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Seg, 29 Novembro 2021 10:55

Pelo direito de envelhecer: ação proporciona lazer e cultura para a terceira idade

Iniciativa foi realizada pelo curso de Especialização em Gerontologia da Universidade de Fortaleza


Estatuto do idoso garante melhor qualidade de vida com autonomia, saúde, liberdade e dignidade (Ilustração: Getty Images)
Estatuto do idoso garante melhor qualidade de vida com autonomia, saúde, liberdade e dignidade (Ilustração: Getty Images)

O avanço da tecnologia aumentou exponencialmente a qualidade e a expectativa de vida do ser humano. Como consequência, as populações ao redor do mundo estão ficando mais longevas, o que significa que a parcela idosa da sociedade, chamada também de "terceira idade", está cada vez maior, mais ativa e mais participativa nas atividades cotidianas.

O processo de envelhecimento, em termos fisiológicos, nada mais é do que mais uma etapa do ciclo da vida. Assim como na infância e na adolescência, ele altera a aparência física e as funcionalidades do corpo do indivíduo. Mas, em termos sociais, culturais e psicológicos, esse processo é muito mais do que isso. 

Em 2004, entrou em vigor o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741 de 2003). O texto surgiu com a premissa de dar um maior amparo jurídico a essa fase, e garantir aos idosos uma melhor qualidade de vida e um envelhecer acompanhado de direitos, para que eles possam ter autonomia, saúde, liberdade e dignidade ao passar por um dos processos mais naturais existentes. 

No âmbito internacional, o aumento da longevidade populacional chama a atenção para a criação e implantação de maiores iniciativas que visem a proteção dos indivíduos da terceira idade. Assim, em dezembro de 2020, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) declarou os anos de 2021-2030 como a "Década do Envelhecimento Saudável", como uma forma de alertar que o mundo não está preparado para responder aos direitos e necessidades das pessoas idosas. 

Um dos fatos mais interessantes acerca dessa resolução é que ela foi estabelecida durante a pandemia da Covid-19, que afetou fortemente os indivíduos dessa parcela populacional. Considerados quase que imediatamente como grupo de risco, os idosos se viram isolados em suas casas, muitos sem a possibilidade de contato com amigos e familiares, a não ser através de telas de celulares e computadores.

Dessa forma, as oportunidades de lazer e socialização desses indivíduos diminuíram drasticamente, o que potencializou ainda mais o lado negativo da situação em que se encontravam. Agora, com a "normalidade" à vista, os idosos estão podendo se reinserir na sociedade, mas muitos ainda sentem os impactos da pandemia, em especial nos aspectos relacionados à recreação e contato com o próximo.
 
Diante desses fatores, e aproveitando a melhoria das condições sanitárias, a Especialização em Gerontologia, curso que analisa questões relativas ao envelhecimento, da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, realizou último dia 20 de novembro, a ação “Direito de envelhecer: acesso ao lazer e à cultura em ambiente universitário”, com o objetivo de proporcionar um momento de integração e socialização para os idosos. 

Sobre a ação 

Idealizada pelos alunos da especialização, juntamente à coordenadora Elcyana Bezerra Carvalho e ao professor Evaldo Monteiro, a iniciativa trouxe 18 idosos da Comunidade São Vicente de Paulo, mais conhecida como Comunidade das Quadras, para uma manhã de atividades na instituição. A Unifor disponibilizou um ônibus para a locomoção dos participantes, que foram recepcionados com muita música, realizada por componentes da Camerata da universidade, e um lanche. 

Após o momento inicial, no qual os participantes também conheceram um pouco a estrutura da Pós-Graduação da Unifor, a programação envolveu uma orientação sobre fotografia, para que os idosos pudessem tirar fotos em seus celulares, e uma visita à exposição 50 Duetos, situada no prédio da Reitoria e em cartaz no momento. 

O objetivo por trás da ação foi oportunizar o acesso ao lazer e à cultura para um grupo de idosos, tendo como ponto de referência a Universidade de Fortaleza, que possui um campus culturalmente diversificado e repleto de atividades para todas as faixas etárias. Além disso, a iniciativa também visou o fortalecimento de vínculos em grupo, a melhoria das condições de saúde mental, e, o mais importante, o acesso às garantias previstas em normativas que versam sobre a velhice. 

De acordo com o professor Evaldo Monteiro, a ideia para a ação surgiu do campo prático do curso. Antes de tudo, professores e alunos foram até a Comunidade das Quadras para conversar com os idosos e entender mais a fundo suas necessidades. "Eles [os idosos] identificaram que estavam voltando, pós-pandemia, para o atendimento em grupo na comunidade no presencial, e então eles se queixaram muito do isolamento pelo qual tiveram que passar. Diante disso é que os alunos propuseram como uma ação de impacto essa manhã de um lazer cultural", explica. 

É importante ressaltar que essa ação de impacto, assim como tantas outras desenvolvidas dentro e fora do campus, são resultado do Programa de Desenvolvimento de Líderes da Pós-Unifor. O programa, alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, busca, por meio dessas iniciativas, formar indivíduos capazes de devolver à sociedade o conhecimento adquirido dentro da universidade. 

Impactos da iniciativa

Após a aula sobre fotografia e o passeio cultural, Monteiro conta alguns relatos dos participantes: "eles tinham se colocado como alunos, porque estavam dentro da universidade, então se sentiram acolhidos como alunos. Alguns estavam se referindo a eles próprios como estudantes, o que é uma reação muito curiosa. Depois, teve um um áudio que uma idosa soltou para nós de uma profunda gratidão daquele momento, falando que tinha sido importante, sobretudo pelo pós-pandemia, poder voltar a circular e ter esse momento de encontro tão gratificante", narra. 

O professor explica que os idosos, de modo geral, se ressentiram muito com a questão do isolamento, e nesse momento tão solitário, a questão da tecnologia era um alívio, mas infelizmente muitos não dispunham ou não sabiam manipular muito bem os aparelhos. Então, essa iniciativa, resultante da sensibilidade do corpo discente e docente do curso de Gerontologia em perceber essa demanda, também serviu para que os idosos pudessem se conectar, ainda que brevemente, com o mundo tecnológico.

Como intencionado, o público da terceira idade foi o grande beneficiado pela ação. Porém, a Unifor, ao servir de espaço para iniciativas como essa, agrega muito valor à sua posição como instituição que se preocupa não só com a comunidade acadêmica, mas também com a realidade da população atendida, como observado por Monteiro. Segundo ele, projetos como esse servem de reforço para a conexão da realidade vivida com a teoria acadêmica, e como isso se aplica na relação de ensino e aprendizagem.