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Seg, 3 Abril 2023 17:45

Reinventando-se depois dos 40

A retomada de antigos sonhos, a sede por mais conhecimento e o desejo de dar uma guinada profissional levam cada vez mais pessoas com mais de 40 anos de volta às universidades


Na Universidade de Fortaleza, são 1.132 alunos ávidos por reinventar-se nos mais variados cursos (Imagem: Divulgação)
Na Universidade de Fortaleza, são 1.132 alunos ávidos por reinventar-se nos mais variados cursos (Imagem: Divulgação)

Que atire a primeira pedra quem nunca ouviu a frase “você não tem mais idade para isso”. Ou quem nunca notou um olhar inquisidor ou um risinho de canto por se jogar em algo que, aos olhos mais conservadores, parece não tão apropriado para a idade. Mas em pleno 2023, imersos nesta “sociedade do conhecimento” que nos faz ter uma sede cada vez maior de aprender, sabemos: a idade não retira nada de nós.

A regra é clara para muitos dos que ultrapassaram a marca dos 40, 50, 60, 70 anos: sem tempo para o etarismo, irmão. Velhofobia? Nos poupe! É verdade que ainda há de viralizar um ou outro vídeo de chacota por aí, mas o que está mesmo no primeiro plano destes tempos é a capacidade de aprender, de sonhar e de mudar a rota profissional no auge da maturidade. 

É por isso que, cada vez mais, vemos pessoas maduras retornarem às universidades. O último Censo da Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), realizado em 2021, mostra que praticamente triplicou o número de acadêmicos com mais de 40 anos na última década. 

A ascensão desta faixa etária também é sentida na Universidade de Fortaleza (Unifor), vinculada à Fundação Edson Queiroz: neste ano, houve um crescimento de 19,15% de acadêmicos desta faixa etária em relação a 2020.

São 1.132 alunos com este perfil, ávidos por reinventar-se nos diversos cursos da Unifor. E os objetivos deles são os mais variados possíveis: há quem busque retomar sonhos antigos deixados pelo caminho por circunstâncias da vida, quem encara os estudos como uma espécie de terapia, quem tem sede por conhecimento e quem deseja dar uma nova guinada profissional e explorar outros mercados de trabalho.

A chance de retomar um sonho antigo

Cristiane Silva de Sousa sempre teve o sonho de ter um diploma de curso superior, especialmente quando sentia “olhares de superioridade” ao dizer que não havia feito nenhuma graduação. Mas esse desejo foi ficando distante a cada novo nascimento dos quatro filhos que teve. Optou por trabalhar como autônoma e poder cuidar pessoalmente deles.

A vida acabou a levando depois para um trabalho fixo no transporte intermunicipal, com mais estabilidade. Quando todos já estavam criados e ela estava prestes a completar 40 anos, decidiu: é hora de entrar na universidade.

A mulher, que sempre se doeu ao ver seus direitos serem desrespeitados, então resolveu que abraçaria uma graduação para fazer justiça. “Resolvi fazer universidade e cuidar de mim”, conta. Hoje ela cursa o terceiro semestre do curso de Direito na Unifor, onde diz se sentir bem acolhida para retomar este antigo sonho. 

Às vezes, até acontece de ela se sentir um pouco deslocada ao lidar com gerações mais jovens, mas ter alguns colegas da sua idade tem ajudado a diminuir a sensação de solidão. Nada que prejudique sua jornada acadêmica, especialmente com a força de vontade que ela carrega para concluir o curso e exercer a profissão.


“Somos nós mesmos que escrevemos a nossa história, e eu estou tentando mudar a minha. Creio que, para mim, a hora é agora. Ter 40 anos não me desanima. Sempre é tempo de escolher o melhor caminho”Cristiane Silva, aluna do curso de Direito

Cristiane confessa que chegou na Unifor um pouco receosa, mas encontrou profissionais acolhedores e um campus tão arborizado que a faz se sentir bem. “Ter uma universidade que entende as nossas necessidades é muito importante. Espero que a Unifor siga me dando este suporte na minha caminhada até chegar o momento de eu exercer esta nova profissão”, afirma.

Uma busca por sede de conhecimento e bem-estar

Corta cena para Ana Nogueira, uma economista e auditora da Secretaria da Fazenda que, aos 57 anos, decidiu mergulhar no mundo fashion, nos desenhos, nas fotografias e na criatividade para a costura. No terceiro semestre da graduação em Moda na Unifor, ela diz que voltar à vida acadêmica envolve sua sede por mais conhecimento e uma injeção de bem-estar.

Para mim, é uma terapia, nem é uma universidade. Eu amo a Unifor, os colegas, o curso. Amo fotografia e tiro muitas fotos lá”, conta, animada. Como ainda trabalha em regime de plantão no Tocantins, Ana fica 20 dias em Fortaleza e os demais dez dias do mês em Palmas.

