null Uma jornada pela inclusão

Seg, 6 Março 2023 14:52

Uma jornada pela inclusão

Busca constante para garantir inclusão de todos no campus da Unifor conta com equipamentos e projetos metodológicos que visam a acessibilidade arquitetônica, comunicacional, pedagógica, atitudinal e social


Esforços da Unifor para garantir a inclusão de todos em um campus cada vez mais diverso incluem a construção da acessibilidade por meio de diagnósticos, adaptações físicas e treinamento de colaboradores (Imagem: Divulgação)
Esforços da Unifor para garantir a inclusão de todos em um campus cada vez mais diverso incluem a construção da acessibilidade por meio de diagnósticos, adaptações físicas e treinamento de colaboradores (Imagem: Divulgação)

Se o valor social de uma universidade é ser um microcosmo dentro da sociedade, que se construam cada vez mais espaços para garantir acessibilidade e inclusão de todos os cidadãos nesses lugares. É nesta jornada pela valorização da diversidade que a Universidade de Fortaleza (Unifor), instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz, vem mergulhando nos últimos anos. 

São diagnósticos constantes, adaptações estruturais, treinamentos de colaboradores e muitas outras ações capitaneadas para se tornar uma Universidade para todos. A Unifor olha para a inclusão de forma ampla para abrir espaço à acessibilidade arquitetônica, comunicacional, pedagógica, atitudinal e social. Tijolo por tijolo, quer ajudar a construir um futuro mais diverso e inclusivo.

Mas vamos por partes para entender essa história. Quando falamos de acessibilidade, estamos falando de estrutura e de ferramentas que permitam a todas as pessoas acessarem os espaços e serviços da forma mais autônoma possível. Já a inclusão diz respeito ao direito em si que todas as pessoas têm de ocupar esses locais, nos diversos âmbitos sociais. 

Ações para os públicos mais diversos

“O nosso papel é de acolhimento às diferenças, como também de ampliar o pensamento da comunidade acadêmica ao difundir a cultura da inclusão”, explica a coordenadora do Programa de Apoio Psicopedagógico (PAP) da Unifor, Terezinha Joca.

É este setor que realiza uma série de diagnósticos no campus na busca de viabilizar serviços voltados à acessibilidade de pessoas com deficiência e alunos com necessidades educacionais específicas, assim como oferecer suporte aos docentes e funcionários, contribuindo com o bem-estar emocional de toda a comunidade acadêmica.

O PAP está sempre aberto à escuta dos estudantes e visitantes para planejar ações e projetos que promovam tanto acessibilidade quanto inclusão. E há ações para os mais diversos públicos. Quer ver? Vamos começar com aquelas voltadas para pessoas com deficiência (PcD), a associação imediata que fazemos ao pensar no assunto.


Na Unifor, estudantes surdos contam com o apoio de intérpretes de libras em todas as etapas da formação acadêmica, desde o ingresso na instituição até a formatura (Foto: Filipe Pereira)

A comunidade surda conta, por exemplo, com uma equipe de seis intérpretes de Libras, que costumam trabalhar em duplas para tornar o conteúdo de aulas e palestras acessível. Segundo Terezinha, na Unifor, o estudante surdo tem apoio do intérprete desde o vestibular até o final de seu processo acadêmico em sala de aula, também em monitoria, estágio, eventos e tradução de seu trabalho de conclusão de curso (TCC). 

“A acessibilidade comunicacional vem despontando de forma assertiva, com o acompanhamento do estudante surdo em todo seu processo acadêmico e nos eventos institucionais, inclusive na Colação de Grau, visando os convidados e familiares”, explica Terezinha.

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Além disso, parte significativa do material acadêmico foi adaptado para garantir a acessibilidade de pessoas cegas, que podem acessar o conteúdo de variados cursos em áudio por meio de softwares. E há oferta de disciplinas no ensino à distância para estudantes cegos e surdos, caso se sintam mais confortáveis com o modelo para seguir sua jornada universitária.

Para quem vai presencialmente ao campus e não tem tanta habilidade com o uso de bengala, o PAP disponibiliza apoio de funcionários para auxiliar a locomoção. Pessoas com deficiência física ou necessidades específicas também contam com cadeiras acessíveis. E se você tem alguma necessidade, o PAP está aberto a te ouvir e pensar soluções.


