Vestida de memória

O tempo vestiu roupa de gala para selar a duração do acontecimento. A terapeuta ocupacional Teyla Bastos Leite Andrade não esquece a noite em que a filha Jemyma Scarlet entrou na solenidade de conclusão do seu mestrado com o mesmo vestido que ela própria havia usado, quando jovem, na sua colação de grau, mal disfarçando a gravidez da primogênita que agora lhe fazia uma homenagem, em looping retrospectivo. A emoção indescritível se deu no campus da Universidade de Fortaleza (Unifor), onde não só a mãe, como toda a família estudou – e ainda estuda ou pretende voltar a estudar.

A Unifor é um lugar especial de formação familiar comum, onde aprendemos muito juntos, trocando experiências e conhecimentos, cada um na sua área de estudo e atuação profissional. E o fato de estudarmos numa mesma instituição, onde valores éticos e metodologias adotadas se comprovaram eficientes, só fortaleceu o nosso vínculo familiar e a nossa vontade de conhecer sempre mais. Não por vaidade, mas para tentar transformar o mundo para melhor, o que também tem a ver com a nossa vida cristã. Essa percepção sobre o valor e o sentido do conhecimento começa em casa, claro, mas quando sabemos escolher onde estudar isso se estende à esfera educacional. Nós soubemos escolher, com certeza”, vibra a matriarca e mestre em Saúde Coletiva pela Unifor.

Aos 46 anos, enquanto concluía Terapia Ocupacional e se especializava na Unifor, Teyla testemunhou o marido formar-se em Administração e buscar uma segunda graduação em Direito, assim como viu, recentemente, sua cria mais velha, Jemyma, formar-se em Jornalismo enquanto a caçula Talyta ingressava no curso de Psicologia da mesma universidade. Daí porque, em meio aos afetos, o ensino-aprendizagem se converteu em patrimônio inestimável, uma marca indelével em sua trajetória, memória viva plena de significados e com flagrante poder de contágio na própria família.

“No meio do meu curso de graduação tive que trancar por um ano, devido a questões financeiras e, quando terminei, estava grávida de seis meses. Em 2017, ao voltar para fazer um mestrado, estava realizando um sonho sempre adiado frente à rotina de trabalho. Mas foi muito por conta das minhas filhas estarem estudando tão empolgadamente na Unifor que não desisti. Nas idas e vindas ao campus para acompanhá-las pude perceber os avanços no Centro de Ciências da Saúde da Unifor, a incorporação das novíssimas tecnologias e, tudo isso junto, me fez voltar a estudar, uma decisão das mais acertadas porque hoje repercute positivamente na minha profissão e em casa, pelo grau de cumplicidade e amorosidade que envolveu”, comemora.

Não é à toa, portanto, que até hoje o vestido de colação de grau ganha ajustes para, em momentos especiais, voltar à baila, como um gesto de quem sorri para o tempo que passa. Vesti-lo - ou mesmo mirá-lo no guarda-roupas - é prova de que tradição e renovação podem andar de mãos dadas, assim como Teyla e o marido Milton Andrade, 51, também andaram de mãos dadas na Unifor. Talyta, a caçula, hoje graduanda em Psicologia, veio quando ele terminava a conta-gotas e a custa de muito suor sua graduação em Administração de Empresas, visto que, à época, a rotina de viagens como executivo de marketing de uma grande empresa era intensa. “Fui eu quem o convenci a transferir o curso para a Unifor, porque sabia que lá a experiência prática de trabalho pode ser incorporada à sua formação, o que nos estimula a não desistir de continuar, justamente porque vemos tudo o que estudamos poder ser aplicado e experimentado no dia a dia laboral”, destaca Teyla.

