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Seg, 20 Dezembro 2021 11:25

Publicidade: o eterno retorno da sedução

Criado em 1997, o curso de Publicidade e Propaganda transforma-se para acompanhar a evolução dessa área de conhecimento. A atuação dos egressos demonstra a diversidade de possibilidades para os graduados no curso


Na agência 365Lab, os professores Alessandra Bouty e Tarcísio Bezerra destacam o pioneirismo e as inovações do curso de Publicidade e Propaganda (Foto: Ares Soares) 
Na agência 365Lab, os professores Alessandra Bouty e Tarcísio Bezerra destacam o pioneirismo e as inovações do curso de Publicidade e Propaganda (Foto: Ares Soares) 

Ela está nos quatro cantos da casa do consumidor, nas vitrines das lojas, na letra de música que gruda feito chiclete, na inexplicável vontade de correr para o shopping e aproveitar a mais nova temporada de liquidações, mesmo sem estar precisando de nada. Onipresente, a publicidade seduz a razão, usa e abusa da sensibilidade e brinca de multiplicar infinitamente os desejos humanos, trocando um pelo outro como quem troca de roupa. Incomensurável, sua fome de consumo nos invade mesmo quando sequer imaginamos que ela está ali. 

Explicá-la, portanto, não parece fácil: “Marketing é publicidade, vender é publicidade, criatividade é publicidade, produzir é publicidade”, sintetiza o professor e coordenador do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade de Fortaleza, Tarcísio Bezerra. Celebrando os 25 anos da graduação que carrega com orgulho o título de pioneira no estado do Ceará, ele escolhe seduzir com as palavras: “não é à toa que nosso curso já foi classificado como o metro quadrado com maior índice de felicidade de todo o campus. Temos sim um senso de comunidade muito forte ali, é uma atmosfera tribal mesmo, um ambiente colaborativo de estratégia e criação invariavelmente atravessado pelo viés humanista”.

Egresso do curso que hoje coordena, o mais jovem professor da graduação ainda guarda resquícios na memória do tempo em que a formação girava em torno de uma única unidade mercadológica: a agência de publicidade. “A big ideia, ou grande ideia, que pautou os anos 1990 e estava atrelada às agências, se rendeu ao aparecimento de novos postos de trabalho surgidos com a onda digital. Hoje, o campo de atuação do publicitário é enorme, abarcando veículos de comunicação, produtores de conteúdos e eventos, startups, setor de marketing e comunicação de grandes empresas, gestão de produtos e serviços publicitários em geral, sem falar na própria docência e pesquisa. Daí a releitura da matriz curricular, que passa a ser integrada e interdisciplinar, focando em duas macrocompetências:  estratégia e criatividade”, pontua Tarcísio.

A interdisciplinaridade também é uma marca da trajetória dos egressos. A diversidade de possibilidades para graduados está nos caminhos de publicitários como Mariana Marques, graduada em 2004, Virna Benevides, que se formou em 2012, e Gabriel Baquit, egresso de 2009. Cada um deles enveredou por searas nada tradicionais nas  quais o aprendizado da Publicidade e Propaganda também se revelou essencial.


Auê Feira Criativa é tocada pela publicitária Mariana Marques desde 2018. A iniciativa que começou com 40 marcas hoje já conta com 600 criadores cadastrados (Foto: Roni Vasconcelos)

Enquanto Mariana Marques agita a cidade de Fortaleza e movimenta pequenos empreendedores com a Auê Feira Criativa, também realiza outras atividades relacionadas ao artesanato e à economia criativa.  Já Virna Benevides se utiliza do aprendizado como publicitária para inovar no mercado de startups  atuando com análise de dados e desenvolvimento de produtos. A moda é o terreno em que Gabriel Baquit planta criatividade para colher peças e estampas multicoloridas da Baba.  

25 anos em constante evolução

Para dar vazão ao pensamento estratégico e criativo que vem da P&P da Unifor e já coleciona premiações locais, nacionais e internacionais docentes e discentes se orgulham em fazer bom uso de uma megaestrutura: sob o guarda-chuva do Núcleo Integrado de Comunicação (NIC), complexo de laboratórios com mais de 2 mil m², é possível ter aulas e desenvolver trabalhos práticos sob demanda contando com uma agência-modelo experimental (a mais premiada do Brasil no Intercom), estúdios de TV, rádio e fotografia, ilhas de edição, além de salas de projeção, impressão e prototipagem.


