null Entrevista Nota 10: Maria Vieira Saintrain e as conquistas das mulheres na Ciência

Qua, 3 Março 2021 16:25

Entrevista Nota 10: Maria Vieira Saintrain e as conquistas das mulheres na Ciência

Pesquisadora e professora do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Unifor aborda a importância da participação feminina na produção científica 


Maria Vieira Saintrain tem Mestrado em Saúde Pública pela Universidade Livre de Bruxelas e Doutorado em Odontologia pela Universidade de Pernambuco (Foto: Ares Soares)
Maria Vieira Saintrain tem Mestrado em Saúde Pública pela Universidade Livre de Bruxelas e Doutorado em Odontologia pela Universidade de Pernambuco (Foto: Ares Soares)

A experiência de vida aliada ao desejo de gerar contribuições para a sociedade. A história da pesquisadora Maria Vieira Saintrain, professora do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza, instituição ligada à Fundação Edson Queiroz,  representa os sonhos de meninas e mulheres que desejam se tornar cientistas.

Da graduação em Odontologia ao pós-doutorado em Saúde Coletiva pela Unicamp, os passos trilhados pela educadora demonstram o real interesse em dialogar sobre a assistência da população e, acima de tudo, promovê-la. Quando diretora de saúde da Previdência do Estado do Ceará - IPEC, participou, inclusive, do Movimento Sanitário na construção do Sistema Único de Saúde (SUDS/SUS), fortalecendo o vínculo com a coletividade. 

Ao Entrevista Nota 10, Maria Vieira Saintrain fala com exclusividade sobre a contribuição significativa da participação feminina nos avanços da Ciência e ressalta ainda o papel da Odontogeriatria para a qualidade de vida da pessoa idosa. Confira a seguir: 

Entrevista Nota 10 - De que forma a Ciência entrou na sua vida? Quando se deu conta do desejo de se tornar pesquisadora e professora? 

Maria Vieira Saintrain - O ingresso na docência da Universidade de Fortaleza e o envolvimento com os discentes e colegas professores ressaltaram não somente o desejo, mas a necessidade de buscar a realidade por meio da experiência de campo vivenciada com os alunos com o intuito de melhor problematizar as questões relativas à saúde e condições sociais das pessoas. Portanto, considero que o ato de pesquisar parte de um conjunto de ações e envolvimento de pessoas desde a concepção do objeto de pesquisa, seus instrumentos de coleta e desenvolvimento, fato este que o mérito de se tornar pesquisadora é parte deste conjunto. 

Entrevista Nota 10 - Existem muitos desafios para uma cientista? Sabemos que o meio científico tem forte presença masculina… 

Maria Vieira Saintrain - A maioria das mulheres tem o desafio de contornar uma jornada de trabalho variada e conjunta (casa, família, trabalho, estudo, etc) que dificulta ter disponibilidade suficiente para se dedicar a pesquisa. Contudo, o artigo “Em busca do equilíbrio”, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo compara o percentual de autores e produção científica de mulheres em 11 países e a União Europeia em cujo período de 2011 - 2015 fica demonstrado avanço significativo em relação ao período anterior. Tanto no Brasil como na União Europeia as mulheres superam a produção dos homens nas áreas do conhecimento da Medicina, Ciências agrárias e biológicas, Bioquímica Genética e Biologia molecular, Imunologia e Microbiologia. Portanto, as mulheres têm sido guerreiras neste aspecto, quando a própria pesquisa demonstra o avanço da produção científica na maioria das áreas da ciência.

Entrevista Nota 10 - Como avalia a importância de estimular o interesse pela Ciência nas meninas a fim de que no futuro as mulheres ocupem cada vez mais espaços de visibilidade? 

