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Seg, 27 Novembro 2023 16:05

Orgulho Unifor: Egresso conquista prêmio internacional de literatura

Stênio Gardel, pós-graduado em Escrita e Criação pela Universidade de Fortaleza, é o primeiro brasileiro a ganhar o National Book Awards


O escritor recebeu o prêmio na categoria “Tradução” pelo seu trabalho no livro “A Palavra Que Resta” (Foto: Divulgação)
O escritor recebeu o prêmio na categoria “Tradução” pelo seu trabalho no livro “A Palavra Que Resta” (Foto: Divulgação)

A Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, é um berço de talentos, revelando profissionais de destaque nacional e internacional. Diversos egressos dos cursos de graduação e pós-graduação despontam nas mais variadas áreas do conhecimento e do mercado de trabalho. 

Exemplo claro dessa realidade é Stênio Gardel, especialista em Escrita e Criação pela Unifor, que foi o primeiro brasileiro a conquistar o National Book Awards, uma das mais importantes premiações de literatura do mundo. 

Amor pela escrita

Nascido em Limoeiro do Norte, Stênio se identifica com a literatura desde criança. Segundo ele, com apenas 12 anos de idade já sonhava em se tornar escritor, desenvolvendo uma relação cada vez mais estreita com os livros. Apesar do amor pela escrita, a sua vida profissional, inicialmente, tomou rumos diferentes.

Em 1997, Stênio foi morar em Fortaleza para se formar em Engenharia Civil e, logo em seguida, se tornou servidor público concursado no Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE). Mesmo atuando em uma área distinta, sua admiração por livros e os experimentos esporádicos com a escrita não acabaram.

No ano de 2016, esse cenário mudou definitivamente. Após concluir o primeiro módulo de um curso com a jornalista e escritora Socorro Acioli, coordenadora da Especialização em Escrita e Criação da Unifor, ele decidiu que iria atuar como escritor. 

“Foi uma questão de agarrar o momento, eu tinha a história, os personagens, estava mergulhado nas aulas e tinha o apoio da Socorro e dos colegas, tinha então que me dedicar e trabalhar”, declara Stênio. 


Socorro Acioli, coordenadora da Especialização de Escrita e Criação da Unifor, foi uma das principais inspirações de Stênio Gardel (Foto: Arquivo pessoal)

Sua trajetória na literatura surgiu com o objetivo de escrever histórias que pudessem tocar as pessoas da mesma forma que as suas leituras o tocavam. Assim, começou publicando contos em coletâneas com outros autores no ano de 2017.

Visando se profissionalizar cada vez mais como escritor, Stênio ingressou em 2020 na pós-graduação em Escrita e Criação da Unifor. Ele destaca que a decisão para se especializar na área foi norteada pela convicção da excelência do curso.

“É uma especialização coordenada pela Socorro Acioli, o que me deu segurança na matriz [curricular], no corpo docente e nas perspectivas e abordagens de literatura e escrita literária que norteariam o curso”, 

Em 2021, ele realizou o lançamento do seu primeiro romance, “A palavra que resta”. A obra conta a história Raimundo, um homem analfabeto que na juventude teve seu amor secreto brutalmente interrompido e que guardou por 50 anos com uma carta enigmática que nunca conseguiu ler. Aos 71 anos, ele resolve que ainda é tempo de aprender a ler e talvez decifrar essa ferida aberta do passado.

Segundo o autor, a ideia do livro veio da junção de duas imagens, uma real, vinda do seu trabalho no TRE ao atender eleitores que não sabiam assinar o nome, e outra ficcional, de um homem sentado a uma mesa com algo importante para ler, mas que não consegue.


Capa do livro “A palavra que resta”, de Stênio Gardel (Foto: Divulgação)

O planejamento do livro teve início em 2016 em uma oficina literária e a primeira versão foi feita até agosto de 2017. Depois disso, a publicação passou por leituras profissionais e da editora Companhia das Letras, até a publicação em 2021. “Foram pelo menos 5 anos, exigiu paciência, mas valeu tudo a pena”, ressalta Stênio. 

Destaque internacional

“A palavra que resta” foi uma obra que ganhou bastante reconhecimento nacional e internacional, principalmente por apresentar uma narrativa coesa e envolvente. Com o livro, Stênio foi finalista do Prêmio Jabuti 2022, que é o mais tradicional prêmio literário do Brasil. 

Já em novembro deste ano, a publicação foi prestigiada pelo National Book Awards, uma das mais prestigiadas premiações internacionais de literatura. O escritor conquistou a categoria “Tradução”, disputando o troféu com outras nove obras originalmente escritas em árabe, holandês, francês, alemão, coreano e espanhol. 

O livro foi traduzido por Bruna Dantas Lobato, com o título em inglês “The Words That Remain”, e publicado nos Estados Unidos pela editora New Vessel Press. A cerimônia de entrega da premiação aconteceu em Nova York (EUA).


 “A primeira sensação foi de muito espanto, um susto, se vocês virem a transmissão ou algumas fotos por aí, vão ver que essa foi minha reação imediata. Depois que o susto passou, veio um forte sentimento de realização, de conquista, acompanhado de muita alegria” — Stênio Gardel, escritor e egresso da Pós-Unifor

No discurso da vitória, Stênio fez questão de agradecer o apoio da sua família e amigos, destacando o papel fundamental deles nessa conquista. Além disso, em um momento de profunda reflexão sobre sua própria jornada, o escritor compartilhou sua história de crescimento como um homem gay no sertão do Nordeste brasileiro.

Assista ao momento em que Stênio recebe o prêmio por seu trabalho em “A Palavra que Resta”

Confira o discurso traduzido na íntegra 

O que está acontecendo agora?

Obrigado à National Book Foundation e ao júri. Eu dedico essa premiação à minha mãe, Irene. Ela não está mais entre nós, mas ela sempre acreditou em mim, e eu não estaria aqui sem ela. Ela foi a melhor mãe e eu sinto muito falta dela.

Gostaria de agradecer ao meu irmão, Jardel, toda a minha família e amigos. Socorro Acioli, Vanessa Ferrari, Julia Bussios, Fernando Rinaldi, Stephanie Roque e todos da Companhia das Letras, uma editora brasileira. E também Lúcia Riff, Julia Wähmann e todos da agência Riff.

Finalmente, um obrigado especial à Bruna, por captar o coração e o suspiro do livro e escrevê-lo nas suas próprias e belas palavras. E a Michael Wise, da editora News Vessel Press, por toda a dedicação e trabalho e por dar ao meu livro um lar tão bonito.

Crescendo como um garoto gay no sertão do Nordeste brasileiro, era impossível para mim pensar em sonhar com tamanha honra, mas por estar aqui esta noite, como um homem gay, recebendo essa honraria pelo livro sobre a jornada de outro homem gay se aceitando, eu gostaria de dizer a todas as pessoas que já se sentiram erradas a respeito de si mesmas, que o coração e o desejo de vocês são reais, e vocês são merecedores, como todos os outros, de uma vida plena e de alcançar sonhos impossíveis”.