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Seg, 4 Setembro 2023 12:15

Entrevista Nota 10: Alexandre Pereira e a força do setor turístico em Fortaleza

Mestre em Administração Pública, o Secretário do Turismo da capital cearense fala sobre o papel do setor no desenvolvimento socioeconômico, além de pontuar a importância da formação de profissionais e gestores no âmbito turístico


Além de presidente da Associação Nacional de Secretários e Dirigentes de Turismo (Anseditur), Alexandre é professor da Pós-Graduação em Negócios Turísticos da Unifor (Foto: Rogério Lima/PMF)
Além de presidente da Associação Nacional de Secretários e Dirigentes de Turismo (Anseditur), Alexandre é professor da Pós-Graduação em Negócios Turísticos da Unifor (Foto: Rogério Lima/PMF)

Com 573 quilômetros de extensão litorânea — uma das maiores do Brasil —, o Ceará é conhecido e visitado por suas encantadoras e convidativas praias, atraindo milhares de turistas nacionais e internacionais todos os anos. No entanto, nem só de sol e areia vive o turismo do estado: arte, cultura e culinária locais também fazem parte das rotas de quem busca conhecer mais do que belezas naturais.

Na capital, por exemplo, só o turismo de eventos contabilizou um impacto de R$347 milhões para a economia da “Terra do Sol”. A informação é do “Relatório de Impacto Econômico do Turismo de Eventos Realizados em Fortaleza em 2022”, divulgado em julho deste ano pela Secretaria Municipal do Turismo.

“A realização de conferências, feiras, exposições e outros eventos atrai participantes de outras cidades e até países, o que impulsiona o consumo local, a hotelaria, a gastronomia e outros serviços, gerando emprego e renda de forma direta e indireta, bem como contribuindo para o aumento da arrecadação das receitas”, explica Alexandre Pereira, Secretário do Turismo de Fortaleza.

O gestor público pontua que esse relatório “traz números muito positivos e reforça a importância de investirmos na captação de eventos” na cidade. A pesquisa aconteceu por meio do Observatório do Turismo de Fortaleza, em parceria com o Visite Ceará e a Universidade de Fortaleza — onde Alexandre ministra aulas na Pós-Graduação em Negócios Turísticos.

Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), ele é mestre em Administração Pública pela Universidade de Lisboa, em Portugal. Também possui pós-graduação em Gestão Estratégica pelo Instituto Europeu de Administração e Negócios, na França, e em Gestão Pública e Privada pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Alexandre já foi secretário de Desenvolvimento Econômico do Ceará e esteve à frente da presidência de algumas organizações, como: o Centro Industrial do Ceará, o Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria do Ceará, a Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip) e o Conselho Gestor das Parcerias Público-Privadas da Prefeitura de Fortaleza.

Além de Secretário do Turismo de Fortaleza, ele é atualmente membro da Academia Cearense de Administração (Acad), da Academia Cearense de Turismo (ACT) e honorário da Academia Cearense de Direito (Aced). Assume também a presidência da Associação Nacional de Secretários e Dirigentes de Turismo (Anseditur) e do Partido Cidadania no Ceará.

Na Entrevista Nota 10 desta semana, Alexandre fala sobre o papel dos setores de turismo e serviços no desenvolvimento socioeconômico de Fortaleza, além de pontuar a importância da formação de profissionais e gestores no âmbito turístico.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 — Fortaleza é um dos destinos mais procurados por turistas não só em razão de suas praias, mas também de uma agenda de eventos, rotas gastronômicas e atrações culturais que vêm crescendo e se consolidando no mapa turístico brasileiro. Como o município tem trabalhado para estimular e desenvolver a infraestrutura urbana e o setor de serviços para atrair e receber seus visitantes?