O coordenador da graduação em Publicidade e Propaganda, Tarcísio Bezerra, considera que o papel do curso não é só acompanhar mudanças, mas também transformar o mercado (foto: Ares Soares) 

“Ao longo desses 25 anos - e sendo a Unifor pioneira e protagonista da cena publicitária no estado - não temo em afirmar que pelo NIC já passaram os melhores profissionais do ramo, absorvendo ali todas as transformações técnicas, tecnológicas e criativas que o mercado fazia emergir”, ressalta o coordenador do Curso de Publicidade e Propaganda da Unifor.

“Pelo turno da manhã, os alunos de Publicidade têm boa parte das suas atividades letivas realizadas nesses espaços de prática do NIC, que são ocupados pelos projetos de extensão e estágios à tarde. Ao longo desses 25 anos - e sendo a Unifor pioneira e protagonista da cena publicitária no estado - não temo em afirmar que pelo NIC já passaram os melhores profissionais do ramo, absorvendo ali todas as transformações técnicas, tecnológicas e criativas que o mercado fazia emergir. Hoje, inclusive, a gente entende que nosso papel no curso não é só acompanhar as mudanças do mercado, mas transformá-lo, já que os laboratórios são extensionistas e cada vez mais trabalhamos com clientes reais, colocando à prova a capacidade empreendedora que o século 21 exige para o enfrentamento dos problemas do nosso tempo”, destaca o coordenador.

Desafio enfrentado dentro e fora de sala de aula, com a participação sistemática dos alunos e alunas em congressos científicos locais, regionais e nacionais; a promoção anual da Semana de Publicidade e Propaganda, evento voltado à interação com profissionais em destaque no mercado; a aposta continuada no projeto Pau de Arara, um mergulho in loco no caldeirão cultural do Nordeste, através de viagens que ganham registro em fotografia e vídeo, além de render exposições e publicações. Destaque ainda para a revista Sacada, vitrine e portfolio de encher os olhos daquele que foi eleito o melhor curso de Publicidade e Propaganda entre instituições privadas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, segundo o RUF - Ranking Universitário Folha 2019.    

“Não é à toa que no curso de P&P somamos 16 créditos de disciplinas optativas e 17 de atividades complementares obrigatórias. É um diferencial. Para que nosso aluno possa aprender não só em sala de aula, mas extra-muros. Ou seja, se ele quiser dar ênfase na área de criação vai construir sua trilha formativa a partir das optativas nessa área. Se for para a área de business vai fazer uma trilha mais voltada para o marketing. E assim é que a formação se torna múltipla e realmente voltada para a área de atuação escolhida, ao mesmo tempo em que a Unifor reafirma a aposta certeira na curricularização da extensão e numa aprendizagem comprometida com a realidade. Todos ganham”, acredita Tarcísio.

Mais adrenalina, por favor!

A Publicidade está na rua, no outdoor, na TV, no jornal, na internet, nas redes sociais. E também reina na universidade. “Muitos dos professores da Unifor são egressos da graduação em P&P. Eu sou da segunda turma do curso que foi oficialmente iniciado em 1997. E percebo o quanto essa formação, que é múltipla e empreendedora, está atrelada às mudanças econômicas e mercadológicas do país, como também às mentalidades e transformações socioculturais.  Por isso, é preciso estar conectado não só com o mercado, mas com nossos parceiros de trabalho, que vêm da administração, do marketing, do design, da gestão, da produção e de todas as áreas de atuação que lidam com a comunicação de forma ampla e integrada”, observa a professora da graduação em P&P da Unifor, Alessandra Bouty.


Professora Alessandra Bouty ressalta a importância de o publicitário do século 21 aliar o pensamento estratégico ao pensamento criativo (foto: Ares Soares)

“O mundo hoje é completamente digital. Mas ainda acredito numa comunhão perfeita entre uma estratégia on e uma estratégia off. A gente não pode esquecer que existem meios off line capazes de nos auxiliar muito”, explica a professora Alessandra Bouty. 

Para ela, que também atua no mercado publicitário, assim como a maioria do corpo docente, viver sem a adrenalina de uma profissão que muda com os acontecimentos e contextos vigentes não faria sentido. “Publicitários amam se transformar e precisam estar se atualizando o tempo todo. Nesse sentido, percebo que a Unifor está bem à frente de outras instituições onde já lecionei. E não só pelo investimento em laboratórios de última geração e sistemáticas revisões curriculares, mas porque tem a criatividade como expertise primordial, ela que é a grande matéria-prima do futuro. O mundo hoje é completamente digital. Mas ainda acredito numa comunhão perfeita entre uma estratégia on e uma estratégia off. A gente não pode esquecer que existem meios off line capazes de nos auxiliar muito. Até porque nem todo mundo já está no digital. Então, o que faz o profissional do século 21 é sempre um pensamento estratégico atrelado ao pensamento criativo”, reflete Alessandra.