Para ela, a formação também se deu como desafio. “Quando estava me graduando eu passava o dia todo na universidade. Morava longe, então ia de manhã cedo, à tarde estudava na biblioteca e, quando dava, cochilava nas macas do bloco H. Quando terminei estava com seis meses de grávida. Mas a Unifor sempre foi um espaço prazeroso, com se estivesse em casa. Aí vieram os estágios, até em colônia de hanseníase, onde pude entender sobre TO aplicada à dermatologia. Depois no NAMI, junto à diversidade de patologias. Fazia disciplinas junto a outros cursos, aprendendo com colegas de outras profissões. E com o mestrado passei a atuar de forma diferente, com uma bagagem prática maior, além de conteúdo atualizado, inclusive para lidar com a Covid-19”, observa.

Hoje, como servidora pública em dois municípios, sente a diferença como profissional e do ponto de vista humano. “Confesso que voltei a estudar visando sobretudo a questão financeira. Mas ao concluir o mestrado o propósito já era outro: até meu modo de falar e tratar pacientes e equipe de trabalho impactou positivamente. Todos em volta perceberam e isso imprimiu bem mais qualidade ao meu trabalho. Digo a você: até hoje estou pagando o empréstimo que fiz para o mestrado, mas valeu cada investimento porque há um claro e potente rejuvenescimento das ideias e das relações sócio-afetivas em todas as camadas da vida. Por isso, já penso em um doutorado mais à frente. Na Unifor, claro”, promete.

O direito de sonhar

Milton Andrade começou a trabalhar aos 15 anos. Aos 19, já integrava o alto escalão de uma grande empresa do Ceará como assessor da diretoria. Viajava e trabalhava exaustivamente, a ponto de quase desistir de concluir a graduação em Administração de Empresas na Universidade de Fortaleza (Unifor). “Tive grandes mestres, daqueles que pegam mesmo pela mão sabendo de sua vida atribulada. Além disso, as visitas às grandes empresas proporcionadas pela Unifor, como modo de sempre atrelar teoria à realidade de trabalho lá fora, me estimularam muito. O corpo docente não deixa o estudante da Unifor ser medíocre: ele quer mais e diz que podemos mais. Ao mesmo tempo, sabe identificar e potencializar suas habilidades, tornando o aprendizado conseqüente e prazeroso. Também abre portas: estudei lado a lado com jovens empresários, fiz um ótimo networking que gerou amizades e ali me formei para ser empreendedor, gerindo meu próprio negócio, como hoje acontece”, regozija-se.

Proprietário da empresa de consultoria MA Gestão, Educação e Negócios, Milton, que aprendeu na Unifor a não desistir e sempre querer mais, ousou realizar mais um sonho, vencendo a barreira preconceituosa que ainda cerca a chegada da meia-idade: cursar uma segunda graduação em Direito. “Fiz o ENEM em 2018 e, empolgado feito garoto, cursei logo todas as atividades complementares no primeiro semestre. Mas estava enferrujado, tudo era muito novo e penei em algumas disciplinas obrigatórias. Não esqueço a primeira nota, um 4,5. Quase morro de vergonha. Meu professor é um juiz federal e ele me chamou para conversar. Passou a me acompanhar de perto, me incentivando, me fazendo entender que eu conseguiria se me esforçasse um pouco mais. E veio a nota da segunda prova: 8,5. Confesso que chorei, me emocionei ali na frente dele. E o que ouvi? 'Você ainda pode mais'", relembra Milton.

Com dedicação e paixão, a disciplina Direito Constitucional I foi concluída com louvor. “Veio enfim um 10 que agradeci muito. Mas o professor Marcus Vinícius Parente Rebouças, um constitucionalista renomado e brilhante, disse que eu agradecesse a mim mesmo. Veja só: um juiz de fala branda, mas que ao mesmo tempo impõe respeito naturalmente, tanto que ninguém usa celular na aula dele. São esses princípios que me inspiram a voltar a estudar, a perder a vergonha por achar que estou velho demais para isso. Percebi que não. Vibro por dentro ao conhecer de perto a Defensoria Pública, por exemplo, que tem uma unidade funcionando na Unifor. É uma instituição que não para de oferecer novas experiências de ensino-aprendizagem, seja por atrair empresas para seu espaço físico ou projetos científicos e empresariais inovadores para serem desenvolvidos junto à superestrutura de seus laboratórios. Em 2020, me vi forçado a trancar o curso, mas sei que vale todo o investimento e me preparo para retornar”, garante.

