null A pandemia cria novas etiquetas digitais: como se comportar nas aulas online?

Qui, 13 Agosto 2020 15:40

A pandemia cria novas etiquetas digitais: como se comportar nas aulas online?

Confira quais são os hábitos e as normas de conduta para quem utiliza rotineiramente o meio virtual 


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Para manter o distanciamento social, o "cumprimento de cotovelos" substitui os abraços e apertos de mão (Foto: Ares Soares)

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Sabe aquela regrinha já introjectada de parar em frente ao sinal vermelho? Atravessar na faixa de pedestre? Entrar na fila e esperar a sua vez? Pedir um favor e agradecer por algo? Tudo isso nada mais é do que etiqueta social, algo como um padrão de comportamento adotado em nome da necessidade de adequação a cada ambiente ou situação de convívio grupal, além de um sinal de respeito às diferentes sensibilidades de um coletivo.  Pois em tempos de pandemia e hipervirtualização das relações humanas a nova palavra de ordem é “netiqueta”: um conjunto de normas de conduta que devem ser observadas e cumpridas por quem usa rotineiramente a internet como canal de interação ou compartilhamento de saberes e fazeres. 

Na sala de aula remota, estar em dia com as “netiquetas” tem se tornado condição básica para tornar fluido e eficiente o processo de ensino-aprendizagem. É o que comprova e agora propaga a professora-doutora em tecnologias educativas e assessora da Vice-Reitoria de Graduação da Universidade de Fortaleza (Unifor), instituição da Fundação Edson Queiroz,  Alessandra Alcântara, ao tratar sobre o início do período letivo referente à 2020.2, previsto para o próximo dia 17 de agosto próximo: “As aulas serão 100% online. Portanto, antes de tudo, é preciso que professores e alunos estabeleçam um contrato de convivência, onde ambas as partes devem estar de acordo com as regras. Algumas delas descobrimos e experimentamos na prática e no calor da hora, quando nos vimos levados pela pandemia à transição súbita do presencial para o real. Primeira dica, portanto: ao entrar na sala de aula virtual se certifique que o microfone está desligado para que o ruído do ambiente não interfira na atividade síncrona. A ordem é entrar em silêncio e só quando for o caso de fazer alguma intervenção restabelecer o áudio”. 

E como pedir a palavra sem atrapalhar o andamento da aula remota? Entre erros e acertos, o uso experimental das ferramentas digitais ao longo do semestre passado também ensinou: “para que o professor não perca a linha de raciocínio, melhor se manifestar através do chat, que é um instrumento de mensagem automática comum a todos e que equivale a levantar a mão para pedir a palavra. O professor vê a solicitação no chat e então escolhe a melhor hora de chamar o aluno. O mesmo vale para quem precisar sair antes do término da aula. Pede desculpas e justifica pelo chat, saindo discretamente para não causar dispersão”. 

Atentar para as “netiquetas”, no entanto, não significa sacrificar a interação ou o feedback no ambiente acadêmico. Ao contrário. A postura participativa é essencial no processo interativo digital e pode ser captada através de áudio ou vídeo.  “Para o professor, é condicionante: a câmera tem que estar ligada. O aluno precisa ver o professor, é o gancho para o encontro. Para os alunos: tem que ter cuidado com a câmera ligada, porque às vezes nem sabemos o alcance que ela tem. Mas também é importante para o professor ver o aluno engajado no processo. Ao mesmo tempo, todas as câmeras ligadas podem sobrecarregar a rede ou distrair o professor. Portanto, isso tem que ser negociado a cada aula também”, pondera a professora.

Para ela, as atividades síncronas também pedem bom senso e maturidade. “O aluno tem que se dar conta de que ele está em contexto de sala de aula, mesmo que virtual. Portanto, tem que se preparar para isso. Ou seja, tome um bom café, troque de roupa, sente à mesa, se prepare para tomar nota. Esse ambiente precisa ser criado para que a atenção esteja voltada para aquele momento síncrono em que docente e discente estarão interagindo diretamente e em tempo real, embora a distância”, alerta Alessandra. Dica para o professor: proponha atividades diferentes numa mesma aula: debate, exercício, gameficação, powerpoint. As tecnologias disponíveis vão de uma folha de papel à inteligência artificial. E tudo isso pode e deve ser experimentado numa aula remota, a fim de que não se torne enfadonha. Daí porque propor momentos de engajamento e participação é ponto pacífico. 