Capítulo à parte, a dimensão ética também perpassa o currículo para desembocar nos necessários e queridíssimos projetos integradores. Assim é que, ao longo de um semestre inteiro, temáticas de cunho social e relevância pública entram anualmente em pauta. “Esse ano, o tema foi publicidade antirracista. Mas a gente já trabalhou com violência contra a mulher, necessidade de inclusão do público LGBTQIA+ e outros tantos. O objetivo é que o publicitário seja mais cuidadoso em seus discursos. E quando a gente mostra as peças publicitárias antigas, reforçando estereótipos e preconceitos, até pra dizer o que não pode fazer, os novos alunos e alunas já demonstram um senso crítico aguçado. Ética não se ensina, mas a gente pode estar mais atento e cuidadoso com o que fala, mostra e escreve. A publicidade tem um papel central nisso de evitar olhar para as pessoas dentro daquela bolha heteronormativa. E esse vem sendo um dos propósitos principais do curso”, conclui a professora.

A criatividade está no ar

De repente, nada seria como antes. E a Publicidade precisou colocar à prova toda a sua capacidade de adaptação ao admirável mundo novo digital. Para a publicitária e hoje empresária Mariana Marques, que saiu graduada do curso de Publicidade e Propaganda da Unifor em 2004, a troca de pele da profissão foi desafiadora, mas também reveladora de horizontes bem mais amplos de atuação. 

“Descentralizar o próprio fazer publicitário, tirando o foco de meia dúzia de meios de comunicação hegemônicos, foi uma virada marcante. Hoje, cada cabeça pode ser uma mídia, um produtor de conteúdo, um agente de comunicação para a difusão de uma ideia ou produto. Mas antes foi preciso aprender de novo e se deixar desafiar por um mercado muito mais democrático, que permitiu o acesso à publicidade das pequenas empresas que não dispunham de verbas enormes para ter alcance. Acompanhei isso ao vivo e gostei de ver muita gente nova mostrando trabalho e eficiência logo de partida.  É isso: temos que dançar outras tantas músicas”, destaca a empreendedora que assina as marcas Auê Feira, Pana Têxtil e Tempo chamado Tempo.


A Auê Feira Criativa é movida pelas ideias da publicitária Mariana Marques (ao centro), do designer Pedro Mourão e do engenheiro Bruno Valente (Foto: Roni Vasconcelos) 

“Além de me dar base técnica e teórica, a universidade abriu minha cabeça e me preparou para o que se anunciava no mercado sem abrir mão de uma aposta pedagógica pautada pela criatividade”, diz Mariana Marques

À formação na Unifor, ela credita sua própria versatilidade e coragem para mudar de foco, trocando as agências de publicidade pelo empreendedorismo colaborativo. “Só 21 anos depois de formada me tornei empreendedora de marcas, produtos e ideias minhas e de outras pessoas. Hoje toco a Auê Feira em parceria com o designer Pedro Mourão e o engenheiro Bruno Valente. E lembro que quando começou, em 2018, eram 40 expositores em praça pública. Atualmente o cadastro registra 600 marcas de criadores. O sucesso dessa iniciativa me trouxe confiança para ir além e empreender mais, investindo numa marca de redes de dormir e na minha veia artesã, que me levou a colocar frases em objetos de cerâmica”, relata Mariana. 

Em tudo isso, ela acredita, tem dedo da formação superior em P&P vivenciada na Unifor. “Além de me dar base técnica e teórica, a universidade abriu minha cabeça e me preparou para o que se anunciava no mercado sem abrir mão de uma aposta pedagógica pautada pela criatividade. O campus é, por inteiro, criativo. E sorvi de tudo lá dentro: foi em meio aos laboratórios de última geração que peguei pela primeira vez em uma câmera digital assim como veio de lá minha primeira oportunidade no mercado de trabalho. Mas foi lá também que me iniciei nas artes, fazendo parte do Grupo Mirante de Teatro, ouvindo as apresentações da Camerata da Unifor e assistindo aos espetáculos no Teatro Celina Queiroz. Isso não é pouco, como não é exagero afirmar que me construí como a profissional e a pessoa que sou durante a minha graduação na Unifor”, credita Mariana. 

Boas-vindas à tecnologia

“Nem tinha ideia do que era o mercado de publicidade aos 17 anos, quando ingressei na faculdade, mas acho que foi uma bela de uma grande sorte porque me dei muito bem no ambiente acadêmico plural e gerador de oportunidades da Unifor”, dispara a publicitária Virna Benevides, egressa da turma de 2012 do curso de Publicidade e Propaganda. 

