Confira entrevista da aluna da Unifor que foi selecionada para participar de debate online com ganhadores do Prêmio Nobel

seg, 5 abril 2021 16:08

Confira entrevista da aluna da Unifor que foi selecionada para participar de debate online com ganhadores do Prêmio Nobel

A estudante foi selecionada entre  170 candidatos de 90 universidades públicas e privadas de 23 estados do Brasil e do Distrito Federal.


Raquel Queiroz, do último semestre de Medicina, foi selecionada entre 170 candidatos do Brasil e vai participar de mesa-redonda com Mary-Britt Moser, Nobel de Medicina de 2014 (Foto: Acervo particular)
Raquel Queiroz, do último semestre de Medicina, foi selecionada entre 170 candidatos do Brasil e vai participar de mesa-redonda com Mary-Britt Moser, Nobel de Medicina de 2014 (Foto: Acervo particular)

Na próxima quinta-feira, 8 de abril, a partir das 10h, uma aluna de uma universidade do Ceará terá uma rara oportunidade de discutir ciência com um dos dois ganhadores do Prêmio Nobel presentes ao evento "O Valor da Ciência": a norueguesa May-Britt Moser, ganhadora do Nobel de Medicina em 2014, e o francês Serge Haroche, que levou o Nobel de Física em 2012. 

E esse privilégio caberá à Raquel Queiroz Sousa Lima, 24 anos, aluna do último semestre do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz. Natural de Fortaleza, mas com formação escolar em Quixadá (CE), Raquel vai participar a partir de 11h15min da mesa-redonda com Mary-Britt Moser, uma das três pessoas que receberam o Prêmio Nobel de Medicina em 2014 por conta de suas descobertas de células cerebrais que definem nossa orientação espacial.

Para participar do debate com os dois Prêmios Nobel, Raquel teve que passar por uma seleção rigorosa, da qual participaram mais de 170 candidatos de 90 universidades públicas e privadas de 23 estados do Brasil e do Distrito Federal. Ao final, foram selecionados 40 estudantes. O evento é promovido pela Academia Brasileira de Ciências e pela Nobel Prize Outreach, braço de comunicação da Fundação Nobel, em colaboração com o Instituto Serrapilheira.

Em entrevista ao unifor.br, Raquel Queiroz conta um pouco de sua trajetória acadêmica, sua preparação para a mesa-redonda com a cientista Mary-Britt Moser e seus planos para o futuro, além de outros assuntos. Confira a entrevista a seguir:

Conte um pouco sobre sua trajetória de vida: de onde você veio, onde você estudou, como foi ingressar no curso de medicina?

Nasci em Fortaleza, mas cresci no interior do Ceará, na cidade de Quixadá, onde realizei meus estudos até o Ensino Médio em colégios católicos. A escolha por medicina veio do sonho de entender um pouco mais sobre a mente humana e a anatomia do sistema nervoso. Ingressar em medicina não foi fácil, muito pelo contrário. Foi um "degrau" laborioso, desde o processo seletivo até os desafios de sair da casa dos pais e morar na capital, mas foi menos árduo por ter sempre o amor, o cuidado, os ensinamentos, os princípios e o apoio dos meus pais, a quem agradeço enormemente. 

Como está sendo sua trajetória acadêmica?

A trajetória na vida acadêmica sempre foi fascinante por ser repleta de um conhecimento infinito, o qual não importa o quanto você estude, sempre haverá muito para aprender. A escolha pela Universidade de Fortaleza foi primordial, desde a estrutura, o nível dos professores, a interação entre docente e discente, a visão ampla que envolve medicina, arte, ensino, saúde mental... até o método de ensino baseado em problemas que foi essencial para o meu desenvolvimento. Afinal, nós absorvemos muito mais quando buscamos o conhecimento por conta própria.

E foi isso que eu busquei fazer. Ingressei na monitoria no segundo semestre do curso e não parei: participei de grupo de estudo, liga acadêmica, pesquisa na iniciação científica de forma voluntária e com bolsa e cirurgias, é claro. Afinal, minha grande paixão é a neurocirurgia, com a qual comecei contato no terceiro semestre do curso e nunca mais parei, nem pretendo parar. Há cinco anos tenho tido a oportunidade de acompanhar a neurocirurgia de perto, seja no centro cirúrgico, na enfermaria, na emergência, na pesquisa, nas aulas. Ao longo desse período, tive a oportunidade de acompanhar diversos neurocirurgiões e professores de variadas especialidades (staffs, residentes e colegas). É difícil citar nomes sem ser injusta, mas eu agradeço a cada um pelos ensinamentos e pela oportunidade de aprender.

