Empregabilidade em tempos de pandemia: a importância do diploma na busca por oportunidades

qua, 10 junho 2020 18:26

Empregabilidade em tempos de pandemia: a importância do diploma na busca por oportunidades

Especialistas da Universidade de Fortaleza falam sobre a educação superior como uma forte aliada para superar os desafios do mercado de trabalho


Pesquisa aponta que a chance de desemprego é quase 50% menor para as pessoas com nível superior completo em relação às pessoas com nível fundamental ou médio completos (Foto: Shutterstock)
Pesquisa aponta que a chance de desemprego é quase 50% menor para as pessoas com nível superior completo em relação às pessoas com nível fundamental ou médio completos (Foto: Shutterstock)

O estudo “Empregabilidade e Ensino Superior em tempos de pandemia”, realizado recentemente pelo Instituto Semesp, analisou como o mercado de trabalho tem se comportado diante do cenário de crise causado pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19). 

Os impactos negativos enfrentados pela economia brasileira têm influência direta no número de vagas ofertadas pelas empresas, acarretando o notável aumento da taxa de pessoas desempregadas, redução de renda, jornada de trabalho e até mesmo a suspensão de contratos pelos empregadores. 

Por meio de dados estatísticos sobre a empregabilidade no Brasil, o estudo destaca como a educação superior pode contribuir para minimizar os efeitos da pandemia, oferecendo vantagens competitivas. Os resultados da pesquisa apontam que a chance de desemprego é quase 50% menor para as pessoas com nível superior completo em relação às pessoas com nível fundamental ou médio completos. 

A seguir, professores da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, comentam a pesquisa. Confira. 
 

Alisson Martins, coordenador do curso de Ciências Econômicas da Unifor

UNIFOR: Que dado da pesquisa foi mais impactante?

ALLISSON MARTINS: O dado mais impactante na pesquisa foi em relação à projeção de taxa de desocupados, principalmente quando a gente olha o cenário pessimista, que pode alcançar 19,3%. Claro que isso vai variar em relação à pandemia e também das medidas mitigadoras. Esse é um ponto que a gente deve avaliar com cuidado. Mas nesse sentido, a pesquisa traz informações bem relevantes para as pessoas que detenham um curso de nível superior. Mesmo na crise de 2015 e de 2016 e também no ano de 2019, a performance das pessoas que tinham nível superior em relação à empregabilidade é bem superior. O nível superior registra uma taxa de desocupação menos da metade daquelas pessoas que tenham nível fundamental e médio. Uma pessoa que tem nível superior tem uma chance de ser empregada que chega a ser mais de 2 vezes do que em relação às pessoas com formações mais intermediárias. O nível de desemprego vai ser elevado, claro que a gente olhando todas essas variáveis que estão postas, mas aquelas tenham nível superior ela tem uma chance de empregabilidade maior. No caso de cenário de dificuldade, a variação menor foi das pessoas com nível superior. Em um cenário pessimista, quem sofrem mais são outras formações, mas as pessoas que têm nível superior detêm um grau de empregabilidade maior. Pessoas com nível superior potencializam os seus resultados em termos de empregabilidade e minimizam as perdas em momentos de cenários adversos, como é o caso do cenário atual da pandemia. 

UNIFOR: De acordo com a pesquisa, em relação ao primeiro emprego, sobressai o percentual de egressos de instituições particulares que afirmaram ter conseguido o primeiro emprego antes mesmo da conclusão do curso, 49,6%, ante 27,8% dos profissionais da rede pública.  Como avalia esse resultado? No caso da Unifor, que características da nossa matriz curricular auxiliam nessa empregabilidade?

ALLISSON MARTINS: Acredito que esteja diretamente ligado à capacidade de renovação, inovação, agilidade e celeridade que as instituições privadas têm em comparação às instituições públicas. As instituições privadas têm essa capacidade de captar um movimento de mercado, um movimento de demanda de profissionais de uma forma muito mais célere, muito mais aderente às necessidades que são postas a cada dia, principalmente nesse momento que a gente vive de uma revolução digital e claro, a gente não pode deixar de contextualizar, nesse cenário pandêmico. No cenário normal, as instituições de ensino particulares têm essa capacidade de uma maior aderência às necessidades de trabalho e muito mais rápidas, em detrimento das instituições públicas. 

No caso da Unifor isso é mais perceptível ainda pelo próprio DNA da instituição em ser inovadora, em ser sempre na fronteira do conhecimento, mas também muito ligada à demanda de profissionais de qualidade no mercado de trabalho. E isso, sem dúvida, traz uma situação bem mais favorável para os alunos que cursam nível superior na Universidade de Fortaleza. 

