null O direito de sonhar e realizar

Seg, 12 Julho 2021 15:46

O direito de sonhar e realizar

Histórias de estudantes bolsistas que conquistaram oportunidades de crescimento por meio do esforço e da dedicação 


Incentivo ao esporte e à educação de excelência: Unifor oferece bolsas de estudo aos alunos-atletas. Na foto, Maria Clara Medeiros, aluno de Fonoaudiologia e atleta do time de vôlei (Foto: Ares Soares)
Incentivo ao esporte e à educação de excelência: Unifor oferece bolsas de estudo aos alunos-atletas. Na foto, Maria Clara Medeiros, aluno de Fonoaudiologia e atleta do time de vôlei (Foto: Ares Soares)

Resiliência à toda prova. Matheus Abílio Nunes não havia sequer concluído o Ensino Médio quando atravessou pela primeira vez os portões da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz. Extasiado com a beleza do campus e já ciente do ensino de excelência praticado na Unifor, o estudante de escola pública era mais um dos moradores da periferia de Fortaleza que, ao passar pelo crivo do projeto Mediação de Conflitos, proposto e coordenado pelo programa de pós-graduação em Direito, se beneficiou com uma ação de impacto social voltada à promoção da cultura de paz junto a jovens líderes em potencial vinculados ao sistema público de ensino e capazes de repercutir conteúdos e expertises de teor jurídico em suas salas de aula de origem.  

“Quando fui selecionado para o projeto, que inicialmente se chamava Mediação Escolar, ganhei uma ajuda de custo de cem reais como bolsista de iniciação científica júnior e isso me permitiu descobrir como funcionava o ambiente acadêmico. Para mim, que venho da periferia e de escola pública, aquilo tudo parecia outro mundo... O acesso aos professores, que eram alunos do curso de graduação em Direito, foi extraordinário e me impactou a ponto de sonhar ser um deles futuramente. Mas parecia um sonho impossível, já que minha família não teria condições financeiras para bancar a Unifor”, rememora o hoje concludente da graduação de seus sonhos. 


Matheus sonhava em cursar Direito na Unifor e conquistou o diploma de bacharel conciliando trabalho e estudos (Foto: Acervo pessoal)

Aos 24 anos, Matheus se orgulha em contar como conquistou, a duras penas, o diploma de bacharel em Direito, depois de conciliar trabalho e estudos, além de cavar oportunidades para acessar bolsas de estudos ofertadas internamente na Unifor. “Quando passei no vestibular e escolhi a Unifor, sabendo que minha mãe e meu pai, ambos assalariados ganhando não mais do que um salário-mínimo, não poderiam pagar as mensalidades começou a minha luta: a de conseguir financiamento pelo Fies, que, na época, havia sofrido um corte federal. Enquanto não vinha, cinco pessoas da minha família se cotizaram e me ajudaram a pagar os dois primeiros meses, mas eu cumpria o mínimo de disciplinas. Já estava quase desistindo quando enfim fui contemplado com 90% do Fies, ao mesmo tempo em que fui selecionado, por mérito acadêmico, para um estágio na vice-reitoria de pós-graduação. Isso me possibilitou pagar os 10% restantes e me fez permanecer na graduação”, reconhece o egresso.

O esforço digno de nota foi de alguém que, paralelamente, cumpria expediente noturno na loja de acessórios para celular do tio ou assando espetinho como meio de sobrevivência. E que nem por isso deixou de se envolver em projetos de pesquisa, grupos de estudos e até com o Centro Acadêmico do curso de graduação em Direito. Recém-formado, Matheus pode comemorar: “muito do que eu sou hoje vem da Unifor e das oportunidades de aporte financeiro e crescimento intelectual que encontrei lá dentro. Aprendi a me relacionar com as pessoas, fortalecer as amizades e conexões, além de poder completar um ciclo de empoderamento quando passei a ser professor do projeto Mediação em Conflitos como bolsista-voluntário, compartilhando minha experiência de vida e meus conhecimentos com alunos de escolas públicas. Ou seja, me tornei um líder para outros jovens, inspirando a mesma transformação social que hoje me possibilitou melhorar a situação financeira da minha família, fortalecendo nosso pequeno comércio e empreendendo através da venda virtual de artigos de moda praia. Ainda é tudo modesto e difícil, mas meu mundo já é outro porque sou o único graduado com capacidade para avançar bem mais”.
 

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Páreo duro: os pais queriam que ela focasse nos estudos, deixando as quadras esportivas em segundo plano. Afinal, ingressara no Ensino Médio e a “brincadeira de criança” precisava dar lugar à seriedade do preparo para a carreira profissional. Mas o vôlei lhe era tão irresistível quanto o ingresso no mundo acadêmico. E veio o lance de sorte. Jogando desde o início da vida escolar, Maria Clara Medeiros, 21, ouviu do próprio treinador que, caso apostasse no seu talento como atleta, poderia não só vir a integrar o time da Universidade de Fortaleza como conquistar internamente uma bolsa de estudos para cursar qualquer graduação.

