despidas, sem poder entrar em contato com o seu cliente, com seu o público-alvo. Isso não era tido como urgente. Mas era. Sempre foi. Estamos em um mundo totalmente conectado, e mentes conectadas favorecem inovações. Isso sempre foi verdade. Pessoas quando estão juntas fazem e pensam mais. A gente aprende muito um com o outro. E para ter uma educação mais inclusiva o país como um todo precisa olhar para as suas estratégias. Finlândia é um exemplo bacana de sucesso que saiu do industrial e passou para um avanço tecnológico e educacional, sendo referência. Existe a vantagem de ser um país pequeno, claro, mas quais foram as estratégias? Investiram em educação, tecnologia e capital humano, principalmente.

Entrevista Nota 10 - Se o futuro da educação já chegou e precisamos conversar sobre inclusão digital, educação midiática, como podemos aprender a aprender em uma sociedade conectada?

Rodrigo Marudi - Acredito que cada instituição que promove educação tem que ser responsável por isso: inclusão digital e educação midiática. Toda instituição de ensino tem por obrigação transformar a sociedade e a região onde ela impacta. Esses agentes de educação devem levar a inclusão digital e o desenvolvimento. Todo o ambiente educacional só tem a ganhar. É claro que políticas públicas poderiam potencializar isso, mas enquanto elas não correm precisamos fazer acontecer. Nós aprendemos muito uns com os outros. E por estar em uma sociedade extremamente conectada não tem a desculpa de não saber o que fazer. Todo mundo está pensando o que fazer e como. É claro que cada região tem sua peculiaridade. Mas já temos muitos exemplos e feedbacks a seguir em meio à pandemia. Podemos sempre trocar experiências. Seja com a China, Coréia, países da Europa e América Latina ou Estados Unidos. Estar conectado com o mundo nos traz essa vantagem. Precisamos colaborar entre as instituições, isso é para ontem, todos só têm a ganhar e a aprender. Todas as grandes ideias de negócio são colaborativas: Airbnb, Uber, Mercado Livre, Americanas, todas as empresas que tentam conectar as suas pontas pra que todos possam ganhar, que fazem o jogo do ganha-ganha, dão certo. Na educação deve acontecer isso também: muita colaboração entre entidades para que as boas práticas sejam compartilhadas, tanto acadêmicas quanto estratégicas-financeiras.  

Confira o UniForCast com Rodrigo Marudi - Episódio: Os desafios para a educação no cenário Pós-pandemia