null Orgulho Unifor: Egressa lança livro sobre memórias na XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará

Seg, 21 Novembro 2022 17:52

Orgulho Unifor: Egressa lança livro sobre memórias na XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará

Obra da jornalista Lianne Ceará, graduada em Jornalismo na Universidade de Fortaleza, contempla assuntos como água e poder no sertão, identidade e raízes culturais


Lianne lançou “Memórias Interrompidas” no último dia 13 de novembro, na Bienal do Ceará (Foto: Arquivo pessoal)
Lianne lançou “Memórias Interrompidas” no último dia 13 de novembro, na Bienal do Ceará (Foto: Arquivo pessoal)

Quando o município de Jaguaribara foi inundado para dar lugar ao que seria o maior reservatório de água doce do Ceará – o açude Castanhão –, Lianne Ceará tinha apenas quatro anos de idade. Ela ainda não sabia, mas estava destinada a resgatar o que de mais valioso havia naquele lugar: as memórias.

A menina cresceu, virou jornalista e, por meio da escrita, trouxe à superfície histórias submersas pela urgência do progresso, com relatos de alegrias, tristezas e vivências. Foi assim que, da cidade inundada, emergiu o livro “Memórias Interrompidas”, lançado no último dia 13 de novembro, na XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará.

Egressa de Jornalismo da Universidade de Fortaleza – instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz –, Lianne já tinha inclinações literárias desde o início da graduação e conta que sempre teve em mente o desejo de ser escritora. Foi na disciplina da professora Aíla Sampaio que a então estudante descobriu já escrever crônicas mesmo sem saber, ao pé da letra, o significado do gênero textual.

Tal fato não a dissuadiu da vontade de ter uma preparação teórica para aprimorar o talento. “Não existe prática sem teoria. Ter referências, ler sobre literatura, jornalismo, narrativas, memórias, ver como os que vieram antes de você fizeram. Tudo isso me ajudou a construir a minha prática de uma forma mais profissional”, observa.


Graduada em Jornalismo pela Unifor, Lianne já contribuiu com os veículos G1 Ceará, Diário do Nordeste e revista Piauí (Foto: Arquivo pessoal)

A autora revela que, durante a jornada acadêmica, o apoio dos docentes foi fundamental para que não desistisse do tema de sua escolha em momentos de cansaço, sendo incentivada inclusive a prosseguir com a pesquisa rumo a um mestrado e a um doutorado (orientação que pretende seguir futuramente). Ela destaca também o suporte técnico e teórico que a Unifor lhe proporcionou para que pudesse ir além das salas de aula.

O intercâmbio na Universidade de Lisboa, em Portugal, foi uma das oportunidades que lhe permitiu expandir horizontes e quebrar limites: “Às vezes carregamos crenças limitantes com a gente involuntariamente, sem sentir”. Segundo Lianne, as experiências que viveu fora do país contribuíram muito para compor a profissional que é hoje.


O intercâmbio em Lisboa (Portugal) ajudou a estudante a ter novas perspectivas (Foto: Arquivo pessoal)

Entre as vivências da carreira jornalística, a jovem destaca uma matéria que realizou para a revista Piauí sobre a falta de verba no orçamento para o programa de cisternas no semiárido brasileiro. Durante a apuração, a jornalista se deparou com desigualdades sociais e grandes contradições do chamado “progresso”. Enquanto obras faraônicas mexiam com a vida dos moradores em troca da promessa de desenvolvimento e abastecimento para toda a região, povoados próximos permaneciam desassistidos, sem saneamento e sem água potável.

Ela revela que, para fazer a matéria, teve que ir até uma localidade de Jaguaribara a qual nunca havia visitado, de difícil acesso, passando por uma estrada de terra. “Eu não conseguiria retratar de fato a realidade daquelas pessoas se não tivesse ido lá. Hoje sou muito grata por ter ido. Foi uma pauta muito significativa pra mim”, relata.


Registro de uma das conversas com moradores de Jaguaribara (Foto: Arquivo pessoal)

Sobre a profissão que abraçou, a egressa tem opiniões firmes: “O jornalismo tem que se colocar nos caminhos da pauta, nas veias do Brasil, porque a gente não consegue contar uma história em sua inteireza se não for no lugar”. Para ela, fazer jornalismo apenas de dentro da redação é um comodismo do qual o jornalista precisa se livrar. “Quando você vê o olho daquele personagem, tudo ganha um outro sentido”, afirma.

Sobre o livro

“Memórias Interrompidas” é fruto do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Lianne Ceará, que viveu em Jaguaribara de 2002 a 2017. Mesmo não chegando a residir no local que hoje é conhecido como “velha” Jaguaribara, a jornalista tem memórias afetivas da cidade, que costumava visitar todos os fins de semana quando criança.

Para a construção das narrativas, a autora coletou relatos orais dos ex-moradores da cidade que, durante 15 anos, tentaram resistir à mudança. Da própria memória, a jornalista também resgata histórias que cresceu ouvindo, lembranças familiares e conversas com inúmeras pessoas.


Autora autografa exemplar de “Memórias Interrompidas” na XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará (Foto: acervo pessoal)

Em sua pesquisa, ela encarou diversos sentimentos, como tristeza, saudade, conformismo e muita frustração. “Sempre tive que lidar com essas emoções. Na verdade, estou dentro delas porque toda minha família é de Jaguaribara, então eu também perdi a minha história”, diz.

Lianne acredita que as pessoas merecem entender mais sobre suas raízes, identidade e memória. Por isso, apesar de “Memórias Interrompidas” ser um sonho pessoal realizado, para ela a obra possui um sentido coletivo ainda mais importante e profundo.