Unifor como segunda casa. Lugar de crescimento coletivo e fortes vínculos. “Percebo no campus um clima de família também. Todos são gentis e respeitosos, do porteiro ao vendedor de lanches, funcionários que estão ali há anos, já que cumprimentam tanto as minhas filhas, que são jovens estudantes, quanto a mim e minha esposa, com quem estou casado há 26 anos. Esse ambiente que nos dá segurança e ao mesmo tempo é acolhedor conta muito porque não tem nada que pague a alegria de ir deixar suas filhas até a porta da sala de aula e ser cumprimentado e reconhecido no meio do caminho. É uma sensação de pertencimento, de fazer parte daquela rede de esforços para ensinar e aprender. Família e universidade falando a mesma língua e proporcionando ensinamentos que vão além dos livros, reflete.

As meninas dos olhos da Unifor

Nada de “mico”. Ao contrário. Chegar à universidade abraçadas ao pai ou aconchegadas à mãe sempre foi motivo de orgulho para Jemyma Scarlet e Talyta Bastos Andrade, as meninas dos olhos do casal Teyla e Milton. “O fato de meus pais terem estudado na Unifor e de certa forma preparado o terreno para nossa chegada faz com que a gente se sinta muito à vontade logo nos primeiros dias de aula. Não há aquela tensão que vi em muitas amigas no início da graduação, onde tudo é muito novo, diferente do colégio. Certamente porque a qualidade do ensino na Unifor e o próprio funcionamento interno são assuntos rotineiros em nossa casa desde que somos crianças. Isso nos deu a certeza de querer estudar na mesma universidade sim que nossos pais, já que ambos sempre falaram tão bem de suas vivências. Nosso desafio é ir tão bem como eles foram”, ri-se Talyta.

Até a chegada da pandemia da Covid-19, que impõe um ainda necessário isolamento social, a caçula de 18 anos, estudante do segundo semestre de Psicologia, refez os passos da mãe: a biblioteca virou segunda casa e todo aquele verde do entorno transformou o estudo em um prazer estético. Entre aulas remotas segundo ela muito bem aproveitadas, sonha em voltar à universidade para também experimentar no campus um exercício de espiritualidade. “Fiz curso de musicalização, toco violão e violoncelo, canto na minha igreja e dou aulas para crianças. Sou apaixonada por música e sei que na Unifor existem vários projetos sociais e de extensão onde poderei me engajar. Conheci o grupo cristão Wake Up, de louvor e oração, e quero me juntar a ele. Na igreja, eu e minha irmã somos missionárias e vamos evangelizar no sertão, quinzenalmente. Quero viver uma experiência similar na universidade também, onde minha formação possa impactar no social e no emocional de quem mais precisa”, projeta.

Recém-graduada em Jornalismo, Jemyma Scarlet gosta de dizer que será difícil cortar o cordão umbilical que lhe “prende” à Unifor, já que a mãe a trouxe para a universidade ainda na barriga. Aos 22 anos, mesmo tendo defendido o próprio Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) à distância, em agosto último, por questão de biossegurança, não quer pôr um ponto final na experiência de ter roteirizado e dirigido um documentário em torno da temática “parto”. “Como estagiária e depois bolsista da TV Unifor sempre gostei de fazer matérias ligadas à Saúde. Tenho uma tia médica e enquanto estava na graduação minha mãe entrou para o mestrado em Saúde Coletiva, o que me levou a acompanhar até algumas as aulas dela à noite, assim como palestras. Sempre fui encantada pelo trabalho da minha mãe, que atua no Hospital da Mulher em Maracanaú, no Centro de Parto Normal. Então, essa se tornou minha paixão: jornalismo em saúde. Pretendo inclusive propor a disciplina para a grade curricular da Unifor e, claro, serei a professora, voltando para a sala de aula agora para ensinar”, planeja a jornalista que hoje já trabalha com filmagens de partos naturais, faz curso de doula e prepara videobooks no capricho para futuras mamães.