Mesmo assim, diz encontrar todo o suporte na instituição de ensino para seguir a formação, sempre entregando os trabalhos antes do prazo e contando com muito apoio dos professores qualificados e da estrutura de ponta. “Quando estou aqui, respiro a Unifor”, emenda. O curso é uma forma de aprender e desenvolver novas aptidões para realizar trabalhos voluntários quando a aposentadoria vier.


“Na minha idade, eu já construí minha família, já tenho trabalho, já consegui minha estabilidade. E eu ainda me sinto muito nova e não quero me aposentar. Voltar a estudar é uma forma de curtir a universidade como não curti antes. Não tenho aquela coisa de ter que fazer, de brigar por nota, de ir atrás de emprego. Eu faço por prazer. Estou numa fase de qualidade de vida aqui na Unifor”Ana Nogueira, 57 anos, aluna do bacharelado em Moda

Mudar de profissão perto dos 50 anos é possível

Já o advogado Homero Vasconcelos Neto, de 47 anos, decidiu retornar à universidade no auge da sua maturidade para mudar completamente de área. Depois de trabalhar anos e anos como advogado de empresas privadas, sentiu que seu lugar era na área da saúde. O “gatilho” foi a pandemia, que lhe deu uma necessidade incontrolável de cuidar das pessoas. “Eu queria ser mais útil e sentia que o direito já não me satisfazia para ajudar as pessoas”, recorda.

Optou então por cursar Farmácia em 2021. “Escolhi a Unifor por ter uma ótima nota no Enade e ser muito conceituada”, diz Homero, que agora sonha em ser farmacêutico clínico daqui a alguns anos. Por enquanto, ele já deixou o trabalho como advogado e está fazendo a nova graduação graças ao apoio do marido.

Recalcular a rota profissional completamente perto dos 50 anos não é fácil. “Todo curso é difícil. Sabia que teria que estudar do zero porque tem muita coisa que só vi no ensino médio, há muitos anos”, conta. O ponto positivo é que encontrou na Unifor desafios menores do que esperava ao retornar à vida acadêmica nesta idade. E outros sonhos começam a surgir: tanto o de atuar no mercado de trabalho quanto o de fazer mestrado e doutorado para, um dia, voltar à universidade como professor.


“Fui bem receoso, achando que ia sofrer bullying pela idade, mas não. Minha turma foi bem acolhedora. Tanto que virei líder da turma. Todos foram muito receptivos, nem parece que tem essa diferença de idade. Para mim, é muito bom. Me sinto como se estivesse bebendo da fonte da juventude. Foi uma escolha bem assertiva que fiz, a de fazer Unifor. Gosto muito da Universidade e do campus, tudo muito bem equipado”Homero Vasconcelos Neto, 47 anos, aluno do curso de Farmácia

O espaço para os +40 na universidade e no mercado de trabalho

Sabemos que cada vez mais pessoas acima dos 40 anos estão abertas a buscarem seus sonhos e se reinventarem. O mesmo acontece com quem vai ultrapassando as barreiras dos 50, 60, 70 e até 80 anos! Esqueça aquela imagem do idoso enfiado em pijamas e meias super confortáveis em frente à televisão. Cada vez mais, eles estão mais ativos e participantes da vida social.

“Muitos adultos e idosos estão exercendo sua autonomia e funcionalidade, crescendo em conhecimento e seguindo em frente”, afirma o médico geriatra e professor do curso de Medicina da Unifor, Átila Ponte. Ele lembra que, em muitas famílias brasileiras, os idosos são a principal fonte de renda.

A presença desse público também tem crescido no mercado de trabalho. O Brasil tem hoje sete milhões de trabalhadores acima de 60 anos. E a força de trabalho no país deverá ficar cada vez mais nas mãos de quem é experiente. Para o ano de 2040, uma projeção da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que 57% dos trabalhadores terão mais de 45 anos.

“Inclusive, o estatuto do idoso garante à essa população o direito de exercício de sua atividade profissional, sendo proibida qualquer discriminação por idade, com respeito às condições físicas de cada indivíduo. Dessa forma, muitos adultos e idosos estão buscando se aperfeiçoar através da graduação ou pós-graduação”, explica Átila. Para ele, o país ganha ao combinar maturidade e experiência deste público às suas áreas de atuação.

+ Um recomeço na vida acadêmica

As vantagens do ensino superior na terceira idade desembarca na saúde

O geriatra vê inúmeras vantagens para adultos e idosos retornarem à vida acadêmica. Segundo ele, o processo de envelhecimento é heterogêneo, sendo de extrema importância permanecer ativo, funcional e atuante na sociedade.