UNIFOR: Na sua opinião, por que investir em um curso de graduação em plena pandemia?

ALLISSON MARTINS: Investir em um curso de graduação nesse momento, em plena pandemia, tem vários fatores positivos. Desde o lado social, em que você, nesse momento ainda de isolamento social, de afastamento das suas integrações sociais, de certa forma você está dentro de uma universidade você tem essa interação, claro que de forma digital, mas te coloca em uma condição de aprendizagem, conhecimento e evolução, em detrimento de ficar apenas em casa, desocupado. Então isso é um ponto positivo. Mas também do lado do conhecimento, que vai te proporcionar muito fortemente, conforme essa pesquisa relatou, uma potencialidade em termo de empregabilidade. 

As universidades estão sempre na ponta das renovações que acontecem no mundo, sem dúvida, as universidades irão conseguir captar da melhor maneira e da forma mais rápida esse novo normal, esse novo mundo pós-pandemia. Então, os alunos que cursarem uma graduação terão essa perspectiva de entender um mundo renovado, que não será o mesmo anteriormente à pandemia e não há melhor lugar do que você se sintonizar com essa nova realidade dentro do universo acadêmico, do universo de aprendizagem e um curso superior tem possibilidade disso: abrir novas perspectivas e entender as atualizações do mundo e perceber, num primeiro momento, ainda muito mais rápido, que novas necessidades estão surgindo e as universidades com certeza conseguirão captar pelo seu corpo de professores, pelo seu corpo científico e tentar decodificar esse novo mundo e passar isso para os alunos. Isso é sem dúvida muito importante, muito interessante. 

UNIFOR: Que indícios no contexto atual indicam ou garantem a empregabilidade no futuro próximo? Quais são as reais perspectivas?

ALLISSON MARTINS: O principal indício que a gente vê é que existe claramente uma alta correlação entre educação e empregabilidade. Isso não vai deixar de existir, na verdade, acredito que isso vai ser majorado, vai ser elevado, e que essa correlação vai ser muito mais intensa. Vai ser correlação positiva mais um, que a gente chama em medidas estatísticas. A alta educação, a alta empregabilidade, isso vai ser muito mais potente. Essas pesquisas apontam isso, que um menor grau de desocupação sempre vai estar em relação a essas pessoas que tem um curso superior quando comparado a uma formação intermediária. Só que, além disso, novas perspectivas de um novo mundo serão abertas, novas janelas de oportunidades serão possíveis de a gente olhar um horizonte e nada melhor que na universidade para você se preparar para esse novo mundo, com um corpo de professores, um corpo de pesquisadores antenados e sempre na fronteira do conhecimento e sempre tentando avançar para ver essas novas possibilidades. Então a gente ver esse indício claro, tanto de conhecimento como em nível de empregabilidade. São indícios fortíssimos de uma necessidade de você fazer um curso de nível superior, em particular na Unifor, que tem essa dimensão de qualidade e de entregar profissionais no mercado de trabalho de alta qualidade.  

UNIFOR: Nesse momento de pandemia, a educação entra em que nível de necessidade humana?

ALLISSON MARTINS: A educação entra numa dimensão de necessidade humana daquela de completude do ser, de você buscar um conhecimento, aquele que te traz uma sensação de desafio, aquele que te coloca uma pulga atrás da orelha em busca de novas respostas sobre determinados assuntos. Acredito que a educação completa outras dimensões do ser humano, como a dimensão social, a dimensão psicológica e a dimensão do aprendizado e conhecimento. Ela consegue te espraiar para várias outras áreas no sentido de entender as coisas de forma lógica, de captar de melhor maneira as informações que estão sendo trazidas a você, a te colocar em um novo patamar como pessoa, como ser humano, te proporcionar uma condição de assumir profissões mais desafiadoras, aquelas que te colocam sempre no pensar, como fazer, então, eu vejo muito isso: a educação como uma dimensão do ser humano necessária a ser preenchida. É sim uma necessidade, mesmo nesse momento de pandemia. 

UNIFOR: O que mais acredita ser importante para o sucesso profissional nesse momento atual em que estamos vivendo?