“Devemos pensar que todo sujeito é único e ao mesmo tempo coletivo. E que respeitar cada um, cada uma, é, no mínimo, respeitar os direitos humanos e permitir que exerçam a sua cidadania. É esse movimento que temos visto, mas que ainda há muito a se fazer”Terezinha Joca, coordenadora do Programa de Apoio Psicopedagógico da Unifor (PAP)

Terezinha explica que as ações de acessibilidade são uma construção constante na Universidade, que hoje conta com nove elevadores distribuídos em vários blocos para dar mais autonomia a pessoas com mobilidade reduzida. Outros projetos estão sendo planejados para ampliar essa autonomia, como, por exemplo, a elaboração de um aplicativo próprio que possa ajudar a comunidade cega a se locomover melhor pelo vasto campus da Universidade.

Acessibilidade pedagógica, um passo para a permanência no ensino superior

Sabendo que para incluir não basta dar condições de acesso e que é preciso assegurar a permanência de alunos em toda a sua diversidade, a Unifor também tem se empenhado em garantir a acessibilidade pedagógica a todo o corpo discente. 

“O maior desafio das pessoas que apresentam diferenças e ingressam no ensino superior é a sua permanência. Daí temos o Programa de Apoio Psicopedagógico, os programas de acompanhamento do estudante nos Centros de Ciências para acompanhar os alunos, o Programa de Monitoria”, enumera Terezinha.

Outro ponto fundamental é manter os professores bem informados sobre o assunto para que compreendam a melhor forma de lidar com os mais diversos públicos. Por isso, a Universidade de Fortaleza realiza oficinas e formações continuadas com seu corpo docente.

“Fazemos reuniões com os programas de apoio ao estudante e a assessoria pedagógica constantemente para que a gente possa orientar tanto os alunos como os professores em busca de estratégias de inclusão acadêmica”, acrescenta Terezinha.

Biblioteca e conteúdos adaptados para mais conhecimento

Enquanto a sociedade se aprofunda em um movimento de abraçar cada vez mais as diferenças e necessidades especiais com o objetivo de incluir a todos, um ambiente símbolo da fonte de conhecimento da Unifor também vivencia diariamente este compromisso: a Biblioteca Central. Lá, espaços, mobiliários, equipamentos e edificação foram adaptados para PcDs ou com mobilidade reduzida, seja de forma permanente ou temporária.


“Buscando dar acesso à informação, seja ela escrita, falada ou acessada por meio de novas tecnologias da informação e da comunicação, a Biblioteca da Unifor desenvolve ações que visam a inclusão de todos, resultando na autonomia, comodidade e segurança dos usuários”Leonilha Lessa, gerente da Biblioteca Central da Unifor

Bancadas de consultas foram rebaixadas para pessoas com deficiência física ou baixa estatura. O piso tátil orienta a comunidade cega a se locomover no local. Há mais de cinco anos, um grupo de funcionários estuda e já tem habilidade para fazer o atendimento em Libras. Mas não para por aí: a Biblioteca ainda disponibiliza equipamentos e softwares para facilitar a leitura dos usuários com baixa visão, proporcionando mais conforto e bem-estar.

É o caso do Scanner BookReader V200, equipamento de mesa para digitalização de textos que reconhece escrita por OCR (Reconhecimento Ótico de Caracteres) e cria arquivos de narração digital em português e inglês com voz realista, auxiliando a comunidade cega. Já o software NVDA possibilita a leitura de tela para sistema operacional Windows por meio da descrição dos elementos que estão presentes no monitor do computador em forma de audiodescrição, permitindo o acesso de pessoas com deficiências visuais.

“Na Biblioteca, os deficientes visuais podem receber capacitações presenciais sobre uso da Biblioteca Digital utilizando leitor de telas NVDA e ter acesso aos tutoriais com áudio”, destaca Leonilha Lessa, gerente da Biblioteca Central. Os usuários com deficiência auditiva, por sua vez, têm à sua disposição manuais em PDF sobre as várias plataformas de livros e periódicos.