Maria Vieira Saintrain - Como educadora, na Universidade de Fortaleza, tenho o privilégio de encontrar espaço onde a formação acadêmica envolve o despertar e maior interesse para a pesquisa. Nesta relação busca-se sempre estimular o fato de que a pesquisa gera pesquisa e alarga a visão de mundo do conhecimento, assim como para a importância dos seus interesses como profissionais. Além desta afinidade com discentes da graduação em Odontologia e da Pós-Graduação em Saúde Coletiva, considero que na pesquisa de Iniciação Científica (IC) e no trabalho de Conclusão de Curso (TCC) as mulheres se envolvem com maior persistência para continuar pesquisando. Mundialmente, as mulheres ganharam um grande incentivo quando por iniciativa da UNESCO e ONU, desde 2015, priorizaram o dia 11 de fevereiro para comemorar o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência.

Entrevista Nota 10 - Agora falando sobre um importante tema no qual você tem notável atuação… a Odontogeriatria. Qual a importância dessa especialidade para a qualidade de vida da pessoa idosa? 

Maria Vieira Saintrain - O ensino da Odontogeriatria, seja como especialidade, disciplina ou perpassando em um currículo integrado, beneficia aos profissionais maior entendimento sobre as questões gerais de saúde e sua relação com a saúde bucal das pessoas idosas. Considero que as Doenças sistêmicas prevalentes nos idosos e implicações da saúde bucal requerem estudos mais aprofundados. Importante mencionar que em breve teremos uma nova geração de idosos, desta feita, dentados e mais exigentes de cuidados profissionais diferenciados, como ortodontia, endodontia, clareamento, dentre tantos. Os achados da minha tese sobre o Ensino da Odontogeriatria nas Universidades Brasileiras ressaltaram que é maior a preferência e perspectiva de trabalho com idosos nos alunos que receberam a Odontogeriatria em seus currículos.

Entrevista Nota 10 - No Brasil, a Odontogeriatria recebe a devida atenção da saúde pública para que a população possa acessar os tratamentos adequados ou é uma especialidade que necessita de mais enfoque?

Maria Vieira Saintrain - A saúde bucal dos idosos brasileiros foi marcada por uma Odontologia mutiladora referenciada pela exodontia (extração dentária) haja vista a grande maioria ter menos de vinte dentes, dificultando uma mastigação adequada, consequentemente sua qualidade de vida. Contudo, detectei dualidade entre idosos desdentados, alguns tristes pela perda dentária e outros felizes pelo fato do alívio da dor. As Políticas de Saúde para o idoso brasileiro são bem constituídas e quanto a Saúde Bucal desde o ano de 2004 a Política Brasil Sorridente formalizou diretrizes e ações de saúde bucal para a pessoa idosa no Sistema Único de Saúde; entretanto, necessita de decisões nas políticas de Governo para que as mesmas sejam realizadas com efeito.

Entrevista Nota 10 - Professora, quais são os principais diferenciais do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Unifor? 

Maria Vieira Saintrain - O Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Unifor reforça o compromisso com a Promoção da Saúde, direciona os discentes na reorientação das políticas públicas focalizando a interdisciplinaridade e a construção do conhecimento com base no Conceito Ampliado da Saúde. 

Entrevista Nota 10 - Nestes tempos de pandemia, qual a importância da Saúde Coletiva para a sociedade? 

Maria Vieira Saintrain - O enfrentamento da pandemia tem sido um grande desafio internacional. Neste sentido, a Saúde Coletiva como conhecimento ampliado da saúde tem trazido para a sociedade o elo de informações no intuito de evitar a doença Covid-19. Com base na Ciência, se utiliza da Epidemiologia para caracterizar grupos de risco e propõe para a sociedade ações coletivas e individuais bem estabelecidas como distanciamento social (evitar aglomerações), lavar as mãos com sabão e cuidados pessoais, uso de máscara e do álcool gel, dentre outras. Contudo, o impacto positivo destas ações na saúde da população requer consenso das autoridades governamentais, assim como a adesão da própria sociedade. 

Confira alguns estudos realizados pela pesquisadora

+ Psychosocial impact of COVID-19 self-isolation on the Brazilian population: a preliminary cross-sectional analysis

+ Older adults' dependence in activities of daily living: Implications for oral health