Interessada em planejamento estratégico, inteligência artificial, internet das coisas e mídias locativas desde o início da graduação, a aluna que logo se tornou monitora da disciplina Comunicação e Novas Tecnologias não demorou a ser descoberta por um setor do mercado publicitário ainda novo. “Depois de participar de muitos congressos científicos Brasil afora, sempre com o apoio da universidade, passei a dar aulas como estagiária-bolsista na graduação e assim fui descoberta por uma startup de chatbots que me convidou para trabalhar com análise de dados e desenvolvimento de produto. Ou seja, tudo o que aprendi no curso de Publicidade vem me servindo para entender as necessidades dos clientes e ajustar nossos produtos para eles, de forma que possamos alavancar os pequenos e médios empresários, nosso público-alvo”, aferra a profissional diretamente responsável pelo sucesso de uma clientela que só cresce.

E Virna convida: “é muito próspero o mercado de startups. E tanto o Parque Tecnológico como o complexo de laboratórios de última geração do curso de P&P dão todo o suporte para que o aluno Unifor possa emplacar novas ideias e profissões. Há muita criatividade dentro do curso e as startups, hoje dominadas pelos engenheiros, podem crescer muito com a presença dos publicitários”. Para ela, que é prova disso e não se imaginava seguindo tal carreira anos atrás, a graduação foi pré-requisito básico para chegar aonde chegou. 


A publicitária Virna Benevides destaca a pluralidade e a geração de oportunidades propiciadas pelo ambiente da Universidade de Fortaleza (Foto: Arquivo pessoal)

“Tudo o que aprendi no curso de Publicidade vem me servindo para entender as necessidades dos clientes e ajustar nossos produtos para eles, de forma que possamos alavancar os pequenos e médios empresários, nosso público-alvo”, explica Virna Benevides

“Me apaixonei por P&P porque tive uma formação de fato heterogênea, que abriu muito a minha mente. Eu era muito nova e muito quadrada quando entrei no curso. Hoje sou capaz de conviver com alteridades, de desenrolar problemas, de transformar uma realidade a partir de pequenas ações estratégicas e criativas. O mercado continua superdesafiador, mas acho que, cada vez mais, o profissional que se destaca é aquele que consegue se dar bem nas adversidades, ter habilidade para ser maleável e encontrar saídas, sendo resolutivo à revelia das mudanças”, destaca Virna.
Made in Ceará

Publicidade não sai de moda. É o que literalmente demonstra o publicitário Gabriel Baquit, criador da marca Baba e responsável pelo sucesso de vendas de peças e estamparias inspiradas no imaginário cearense. Aos 16 anos, quando ingressou no curso de graduação em P&P da Unifor, já sabia que essa seria a profissão ideal para quem tinha em casa o incentivo da mãe para trabalhar no mesmo ramo que ela. “Herdei a vocação familiar e a expertise nata para criar looks, mas também sabia que era em comunicação e marketing que queria investir para fazer a diferença. E foi esse conhecimento que de fato agregou valor ao meu trabalho de direção e produção de estampas, já que me tornei muito bom em divulgação. E isso se faz perceber pela interação e respostas dos clientes no Instagram. Então, não podia ter feito escolha melhor”, credencia.   


O publicitário Gabriel Baquit é uma das mentes por trás da Baba, loja de moda autoral com peças inspiradas em referências locais (Foto: Arquivo pessoal)

“Acho que graças à minha formação em Publicidade consegui comunicar bem a proposta da Baba, que é criar peças plurais e estampas que fazem referência às paisagens e cultura do Ceará”, explica o publicitário Gabriel Baquit

Para Gabriel, qualquer negócio hoje depende muito da produção de conteúdo e saber dar o recado com criatividade é meio caminho andado para despontar no mercado de trabalho. “Acho que graças a minha formação em Publicidade consegui comunicar bem a proposta da Baba, que é criar peças plurais e estampas que fazem referência às paisagens e cultura do Ceará. Também está clara a mensagem de quem escolheu valorizar o que é nosso quando informo que optei por só trabalhar com artistas cearenses no desenvolvimento de estampas. Toda a nossa produção, aliás, é feita no estado, inclusive contando com fornecedores locais. Hoje, vendemos para o Brasil todo pelo site, já vestimos alguns famosos, trabalhamos bastante com influencers e penso que crescemos assim, lançando mais recentemente a Baba Lab, um espaço colaborativo que reúne outras marcas cearenses autorais, porque o marketing criativo tem poder”, diverte-se o jovem empresário que abriu as portas do próprio negócio em 2018, prosperando à revelia de uma pandemia global.