Dito e feito. Fez o teste e garantiu a bolsa-atleta antes mesmo de saber que graduação escolher. “Minha família não teve como se contrapor a minha escolha por seguir jogando vôlei paralelamente à graduação. Sonharam em me ver na universidade pública, mas como 40% do valor da minha formação superior já estava garantida, graças ao esporte e às benesses que a Unifor proporciona aos atletas universitários que trazem resultados para os seus times, cederam e me apoiaram, cobrindo a diferença das mensalidades. Optei pela Fonoaudiologia e foi uma junção perfeita porque é um curso com menor carga horária e tanto a coordenação quanto os professores já se habituaram a adaptar a grade curricular à rotina de viagens dos atletas da casa que, para competir, às vezes precisam se ausentar, recuperando faltas posteriormente”, relata Maria Clara.

Estudante de Fonoaudiologia, o talento no esporte garantiu à Maria Clara uma bolsa de estudos durante toda a graduação (Foto: Acervo pessoal)

Que vença a disciplina. Porque de onde vêm as facilidades também chegam as cobranças. “Não posso reprovar em nenhuma disciplina, se não perco a bolsa, comprometendo minha trajetória como atleta e graduanda. Mas já estou acostumada a conciliar esporte e estudos, então me esforço e faço trabalhos extras para compensar, me desdobrando para cumprir os estágios obrigatórios e manter as boas notas. Além disso, temos muitos estímulos internamente. Nosso time de vôlei foi campeão universitário em 2019 e, como prêmio, por um ano minha bolsa saltou de 40% de abatimento para 100%. Como 2020 foi ano de pandemia, esse benefício se estendeu para 2021, de modo que vou cursar gratuitamente a graduação até o final, já que estou no 8º semestre”, vibra.

A atleta-bolsista não se regozija sozinha dos benefícios que uma aluna Unifor pode acessar. “Há oportunidade de bolsa para quem assume monitoria em disciplinas da graduação e também seleção de bolsistas de iniciação científica para contribuir com pesquisas desenvolvidas internamente. Todo semestre, a melhor nota do curso ganha 20% de desconto na mensalidade subseqüente e os atletas de alto rendimento em situação de vulnerabilidade social podem contar com ajuda de custo à parte, alojamento bancado pela Unifor, alimentação e plano de saúde. Então, não são poucos os valores agregados que temos na Unifor e não existem em outras universidades. Aqui há ensino de excelência e valorização de fato ao esporte, diferenciais que fazem valer à pena qualquer esforço ou investimento”, garante Maria Clara. 
 

Até os 17 anos, Alan Sousa morou em Pacatuba com a mãe, enfrentando em família um longo período de dificuldades financeiras e a difícil convivência com o pai policial militar, com quem acabou rompendo os laços afetivos desde que decidiu assumir-se homossexual. Desde criança, tinha fascínio por fotografia e quando enfim ganhou de presente a própria câmera não perdeu uma só oportunidade de aprender informalmente com quem se dispusesse a ensinar-lhe as técnicas. A cumplicidade e apoio maternos encorajaram o então estudante do Ensino Médio a vir fazer vestibular em Fortaleza e, àquela altura, a paixão pela imagem já falaria mais alto na escola da graduação: o desejo era cursar Cinema.

Entre o querer e o poder, no entanto, os desafios se emparelharam: Alan precisou morar com familiares e assumir todo e qualquer subemprego que lhe garantisse a sobrevivência. Trabalhava de 8h às 20h para também ajudar a mãe e sempre batia na trave em sucessivos vestibulares. Nesse ínterim, conheceu o companheiro com quem hoje é casado e com apoio extra trabalhou duro numa cozinha de restaurante até fazer uma “caixinha” para tentar viabilizar o sonho, que agora era ainda mais ousado: cursar Cinema na Universidade de Fortaleza, instituição sobre a qual já vinha pesquisando via internet e era validada pela rede de amigos que fez em cursos livres e gratuitos afins. 

Do desejo de fazer Cinema às conquistas: Alan Sousa destaca a gratidão como o principal legado das dificuldades que enfrentou (Foto: Acervo pessoal)

Apostei tudo numa jogada de risco: fiz um acordo com meus empregadores para que me demitissem e calculei que esse dinheiro daria para eu bancar dois meses de Unifor. Passei no vestibular e enfim ingressei na universidade em 2017. A partir daí dei tudo de mim e fui me destacando como aluno e realizador, assinando direção e roteiro de vídeos e curtas premiados em festivais. Mas foi ficando difícil pagar as mensalidades e consegui um emprego de fotógrafo no Porto Iracema, passando a conciliar trabalho e estudo. Cursava o mínimo de disciplinas e como estava sempre atribulado de trabalho já não rendia tanto no curso. Foi quando me vi forçado a trancar. Mas, numa negociação interna, diante da visibilidade dos produtos que vinha entregando, me deram uma bolsa de 50% de abatimento, por mérito acadêmico. Isso me deu um fôlego novo e assim pude seguir na graduação”, recorda Alan.

