null Optar pela vida é muito mais que uma questão de decisão

Qua, 8 Setembro 2021 08:00

Optar pela vida é muito mais que uma questão de decisão

Além de lidar com a área de transplantes em sua rotina de trabalho, o farmacêutico Paulo Germano vivenciou na família a experiência do “sim” para doação de órgãos. Ele é um dos profissionais homenageados pelo Movimento Doe de Coração


(Foto: Ares Soares)
(Foto: Ares Soares)

Nascido em Limoeiro do Norte, município localizado na região jaguaribana do Ceará, Paulo Germano de Carvalho descobriu seu fascínio pela Farmácia ainda criança. Seu gosto pelo desafio, ciência e criatividade seria o guia de sua futura jornada profissional.

“Meu pai trabalhava no laboratório da Fundação Nacional de Saúde, no serviço de laboratório do hospital municipal. Acredito que me espelhei nele. Lembro, ainda menino, que misturava remédios vencidos e soluções coloridas”, comenta o professor do curso de Farmácia da Universidade de Fortaleza (Unifor).

Ele é um dos professores que serão homenageados pelo Movimento Doe de Coração 2021, iniciativa da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz. Em sua 19ª edição, a campanha homenageia os profissionais de saúde que atuaram na área de transplantes de órgãos e tecidos em 2020.

Mudou-se para Fortaleza em 1989, veio para estudar. Dois anos depois, ingressou em Farmácia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). “Eram poucas opções”, diz sobre a oferta de cursos da área naquele ano. De lá para cá, vivenciou diferentes desafios, os quais considera também como conquistas em sua carreira.

“Tenho a alegria de contar que foi iniciada a maioria dos desafios que escolhi viver. Assim, sempre os refiro também como conquistas. É o prazer de agradecer por aquilo que também me desagrada ou inquieta. O primeiro desafio foi a vinda para Fortaleza. Depois, muito estudo para acompanhar o ensino na universidade. Isso exigia disciplina e zelo. Gosto e força, eu já tinha”, ressalta.

Recém-formado, ele conta que serviu como oficial militar por um tempo. Mas a sede de conhecimento em pesquisas não cedeu e o impulsionou a se dedicar ao que tinha vocação. “Na busca de tornar nobre a minha profissão, ingressei no Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará, amei. Trabalhar para garantir a qualidade do sangue transfundido é também gerar vida”, enfatiza.

Tornou-se docente na UFC e em seguida, na Unifor. Decidiu também empreender e abriu um laboratório de análises clínicas. O mestrado e doutorado em Ciências Farmacêuticas aconteceram nesse ínterim.

“Penso que por trás dessa história, o principal desafio é saber o momento da escuta e da fala, do ensinar e do aprender. É ter fé na maturidade que podemos atingir. É compreender que os desafios não param e se tornam rotina. Quanto às conquistas, são mais valorosas quando são experimentadas e partilhadas com outros”, afirma ao lembrar também que o convívio em família é um exemplo disso.

Inspiração e resiliência

Lecionando na Unifor há 21 anos, o professor Paulo Germano destaca o quanto a relação da sala de aula com o campo de atuação profissional é importante para a formação do aluno, capacitando-o ainda mais para a resolução de problemas.

“Temos acompanhado a evolução do ensino em todos esses anos, e a vontade de acertar, entender com o erro, fazer melhor ‘de novo’. Às vezes com novo formato, baseando-se na diretriz do curso. Creio que é isso que me têm inspirado. Às vezes, parece um trabalho inacabado, resiliente. Mas é isso mesmo que nos move. O aluno vem percorrendo uma trajetória própria cujos desfechos são diversos. Como professor, muito desse caminho é partilhado”, expõe.

Ao ser questionado sobre como se sente em ser um dos profissionais de saúde homenageados pelo Movimento Doe de Coração, o farmacêutico não esconde sua alegria. “Muito feliz por essa homenagem e poder partilhar com essa família, aqueles que integram a Universidade de Fortaleza”, declara.

