Acidentes de trânsito: um problema de saúde pública

 

Sexta-feira, 27 Julho 2018 11:30
Por Lara Montezuma

As doenças físicas e psicológicas são as principais associações feitas pela maioria das pessoas quando o tema de saúde pública é abordado. No entanto, desde o início dos anos 2000, as lesões e mortes no trânsito também passaram a integrar esta categoria devido ao número crescente de acidentes graves e fatais. Estima-se que, a cada ano, cerca de 1,25 milhão de pessoas morrem em no trânsito e até 50 milhões sobrevivem com ferimentos e sequelas, resultando em custos pessoais, sociais e econômicos.

No Brasil, segundo o Relatório Global sobre o Estado da Segurança Viária (2015), da Organização Mundial da Saúde (OMS), foram registradas no país 42.291 mortes no trânsito (82% homens e 18% mulheres) em 2013. O maior número de mortes (28%) acontece com usuários de veículos com 2 ou 3 rodas, como é o caso das motocicletas. Pedestres também estão na lista dos mais atingidos no trânsito: 20% dos óbitos. Além disso, 18% dos óbitos acontecem com passageiros de veículos de quatro rodas e 3% com ciclistas. Os números são tão dramáticos que especialistas de todo mundo passaram a encarar a situação como uma epidemia.

De acordo com a OMS, caso medidas não sejam aplicadas, os acidentes de trânsito devem se tornar a 7ª principal causa de morte em 2030 - e hoje já se configuram como a principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos em todo o globo. De acordo com Victor Pavarino, consultor de segurança no trânsito do escritório da Organização Pan-Americana da Saúde  (OPAS)/(OMS) no Brasil, houve “um aumento significativo dos acidentes de trânsito a partir dos anos 1980, em escala global, quando as taxas de motorização cresceram exponencialmente nos países em desenvolvimento”, afirma.

Atualmente, os acidentes de trânsito estão no 5º lugar entre as 10 principais causas de morte em Fortaleza. No maior hospital de traumatologia do Ceará, o Instituto Dr. José Frota, o número de acidentes de trânsito no Estado no primeiro semestre deste ano foi de 5.942 casos, 21% menor em relação ao mesmo período do ano passado, que obteve 7.499 pessoas acidentadas - um número ainda elevado. Segundo a superintendente do IJF, Riane Azevedo, a maior quantidade de vítimas de sequelas irreversíveis é da faixa etária produtiva (entre 20 e 49 anos). “O não uso do capacete, a velocidade alta, a associação de direção e álcool e a falta de educação são pontos sobre os quais os condutores devem se conscientizar”, analisa a superintendente.    

Apesar de quedas significativas no número de feridos de certos grupos vulneráveis no trânsito, como os motociclistas e pedestres, o desafio de diminuir ainda mais as estatísticas persiste.

O CASO DE FORTALEZA

Aos poucos, Fortaleza vem mudando a visão de mobilidade urbana por meio de um conjunto de ações que englobam dados, desenho urbano, fiscalização, educação e comunicação. Desde 2014, algumas medidas foram implementadas visando modificar a realidade no trânsito da cidade. Destacam-se aquelas que são voltadas para diminuir o impacto dos principais fatores de riscos, como o excesso de velocidade, o uso do cinto de segurança e de assentos infantis, e o uso incorreto do capacete e a direção associada ao consumo de álcool.

Algumas intervenções obtiveram sucesso em uma nova política pública de Segurança Viária na capital. A extensão de faixas exclusivas para ônibus e de ciclofaixas atraíram mais usuários para os transportes públicos e sustentáveis, além de diminuírem o tempo do trânsito - e também estimularam motoristas e motociclistas e desenvolverem menos velocidade, com faixas de tráfego mais estreitas.

As chamadas “áreas de trânsito calmo” também buscam facilitar o tráfego de pedestres  e de pessoas com mobilidade reduzida, através de travessias elevadas para pedestres, prolongamento de calçadas e sinalização especial indicando limites de velocidade, assim como lombadas físicas, aumento de pontos com faixas de pedestres e rampas de acessibilidade universal. A readequação do limite de velocidade em algumas vias de Fortaleza, como a Av. Engenheiro Santana Júnior e a Av. Leste-Oeste, acarretou na diminuição dos acidentes de trânsito nos locais em 50% e 63%, respectivamente, segundo dados da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC).

“Esse processo que nós ainda vivemos, que quebra do paradigma da mobilidade urbana tradicional com foco nos automóveis, está sendo modificado para uma visão em que a cidade se torne mais amigável para o deslocamento de pedestres, ciclistas e do transporte público - de outros modais que não exclusivamente através de carros, como o planejamento urbano das últimas décadas vinha pregando” pontua o secretário executivo de Conservação e Serviços Públicos de Fortaleza, Luiz Alberto Saboia.

Essa mudança na forma como a administração da cidade encara a mobilidade urbana, de uma perspectiva mais sustentável, tem produzido efeitos na segurança viária. A redução no índice de óbitos por 100 mil habitantes chegou a 35%, se comparados os dados de 2011, quando teve início a Década de Ação para Segurança Viária da ONU, e o ano passado. Em 2011, o número absoluto de pessoas que morreram nas ruas e avenidas de Fortaleza foi de 381, contra 256 mortes em 2017.

 

                                    Fonte: Relatório Preliminar de Vítimas Fatais no Trânsito/ Fortaleza - 2017

INICIATIVA BLOOMBERG DE SEGURANÇA VIÁRIA GLOBAL

A Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global é um programa de segurança viária da Bloomberg Philanthropies e atua em Fortaleza desde 2015.  Durante esses três anos, a cidade pode ter com o apoio de uma equipe de técnicos especializados, assim como uma rede internacional de organizações, que dão apoio às melhorias no gerenciamento de dados, infraestrutura, fiscalização, educação e comunicação.

“O nosso trabalho é principalmente apoiar os projetos em desenvolvimento pela Prefeitura de Fortaleza e também oferecer um intercâmbio com as melhores práticas para prevenção de mortes e feridos de todo o globo. Os resultados e o comprometimento dos gestores municipais são indissociáveis, esse é o segredo para seguirmos avançando e salvar mais vidas” afirma o coordenador executivo da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global em Fortaleza, Dante Rosado.