Alexandre Pereira — Na Secretaria do Turismo de Fortaleza, temos a Escola do Turismo, que fornece cursos nas comunidades, levando formação em turismo de base comunitária e capacitação em áreas possíveis de trabalho como curso de bartender. Os hotéis também são treinados por uma equipe da Secretaria, que realiza uma palestra sobre os pontos turísticos da capital. A Prefeitura de Fortaleza lançou recentemente o [programa] Fortaleza Bilíngue, que conta com cursos de línguas voltados para o turismo.

Com relação à infraestrutura, ao longo dos anos, a Prefeitura, desde a gestão passada, tem feito várias intervenções, como a melhoria dos corredores turísticos, a requalificação do Mercado dos Peixes, a nova Beira-Mar — que ficou espetacular e é motivo de muita satisfação por parte dos moradores e turistas —, a Beira-Rio da Barra do Ceará, entre outras.

Atualmente, a Secretaria da Infraestrutura está qualificando a Praia de Iracema, dando continuidade ao que já foi feito na Beira-Mar, para atrair mais visitantes e oferecer mais conforto e lazer aos moradores e turistas. 

Entrevista Nota 10 — Segundo a pesquisa “Impacto Econômico do Turismo de Eventos 2022”, divulgada pela Prefeitura de Fortaleza em julho de 2023, o turismo de eventos trouxe um impacto de R$347 milhões para a economia da cidade só no ano passado. Qual é o papel do setor de serviços no orçamento da capital e em seu desenvolvimento social? 

Alexandre Pereira — O setor de serviços desempenha um papel fundamental no orçamento de muitas cidades, a exemplo de Fortaleza, além de contribuir de forma significativa para o seu desenvolvimento social. Em primeiro lugar, é uma contribuição para o orçamento da cidade. Esse setor geralmente é uma das principais fontes de receita para muitas cidades, incluindo a capital Fortaleza.

Isso ocorre porque engloba uma ampla gama de atividades econômicas, como turismo, comércio, finanças, saúde, educação, tecnologia da informação, entretenimento, entre outras. As atividades desse setor geram empregos, renda e, consequentemente, arrecadação de impostos para o governo local, que as redistribui por meio de investimentos na própria cidade, seja por infraestrutura ou outras políticas. 

No caso do turismo de eventos especificamente, a realização de conferências, feiras, exposições e demais eventos atrai participantes de outros municípios e até países, o que impulsiona o consumo local, a hotelaria, a gastronomia e outros serviços, gerando emprego e renda de forma direta e indireta, bem como contribuindo para o aumento da arrecadação das receitas, seja via o ISS ou ICMS. 

O setor de serviços também tem um impacto significativo no desenvolvimento social de uma cidade, pois ele não apenas gera empregos diretos, como também possibilita a criação de empregos indiretos em áreas como transporte, fornecimento de alimentos, limpeza, segurança, entre outros. Isso ajuda a reduzir o desemprego, a melhorar os padrões de vida e a aumentar a qualidade de vida da população. 

Além disso, o desenvolvimento de infraestrutura relacionada aos serviços, como hospitais, escolas, centros comerciais e espaços de entretenimento, melhora a acessibilidade a serviços essenciais e contribui para o bem-estar geral da população.

O setor de serviços também desempenha um papel importante na diversificação da economia de uma cidade. Ele permite que uma cidade não dependa exclusivamente de setores como a indústria ou a agricultura, o que pode tornar a economia mais resiliente a flutuações cíclicas. A diversificação econômica ajuda a mitigar os riscos associados a choques em setores específicos e proporciona uma base mais estável para o crescimento a longo prazo.

Cidades com um setor de serviços bem desenvolvido também tendem a atrair investimentos e talentos. Empresas que operam no setor de serviços buscam locais com mão de obra qualificada, infraestrutura adequada e um ambiente propício aos negócios. Isso, por sua vez, pode levar ao crescimento econômico sustentável e à criação de oportunidades de emprego mais qualificadas.

