qua, 13 maio 2020 16:30
Saiba como se preparar para voltar à ativa depois da pandemia
Especialistas dão dicas para fortalecer a saúde mental e organizar a retomada da rotina de trabalho, quando acabar o período de isolamento social
Os últimos meses estão marcados por diversas alterações na vida rotineira como antes conhecíamos. Com a chegada da pandemia causada pelo novo coronavírus (Covid-19), uma série de comportamentos e hábitos precisaram ser incorporados no dia a dia de toda a sociedade com o intuito de achatar a curva de contaminação pelo vírus.
Lojas, bares e restaurantes fechados, home office, aulas virtuais, atividades domésticas e muitas outras mudanças são sinônimos do isolamento social, reforçado por autoridades e profissionais da área da saúde no mundo inteiro como a medida mais eficaz de combate à Covid-19. Mas e quando tudo isso passar? Como voltaremos a realizar nossas atividades diárias de forma segura e autônoma? Confira a seguir algumas dicas de especialistas:
É importante seguir o isolamento social nesse momento. Só volte à ativa quando as autoridades oficiais de Saúde recomendarem. Preserve sua vida e a dos outros: por enquanto, fique em casa!
O recomeço requer mente sã
Quando em 11 de março deste ano a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a Covid-19 como uma pandemia, as nações precisaram repensar as estruturas sociais, econômicas e de saúde que já não podiam funcionar da mesma forma. Os impactos dessa crise se estenderam para a maneira como as pessoas podem encarar o desafio do isolamento social e, ao mesmo tempo, cuidar da sua saúde mental.
“As pessoas foram pegas de surpresa e de forma repentina necessitaram mudar o seu modo de vida presencial, de bate-papo, encontros e abraços, para uma tela que pode até trazer diversão, mas que também impõe uma forma de trabalhar diferente, onde você muitas vezes pode ser interrompido e que não delimita bem o que é trabalho, escola ou casa e isso afeta a saúde mental. Somado a isso surge o medo do desconhecido, do inimigo que ameaça, mas ninguém vê”, observa Terezinha Joca, coordenadora do Programa de Apoio Psicopedagógico (PAP) da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz.
Ainda segundo Terezinha Joca, que também é professora do curso de Psicologia da Unifor, para conseguir lidar melhor com as novas configurações, realizar atividades que contribuem no equilíbrio entre corpo e mente são fundamentais nesse momento e, certamente, trazem resultados para a autoestima. “A pandemia chegou em uma época de muitas aproximações virtuais, então, é hora de aproveitar a tecnologia e participar de tantas opções propostas de diversão, arte, atividade física, meditação. Ressalto que é importante não esquecer de você no meio de tanta coisa para dar conta”, afirma.
Os estudantes também não ficaram de fora do desafio de construir uma nova rotina diante do distanciamento social. As aulas virtuais têm sido de suma importância para manter o conhecimento atualizado, mas a saudade do convívio com os colegas e professores também ganhou espaço.
“Os estudantes sentem a falta do encontro com os colegas, da cantina, do caminho a ser percorrido até elaborar que não estava mais em casa e sim na escola. Para eles, o tempo de concentração é bem menor. Então, faz-se necessário determinar o lugar de estudo ou trabalho e o período que se dedicará aquela tarefa. Deve estabelecer períodos de intervalo, para descansar a vista, alongar-se, beber água e lanchar, para que não haja a exaustão de manter-se sentado por muito tempo diante de uma tela. Sem esquecer que deve haver o momento de conversar com os colegas conectados, pois existe a falta daqueles que eram de nosso convívio diário”, ressalta a psicóloga.
Sobre o fim da pandemia, ainda incerto, a professora Terezinha elucida a importância de compreender o papel da saúde mental em estar preparado para um mundo diferente, no qual as mudanças terão ressignificado principalmente o trabalho e as relações do campo afetivo.
