null O mundo pós-pandemia: estudiosos falam sobre os impactos do coronavírus no futuro

Qua, 29 Abril 2020 16:51

O mundo pós-pandemia: estudiosos falam sobre os impactos do coronavírus no futuro

Diante da pandemia causada pela Covid-19, a humanidade carrega o desafio de aceitar incertezas e acolher as transformações.


Os impactos da pandemia de Covid-19 geram inúmeras adaptações  sociais, políticas e econômicas no mundo inteiro (Foto: Shutterstock)
Os impactos da pandemia de Covid-19 geram inúmeras adaptações sociais, políticas e econômicas no mundo inteiro (Foto: Shutterstock)

É difícil calcular de forma precisa os danos que o novo coronavírus (Covid-19) tem causado em esfera global. São mortes, a ruptura no sistema de saúde de muitos países atingidos e a crise econômica que já alcança as mais diversas camadas sociais.

Originado na cidade de Wuhan, na China, no final do ano passado, ainda não se sabe de forma clara como ocorreu a mutação do vírus que agora protagoniza um dos mais graves períodos da história da saúde mundial. 

Classificada como Covid-19 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de fevereiro deste ano, a pandemia impôs uma série de medidas de proteção que impactam diretamente no cotidiano das populações, exigindo, sobretudo, o distanciamento social, e com ele, uma inventiva e desafiadora nova rotina, na qual é necessário encarar os medos e estar aberto a compreender as transformações. 

O mundo pós-pandemia traz muitas interrogações, questionamentos principalmente sobre como a humanidade caminhará diante das dificuldades e aprenderá importantes lições. Por isso, o jornal Unifor Notícias, da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, entrevistou especialistas para falar sobre o que esperar do futuro. Confira a seguir: 

"Posso pontuar algumas novidades que poderão fazer parte de nosso futuro depois dessa pandemia e outras ferramentas já existentes mas que irão se popularizar. Acredito que passaremos a ter número de identificação digital, bem como haverá uma maior vigilância eletrônica, acredito também que iremos melhorar as nossas competências de trabalho e educação através de sistemas online.

Em um primeiro momento pós-pandemia as pessoas irão procurar um maior contato físico, o que pode ocasionar uma queda nas redes sociais. Sendo otimista, acredito também que o processo de globalização irá sofrer, as pessoas podem ter uma ação comunitária em comprar dos menores e não das grandes companhias."

André Lemos é especialista em cultura digital, engenheiro, mestre em Política de Ciência e Tecnologia e professor da Faculdade de Comunicação UFBA. 


“Tudo isso vai gerar muita insegurança e mais ansiedade por parte das pessoas. E a ansiedade é um gatilho para fazer nascer grandes questões, grandes adoecimentos como as depressões e as síndromes do pânico. Outro aspecto é o medo, com certeza estaremos vivendo com muito mais medo. Renunciamos às causas ideológicas, então, tudo o que nos resta é uma administração eficaz da vida, isso é a biopolítica, uma pós-política que deixa para trás nossos velhos combates ideológicos para se centrar na gestão e administração especializadas na vida. E, ao mesmo tempo, existe também uma sincronia, não temos uma medicação, não temos uma vacina, então, estamos todos submetidos a mesma experiência, ao medo de ser contagiado.

O que eu gostaria que acontecesse mesmo na pós-pandemia: um mundo mais solidário, em que os laços fossem feitos de formas mais sólidas e fortificadas, eu gostaria que a palavra do nosso velho Sigmund Freud valesse quando ele diz que nós ‘somos constituídos como sujeito a partir de um olhar do outro’, que nós precisamos desse outro para nos constituir, formar nossa subjetividade. Eu gostaria que no mundo pós-pandemia, isso fosse valorizado, de que não podemos viver isolados, não podemos viver sem o outro. Precisamos da presença do outro, precisamos do corpo do outro, que o medo não nos distancie ainda mais desse outro, que ele não seja uma ameaça, mas sim uma ponte para construção de projetos, de uma sociedade mais justa e solidária.”

Juçara Mapurunga é Doutora em Psicologia e professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Unifor.


“Acredito que não seremos os mesmos. Claro, vamos ter muitas questões negativas, mas partindo para o lado positivo, o que podemos fazer é tentar enxergar a vida de uma forma menos orquestrada, valorizar mais o subjetivo que a vida dá. Creio que estaríamos perdendo uma grande oportunidade se a gente não aprender e não mudar. Ao longo das últimas semana, estamos reparando nesse ‘tão perto’ que antes parecia ‘tão longe’. A pandemia trouxe uma ressignificação para o que era óbvio e a gente não via por todo esse maquinário que nos ocupa e nos cega enquanto seres humanos. Acredito que poderemos sair melhores, uma sociedade melhor.”

Mailson Furtado é escritor, diretor, ator, dramaturgo e cirurgião-dentista.


“É difícil tentar prever os efeitos da pandemia. Alguns autores dizem que teremos um mundo completamente diferente. Eu, particularmente, não acredito nisso. Acredito que sim, deve ser diferente, mas não acho que nós vamos ter mudanças radicais, por exemplo, na política ou nas nossas relações sociais e pessoais. Tem uma questão política fundamental: o grande perdedor da pandemia foi o discurso neoliberal, que vinha pregando a ideia de que o mercado e a sociedade, por conta própria, se organizam e resolvem seus problemas.

A pandemia veio mostrar que não é assim, que realmente precisamos de um Estado preocupado com políticas públicas rigorosas e profundas para organizar não só a saúde, como também a economia. Na vida social, pode ser que as redes sociais fiquem afetadas, no sentido de que trabalham muito com as futilidades e com o imaginário, nós pagamos um preço muito alto por isso, como as fake news, por exemplo. Outro ponto é que a ideia da Ciência como algo para ajudar o lado social pode sair fortalecida também dessa crise. Não sei até que ponto, porque a relação entre Ciência e Política é muito complicada, mas teríamos que ver, no novo cenário, qual seria o lugar do discurso científico na estrutura do Estado.”

Leonardo Danziato é psicanalista, Doutor em Sociologia e professor do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Unifor.


“O mundo pós-pandêmico, durante algum tempo, ainda vai estar muito contaminado pelo que aconteceu. É possível que a gente tenha mudanças de hábitos, questões que possam se estender. A minha hipótese é que a sombra do surgimento de novos vírus ou mesmo da permanência residual do novo coronavírus pode perdurar, o mundo pós-pandêmico terá essa sombra por algum tempo, e essa sombra pode influenciar, inclusive, grupos prioritários. A pandemia teve influência sobre a psicologia das massas, o signo do medo ainda perdurará um tempo, além da questão sociológica. O mundo capitalista, provavelmente, terá um outro ar que vai soprar sobre as democracias ocidentais.”

 Antônio Silva Lima Neto, o “Tanta”, é médico, pesquisador, especialista em Medicina Preventiva e Social e professor do curso de Medicina da Unifor. Integra o comitê científico que auxilia os nove governadores do Consórcio Nordeste na tomada de decisões no combate à pandemia de Covid-19.

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