No geral, o setor de serviços desempenha um papel multifacetado no orçamento de uma cidade e em seu desenvolvimento social. Seja por meio do turismo, educação, saúde, tecnologia ou outros serviços, ele contribui para a vitalidade econômica e a qualidade de vida dos residentes.

Entrevista Nota 10 — Com o reaquecimento da demanda depois da pandemia, principalmente em destinos já nacionalmente consagrados como Fortaleza, há a necessidade de mão de obra de qualidade especializada no turismo? De que forma profissionais capacitados contribuem para um desenvolvimento turístico mais robusto e sustentável? 

Alexandre Pereira — Sim, o perfil do turista está sempre em evolução. Estamos sempre realizando pesquisas, por meio do Observatório do Turismo de Fortaleza, para identificar onde podemos melhorar. 

Em termos de capacitação de profissionais, temos a Escola do Turismo, que oferece cursos voltados, principalmente, ao conceito de turismo de base comunitária. Um exemplo é a comunidade do Poço da Draga, onde temos oferecido vários cursos em parceria com o Sebrae, empresas privadas e outros. Um deles foi o de barman, que é uma demanda muito corrente nos bares e restaurantes.

Mas é muito importante também falarmos de capacitação do destino. O turismo ecológico e sustentável, por exemplo, tem avançado bastante, e os destinos têm que estar preparados para atender as exigências desse novo visitante.

Fortaleza já está trabalhando nessa nova demanda. Diversas iniciativas da Prefeitura como um todo têm qualificado a capital como um dos melhores destinos turísticos do país. Em junho deste ano, fomos um dos dez destinos selecionados pelo Ministério do Turismo (MTur) para participar da Estratégia Nacional DTI Brasil, que visa capacitar as cidades selecionadas para serem destinos turísticos inteligentes.

Fortaleza também está participando do Programa Turismo Futuro, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que contribui para a competitividade e a sustentabilidade do setor de turismo na América Latina e Caribe (ALC), por meio da adoção de tecnologias digitais e emergentes.

Para a seleção dos municípios participantes, foram considerados critérios como a existência de policiamento turístico, plano de mobilidade, programa ou plano estratégico de cidade sustentável e/ou cidade inteligente, ações ou projetos relacionados ao desenvolvimento da economia criativa no destino, entre outros.

Entrevista Nota 10 — Os profissionais que atuam na gestão turística precisam desenvolver diversas habilidades e competências inerentes ao negócio, além de se manterem atualizados constantemente. Como a Universidade prepara esses profissionais para atuarem no mercado e na gestão turística não só de Fortaleza, mas de qualquer lugar do país?

Alexandre Pereira — A Pós-Graduação em Negócios Turísticos da Unifor possibilita ao aluno/profissional contato com representantes chave das maiores empresas de trade turístico e instituições da governança pública, com alta reputação no mercado. Além disso, as disciplinas são orientadas para elaboração de produtos aplicados ao cotidiano do profissional, sob a perspectiva da inovação, tecnologia e transformação digital pela qual o turismo tem passado. E ao final do curso, os alunos terão oportunidade de realizar uma imersão em algum destino turístico nacional de referência nesses pilares.

Entrevista Nota 10 — A Unifor, junto ao Convention and Visitors Bureau (Visite Ceará), participou da elaboração do “Relatório de Impacto Econômico do Turismo de Eventos Realizados em Fortaleza em 2022”, promovido pela Secretaria Municipal do Turismo da capital cearense. Qual a importância de trazer para perto a produção acadêmica na análise de cenário e nas tomadas de decisões da gestão pública? De que forma parcerias com as universidades agregam na criação e gerenciamento de políticas governamentais? 

Alexandre Pereira — Precisamos trabalhar de forma conjunta com universidades para que essas pessoas que estão sendo inseridas no mercado de trabalho entendam na prática o funcionamento do sistema. Esses estudantes, que vão se formar e ocupar seu espaço no mercado, também estão cheios de ideias inovadoras, que vão contribuir com o nosso trabalho.