null 10 curiosidades sobre o movimento que agitou o mundo das artes no Brasil do século 20

Seg, 21 Março 2022 10:51

10 curiosidades sobre o movimento que agitou o mundo das artes no Brasil do século 20

Conhecido como semana de 22, evento foi o marco do Modernismo no Brasil 


Cartaz da Semana de Arte Moderna de 1922, autoria de Di Cavalcanti (Foto: Reprodução)
Cartaz da Semana de Arte Moderna de 1922, autoria de Di Cavalcanti (Foto: Reprodução)

Em 2022, a Semana de Arte Moderna completa 100 anos de história. O evento, realizado no Teatro Municipal de São Paulo, entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922, foi um marco na ruptura do conservadorismo artístico vigente na época. A partir dela, uma verdadeira revolução cultural emergiu: o movimento modernista brasileiro. 

A semana de 22, como ficou conhecida, representou a consolidação da nova linguagem artística. Na iniciativa, diversas manifestações marcaram o rompimento com as antigas correntes literárias. Apresentações de danças, recitais de poesias e  exposições de obras, por exemplo, abriram a visão de arte livre, com estética inspirada nas vanguardas europeias.

Para Carlos Velázquez, professor de História da Arte, Estética e Mitologia da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, o movimento é de grande relevância histórica, pois “expressou o ingresso de uma elite artística e intelectual nacional na turbulência prévia e intermediária aos conflitos mundiais do século passado no velho continente”.

“Ao meu ver, a Semana de Arte Moderna de 1922 representou a entrada de uma das alas influentes na arte e na cultura brasileiras no jogo global de novas configurações identitárias e geopolíticas", complementa Velázquez.

O movimento conquistou tal relevância e alcance que, mesmo após seu centenário, segue mantendo forte influência no Brasil. Pensando nisso, listamos dez curiosidades sobre a manifestação artístico-cultural.

1 -  Financiamento da oligarquia paulista

O evento, além de simbolizar a consolidação de uma nova vertente artística, também foi considerado como uma manobra política da oligarquia paulista. A iniciativa, que aconteceu no contexto da República Velha (1889-1930), foi viabilizada pela elite cafeeira, que objetivava tornar São Paulo uma referência artístico-cultural, quebrando o monopólio que pertencia ao Rio de Janeiro.  

2 - Deveria ter sido uma semana, mas durou apenas três dias 

Foi anunciado e programado para acontecer entre os dias 11 e 18 de fevereiro, mas o teatro só abriu as portas para as exposições nos dias 13, 15 e 17. Cada dia foi separado por temática: no dia 13, pintura e escultura; no dia 15, literatura; e no dia 17, música. O motivo para a “mudança” não foi oficialmente confirmado. 

Teatro Municipal de São Paulo sediou a Semana de Arte Moderna (Foto: Divulgação/Arquivo Nacional)

3 - Mais vaias do que aplausos 

A Semana de Arte Moderna não agradou grande parte do público presente, que pertencia à alta sociedade de São Paulo. A linguagem não convencional expressa nas apresentações gerou irritação por parte dos visitantes. Os poemas modernistas, por exemplo, foram declamados envoltos de gritos e vaias.

4 - Repercussão midiática negativa

Além de não ter agradado o público presente, a Semana de Arte Moderna também não foi bem vista pela grande mídia da época. Alguns jornais, por exemplo, classificaram o evento e os vanguardistas como "subversores da arte” e "futuristas endiabrados". Um colunista do Jornal Folha da Noite, antecessor da Folha de S.Paulo, escreveu: “Não é só um problema de estética, mas deve ser estudado como fenômeno de patologia mental”. 

5 - Os tomates em Oswald de Andrade

Oswald de Andrade, um dos principais nomes e idealizadores da Semana de Arte Moderna, não foi bem recebido pelos visitantes. Ao declamar um de seus poemas, o poeta foi alvo de tomates atirados pelo público. Alguns estudiosos, porém, relatam que Oswald financiou o ato para gerar polêmica e visibilidade ao evento. 

6 - Data simbólica

Não foi por acaso que o evento aconteceu em 1922, ano no qual a proclamação da independência do Brasil completou um centenário. O intuito dos artistas em promover a manifestação nesta data era realizar uma "segunda independência" no País, mas dessa vez no viés cultural. 

7 - Manuel Bandeira adoeceu 

Durante o evento, um dos mais renomados artistas do movimento, Manuel Bandeira passou por uma crise de tuberculose e não pôde comparecer. Um de seus poemas mais conhecidos, “Os Sapos”, foi declamado por Ronald de Carvalho. A doença, que era uma das mais perigosas da época, acompanhou o poeta durante toda sua trajetória e foi uma das causas de sua morte. 

8 - Monteiro Lobato foi um grande opositor

O renomado escritor foi um dos maiores opositores ao Modernismo. Monteiro Lobato, em 1917, se opôs à exposição de artes realizada por Anita Malfatti, considerada a primeira manifestação modernista no Brasil. Em um artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, intitulado “Paranoia ou mistificação?”, o artista fez duras críticas à Anita e ao novo conceito artístico. A partir disso, iniciou-se o conflito entre os apoiadores do Modernismo e da arte clássica.  

9 - Ausência de Tarsila do Amaral 

Apesar de ser um dos principais nomes do movimento modernista brasileiro, Tarsila do Amaral, autora do "Abaporu", não esteve presente no evento. Na ocasião, a artista se encontrava em Paris, estudando na Académie Julien. Tarsila só teve conhecimento da Semana de Arte a partir de cartas enviadas pela amiga e pintora Anita Malfatti.

Alguns dos artistas que fizeram parte da Semana de 22 (Foto: Divulgação)

10 - Participantes

Dentre os principais participantes, estiveram presentes: Anita Malfatti e Di Cavalcanti, na pintura; Victor Brecheret, na escultura; Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Plínio Salgado e Graça Aranha, na literatura; e Villa-Lobos, na música. 

Fundação Edson Queiroz abre grande exposição em homenagem aos 100 anos da Semana de Arte Moderna

A Fundação Edson Queiroz (FEQ) inaugura, dia 22 de março, uma mega exposição sobre os “100 anos da Semana de Arte Moderna em acervos do Ceará”, em celebração ao centenário do movimento que teve papel fundamental na consolidação do modernismo no Brasil. Com curadoria de Regina Teixeira de Barros e consultoria de Aracy Amaral, a mostra ficará em cartaz no Espaço Cultural Unifor, com acesso gratuito a toda a população. É mais uma ação da FEQ para compartilhar conhecimento neste momento em que comemora também 50 anos de fundação.

Serviço

Exposição “100 anos da Semana de Arte Moderna em acervos do Ceará”
Abertura: dia 22 de março – 19h
Local: Espaço Cultural Unifor (Av. Washington Soares, 1321 – Edson Queiroz)
Visitação: de terça a sexta-feira, das 9h às 19h – sábados e domingos, das 10h às 18h
Mais informações: (85) 3477.3319