A Biblioteca Central da Unifor conta com medidas de acessibilidade em sua infraestrutura, como piso tátil, elevador e bancadas de consulta rebaixadas (Foto: Ares Soares)

A adaptação do conteúdo acadêmico é outro ponto fundamental para garantir de fato a acessibilidade. Além de obras em braile, a Biblioteca da Unifor disponibiliza um acervo de 15.148 livros digitais e bases de dados de revistas científicas em muitas áreas do conhecimento, sendo todos compatíveis com leitores de tela.

“O direito à informação é considerado um direito fundamental em uma sociedade democrática, e as bibliotecas são templos de informações. Neste contexto, a Biblioteca da Unifor cumpre muito bem seu papel, proporcionando à sua comunidade acadêmica inclusão social e informacional, de forma a garantir às pessoas com deficiência, e às demais pessoas, serviços e acervo, impresso e digital, de primeira qualidade”, pontua a bibliotecária.

Acessibilidade financeira e social

A inclusividade exige um olhar amplo para os mais variados públicos. Já dizia o educador e filósofo Paulo Freire: a inclusão se aprende com as diferenças e não apenas com as igualdades. Dessa forma, valorizar a diversidade no ambiente acadêmico, microcosmo da sociedade, é fundamental para que avancemos no conhecimento e na promoção de direitos.

Se a palavra inclusão leva a uma associação imediata às pessoas com deficiência, fica o convite para abrir o conceito e construir pontes que promovam o acesso e a permanência de todos os públicos no ambiente universitário, independentemente de renda, raça ou orientação sexual.


Pessoas com renda familiar de até três salários mínimos podem concorrer a bolsas de 50% ou 100% para cursar qualquer graduação na Unifor, seja presencial ou EAD (Foto: Divulgação)

É nesta visão que a Unifor também se propõe a oferecer, por exemplo, uma série de facilidades, descontos e bolsas ao corpo discente. O mais recente projeto neste sentido foi o edital das Super Bolsas Filantrópicas pelo Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social (CEBAS), que visa distribuir milhares de bolsas integrais e parciais para estudantes de famílias com renda per capita de até três salários mínimos. Uma oportunidade para cursar a graduação na melhor universidade particular do Norte e Nordeste.

Acolher as diferenças no ensino, na pesquisa e na extensão

A busca por acessibilidade e inclusão está presente no ensino, na pesquisa e na extensão da Unifor. Segundo o IBGE, quase 24% da população brasileira declara ter algum grau de deficiência. Com uma cifra tão alta, a preocupação em fornecer ferramentas para que essas pessoas possam desenvolver o máximo de autonomia possível para acessar os espaços, serviços e direitos precisa ser uma preocupação de todos para construir uma sociedade sustentável.

Um exemplo desta preocupação na extensão é evidente no Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI), um centro especializado em reabilitação que presta assistência à saúde de pessoas com e sem deficiência, atuando para promover o máximo de autonomia possível a todos os públicos.


O NAMI presta diversos serviços de assistência à saúde de pessoas com e sem deficiência (Foto: Ares Soares)

“Nossos programas de atendimento interdisciplinares e voltados para pessoas com deficiência visam a promoção da autonomia. Não basta promover assistência. Mesmo que aquela pessoa não alcance uma autonomia completa, se ela conseguir uma autonomia relativa que a permita acessar os espaços e promover autocuidado, a gente está alcançando o nosso objetivo”, explica a diretora Aline Veras.

Nesta perspectiva, um exemplo de ação de destaque é a capacitação de funcionários para o atendimento em Libras. Trata-se de uma ação de formação continuada dos colaboradores da recepção aos laboratórios, com a constante abertura de turmas novas e que veio da demanda dos usuários surdos. “A gente precisa ter profissionais que consigam conversar, que consigam manter um diálogo com os usuários do serviço”, aponta Aline.

Um NAMI para abraçar a diversidade

A busca pela acessibilidade é constante no Núcleo de Atenção Médica Integrada e permeia diversas ações, colocando os alunos da área da saúde da Unifor — que realizam práticas acadêmicas ali — no centro deste desafio. O resultado é a formação de profissionais cada vez mais comprometidos com a inclusão.

