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Seg, 10 Outubro 2022 10:57

Entrevista Nota 10: Eduardo Jucá e a paixão pela neurociência no cotidiano

Médico neurocirurgião e pesquisador, Eduardo Jucá compartilha sua trajetória profissional no ramo das neurociências, além da atuação em seu canal educativo Conexão Neural


O coordenador do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza será um dos docentes convidados na Especialização em Neurociências e Reabilitação (Foto: Ares Soares)
O coordenador do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza será um dos docentes convidados na Especialização em Neurociências e Reabilitação (Foto: Ares Soares)

No próximo mês de novembro, a Pós-Graduação da Universidade de Fortaleza – instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz – irá promover a Especialização em Neurociências e Reabilitação, que está com inscrições abertas. O curso irá capacitar profissionais da área da saúde para a atuação em reabilitação neurocognitiva e funcional nos diferentes ciclos de vida, alicerçados nas neurociências.

O corpo docente conta com uma lista robusta de especialistas, mestres e doutores nos temas que circundam todo o conhecimento desse campo de atuação. Dentre os grandes nomes convidados, está o pesquisador Eduardo Jucá, médico neurocirurgião do Hospital Infantil Albert Sabin e coordenador do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza.

Graduado pela Universidade de São Paulo (USP), Eduardo fez residência médica em neurocirurgia no Hospital das Clínicas da USP e doutorado em Clínica Cirúrgica pela mesma instituição. Possui especialização em Neurocirurgia pela Universidade Paris V e Clinical Fellowship pelo Hospital Necker, ambas na França. Ainda recebeu o título de Especialista em Neurocirurgia pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), da qual tornou-se membro titular.

Com ampla experiência na área de neurociências, o professor admite ter um “intenso amor” pelo funcionamento do sistema nervoso humano. Declaração que se confirma em seus diversos trabalhos científicos publicados em revistas médicas – sendo a maioria em periódicos internacionais – e capítulos de livros, além da tradução para português da obra Cranial Anatomy and Surgical Approaches, de Albert L. Rhoton.

Jucá também é membro titular da Academia Brasileira de Neurocirurgia (ABNc), membro estrangeiro da Sociedade Europeia de Neurocirurgia Pediátrica e membro ativo da International Society for Pediatric Neurosurgery. Na Entrevista Nota 10 desta semana, ele compartilha sua trajetória profissional, a atuação em seu canal educativo Conexão Neural e o que esperar da especialização na Pós-Unifor.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 – Professor, você tem uma vasta e sólida carreira na área de neurociência. Em qual momento de sua trajetória o interesse em “mexer” com a cabeça das pessoas se tornou uma vocação profissional? Por que decidiu investir nessa especialidade médica?

Eduardo Jucá – Esse interesse surgiu no início do curso de Medicina na USP, durante as aulas de neuroanatomia. O fato de o cérebro exercer tantas funções e possuir uma organização tão refinada me atraiu de maneira decisiva. Aos poucos, fui também percebendo que a neurociência, assim como a filosofia, representa um sistema de conhecimentos que explica muito da nossa existência e do nosso modo de viver.

O interesse pelo sistema nervoso foi consolidado na iniciação científica, quando tive a oportunidade de começar no mundo da pesquisa. E essa paixão foi se cronificando em um amor intenso e duradouro pelo tema. Na medida em que comecei a acompanhar pacientes com doenças cerebrais, também pude compreender como cuidar do cérebro pode fazer diferença na vida das pessoas. E então abracei essa missão por toda a vida. 

Entrevista Nota 10 – Em seu canal no YouTube "Conexão Neural, com Eduardo Jucá", você tem publicado diversos vídeos didáticos sobre neurociência, tendo mais recentemente começado uma nova fase de produção. Qual foi sua motivação para entrar no mundo digital e disponibilizar esse tipo de conteúdo ao público geral?

Eduardo Jucá – A docência e o ensino da neurociência também são grandes paixões. Despertar o interesse dos jovens por este tema tão fundamental para a compreensão da vida e do mundo é muito estimulante.

A ideia do canal começou pouco depois da pandemia, quando senti a necessidade de deixar as aulas disponíveis aos estudantes para que pudéssemos ter mais tempo na sala de aula para discussões e metodologias ativas. A resposta, entretanto, foi tão surpreendente com adesão de pessoas de todas as partes do País que reconheci no canal um instrumento para difundir a neurociência e seu impacto na nossa vida. Acho que tem sido uma contribuição relevante e a audiência tem nos motivado bastante.

Entrevista Nota 10 – Lembro que em 2018 você participou da cirurgia de separação craniana das gêmeas Maria Ysabelle e Maria Ysadora Freitas, um feito emocionante e pioneiro no Brasil, que chegou a ganhar visibilidade nacional. Como foi fazer parte desse procedimento?

Eduardo Jucá – Foi uma verdadeira corrente do bem que uniu o País e reuniu profissionais de Fortaleza, Ribeirão Preto (SP) e dos Estados Unidos. Um caso realmente desafiador, com quatro cirurgias ao longo do ano de 2018. Pela primeira vez, houve a separação com a sobrevivência das duas crianças em caso de siamesas unidas pelo crânio no Brasil. Foi muito especial participar dessa jornada de muita dedicação e trabalho em equipe. Muitas lições foram aprendidas, como a importância do planejamento e da articulação de um time em que cada um dá sua contribuição para o sucesso final. 

Entrevista Nota 10 – Essa cirurgia abriu alguma porta para investimentos ou ainda discussões sobre o futuro desse assunto na comunidade médica local e internacional?

Eduardo Jucá – Com certeza. A separação de siameses unidos pelo crânio e pelo cérebro é uma fronteira da neurocirurgia, um dos temas mais complexos que se pode abordar. O caso das meninas cearenses abriu as portas para que outros casos fossem tratados com sucesso no Brasil. E os avanços em casos tão desafiadores acabam gerando melhorias técnicas para a área como um todo.

Entrevista Nota 10 – No próximo mês de novembro, a Pós-Graduação da Unifor promove a Especialização em Neurociências e Reabilitação, na qual você será um dos professores convidados. O que os especialistas e interessados no assunto podem esperar adquirir ou expandir em suas carreiras ao realizarem o curso? 

Eduardo Jucá – A reabilitação neurológica é um campo em expansão, de grande importância para a área da saúde, pois promove inclusão e qualidade de vida. A Pós-Graduação em Neurociências e Reabilitação é uma oportunidade de capacitação e de aprimoramento para profissionais da área ou interessados em ingressar nela.

Além disso, o networking e a conexão com colegas de diferentes áreas representam um enorme ganho na formação. Trabalhar com crianças e adultos em recuperação de doenças neurológicas envolve conceitos complexos como neuroplasticidade, propriocepção e controle neural. Não tenho dúvidas de que o profissional que cursar esta pós-graduação estará muito mais apto a contribuir na readaptação do cérebro de seus pacientes.