null Por que achamos nossa voz esquisita ao ouvirmos ela gravada? Especialista explica

Qui, 11 Março 2021 17:40

Por que achamos nossa voz esquisita ao ouvirmos ela gravada? Especialista explica

Charleston Palmeira é professor do curso de Fonoaudiologia da Universidade de Fortaleza e conta a razão do fenômeno.


Docente do curso de Fonoaudiologia, Charleston Palmeira explica a fisiologia por trás da escuta da própria voz. (Foto: Acervo Pessoal)
Docente do curso de Fonoaudiologia, Charleston Palmeira explica a fisiologia por trás da escuta da própria voz. (Foto: Acervo Pessoal)

Que voz estranha é essa?”. Certamente você já se perguntou isso ao ouvir um áudio que enviou a alguém, ou assistiu a gravação de um vídeo seu. Com o advento da tecnologia e a forte presença das redes sociais, as pessoas passaram a se ouvir muito mais do que antes; antigamente, o mais perto que um indivíduo comum chegava de ouvir a própria voz era através de uma secretária eletrônica. 

Mas, se o som que uma pessoa ouve ao falar é diferente do captado por aparelhos, ou da voz ouvida por outras pessoas, porque acontece esse estranhamento com a própria voz? O Unifor Notícias foi atrás de fonoaudiólogos e professores de áreas relacionadas para saber mais sobre esse fenômeno. Confira:

Como ouvimos nossa voz?

De acordo com Charleston Palmeira, fonoaudiólogo e professor do curso de Fonoaudiologia da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, a explicação para o indivíduo ouvir a própria voz de formas diferentes é puramente fisiológica. A nossa voz, de acordo com Palmeira, é produzida por um tubo denominado laringe. O ar, ao passar por esse tubo, faz vibrar as pregas vocais, produzindo, assim, um som. O professor explica que esse som é percebido pelo indivíduo de duas maneiras: a primeira, pela via aérea, e a segunda, pela via óssea

A via aérea é caracterizada pelo som que sai da boca e entra nos ouvidos. O indivíduo percebe, assim, o som que está produzindo. Ou seja, a sua voz. Sobre a via óssea, o fonoaudiólogo explica: “A outra percepção ocorre porque essa vibração [das pregas vocais] faz vibrar também as estruturas ósseas no meu pescoço, na minha cabeça. Assim, a vibração chega ao aparelho auditivo e eu me escuto através dela”, esclarece.

A verdadeira voz

Quem nunca, após ouvir a própria voz em um áudio, se perguntou: “então essa é a minha voz de verdade?” ou “é assim que as pessoas me escutam?”. Infelizmente, para aqueles que não gostam da própria voz, a resposta é sim. Segundo Palmeira, a voz gravada, aquela que vai ser socializada, não tem o acréscimo da via óssea. Ou seja, o indivíduo, assim como os demais, escuta a voz apenas por intermédio da via aérea. “Então, a nossa verdadeira voz é a voz que está gravada”, afirma o fonoaudiólogo.

O professor, que também possui mestrado em Psicologia, fala sobre a relação das sensações humanas com a voz: “Eu posso ter uma sensação de tensão ou de relaxamento. Posso ter uma sensação de secreções na minha garganta quando eu estou falando. Eu posso sentir ressecamento na minha cavidade oral, e isso pode não passar para a minha voz gravada. São sentimentos meus, são sensações minhas”, pontua.


Ouvir a própria voz é algo mais moderno do que parece. (Foto: Pixabay)

O impacto das tecnologias

A gravação e a transmissão da voz acontece há um tempo. Porém, a não ser que você fosse um profissional relacionado a essas áreas (como locutores de rádio, apresentadores, atores ou músicos), não iria ter interesse, e talvez nem os meios, para gravar a sua voz. Ou, se tivesse a curiosidade, a probabilidade de não gostar do que ouvir, sentir uma certa vergonha e não querer repetir o processo, era alta. 

Hoje, a comunicação virtual, seja por meio de aplicativos de mensagens instantâneas, vídeos ou podcasts, está presente em quase todos os aspectos da sociedade. Talvez seja por isso que, com o uso acelerado desses meios, o estranhamento com a própria voz tenha diminuído. “Acho que há alguns anos isso era mais recorrente. Acontecia com mais frequência, porque as pessoas não tinham tanto o hábito de estar gravando [a própria voz]. E hoje, essas tecnologias estão nos possibilitando ter essa realidade mais próxima, cada vez mais fazendo parte do cotidiano” afirma Kátia Patrocínio, radialista e professora do curso de Jornalismo da Unifor.

Com anos de experiência no campo da locução de notícias, Kátia conta que, pela experiência com as tecnologias, os novatos na área já se sentem mais à vontade, não apresentando mais tanta timidez como antigamente. Agora que o mistério foi solucionado, o importante é livrar-se das inseguranças e amar a própria voz de todas as formas, pois, independente da forma como é ouvida, ela faz parte de você.