“Essa demanda por acessibilidade é ainda mais importante quando falamos de pessoas com outras vulnerabilidades interseccionadas às deficiências. Quando atrelamos questões de classe, raça e gênero, temos ainda mais dificuldade de acesso a espaços, serviços e direitos. E, exatamente por isso, o compromisso social da Unifor com a inclusão ganha ainda mais importância”, acrescenta Aline.

E é por isso que outras demandas sociais estão inseridas nos processos de acessibilidade e inclusão do NAMI, como atendimento inter e transdisciplinar à população LGBTQIA+ (especialmente às pessoas trans) com serviços de saúde aos quais costumam ter dificuldade de acesso, a exemplo de endocrinologia, ginecologia e psiquiatria. Embora o Núcleo preste atendimento também particular e por plano de saúde, 80% de seus serviços são pelo Sistema Único de Saúde (SUS).


“O NAMI se pauta por promover a inclusão de todas as pessoas, inclusão social, inclusão das pessoas com deficiência, mas também inclusão relacionada ao gênero”Aline Veras, diretora do NAMI

Inclusão digital e informação ao alcance de todos

Outro ponto importante quando falamos de acessibilidade é a inclusão digital. Uma infinidade de plugins e aplicativos tentam aproximar cada vez mais as pessoas com deficiência do amplo espectro de informação presente na rede universal.

O site da Unifor não fica de fora e vem implementando ferramentas para que possa ser acessado por todos. Para atender às necessidades das pessoas cegas, o sistema de gerenciamento de conteúdo do site da instituição traz como obrigatório o campo alternativo da imagem, utilizado em banners, ícones e demais recursos visuais do portal para garantir a audiodescrição.


Alguns dos exemplos no site da Unifor que buscam facilitar a navegação de pessoas que enxergam de formas diferentes (Imagem: Reprodução)

Se você tem monocromacia, um tipo específico de daltonismo no qual se enxerga apenas variações diferentes da cor cinza, o site da Unifor facilita a leitura. Ao clicar no ícone de contraste, o usuário pode selecionar as opções “monocromático” ou “escala de cinza invertida”.

O portal da Unifor também disponibiliza outros tipos de contraste, ampliando a acessibilidade para os outros tipos de daltonismo. Já para pessoas com baixa visão ou visão subnormal, há opções de fontes ajustáveis ao grau de necessidade do usuário, os conhecidos -A e +A.

Aplicativos para amenizar as barreiras

Há ainda uma gama de aplicativos disponíveis para smartphones que podem ajudar pessoas com deficiência a adquirir mais autonomia no dia a dia, dentro e fora da Universidade. Nativos dos próprios smartphones, o Talkback para Android e o VoiceOver para iOS se propõem a auxiliar a comunidade cega, mas aqui listamos outros aplicativos para as mais diversas necessidades do usuário. Se liga nas dicas!

  • Be my Eyes

Com milhões de voluntários cadastrados em todo o mundo, o Be my Eyes é um aplicativo dinamarquês que conecta pessoas cegas ou com baixa visão com voluntários que emprestam seus olhos para ajudá-las, por meio de videochamadas. O aplicativo está disponível para IOS.

  • Guia de Rodas

Disponível para IOS e Android, o app Guia de Rodas mapeia lugares com boa estrutura para mobilidade de pessoas com dificuldade de locomoção e avalia o grau de acessibilidade de estabelecimentos de todo o mundo por meio de avaliação dos usuários. 

  • TelepatiX

Disponível para Android, o TelepatiX permite a escrita e vocaliza frases curtas por meio de um teclado virtual em que a pessoa pode tocar ou selecionar as letras por meio de uma varredura, facilitando a comunicação de quem tem limitações na fala.

  • HandTalk

O Hand Talk funciona como um tradutor de textos e conteúdos sonoros para a linguagem de sinais por meio do intérprete visual Hugo, que também ajuda na comunicação do dia a dia. É só digitar ou gravar um áudio que ele traduz em libras. 

  • Passe Livre

Disponível apenas para Android, o programa Passe Livre é uma iniciativa do Governo Federal que possibilita a gratuidade nas passagens para viagens interestaduais a pessoas com deficiência e carentes.