Ajudar a quem precisa

De acordo com o professor Paulo Germano, sua paixão pela imunologia clínica impulsionou a busca incessante pelo diagnóstico laboratorial. Dessa forma, ingressou na área de transplantes de órgãos e tecidos. “O excelente trabalho da equipe multidisciplinar depende de uma série de fatores e testes capazes de avaliar a compatibilidade e isenção de doenças. A prática de realizar exames sorológicos em pacientes e/ou doadores me colocou na rota dessa missão”, aponta.

O farmacêutico clínico mostra-se essencial para garantir a segurança do paciente submetido ao transplante. Para o professor, é fundamental entender que a ação desse profissional “está intimamente ligada com o desejo de colaborar com o próximo e entregar um resultado com maior qualidade”. E a Covid-19 trouxe maior necessidade de investimento no serviço, segundo Paulo Germano. “Acrescenta-se novos protocolos e exames laboratoriais de maior complexidade”, afirma.

A respeito da sensibilização à doação de transplantes de órgãos e tecidos, ele fala sobre a necessidade de ajudar as pessoas que precisam, de como o “sim” torna-se em uma decisão pela vida de alguém. E lembra de uma situação que passou na família.

“Quando vivenciamos esse tipo de situação na família é que percebemos que não temos todas as respostas, que não discutimos previamente antes de algum fato ou acontecimento. Há dois anos, minha prima de 47 anos deu entrada no hospital e foi constatada a morte cerebral. Lembro como foi difícil para a família decidir sobre a doação. É um tema que reúne uma série de sentimentos, como medo, mistério, aceitação, vida e morte. Tema dificílimo. No entanto, para algumas pessoas, é apenas uma questão de decisão. Elas não burocratizam e, em meio à dor, decidem simplesmente pela vida”, desabafa.

27 de setembro

No Dia Nacional da Doação de Órgãos, 27 de setembro, o Movimento Doe de Coração realizará a solenidade de homenagem aos profissionais de saúde que se destacaram no combate à Covid-19. O evento será transmitido, às 18 horas, nas redes sociais da Unifor e TV Unifor (181 NET).

A homenagem é um reconhecimento da Fundação Edson Queiroz e da Universidade de Fortaleza ao trabalho e à dedicação dos profissionais de saúde pela realização de transplantes, mesmo em tempos de pandemia de Covid-19. Uma comissão de professores do Centro de Ciências da Saúde da Unifor foi responsável pela escolha dos homenageados. Destaques nas áreas de Medicina, Enfermagem, Nutrição, Educação Física e Farmácia.

Sobre Paulo Germano

Doutor em Ciências Farmacêuticas, mestre em Patologia Clínica, especialista nas áreas de Parasitologia, Microbiologia e Hematologia Clínica e graduado em Farmácia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Ingressou por meio de concurso público na Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, onde atua na função de farmacêutico no laboratório de Análises Clínicas do Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ) e também no laboratório de exames sorológicos complementares no Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), desde 2011. É coordenador e vice-coordenador da Comissão de Ética em Pesquisa do HSJ e do Hemoce, respectivamente. Também integra a equipe de professores do curso de especialização em Hematologia, promovido em parceria com a Universidade Estadual do Ceará (UECE). Em 2000, teve a primeira experiência docente como professor substituto da Faculdade de Farmácia e Odontologia da UFC. Em seguida, ingressou no corpo docente da Universidade de Fortaleza (Unifor) para ministrar disciplinas nas áreas das Análises Clínicas (ainda em curso), especialmente imunologia, parasitologia e processos infecciosos. Na área de gestão privada, dirigiu a parte científica, logística e de controle de qualidade em laboratório clínico de 2003 a 2010. Paulo Germano também é membro da Câmara Técnica de Análises Clínicas do Conselho de Farmácia do Ceará.