Além de uma alimentação saudável e da prática de atividades físicas, sabemos que o convívio social e as atividades que estimulem a cognição — como leituras, estudar novas línguas, aprender a tocar um instrumento musical e desenvolver habilidades manuais — são cruciais na prevenção de alterações cognitivas na velhice. “No meio acadêmico, surge um universo de oportunidades, com diversas atividades, desafios e novos aprendizados”, aponta.

Átila encoraja que as pessoas não se deixem paralisar por receio do etarismo, que significa qualquer forma de estereótipo, preconceito ou discriminação contra pessoas de mais idade. “Infelizmente, esse tipo de preconceito é mais comum do que imaginamos”, diz.

O geriatra reconhece que o aluno com mais idade, de forma geral, costuma ter mais maturidade e entrar na universidade com objetivos bem determinados, o que pode dificultar a socialização com gerações mais novas. E que as novas tecnologias também podem ser um obstáculo, mas todos são plenamente capazes de superar ambas as questões.


“Tenho muito orgulho em participar do corpo docente da Unifor, pois é uma instituição muito inclusiva em todos os aspectos, não fazendo qualquer distinção ou discriminação por idade em seu processo seletivo, bem como oferta excelentes condições de ensino para todos os alunos, contando com apoio pedagógico de excelência, com pleno respeito e auxilio às condições físicas e psicológicas de cada um dos estudantes”Átila Ponte, geriatra e professor do curso de Medicina

Aos 63 anos, o sonho da Engenharia Civil está ON

Aos 63 anos, o policial João José de Oliveira decidiu retornar à universidade, uma forma de retomar um sonho antigo e de melhorar a vida no início da terceira idade. Ele teve sua trajetória com a Universidade de Fortaleza interrompida pela necessidade de trabalhar.

Ingressou no curso de Engenharia Civil na década de 1980, quando tinha 22 anos. Aos trancos e barrancos, ainda conseguiu fazer alguns semestres, conciliando a jornada acadêmica aos trabalhos administrativos na Polícia Civil, mas acabou precisando se dedicar exclusivamente ao campo profissional. Voltou já na terceira idade, quando parou de trabalhar como policial, e hoje cursa o sexto semestre da graduação na Unifor.


“Para mim é motivo de muita alegria e satisfação estar junto com os companheiros mais jovens na Universidade. Eu me sinto muito útil e acho um desafio tentar seguir o mesmo embalo dos jovens”João José de Oliveira, 63 anos, aluno do curso de Engenharia Civil

Unifor, de portas abertas para todos os públicos

Adultos com mais de 40 anos e idosos vão, ano a ano, se tornando um novo público universitário, com suas próprias características e demandas. Clara Bugarim, Vice-Reitora de Ensino de Graduação e Pós-Graduação da Unifor, explica que alunos desta faixa etária já trazem uma bagagem de experiências vividas que não podem  nem devem ser desprezadas.

“É um tipo de estudante que tem alta expectativa em poder aplicar o mais rápido possível os conhecimentos adquiridos, que deseja compreender e inserir-se num mundo do trabalho em transformação”, acrescenta.

Ela diz identificar pelo menos dois perfis entre estudantes com mais de 40 anos: aqueles que trabalham e estudam e aqueles dedicados integralmente aos estudos. “Em qualquer dos casos, pela maturidade adquirida, em geral são estudantes participativos, que integram-se bem à comunidade acadêmica, interagindo com colegas de todas as idades e com os docentes, aportando contribuições advindas de suas experiências pessoais e profissionais”, pontua.


“Considerando que a expectativa de vida ampliou-se, e que as pessoas estão efetivamente ativas por mais tempo, é natural a busca por novos conhecimentos, novas formas de estar, de relacionar-se e de adaptar-se a um mundo dinâmico. A Unifor é reconhecida como Universidade plural, inclusiva, sempre fomentando o respeito a todas as diferenças”Clara Bugarim, Vice-Reitora de Ensino de Graduação e Pós-Graduação da Unifor

Clara destaca que a Unifor está aberta para receber o público de 40 anos ou mais em seus cursos de graduação, seja na modalidade presencial ou EAD. Os currículos são baseados em formação por competências, com uso de metodologias ativas de ensino-aprendizagem que promovem maior autonomia do aluno, e há forte integração teoria-prática e infraestrutura de ponta, além de um corpo docente qualificado. Mas há mais diferenciais e vantagens para o público +40.

“A Central de Carreiras e Egressos, que coloca o nosso aluno em contato com uma rede de mais de quatro mil empresas parceiras, é um diferencial atrativo para esse público. Além disso, como Universidade, os estudantes têm a oportunidade de vivenciar experiências culturais, desportivas, de pesquisa e extensão das mais diversas, que enriquecem a vida acadêmica e a formação cidadã para além das salas de aula”, finaliza.