Ao corpo docente da Unifor, a também coordenadora do programa de formação docente da Vice-Reitoria de Graduação diz mais: “a experiência vivida mostrou que não se deve sobrecarregar o aluno com atividade assíncrona para se chegar ao rendimento esperado. Educação remota é diferente de Educação a Distância (EAD). Nela, o professor é o elemento-chave e está presente, ainda que virtualmente, para ajudar o aluno a interagir com o material didático, embora do aluno também se espere que seja muito ativo e disciplinado para usufruir do que foi indicado pelo professor, inclusive para momentos assíncronos. Estamos aprendendo a pensar a educação como uma experiência complexa. Temos bons e inúmeros instrumentos para isso e fomos capacitados ao longo do primeiro semestre para pensar as aulas já no formato digital, o que é bem diferente de uma transposição linear do presencial para o virtual. A aula tem que continuar sendo uma situação experiencial de ensino-aprendizagem”. 

Professora do curso de Direito da Universidade de Fortaleza (Unifor) e também assessora da Vice-Reitoria de Graduação, Janine Braga chama atenção para o Plano de Ensino de cada disciplina, espécie de roteiro a ser seguido e compartilhado previamente entre professores e alunos.  “No cronograma, já se indicam previamente as atividades síncronas, a fim de que o aluno possa se preparar. Textos, vídeos, podcasts, questionários. Alguns estudos mostram que é importante conjugar o momento síncrono de discussão com atividades assíncronas. Então a dica é o aluno se apropriar disso logo de início como um mapa de navegação”, sugere. Para Janine, o espaço escolhido pelo aluno para assistir à aula também não é mero detalhe. Tentar compor um ambiente reservado e silencioso, dentro do possível, permite a necessária concentração na aula. Junto a isso, a dica, para o aluno, portanto, é levar ao local escolhido todo o material que irá precisar consultar ou manusear, incluindo sua garrafinha de água ou chá. Tudo para evitar interrupções ou dispersões. 

Para Janine, as aulas online têm uma duração menor do que os encontros presenciais justamente porque o maior desafio é conseguir manter a qualidade da atenção do aluno, o que também depende de uma boa conexão à internet. “E aí nos deparamos com o ideal e o possível: alguns alunos dispõem de wi-fi e pacotes de dados que comportam a interação. Aqueles que não têm podem tentar identificar ambientes públicos em que há wi-fi para facilitar acesso e conexão. Oportunamente, também teremos espaços no campus para essa conexão. Mas tudo de acordo com a flexibilização do distanciamento social expresso através de decreto governamental e rigorosamente seguido pela Unifor. As atividades acadêmicas presenciais estão sumariamente suspensas, como medida de proteção e controle do novo coronavírus. Mas tão logo o acesso gradual seja liberado, a possibilidade de uso da área aberta do campus para acesso à internet será analisada. Isso está previsto para setembro, mas tudo em conformidade absoluta com os protocolos de biossegurança”, adianta a também responsável pela Assessoria Especial de Pessoal Docente (AEPD).

E se a hora e a vez são do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) da Unifor é preciso que as videoconferências sigam sim regras básicas de etiqueta. “O primeiro ponto que destaco é o horário da disciplina. O aluno deve estar on line pontualmente nos dias e horários estipulados. E daí o professor combinará logo no início do semestre como será a interação, lembrando que todos entram no ambiente de videoconferência com microfone desligado. O uso da câmera também será acordado entre quem participa daquele evento síncrono. Importante estar adequadamente vestido. Sem camisa, em trajes menores não. O encontro acadêmico pede vestimenta adequada para aquele momento. E deve haver interação. É muito importante tirar dúvidas, compartilhar ideias, dar sugestões, relatar experiências e situações da vida prática para aplicação do que está se discutindo. A construção coletiva do aprendizado só se dá quando o aluno participa e torna mais rico o encontro”, enfatiza Janine.

