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O que pode a educação superior?

Fragilidades e potencialidades do Ensino Superior no Ceará e no Brasil. Médico pediatra, especialista em desenvolvimento infantil, mestre em educação médica e doutorando em ensino superior, o coordenador de implantação do Curso de Medicina (2004-2009) e atual Vice-Reitor de Ensino de Graduação da Unifor, professor Henrique Sá, analisa os altos e baixos de políticas públicas voltadas à educação superior e reflete criticamente sobre sua experiência prática e tempo de dedicação à universidade criada pelo chanceler Edson Queiroz, em 1973. Por fim, vislumbra os desafios porvir.

Um gráfico ascendente, mas ainda em desequilíbrio. Apesar do aumento significativo de Instituições de Ensino Superior (IES) e de matrículas ocorrido a partir dos anos de 1990 no país, a taxa de escolarização líquida da população brasileira de 18 a 24 anos continua baixa: 14,4%, segundo o Censo da Educação Superior de 2010. Além disso, 74% de todas as matrículas de graduação estão no setor privado, respondendo o setor público por apenas 26% (INEP, 2010).

Vice-Reitor de Ensino de Graduação desde 2009, o médico pediatra e coordenador de implantação do Curso de Medicina da Unifor, professor Henrique Sá, vê nesse cenário um desafio premente para o Brasil: “O crescimento da educação no setor privado poderia representar uma importante saída para a baixa taxa de escolarização no ensino superior brasileiro caso houvesse uma política pública de fato capaz de reconhecer e avaliar efetivamente a qualidade, identificando bons exemplos e práticas de instituições de ensino superior. O crescimento aconteceu a custas do setor privado, mas de forma um pouco desordenada. Essa dificuldade deve perdurar porque não vemos uma política pública equilibrada e consistente de avaliação que garanta tal qualidade. As instituições acabam trabalhando muito em cima dos requisitos mínimos e muito pouco a excelência do setor nesse país. Ao final, não se assegura consistentemente a qualidade do resultado – a formação e competência dos egressos”, avalia.

Para ele, iniciativas como o Programa Universidade para Todos (ProUni), o Programa de Financiamento Estudantil (Fies), o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), o aumento da oferta de cursos superiores a distância e as políticas de cotas vêm exercendo papel importante, porém limitado na redistribuição de oportunidades. Mas são as políticas de inclusão, notadamente a de acesso ao financiamento e a bolsas de estudo, como também a descentralização e interiorização do ensino nas universidades públicas e a preocupação com a qualidade por parte de instituições consolidadas, os principais avanços conquistados pela sociedade brasileira nos últimos 20 anos.

Se houve crescimento, no entanto, ainda falta planejamento de longo prazo, acredita Henrique Sá. “A crise econômica e política dos últimos três anos vem impactando nesse crescimento, e as limitações de visão de futuro para o setor geram instabilidade e fragilidade, comprometendo este desenvolvimento. Temos que, enquanto sociedade, buscar assegurar um pouco mais de longevidade às políticas públicas”, analisa.

Em paralelo, instituições privadas têm se consolidado como fortalezas na educação superior brasileira. Completando 45 anos em 2018, a Unifor tem seu papel nesse cenário. “Acho que a Unifor é exemplo de uma boa prática do segmento privado no nosso país. A ideia da criação de uma fundação sem fins lucrativos que se propunha a responder à necessidade do desenvolvimento regional de um estado pobre como o Ceará, há 45 anos, continua sendo uma atitude absolutamente inovadora. Infelizmente, não é uma prática comum um grupo de representatividade econômica significativa na região destinar sua energia, investimento e tempo para promover educação superior de qualidade”, destaca Sá.

Para ele, uma iniciativa que procura articular desenvolvimento econômico com formação de recursos humanos e educação, tudo isso associado a uma política de estímulo à arte, à cultura e ao esporte, considerando ainda os projetos de extensão e a produção do conhecimento in loco como um “ethos” institucional, é algo louvável.  “O papel que a Unifor ocupou naquele momento de sua criação, no sentido de criar referenciais no setor privado no país persiste até hoje. A Unifor é referência, uma bandeira, uma baliza que pauta a boa prática do ensino superior na região e no País. A posição que a Unifor ocupa hoje nos rankings nacionais dá conta da importância dela para a prática educacional e organização do ensino superior no Ceará. no Nordeste e no Brasil como um todo”, opina.

São muitos os destaques de mais de quatro décadas de trajetória da Unifor citados pelo Vice-Reitor do Ensino de Graduação. Na área da saúde, a articulação do ensino com forte aplicação por meio de serviços prestados à comunidade pelo Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI), as clínicas odontológicas e a clínica de estética despontam como referência. No Centro de Ciências Jurídicas, um currículo com cunho generalista e o desenvolvimento de experiências profissionais no Escritório de Práticas Jurídicas e em todos os campos do Direito é outro motivo de orgulho. O EPJ presta serviço à comunidade e é modelo, com inserção de ambientes reais como tribunais federais, núcleos de defesa do consumidor, núcleos da defensoria pública, integração com tribunal de justiça para mediação de casos.

No Centro de Ciências Tecnológicas, as muitas especialidades da engenharia, o curso de Arquitetura e Urbanismo e a forte área de computação, implantadas ao longo das décadas, colocam a Unifor no alto do pódio em relação às demais universidades privadas do Nordeste. A Unifor possui um dos mais qualificados programas de formação em comunicação do Brasil e seus cursos da área de gestão, finanças e negócios buscam fortemente a aproximação acadêmica com o mercado, repercute o Vice-Reitor.

“É pública e notória a preocupação contínua da instituição em integrar o ensino a uma prática intensiva em ambientes próprios, com direito à prestação de serviço de altíssima qualidade para a comunidade do entorno e à sociedade em geral. Isso é que mais nos gratifica, não só porque agrega valor como também por constituir um diferencial forte dos produtos da universidade e da própria formação universitária”, acredita.

Mas o que tem sido efetivamente pensado e realizado na Unifor para agregar maior valor à formação e à qualificação para o mundo do trabalho, assim como para o desenvolvimento pessoal e preparo para o exercício da cidadania? “Temos buscado criar oportunidades em mais de um turno e a educação a distância é um processo em desenvolvimento. Para incorporar essa competência interna, procuramos adaptar modelos e tecnologias. Na verdade, o que se procura é ampliar as oportunidades em geral, assegurando um ambiente virtual para que o aluno possa acessar conhecimento e informação on line”, sublinha.

Para o futuro, vislumbra mais: a perseguição da excelência e da qualidade dos produtos educacionais da Unifor e do ensino em sala de aula, a integração cada vez maior do conhecimento com a prática, a aproximação cada vez mais precoce do aluno com o contexto profissional, a melhoria dos currículos para integração de conteúdos, um modelo de ensino e aprendizagem que assegure o adequado cumprimento dos requisitos de qualidade. “Diria que equacionar essa multidimensionalidade da formação, sem nos deter somente em competências técnicas, mas focando na cidadania e na ética como valores essenciais para a formação profissional, é o desafio do ensino superior para este século”, conclui.

Texto publicado na Revista Unifor | Edição 03 | Março 2018