Vamos falar sobre segurança psicológica no trabalho?

Muitos gestores ainda acreditam no poder do medo para motivar. Eles presumem que pessoas que estão com medo vão trabalhar duro para evitar consequências desagradáveis e coisas boas acontecerão. Isso pode até fazer sentido se o trabalho é descomplicado e o trabalhador dificilmente se depara com problemas ou tem quaisquer ideias de melhoria. Porém, para trabalhos em que se exige conhecimento ou colaboração para ter sucesso, o medo não é um motivador eficaz e a neurociência tem demonstrado que ele inibe o aprendizado e a colaboração.

Ao contrário, o quão psicologicamente segura uma pessoa se sente, molda a predisposição de se empenhar em comportamentos de aprendizado, como compartilhar conhecimento, pedir ajuda ou fazer experiências.

Mas atenção, compartilhar conhecimento também significa compartilhar preocupações, questões, erros e ideias mal formuladas, sabe por quê? Porque é em um local de trabalho psicologicamente seguro que o trabalho efetivo em equipe funcionará melhor.

Adultos pensam e por vezes reproduzem: não quer parecer ignorante? Não faça perguntas. Não quer parecer incompetente? Não admita erros. Não quer parecer desagradável? Não faça sugestões. E cruzam os braços. Isso pode até manter a segurança em termos pessoais, mas esses comportamentos podem colocar a organização em risco.

Nisso, entramos no mérito da vulnerabilidade no mercado de trabalho. Essa é uma tendência que já vem tomando espaço há algum tempo e não podemos deixar de lado. A questão da vulnerabilidade vai contra esse pensamento retrógrado dos adultos, o pensamento de perfeição, tornando as pessoas mais confiantes e tolerantes a erros, deixando um ambiente bem mais seguro psicologicamente.

E para evitar riscos, a segurança psicológica é uma fonte crucial para a criação de valor nas organizações. E não pense que isso refere-se a um estado de autoestima elevada. O tema é sobre colaboradores não serem impedidos pelo medo interpessoal.

E o que é risco interpessoal? Exatamente o que todos procuramos evitar. Ninguém acorda de manhã animado para ir ao trabalho e parecer ignorante, incompetentemente ou desagradável. Queremos parecer inteligentes e capazes. E se você quer formar talentos individuais e coletivos, precisa promover um clima psicologicamente seguro onde as pessoas se sintam capazes de contribuir com ideias, informações e reportar erros.

Mesmo em uma companhia com uma forte cultura corporativa, é possível encontrar pequenos espaços de alta e de baixa segurança psicológica e essas diferenças de clima nos locais de trabalho moldam o comportamento de maneira sutil e poderosa, pois grupos diferentes possuem experiências interpessoais diferentes. Em alguns pode ser fácil falar abertamente e estar de corpo e alma no trabalho. Em outros, falar abertamente pode ser visto como último recurso.

A segurança psicológica é moldada pelo líder e as emoções que externaliza, a forma como percebe o mundo e como age com os outros e se comporta. Isso implica dizer que há uma dimensão inconsciente que emerge nas relações humanas, um mundo que vai além das características e das habilidades pessoais e que se conecta com o mundo exterior por meio de um jeito de ser, um modo de pensar, um modo de fazer.

O ser humano é constituído de emoções e sentimentos, e processos de liderança são construídos na relação entre líder e liderado e, invariavelmente, está sujeita a falhas, porque o ser humano é falta, incompleto e a completude de uma equipe geralmente está na possibilidade dos equívocos.

Texto escrito por Hercilia Correia Cordeiro, administradora, psicóloga e professora.