null Nascidos e criados em meio às redes, jovens dizem o que querem mudar no mundo

Qui, 30 Julho 2020 17:54

Nascidos e criados em meio às redes, jovens dizem o que querem mudar no mundo

Egressos e egressas de diferentes Centros de Ciências da Universidade de Fortaleza destacam o potencial transformador de suas carreiras


O engenheiro ambiental Leonardo Lima, formado pela Unifor, e sua sócia Mayra Dias, também egressa da Unifor (Foto: Arquivo pessoal)
O engenheiro ambiental Leonardo Lima, formado pela Unifor, e sua sócia Mayra Dias, também egressa da Unifor (Foto: Arquivo pessoal)

Sinal dos tempos: mesmo em meio a uma pandemia, a Universidade de Fortaleza (Unifor), instituição da Fundação Edson Queiroz, acaba de formar mais de 1.500 jovens em 2020. Inesperadamente, caiu no colo dessa geração a tarefa hoje ainda mais desafiadora de contribuir com gestos e palavras para mudar ou interferir minimamente no mundo, a título de uma convivência mais harmoniosa entre tudo o que pulsa conjuntamente em torno de um bem comum: a vida em suas inúmeras formas. Mas o que propõem egressas e egressos dos diferentes Centros de Ciências da Unifor quando o desafio é interferir no presente a fim de esculpir um futuro promissor? Que caminhos sonham trilhar para recompor o social a partir do individual? De posse do “canudo”, quais as urgências que enxergam pela frente e como pretendem tomar-lhes as rédeas? 

Bebendo o futuro de canudinho

Mudar o mundo. Ou, pelo menos, o próprio quintal. Eis o ímpeto que comanda mentes e corações juvenis tão logo a festa de formatura acaba e a vida tem que ser levada a sério diante de um leque escancarado de oportunidades inerentes ao início de qualquer carreira profissional. E o que fazer da promessa de realização de uma pá de sonhos e projetos cultivados em sala de aula? Que desejos, valores e sentimentos tomam a dianteira e movem aqueles e aquelas que, hiperconectados de nascença,  agarram com vontade o desafio de reinventar as relações humanas e de trabalho, justo no momento em que a humanidade se revisa e indaga, em uníssono, como manter o universo socialmente equilibrado e economicamente viável?

Hora de repensar paradigmas e propor novos caminhos, sempre no rastro da inovação. É o que vem fazendo Leonardo Lima, que se formou no curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade de Fortaleza em julho de 2019 na Universidade de Fortaleza (Unifor), e criou a Green News, plataforma que nasceu no Instagram como canal de notícias da área ambiental para logo em seguida se tornar empresa graças ao modelo de negócio que ele e a sócia Mayra Dias, outra egressa da Unifor, fizeram acontecer. Para o jovem empreendedor de 24 anos, o primeiro salto para o futuro veio através de um concurso internacional promovido por uma multinacional com o propósito de abolir canudos plásticos. “Detalhe: todos os concorrentes eram empresas, somente eu e dois amigos parceiros no projeto, Ivna Milério, da engenharia ambiental, e Matheus Titara, da arquitetura, éramos pessoas físicas. Entre 72 inscritos, ganhamos! Foram 50 mil dólares para aceleração do projeto e enfim a ideia foi patenteada e está em desenvolvimento. Acreditamos que vamos impactar globalmente e não só no Brasil”, festeja, confiante.  

A rigor, o que Leonardo e amigos projetaram como protótipo, mas já estão prestes a lançar no mercado, é um canudo feito com a própria embalagem longa vida da tetraplac. Utilizando um único material, 100% reciclável e que não interfere na composição e nem na temperatura do produto, a tecnologia made in Ceará agrega ainda uma barreira contra microorganismos. “Os canudos de plástico vão parar nas areias da praia e são o sétimo item mais coletado no mundo, isso quando não acabam indo parar no mar, poluindo a água e prejudicando a fauna marinha. Daí a preocupação global cada vez maior e justificada. A destruição do planeta ultrapassou todos os limites e a situação de pandemia ilustra bem isso. Ações que impactem no meio-ambiente, como a nossa, não são apenas necessárias, mas questão de sobrevivência mesmo e de salvaguardar alguma qualidade de vida”, justifica. 

E se a modernidade tende a nos remeter a uma ética individualista, Leonardo responde com a constituição de redes que promovam o desenvolvimento humano sustentável. Também através da Green News, ele quer impactar humanizando o trabalho dos catadores de lixo reciclável. “É um trabalho árduo e valioso o deles, ecologicamente correto, mas muito mal valorizado. Queremos implantar um sistema de coleta seletiva nos condomínios de prédios em Fortaleza, que são os grandes geradores de lixo sólido. Faremos a coleta in loco e levaremos para as associações de catadores, que tem o lixo como fonte de renda. Além disso, faremos palestras de conscientização junto aos moradores, diaristas, funcionários e síndicos enquanto capacitamos as associações para produzirem novos produtos e materiais a partir dos recicláveis. Transformar catadores em empreendedores, esse é o fecho do processo que visa agrega valor ao lixo de cada um de nós e fortalecer a cultura da reciclagem”, explica.

Não para por aí. A Green News foi finalista em um concurso lançado pela empresa de impacto social Somos Um, que, ao longo da quarentena, quis premiar ideias inovadoras capazes de aquecer a economia local. Dessa vez, Leonardo e sócios estão sendo acelerados para desenvolver uma plataforma de entrega delivery que aproxima entregadores de empreendedores, a fim de que negociem diretamente e baixem os custos para ambos. “Hoje a maioria dos comerciantes é dependente do Ifood, que chega a embolsar um percentual de 27 a 30% do que o empreendedor ganha de acordo com o tipo de entrega acordada. Mas vamos além: queremos humanizar esse trabalho. Ali não é só uma moto entregando: tem uma vida em jogo, a sobrevivência de um entregador que paga a conta de luz ou a universidade do filho. Então, queremos que tenha um point para eles beberem água, irem ao banheiro e descansar, além de comércios que possam vender almoço e jantar mais barato. O aplicativo do “Bota para Entrega” está em desenvolvimento e em breve estaremos nas redes sociais”, promete Leonardo, adiantando que até a camiseta usada pela equipe terá como matéria-prima as garrafas pet.

Durante a pandemia, o jovem engenheiro ambiental também impactou socialmente com ideias e projetos sem fins lucrativos. Tudo pela paixão paralela pela pesquisa e docência. Totalmente on line, o projeto Planejo caiu nas redes para ajudar jovens estudantes a planejarem seus estudos e pesquisas acadêmicas, acelerando e desentravando processos de escrita de artigos, monografias e dissertações. “Na Unifor, fui mentor e pesquisador por dois anos. Sempre gostei de ensinar e ofereci mentorias gratuitas como forma de contribuir de alguma maneira com a produção científica durante o período em que as aulas presenciais estivessem suspensas. Até junho passado, contabilizei 90 mentorias gratuitas e dei por encerrado. Há dois meses, estou com cinco outras em curso, estas já me dando algum retorno financeiro. Criei uma metodologia e agora vou abrir para cursos on line no Instagram. O conhecimento, sem dúvida, é o que move e pode transformar o mundo. Só a educação transforma o homem para que ele possa não só aprender, mas entender o que é e o que pode se tornar. Ela é a geradora do maior de todos os impactos sociais”, defende. 

+ LEIA MAIS: Transformação pelo trabalho

+ LEIA MAIS: Com saúde e com afeto

+ LEIA MAIS: Do individual para o coletivo

+ LEIA MAIS: Justiça seja feita