null O que “2001: Uma Odisseia no Espaço” previu sobre o futuro? Acadêmicos de Cinema e Audiovisual analisam a obra

Sex, 26 Março 2021 18:39

O que “2001: Uma Odisseia no Espaço” previu sobre o futuro? Acadêmicos de Cinema e Audiovisual analisam a obra

Em uma narrativa reflexiva, Stanley Kubrick misturou ficção científica a temas sobre a evolução humana. Duas décadas após o ano que dá título ao filme, membros do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza comentam sobre seus ecos à realidade.


Longa-metragem é considerado marco da ficção científica. (Foto: Divulgação/Metro-Goldwyn-Mayer)
Longa-metragem é considerado marco da ficção científica. (Foto: Divulgação/Metro-Goldwyn-Mayer)

Há mais de 50 anos, entrava em cartaz o filme “2001 - Uma Odisseia no Espaço”, do cineasta norte-americano Stanley Kubrick em colaboração com o escritor britânico Arthur C. Clarke. O filme, inspirado no conto de Clarke intitulado “The Sentinel” (“A Sentinela”, em tradução livre), estreou no dia 29 de abril de 1968, e é considerado uma das principais obras do gênero de ficção científica que marcam o universo cinematográfico. 

O contexto histórico da década na qual o filme foi produzido e lançado era, no mínimo, turbulento. Avanços científicos e tecnológicos, contracultura, Guerra Fria e, principalmente, a corrida espacial, marcaram os anos 1960. Em duas horas e 21 minutos, Kubrick, com um pioneirismo admirável, tratou de temas como evolução humana, inteligência artificial, vida extraterrestre (ainda que de uma forma muito sutil, que evitasse o óbvio), e, claro, o futuro.  

Para Tiago Araújo, estudante do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza, instituição de ensino superior da Fundação Edson Queiroz, o filme “2001” foi importante justamente por levar discussões existenciais para as pessoas. “Uma das funções da ficção científica como gênero, inclusive na literatura, é criar cenários fantásticos para discutir as condições do homem ou questões primordiais da sociedade”, diz.  

Atualmente, o futuro, ainda que incerto, já não parece mais tão utópico e onírico quando se trata de tecnologia, astronomia e vida em outros planetas, como em décadas passadas. Claro que, em um passado não tão distante, as pessoas costumavam pensar que em 2021 existiriam carros voadores e teletransporte, mas os conceitos abordados em “2001 - Uma Odisseia no Espaço” já são, em sua grande maioria, uma realidade. A tecnologia já faz parte da vida do indivíduo de uma forma quase que intrínseca. 

Entretanto, em 1968, a realidade atual do século XXI era apenas um palpite - e um não muito conhecido e nem debatido, a não ser nas altas classes da sociedade. “São coisas que ninguém imaginava que iriam existir nos anos setenta”, afirma o professor Marcelo Müller, também do curso de Cinema e Audiovisual da Unifor.  Naquela época, o mundo estava a ponto de uma combustão. Não era possível sequer saber se haveria qualquer futuro, por isso, Kubrick, com sua mente visionária, se destacou tanto com a produção de 2001

O ano de 2021 marca duas décadas da data projetada pelo cineasta, e por mais que o mundo atual não seja 100% igual ao do filme, o diretor acertou em cheio em muitos aspectos. O contexto político, no fim da década de 1960, estava uma bagunça, assim como atualmente. A diferença é que, hoje, naves espaciais e inteligência artificial já deixaram de ser meros delírios criativos e se tornaram realidade.

“2001 - Uma Odisseia no Espaço” faz um paralelo entre a ficção e a realidade do período em que foi criado, apresentando um futuro imaginário para as pessoas da época. Curiosamente, esse mesmo paralelo se encaixa perfeitamente nos dias atuais. Os impactos dos avanços tecnológicos desenfreados e a relação humanidade versus máquina são pautas recorrentes que permeiam todos os âmbitos sociais hoje, uns mais do que outros. 

As previsões tecnológicas presentes no filme são incríveis, e surpreendentemente, precisas, levando em consideração a época na qual foram idealizadas. Um dispositivo semelhante aos tablets, e outro que realiza ligações em vídeo, como os aplicativos Skype, Facetime e Google Meet, tão utilizados nos dias atuais em meio a pandemia da Covid-19, são alguns exemplos. Além dessas invenções, 2001 “previu” a chegada do homem à lua, que aconteceria um pouco mais de um ano após o lançamento do filme. 

O filme do diretor e cineasta Stanley Kubrick revolucionou o universo cinematográfico, levando os filmes espaciais e de ficção científica a outro patamar. 2001 foi inovador no que diz respeito aos efeitos especiais. “É até hoje muito difícil de entender exatamente como o diretor conseguiu visuais tão impressionantes, tão realistas, apenas com efeitos práticos, já que na década de 1960 não havia computação gráfica e efeitos digitais”, pontua Tiago Araújo.

Para Müller, "2001 - Uma Odisseia no Espaço" mexe com a cabeça do telespectador. “Você se emociona com a narrativa, com a história, mas muito além disso, ele mexe com as tuas sensações”, afirma o professor. O filme de ficção científica transformou as noções de espaço e tempo, e se tornou inspiração para que outros filmes, livros e artigos acadêmicos abordassem assuntos que, na época, ainda não haviam sido tratados com tanta profundidade, mas que reverberam até os dias atuais.