A importância do sono nas diferentes fases da vida e seu reflexo na saúde

Imagine que você terminou suas tarefas diárias, tomou um banho relaxante e está com a cama arrumadinha, pronta para aquela noite tranquila de sono. Você deita e em poucos minutos está no mais profundo sono, acordando apenas no dia seguinte.

Essa parece uma cena bastante corriqueira, certo?

Acontece que ela não é assim tão comum para muita gente. Segundo informações da Associação Brasileira do Sono, a população do Brasil está dormindo menos. De 2018 para 2019, a média passou de 6,6 horas para 6,4 horas de sono por dia.

Em 2020, de acordo com levantamento realizado pela Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico Covid-19 (Vigitel), 41,7% dos entrevistados apontaram ter distúrbios do sono, como dificuldade para dormir ou dormir mais do que de costume.

É o caso da professora universitária Débora Arruda, que desde a gravidez de sua filha, hoje com oito anos, passou a ter menos horas de sono. O problema começou com a dificuldade em encontrar uma posição confortável devido à barriga. De lá para cá, outros fatores contribuíram: cuidados com a filha, estudo, trabalho, divórcio, entre outros.

Débora lembra que os picos de sono, típicos da adolescência, nunca mais existiram. Hoje, ela dorme 4 horas por dia, em média. “Faço atividades físicas e tento me alimentar bem. Como estratégia para aliviar minha insônia, leio muito. Assim, faço uma ressignificação de um momento tenso para um espaço-tempo produtivo e não angustiante para mim. Por isso consigo não ‘sofrer’ muito por insônia”, explica.

Para entender melhor os fatores envolvidos na qualidade do sono, é importante saber que ele muda ao longo dos anos. Cada fase apresenta características que vão influenciar numa maior ou menor quantidade de horas dormidas.

Primeiros anos de vida

Nós seres humanos temos uma distribuição natural do tempo de sono, que varia conforme a idade. O neurologista, médico do sono, professor do curso de Medicina da Unifor, Samir Câmara Magalhães, explica que o sono de recém-nascidos e crianças pequenas, por exemplo, chega a ter duração de 15 a 16 horas por dia. “Isso acontece porque o sono faz parte do processo de amadurecimento e da fisiologia do cérebro”, esclarece o professor.

Nessa fase mais precoce, o órgão está desenvolvendo suas sinapses (conexões entre os neurônios), organizando-se de maneira mais estruturada. Para que isso aconteça, o cérebro precisa de mais tempo nas fases de sono.

“Isso tende a ir decaindo (longas horas de sono). A criança vai amadurecendo e diminuindo o tempo total, consolidando melhor o sono noturno, e ainda perdurando com cochilos durante o dia até por volta dos 5 anos de idade”, garante o neurologista.

O popular “sono do crescimento”

O sono possui relação direta com a secreção de hormônios, dentre eles o hormônio do crescimento ou GH (do inglês Human Growth Hormone), que é estimulado durante o período noturno. Portanto, indivíduos que têm uma fragmentação, redução ou privação de sono podem ter seu desenvolvimento afetado. No caso das crianças, pode haver consequências tanto no crescimento como no aprendizado.

“Criança que dorme mal ou que não dorme o tempo ideal pode ter impactos na atenção ou hiperatividade. Muitas vezes o transtorno de déficit de atenção pode decorrer de um distúrbio do sono, de uma má organização desse sono, privação crônica ou de uma doença específica como a apneia do sono infantil, na qual a manifestação, em sua maioria, é a agitação e a desatenção”, aponta Samir Magalhães.

Na adolescência, mais mudanças!

Já reparou como é difícil tirar um adolescente da cama pela manhã para ir à escola ou como pode ser complicado fazê-los dormir cedo à noite?

Nessa fase, é comum as pessoas atribuírem a sonolência do jovem à preguiça e à desmotivação, mas essa característica reflete uma mudança marcante no ciclo sono / vigília entre a infância e a adolescência, momento em que a chegada da puberdade - com a sua revolução hormonal - traz transformações não apenas no corpo, assim como em outros ritmos circadianos, como o ritmo de temperatura corporal e de secreção de melatonina (hormônio sinalizador da noite para o organismo).

O adolescente também passa pelo chamado “atraso de fase”, levando o jovem a dormir e acordar mais tarde. Segundo a Associação Brasileira do Sono, essa modificação nos horários de sono e vigília foi caracterizada na década de 1990 por pesquisadores brasileiros e americanos, que observaram uma relação entre o atraso de fase e o desenvolvimento puberal, o que levaria a um atraso maior nos horários de sono com o decorrer da puberdade.

Embora os horários de sono dos adolescentes sofram modificações, a duração necessária para o bem-estar e saúde nessa faixa etária se mantém elevada, variando entre 8h e 10h.

Idosos dormem pouco

Como nos indivíduos mais velhos o processo de desenvolvendo de sinapses - as conexões entre os neurônios - já não é tão ativo e relevante, a necessidade de dormir acaba mudando. Esse é um processo biológico natural de evolução, no qual idosos tendem a ter uma redução do sono, além de um aumento na fragmentação, ou seja, interrupções e despertares no período noturno.

Professor Samir Magalhães explica que existe também uma diminuição na fase do sono REM (do inglês Rapid Eye Movement: "Movimento Rápido dos Olhos"), aquele sono em que, geralmente, nós sonhamos. “Nos idosos, há uma diminuição discreta desse conteúdo de sono, enquanto nas crianças, principalmente na fase neonatal, esse sono (REM) constitui quase 50% do tempo total. Em pessoas de idade mais avançada, por exemplo, a média fica por volta de 10% a 15%, enquanto no adulto normal, o sono REM fica entre 20% e 25% do conteúdo”, afirma o professor.

Noites mal dormidas

Para aqueles que não têm um sono regulado ou reparador, as consequências são muitas. Passar uma noite em claro pode levar à queda do nível de atenção, causando sonolência diurna excessiva, com ataques de sono durante o dia e, consequentemente, diminuindo a produtividade. Nesse tipo de situação, a pessoa que não dormiu bem está sujeita a riscos na hora de dirigir ou operar máquinas.

Já o indivíduo que passa por uma privação crônica de sono, ou seja, meses tendo dificuldade para conciliar seu sono; além dessas condições mencionadas, há um comprometimento no humor, causando irritação, aumentando as chances de depressão e ansiedade.

Como se não fosse suficiente, perder o sono durante muito tempo também pode causar doenças de caráter endocrinológico: obesidade, diabetes, piora no quadro de hipertensão arterial, tornando seu controle mais difícil.

“É algo que realmente preocupa do ponto de vista de performance e qualidade de vida. Os acidentes se tornam mais frequentes nessa população (que sofre de insônia) e essas pessoas devem ser observadas como fator de preocupação individual e social”, alerta Magalhães.

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