Evitar uma atitude passiva, mas também os possíveis fatores externos que podem levar à desconcentração. “O aluno não deve realizar outras atividades naquele momento. Nada de ouvir música, assistir a um vídeo que não é da disciplina, emendar um bate papo paralelo... A aula on line é exatamente como era a presencial. É preciso foco”, aferra a professora. E se os imprevistos de ordem tecnológica aparecerem é importante que o aluno comunique de imediato ao professor. “É mantendo o contato com o corpo docente e a coordenação que se poderá dar uma orientação específica para cada caso. De qualquer forma, as aulas online são gravadas e ficam disponibilizadas para o aluno no AVA. Aquele que perdeu deverá acessar posteriormente”, garante.  

Contornar mal entendidos e buscar a empatia em comunicações via internet é mais um dos desafios que, segundo a bióloga e professora do Núcleo Comum (Eixo Bases Técnicas) do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Unifor, Marina Lobo, aulas 100% remotas trazem em si.  “Quando a gente está se comunicando virtualmente não vemos o rosto nem ouvimos o tom de voz do interlocutor, então fica complicado aferir sentimentos e mesmo ideias. Assim, é comum que surjam ruídos ou pequenos deslizes e atos-falhos, até pela falta de conhecimento mesmo sobre como se comportar naquele ambiente virtual. E o ambiente acadêmico, a rigor, é um ambiente formal. Portanto, algumas vezes, essa formalidade pode passar a sensação de distanciamento ou até mesmo frieza. Assim, o uso de algumas gírias, emojis, se bem empregados, podem trazer a aproximação necessária, uma certa impessoalidade que as relações a distancia necessitam para ficarem mais reais. Mas tudo com cuidado e emprego adequado”, sugere.

Para a professora, o básico das “netiquetas” também precisa ser sistematicamente lembrado. “Meia hora antes de sua aula, verifique o sinal de sua internet. Se tiver algum problema, vá para outro lugar que tenha um sinal melhor. Um ambiente tranqüilo e confortável da casa também é bom para se concentrar. Mas se a cozinha está ali pertinho, se outros membros da família circulam ou ligam a televisão é preciso tentar entrar em acordo com eles também, a fim de salvar pelo menos aquelas horas de encontro síncrono. Assim, há de haver respeito mútuo. O professor também tem que entender que, às vezes, vai ter barulho criança em determinado espaço doméstico e a demonstração de empatia é que vai tranqüilizar o aluno e tornar o momento virtual produtivo”, observa Marina.

E, afinal, é obrigatório ligar a câmera em aulas remotas? Para a professora, o aluno tem que se sentir confortável para isso. Mas ela fala por si: “já tive aulas remotas ao longo da pandemia em que todos estavam com a câmera desligada, como também o microfone. Isso dava uma sensação horrível. Porque você acha que está falando sozinho, embora sejam 40 numa mesma sala virtual. A falta de ver e ouvir o outro é perturbador, sobretudo para o professor. Daí porque uma vez que o aluno e o professor permitam ligar  a câmera pode ser uma boa. Isso melhora a comunicação. Ao mesmo tempo, é preciso ter cuidado com a câmera. Às vezes a gente esquece que está sendo observados.  Então não dá para ser em um ambiente onde esteja passando muita gente ou alguém seja surpreendido em trajes íntimos porque isso gera constrangimento. O mesmo vale para o compartilhamento de tela. Cuidado para não compartilhar junto a algum documento sigiloso”. 

Para os professores, a dica de Marina é planejamento do começo ao fim. “Escolher bons equipamentos, ter uma boa câmera, um bom microfone... Tudo porque uma imagem boa, com boa resolução, tem mais chance de reter o telespectador. Somos muito visuais então a nitidez, assim como a iluminação são importantes. Nada de dar aula em uma sala escura, para o aluno fazer esforço para enxergar você. Isso o tira do foco da aula. Então, estar próximo à luz solar ou a uma janela e se valer de equipamentos apropriados criam um cenário adequado. Atrás de mim sempre prefiro uma parede lisa, justamente para não roubar a atenção do aluno. Mas se o pano de fundo for instrutivo ou alegórico de alguma forma ele pode sim entrar no contexto da aula remota, a depender da criatividade de cada um”, considera.

E quando as aulas presenciais retornarem?