Como recebeu a notícia de que foi selecionada para participar do debate com dois Prêmios Nobel?

A indicação foi feita pelo meu professor de neuroanatomia, Prof. Dr. Eduardo Jucá, com quem tive a honra de ingressar no campo da neuroanatomia e da neurocirurgia pediátrica, chegando a apresentar meu trabalho de iniciação científica sobre essa especialidade médica na Inglaterra e com quem tenho sempre a oportunidade de aprender. E quem melhor para me presentear com essa honra? Sim, uma honra! Crescer lendo e admirando os grandes cientistas, cada um com o trabalho laborioso de uma vida, e ter a oportunidade de participar de um debate assim... é uma honra concebida pelo meu professor, pela Unifor, pela Academia Brasileira de Ciências e pela Nobel Prize.

Como está sua preparação para esse debate?

Estou fazendo o meu melhor. Posso dizer que estou relendo os trabalhos da professora May-Britt Moser, com quem terei a honra de participar em uma mesa-redonda. E tentando entender um pouco sobre a física de Serge Haroche. (risos)

Qual a importância de ser selecionada e de participar desse debate? O que isso pode representar para sua formação profissional?

Demasiada! Por diversos motivos. Foram selecionados alunos de cada estado brasileiro. Eu estou tendo a honra de representar o Ceará após um processo seletivo com concorrentes tão bons quanto eu. Isso mostra o excelente nível da Unifor e o quão válido é o esforço da busca incansável pelo conhecimento. E a importância vai além! É uma forma de representar minha universidade, de inspirar outros acadêmicos, de debater o valor da ciência em um país que necessita de maior investimento em pesquisa, principalmente nesta época de pandemia, de mostrar que os cientistas brasileiros estão cumprindo seu papel com excelência, mesmo com os grandes desafios... enfim, uma forma de fortalecer a importância da ciência e o valor da ciência brasileira.

 


 

Além de ser a realização de um sonho. O mínimo contato com gênios da ciência é capaz de contribuir enormemente para a formação de um bom aluno. O vencedor do Nobel de medicina em 2018, Tasuku Honjo, falou da importância sobre o Seis "C"s: Curiosity, Challenge, Courage, Concentration, Continuation, Confidence. A Professora May-Britt Moser, vencedora do Nobel de medicina em 2014, defende com maestria sua pesquisa sobre as grid cells, o mapeamento cognitivo espacial e a importância do olfato para a formação da memória, uma pesquisa com uma enorme relevância para o estudo da doença de Alzheimer e de uma forma tão acessível, tão brilhante, mostrando o quão importante é o papel da mulher na ciência, com discursos sobre o quanto não devemos desistir. O que posso dizer além de Inspiração? É isso que representa para mim, Inspiração!

Como você está vendo a atuação dos profissionais de saúde no combate da pandemia de Covid-19?

Admirável! Como acadêmica de medicina no último ano da graduação, tive a oportunidade de vivenciar o cuidado das pessoas com Covid-19, tanto na primeira onda, como nesta segunda onda, na atenção de saúde terciária, secundária e primária e posso dizer que o esforço é enorme para fazer o melhor no combate ao coronavírus. Neste momento, infelizmente, ainda não temos um tratamento definitivo para Covid-19, temos prevenção. Duas formas de prevenção: uma por meio da vacina, infelizmente, ainda não acessível para a grande maioria dos brasileiros; outra por meio do isolamento social. E é importante ressaltar que ser vacinado não significa abandonar o isolamento social no mesmo dia ou no dia seguinte, é preciso tempo. O papel dos profissionais de saúde está também relacionado a isso. Não "apenas" solicitar exames e prescrever, mas informar, ser empático, ser humano, cuidar, pesquisar, usar a ciência da melhor forma possível para enfrentar esse momento tão difícil. E é isso que eu tenho visto. Tenho orgulho da ciência e dos médicos brasileiros. 

Quais seus projetos de futuro? Quais os seus sonhos?  