“Para mantermos a nossa saúde mental é importante nos prepararmos para não querermos encontrar o mesmo que deixamos, será o ‘novo normal’. Embora não percebamos, desenvolvemos novas competências e descobrimos habilidades adormecidas. Como dica eu diria para, desde já, desenvolver atividades de cuidar de si e do outro, de meditação e relaxamento... desacelerar, escutar-se e buscar a felicidade nas pequenas coisas. Não queira sair correndo para fazer tudo que não fez durante o período de isolamento, isso pode causar uma grande euforia, mas não a delícia de viver os momentos. Creio que tudo irá voltar de forma comedida, aos poucos”, destaca.
Sucesso no trabalho, aí vou eu!
De acordo com a professora Karol Mota, coordenadora da Central de Carreiras da Universidade de Fortaleza, “a pandemia, na verdade, acelerou uma série de mudanças nas relações de trabalho que já vinham acontecendo, embora mais lentamente. É possível elencar, por exemplo, a organização do dia a dia do trabalho. Parece banal, mas essa estrutura mudou. Há famílias inteiras alterando seu modus operandi para articular as necessidades de todos”, explica.
Segundo ela, essa “nova estruturação das relações de trabalho” também trouxe mais autonomia aos colaboradores. “A forma de entrega mudou, mas o trabalho precisa continuar sendo entregue. E aí se percebe o grau de autonomia dos colaboradores. É verdade que durante a pandemia, trouxe isso de forma compulsória, mas é algo que tende a continuar. Percebemos com mais clareza que muitas atividades que fazíamos presencialmente, muitas vezes por hábito, não precisam continuar assim”, pontua.
No mundo pós-pandêmico as chamadas soft-skills estarão em alta, movidas pela necessidade de pensar o ambiente de trabalho de uma forma mais humana, crítica e coletiva. “Elas, que são tão comentadas, serão as grandes estrelas também na vida profissional. Muitas das mudanças que nos ocorreram hoje porque era a única solução possível, como o fato de se deslocar diariamente ao seu local de trabalho, por exemplo, deixa de fazer sentido. Imagina se esse tipo de mudança não vier acompanhada de maturidade, autodisciplina, organização, colaboração, empatia e senso de responsabilidade coletivo? É necessário mais do que nunca que trabalhemos essas competências atitudinais”, afirma.
Os trabalhadores são os principais afetados pelos impactos econômicos da crise de saúde provocada pela pandemia. Só no Brasil, cerca de 11,6% da população estava desempregada, segundo os últimos dados divulgados pelo Governo Federal, em março deste ano. Já nos nos Estados Unidos, a situação é a pior desde a Grande Depressão, em 1933. Agora os americanos sem trabalho já somam 20,5 milhões e a taxa chega a 14,7%. Com dados tão preocupantes, como manter o lado profissional confiante para conquistar o tão almejado lugar no mercado de trabalho no futuro?
“Há muitas possibilidades de desenvolvimento durante esse período de pandemia. Mas eu chamo muito a atenção para o autoconhecimento. São tantas as lives, tantos os cursos liberados, que precisamos cuidar para não tentar consumir tudo e acabar se perdendo no meio do caminho. É o momento de aproveitarmos que estamos presos em casa e prendermo-nos também um pouco em nós mesmos, no bom sentido. Olhar para si, tentar identificar aquilo que é valioso para cada um”, Karol Mota dá a dica.
Para finalizar, ela esclarece que esse processo de autoconhecimento tem relação direta com a carreira profissional. “Se você conhece a si mesmo, você consegue identificar melhor o que é legal para você, em que tipo de organização você deseja contribuir e que competências você precisa elencar para fazer parte daquela companhia ou daquele projeto. Aí, sim, você vai buscar as lives, os cursos que fazem sentido para a sua realidade, para você e para a sua carreira, que é única! E que deve ter um caminho muito seu também”, ressalta.