ALLISSON MARTINS: Para esse momento atual, sem dúvida, é resiliência. É aguentar os momentos de dificuldade e sair dele muito mais forte do que você entrou. Esse é um ponto. Nesse sentido, um curso de educação superior te dá essa massa muscular, essa vontade de superar esses obstáculos, de vencer esses desafios. Isso eu vejo como um ponto que as empresas buscarão no mercado de trabalho: pessoas capacitadas, atualizadas, mas que tenham uma capacidade de enfrentar momentos adversos extremos, como é o caso. A gente está dentro de um cenário econômico que é o pior da economia moderna, pior que a grande crise de 1929. Então, as empresas buscarão esse profissional que é qualificado, atualizado, mas que também tem essa vontade de superar os momentos difíceis, que enfrenta, que vai para frente de batalha e acredita que é possível vencer. 

Josimar Costa, coordenador dos cursos de Administração e Comércio Exterior da Unifor 

UNIFOR: Que dado da pesquisa foi mais impactante, na sua visão?

JOSIMAR COSTA: Sem dúvida, os aspectos, as projeções econômicas e a queda do PIB chamam atenção. Entretanto, a projeção de queda na empregabilidade é quase 5 vezes menor nos profissionais com ensino superior.

UNIFOR: No caso da Unifor, que características da nossa matriz curricular auxiliam na empregabilidade dos egressos?

JOSIMAR COSTA: Podemos projetar o perfil do profissional que as empresas buscam nos próximos anos pelo que vivenciamos nos últimos meses. Há alguns anos se fala em profissional do século XXI como aquela pessoa multifacetada, orientado a tecnologia, mas com habilidade sócio emocional, resiliente, com repertório multidisciplinar, capaz de usar da criatividade para buscar soluções e tomar decisões inovadoras. Vivenciamos isso nessa pandemia na qual a transformação digital, de um projeto de longo prazo transformou-se de implementação imediata. Ou seja, as habilidades que precisavam ser desenvolvidas com o tempo foram aceleradas emergencialmente. A importância dos executivos de marketing, vendas, operações, logística e finanças ganharam ainda mais destaque. Estes profissionais precisam estar prontos para otimizar processos, analisar uma grande massa de dados para tomada decisão, liderar projetos de forma ágil e assertiva, liderar pessoas, conduzir negociações complexas, realizar escolhas financeiras e além de tudo a capacidade de empreender. O currículo do curso de Administração da Unifor é orientado a dados com disciplinas de sistemas inteligentes e análise de dados desde o 3° semestre. A formação do Administrador contempla todas as áreas da empresa que potencializa a empregabilidade, mas o determinante é a utilização de metodologias de ensino orientada a projetos desde o primeiro semestre para desenvolver repertório e por conseguinte criatividade e a habilidade de trabalho em equipe. As profissões de gestão comercial, finanças e tomada de decisão orientada a dados estarão no top 10 de qualquer ranking de empregabilidade. No curso de Comércio Exterior, além de uma densa formação em gestão e economia, o currículo oferece aos estudantes experiências no mercado internacional no qual que se projeta um aquecimento para garantir a cadeia de suprimento e a recuperação da economia global.

UNIFOR: Na sua opinião, por que investir em um curso de graduação em plena pandemia? Há espaço, na matriz das necessidades humanas, para o estudo em tempos de crise?

JOSIMAR COSTA: Desde 2013 percebemos uma tendência de crescimento nos empregos formais para profissionais com ensino superior com uma projeção estável para 2020, mesmo com a pandemia. Em contrapartida existe uma projeção de queda acentuada para vagas de ensino médio nos próximos anos. A pandemia, como já falamos, acelerou o processo de transformação digital e com ele a necessidade de profissionais com visão ampla dos processos. Com o intermédio da tecnologia, as atividades repetitivas tenderão a desaparecer e as empresas precisarão cada vez mais de analistas que comunguem de visão estratégica e tenha capacidade de liderar e desenvolver equipes multidisciplinares. É disruptivo o que eu vou dizer: as empresas não precisarão de profissionais para desenvolver planejamento estratégico, econômico ou financeiro. As empresas necessitam de líderes criativos, orientado a dados, que, empaticamente, conduzam suas equipes a desenvolver projetos e otimizar processos social e ambientalmente responsáveis que gerem valor para a sociedade. 

UNIFOR: O que melhora para o profissional com um diploma de graduação? A pesquisa mostra melhoria do nível salarial e possibilidade do primeiro emprego. O senhor destacaria algo mais?

JOSIMAR COSTA: Destaco o repertório que você desenvolve na faculdade, ou seja, o conjunto de experiências e conhecimentos que você adquire. Repertório é a base da criatividade. Quanto mais contato com situações ou aprendizados em diferentes contextos, maior será sua habilidade em encontrar soluções. E o mundo hoje precisa de solucionadores de problemas. Destaco também a oportunidade de criação de redes de relacionamento (networking), que com certeza é um fator potencializador da empregabilidade.