De volta ao começo: do virtual para o real. Ou bem-vindos ao novo normal. Se mudanças de comportamento começam a revolucionar por completo o mundo que conhecemos, como proceder quando pudermos, novamente, nos reencontrar? Não há fórmula alguma para prever o futuro, mas é premente a necessidade de, desde já, se repensar modos de vida e formas de convivência. Lançando mão de criatividade, eficiência e inovação, a Universidade de Fortaleza (Unifor) também vem se preparando para o momento em que o presencial irá mostrar a sua cara. E “cuidado” é a palavra de ordem que toda a comunidade acadêmica elegeu como protagonista de normas, manuais, ações, adequações, treinamentos. 

“A principal preocupação como educadores é, desde já, com a biossegurança e a saúde dos educandos. Aprendemos com a pandemia que olhar o outro com cuidado ou cuidar do outro é a nossa principal missão ou propósito. E veja que não falo de obrigação. Vamos enfrentar o desafio não porque é obrigado, mas pelo respeito e cuidado com o coletivo. A gente sai de uma perspectiva individualista muito claramente e pensa no outro. Em primeiro lugar, a saúde do próximo, o cuidado com o meu aluno. Eis o momento em que a gente, como professor, desenvolve uma competência relacional que rebate na comunidade educacional como um todo. O eu acima de tudo, que guiou a sociedade de consumo, teve que forçosamente parar e pensar no nós. Por isso, quando acontecer a volta ao presencial, todos os protocolos de biossegurança serão seguidos rigorosamente na Unifor. E teremos aí uma nova forma de educar e cuidar com o outro caminhando junto”, reflete a professora Alessandra Alcântara.

Número limitado de pessoas por espaço. Sinalização em todo o campus para distanciamento seguro. Uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Dispensadores de álcool em gel em cada espaço acadêmico. Distribuição de máscaras. Equipe de limpeza devidamente treinada e orientada para a higienização dos espaços em diferentes horários. Seguindo um rigoroso Protocolo de Biossegurança, abalizado por decretos, prerrogativas e normas estabelecidas por autoridades sanitárias e governamentais, a Unifor absorve e segue cada protocolo indicado para conter a transmissão do novo coronavírus e zelar pela saúde de seus corpos docente e discente. Aos alunos e professores, caberá a capacidade de fundir-se ao padrão de seus iguais, sem ferir suas sensibilidades, lembrando que cada ato ou comportamento adotado no momento da volta às aulas presenciais é também um aceno de respeito ao outro e cuidado com a sua própria saúde. 

Há dicas prévias para você que quer demonstrar que se importa com o outro:

Primeiro: usar máscara de rosto. Pode ser de pano, TNT, meia, ou até mesmo aquelas descartáveis. Se quiser usar assim que estiver na rua, melhor ainda, se não, lembre-se sempre de colocá-la ao entrar na universidade.

Carregar na mochila máscaras reservas e um frasco de álcool gel! Não ocupam quase nenhum espaço e podem ser seus grandes aliados. Cada aluno também deve levar consigo a sua garrafinha pra não fazermos uso dos bebedouros comuns. 

Lembre-se da etiqueta da tosse! Em público ou sozinho, ao tossir e espirrar, jamais faça isso sem cobrir a boca e, nunca cubra com as mãos. Cubra o rosto com o braço e de preferência com algum lenço descartável entre a pele do braço e do rosto, assim você deverá descartá-lo imediatamente após o uso e limpe o local em seguida com álcool ou água e sabão.

É quase involuntário cumprimentarmos as pessoas com abraços e os famosos dois beijinhos no rosto. Mas o momento é de se reinventar, portanto deixe o clássico cumprimento para outra hora e abuse da sua criatividade para saudar as pessoas de longe. Se você está encarando uma saudação indesejada, a linguagem corporal pode ajudar bastante na comunicação de suas intenções, e as palavras podem transmitir tanto calor quanto o toque físico. Sugestão: “coloque as minhas mãos na frente, como um sinal de parada, na altura dos ombros. E diga: 'Estou muito feliz em te ver', expressando pelo tom de voz carinho e acolhimento, apesar da recusa.

Um pouco de humor também pode ser de grande ajuda: você pode explicar de um jeito bondoso, dizendo algo como 'puxa, eu queria tanto poder apertar sua mão! É uma boa maneira de lembrar às pessoas que o gesto não é aceito no momento. 

Confira o UniForCast - Episódio: Os desafios para a educação no cenário Pós-pandemia

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