Decifrando o plágio: confira dicas para evitar que ele ocorra em trabalhos científicos

qui, 4 junho 2020 10:48

Decifrando o plágio: confira dicas para evitar que ele ocorra em trabalhos científicos

Pesquisadora da Unifor alerta para os danos da falta de integridade acadêmica e sugere maneiras de redigir e referenciar pesquisas de forma adequada


Combater o plágio é crucial para a qualidade e validação das pesquisas científicas (Foto: Shutterstock)
Combater o plágio é crucial para a qualidade e validação das pesquisas científicas (Foto: Shutterstock)

Quando se encontram na reta final da graduação, muitos alunos engajados na escrita e nas pesquisas do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) temem uma palavra: plágio. Quando este ocorre, resulta em uma série de constrangimentos - para o estudante, para o professor orientador, para a instituição e para o autor que foi plagiado. As consequências, além da violação dos direitos autorais, podem levar ao descrédito do autor em meio à comunidade científica e à perda de seus Títulos acadêmicos. Como evitar essa situação?

“Plágio, na verdade, é a apreensão da ideia do texto, da arte, da música, do outro”, conta Mírian Cris, funcionária da Biblioteca Central da Universidade de Fortaleza, uma instituição da Fundação Edson Queiroz. Pós-graduada em Pesquisa Científica e Avaliadora do INEP/MEC, ela explica que isso pode ocorrer pela dificuldade que algumas pessoas têm de se adaptar à linguagem acadêmica: “Percebemos que algumas pessoas que não vão exercitando a escrita científica e utilizando corretamente as citações e as referências ao longo da graduação, quando chegam ao final do curso, acabam tendo algum tipo de problema [do gênero]”.

Para a bibliotecária, que atua no Setor de Gestão da Informação Digital, a escrita é um exercício constante, relacionado à boa conduta acadêmica: “Quando a pessoa se preocupa muito com a ética [da pesquisa], ela sempre vai buscar fontes, sempre vai tirar dúvidas. Acho que esse é o primeiro passo para que você não tenha uma má-conduta científica e acadêmica”. Em alguns casos, além das dificuldades na escrita, o plágio acaba ocorrendo devido à falta de conhecimento sobre o assunto e a má administração do tempo para pesquisa.

Em que consiste o plágio?

A legislação que protege contra o plágio é a Lei nº 9610, de 19 de fevereiro de 1998 - ela se refere aos direitos do autor, protegendo obras intelectuais. Existem diferentes tipos de plágio e, dentre os mais conhecidos, estão a reprodução de um texto tal qual o original (plágio direto); a reprodução de uma mesma ideia, sem créditos ao autor e com palavras diferentes (plágio indireto); a cópia de fragmentos de fontes diferentes, unidos por elementos estruturais de coesão (plágio mosaico); o plágio de referências bibliográficas e citações; e o autoplágio, que consiste na utilização de conteúdo já publicado pelo mesmo autor, sem a devida referenciação.  

A detecção do plágio pode ocorrer por meio de softwares (como o Turnitin, utilizado na Unifor) ou, simplesmente, na leitura da pesquisa. Alguns sinais textuais de que ele ocorre estão em mudanças no estilo de escrita; na ortografia, no vocabulário e na fraseologia adotados; quando este apresenta estrutura de “retalhos”; e quando a pesquisa não é capaz de responder às próprias perguntas que levanta.  

Sobre o assunto, Mírian Cris destaca que o pesquisador pode cometer plágio achando se tratar de paráfrase, mas que existem diferenças: no plágio, ou há reprodução exata das palavras do original, sem utilização de aspas, ou são realizadas poucas alterações no texto - em ambos os casos, não há indicação de fonte. Na paráfrase, o pesquisador mantém o significado do original, mas faz uso de palavras similares e de outra estruturam, e sempre indica o nome do autor.

Dicas para evitar plágio

Para que o aluno se previna de realizar plágio inconscientemente, a bibliotecária lista uma série de dicas. A primeira delas é se organizar: o estudante deve ter atenção aos prazos e separar um tempo adequado para pesquisar de forma efetiva e aprofundada, utilizando-se de diferentes fontes de informação. “O livro é uma fonte mais sedimentada e tem um processo editorial mais longo. O artigo científico tem uma velocidade muito rápida. Dependendo do assunto, o pesquisador tem que usar tanto fontes mais sedimentadas quanto fontes atuais, como os artigos de periódicos científicos e trabalhos apresentados em eventos”, compartilha Cris.

Recomenda-se a definição de um recorte temporal para a pesquisa, de forma a delimitar melhor o conteúdo que será utilizado. Também é sugerido brainstorming de possíveis palavras-chave para a pesquisa, pois isso auxilia na busca eficiente de conteúdo sobre o tema que se deseja abordar. Ao se obter o material, a dica é destacar nos textos aquilo que você pretende usar como citação direta ou indireta. É muito importante que, nesse processo, seja feita uma lista de todas as obras consultadas (livros, capítulos de livros, artigos de periódicos, páginas da internet, revistas, vídeos etc). 

Quanto à escrita do texto, a orientação é que ocorra com antecedência. “Faça anotações com suas próprias palavras, pois isso facilita no momento de citar. Formule seus próprios argumentos. Inclua as citações na primeira versão do seu texto para não se confundir depois, mas leia o texto original com atenção para entendê-lo antes de utilizá-lo. Não copie as citações dos outros como se fossem suas”, aconselha Mírian. Nesta etapa, é válido organizar uma relação com as obras citadas e salvar dados da fonte para utilizá-los na hora de gerar referências. “Não esqueça de colocar o sobrenome do autor e o ano. Se for citação direta, também deve indicar a página”, ela ressalta.