Dado o benefício, as notas de Alan voltaram a impressionar os professores do curso de graduação em Cinema. Aos 30 anos, pode enfim bater no peito, com orgulho: “olhando para trás me resta muita gratidão. Naquele momento, as mensalidades consumiam 70% do meu orçamento e essa dificuldade financeira poderia sim ter me feito desistir do meu sonho. Depois da bolsa parece que fiquei com mais sangue no olho ainda e próximo semestre já vou me dedicar ao TCC. A troca com estudantes e professores tão qualificados também foi um estímulo imenso. Contamos com um corpo docente recheado de nomes referenciais no cinema e audiovisual brasileiros, realizadores experientes e premiados. Nunca imaginei vir a ter condições para bancar uma formação de excelência como essa e botar as mãos em um diploma tão cobiçado e respeitado como o da Unifor”, credencia o futuro realizador, particularmente feliz com “Circuito”, o mais recente filme contemplado em edital através da Lei Aldir Blanc.  

O falecimento súbito e recente do pai, esteio da família, em decorrência de infarto, pôs em risco a continuidade dos estudos de Moisés Brito, graduando do curso de Engenharia Civil da Universidade de Fortaleza. A mãe, dona de casa sem renda fixa, não teria como seguir pagando as mensalidades do filho e coube a ele encontrar, no próprio ambiente acadêmico, alternativas para seguir a jornada tão sonhada por ambos - e particularmente incentivada por ela, uma egressa do já extinto curso de Contabilidade. “Já havia sido aprovado para cursar Engenharia noutra faculdade, mas havia optado pela Unifor justamente porque minha mãe sabia, de cátedra, a qualidade diferenciada do ensino, pesquisa e extensão no campus. Então, não podia deixar de fazer jus a uma aposta que era nossa e corri logo atrás de uma monitoria. Como tinha boas notas, consegui então me tornar bolsista do programa de iniciação à docência. E assim segui por dois anos ganhando quatrocentos reais, valor todo aportado no pagamento das minhas mensalidades. Ao fim de dois anos, o aluno pode concorrer à outra monitoria e novamente consegui ser aprovado e contemplado com outra bolsa. É uma seleção difícil, em três fases, mas me orgulho de ter conquistado por duas vezes esse benefício que é dado por mérito acadêmico”, regozija-se Moisés.

Aluno do curso de Engenharia Civil, Moisés conquistou por duas vezes bolsas de mérito acadêmico (Foto: Acervo pessoal)

Ao concluir o 9º semestre, o futuro engenheiro sabe bem o valor agregado ao seu esforço: “a bolsa foi e é fundamental para que eu venha a concluir a graduação, mas também corri atrás de grupos de estudos, minicursos e estágio. Estagiei internamente no Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em um escritório de arquitetura e foi uma experiência maravilhosa em termos de profissionalização. Mas foi na monitoria que me encontrei de verdade, decidindo apostar na docência. Tanto que, ao findar a graduação, já planejo emendar em uma pós, com vistas ao mestrado e doutorado. E o melhor: por ser bolsista posso iniciar a pós pagando somente o valor já pago na graduação. São muitos os incentivos do tipo ofertados pela Unifor e isso torna a universidade cada vez mais acessível. Engana-se quem pensa o contrário. Tenho poucos amigos, aliás, que se mantêm na Unifor com recursos próprios. Boa parte conta com FIES, faz estágios ou consegue bolsa de estudos”.

Moisés também considera uma economia poder contar com a infraestrutura da Unifor. “Ter acesso a uma biblioteca sempre com títulos atualizados e aos laboratórios de ponta espalhados pelo campus faz toda a diferença também na nossa formação, porque não precisamos pagar cursos por fora ou investir em conteúdos extras. Outra vantagem que também representa otimização do tempo acadêmico - e tempo é dinheiro – é o estímulo que temos, desde os primeiros semestres, a empreender. Estou com dois projetos em curso e um deles é on-line, voltado a alunos do Ensino Médio ou dos primeiros semestres que se interessam em conhecer ou aprofundar o conhecimento em Engenharia. A grande maioria desses alunos particulares, aliás, é de graduandos que passaram por mim na monitoria, então até como bolsista consegui abrir caminho para a geração de uma renda extra”, comemora o já empreendedor.