null Professor de Medicina da Unifor participa de cirurgias para separação de gêmeas craniópagas

Qui, 16 Agosto 2018 14:53

Professor de Medicina da Unifor participa de cirurgias para separação de gêmeas craniópagas

O professor Eduardo Jucá é coordenador do Serviço de Neurocirurgia Pediátrica do Hospital Infantil Albert Sabin, onde as gêmeas receberam o primeiro atendimento (Foto:
O professor Eduardo Jucá é coordenador do Serviço de Neurocirurgia Pediátrica do Hospital Infantil Albert Sabin, onde as gêmeas receberam o primeiro atendimento (Foto:

Existem casos na Medicina cuja resolução, além de beneficiar o paciente, abrem caminho para o conhecimento do corpo humano e o desenvolvimento de técnicas e tecnologias com potencial de uso em outras áreas. Foi o que aconteceu com o médico e professor do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza, Eduardo Jucá, ao se deparar com o caso de Maria Ysabelle e Maria Ysadora Freitas, gêmeas craniópagas encaminhadas para o Serviço de Neurocirurgia Pediátrica do Hospital Infantil Albert Sabin, do qual é coordenador.

“A má formação foi descoberta ao final da gravidez. Quando os pais vieram para o Hospital Albert Sabin estavam desesperançados, dadas as dificuldades do caso e ao desconhecimento por parte dos profissionais de saúde de que uma tentativa de separação era possível”, recorda.

Se o nascimento de gêmeos coligados (popularmente chamados de siameses) é raro, a adesão dos bebês pelo crânio é ainda mais inusitada. No Brasil, havia o registro de apenas um caso de bebês craniópagos, mas uma das crianças, com microcefalia, não tinha condições de sobrevivência. No caso das gêmeas cearenses, ambas possuem organismos e mesmo sistemas nervosos independentes.

“Tirando a ligação pelo crânio, elas não têm nenhuma outra má formação e são saudáveis, o que torna viável a separação. O emprego de modelos confeccionados nos Estados Unidos que servem como mapas tridimensionais dos cérebros das crianças também ajuda muito o processo”, explica Jucá.

Viável, porém não menos complexa. Inicialmente, o prof. Eduardo Jucá entrou em contato com o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, vinculado à USP, em São Paulo, onde fez residência médica. “Apresentei o caso aos meus antigos professores, que aceitaram de pronto o desafio e fizemos todo o planejamento necessário, que levou cerca de um ano. Também foi chamado o neurocirurgião norte-americano James Goodrich, referência mundial neste tipo de procedimento”, explica ele.

Foi formada uma equipe de 30 pessoas para atender este único caso, entre neurocirurgiões, cirurgiões plásticos, anestesistas, pediatras e enfermeiros. Até o momento, as meninas já passaram por três cirurgias, a última ocorrida no último dia 4 de agosto. Um trabalho lento e delicado para separar veias, artérias e partes internas dos dois cérebros.

“A prioridade de todo médico é o bem-estar do paciente. Mas este caso também é uma oportunidade de desenvolver conhecimentos em áreas como a Embriologia, já que o problema se dá na fase de divisão celular do embrião, e a própria Neurocirurgia. Meus alunos mostram interesse em saber dos procedimentos cada vez que volto de Ribeirão Preto”, diz Jucá.

Prevista para setembro, na penúltima etapa serão colocados expansores de pele para garantir a cobertura dos crânios ao final da separação, quando o osso do crânio será seccionado ao meio.