Tenho vários projetos, como falei anteriormente, a minha grande paixão é a neurocirurgia. Então, ingressar em um serviço de neurocirurgia o mais completo possível que me permita aprender com excelência não apenas as técnicas, mas o cuidado com o meu paciente, continuar em constante atualização, pesquisando, ensinando, contribuindo para a ciência e que me possibilite, talvez, um estágio no exterior, com a oportunidade de subespecialização ou fallow é o meu principal projeto.
Sobre os meus sonhos, tenho vários também. Posso citar dois. Um é trabalhar constantemente para ofertar ao meu paciente o melhor tratamento possível e, futuramente, quando for neurocirurgiã, não apenas tratar da melhor forma, mas evitar danos ao máximo. O outro, como existem diferentes tipos de inteligência, segundo Howard Gardner, é conseguir desenvolver da melhor forma possível cada uma delas, seja linguística, musical, motora, lógica e todas as outras. E, permita-me a comparação, assim como em "A Noite Estrelada" de Van Gogh, ao olhar para um céu estrelado é possível ver incontáveis estrelas, o céu não seria tão belo sem elas e nenhuma delas seria tão incrível sozinha. Então eu espero que não apenas na ciência, mas em tudo, o ser humano continue representando cada estrela e que possamos contribuir cada vez mais para a humanidade, principalmente, neste momento de pandemia.

Serviço:

O Valor da Ciência
Data: 8 de abril
Horário: 10h às 13h30
Onde: Transmissão no YouTube do Nobel Prize: www.youtube.com/nobelprize (versão original em inglês) e https://www.youtube.com/watch?v=ffmcJedP6Yg (em português)
O evento online é aberto e gratuito ao público em geral

O Valor da Ciência - a Unifor dá sua contribuição

O debate "O Valor da Ciência" é uma iniciativa inédita no Brasil e tem como objetivo não só inspirar estudantes interessados no desenvolvimento de pesquisas científicas, mas também servirá para promover uma discussão sobre a importância da ciência para a sociedade e para a elaboração de políticas públicas com base no conhecimento científico. A atividade é ainda um evento prévio ao Diálogo Nobel Brasil, que está previsto para acontecer no Brasil em 2022.

Em tempo: Serge Haroche, o outro Prêmio Nobel participante do evento online, dividiu o prêmio de Física em 2012 por métodos experimentais inovadores que permitem a medição e manipulação de sistemas quânticos individuais.

"Uma discussão com dois vencedores do Prêmio Nobel a respeito do valor da ciência, num momento complexo como este que atravessamos, representa uma oportunidade ímpar para refletirmos sobre o papel da ciência no desenvolvimento da humanidade e no enfrentamento dos desafios que temos diante de nós. Devemos buscar, amparados pelo que há de mais avançado no conhecimento científico, caminhos que nos permitam, de forma sustentável, preservar vidas e retomar o desenvolvimento econômico, gerando empregos, renda e inclusão social", disse Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências.

"Sabemos por experiência própria que o Prêmio Nobel e as conquistas dos laureados são uma grande inspiração para os jovens de todo o mundo. Estamos muito satisfeitos em poder promover este encontro digital entre dois distinguidos laureados e estudantes de todo o Brasil", disse Laura Sprechmann, CEO da Nobel Prize Outreach.

O evento será dividido em dois blocos, a partir das 10h. O primeiro contará com um diálogo entre May-Britt Moser e Serge Haroche, que serão acompanhados por Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências, e Helena Nader, copresidente da Rede Interamericana de Academias de Ciências. A conversa será conduzida por Adam Smith, diretor científico da Nobel Prize Outreach.

Na segunda parte, teremos, em sequência, duas mesas-redondas com os ganhadores do Prêmio Nobel (primeiro com May-Britt Moser, depois com Serge Haroche), nas quais os estudantes universitários de todo o Brasil, previamente selecionados (20 em cada mesa-redonda), terão a oportunidade de se juntar aos laureados em uma sessão de perguntas e respostas.


 

O evento será conduzido em inglês, com tradução simultânea disponível. A transmissão será realizada no canal Nobel Prize do YouTube e os interessados poderão acompanhar com tradução em português ou pelo áudio original em inglês.
O evento online é promovido pela Academia Brasileira de Ciências em parceria com Nobel Prize Outreach e colaboração do Instituto Serrapilheira

A Nobel Prize Outreach difunde informações sobre as descobertas reconhecidas com o Prêmio Nobel e estimula o interesse pela ciência, literatura e paz, em linha com a visão e o legado de Alfred Nobel. A organização atinge um público global de milhões de pessoas, por meio de suas produções de alta qualidade: os canais digitais oficiais do Prêmio Nobel, o Concerto do Prêmio Nobel, bem como uma série de eventos internacionais com palestras inspiradoras de ganhadores do Prêmio Nobel.