null Projeto “Futebol pela Igualdade” fortalece o empoderamento de meninas e mulheres

Seg, 22 Novembro 2021 14:55

Projeto “Futebol pela Igualdade” fortalece o empoderamento de meninas e mulheres

Iniciativa do Instituto Esporte Mais acontece no Campo Society da Universidade de Fortaleza 


O Futebol pela Igualdade já atendeu mais de 860 meninas e mulheres. Atualmente, o projeto conta com 100 participantes entre a faixa etária de 10 a 35 anos (Foto: Ares Soares)
O Futebol pela Igualdade já atendeu mais de 860 meninas e mulheres. Atualmente, o projeto conta com 100 participantes entre a faixa etária de 10 a 35 anos (Foto: Ares Soares)

O futebol chegou ao Brasil no final do século 19, porém, existem registros de sua prática no continente asiático datados de 2.600 a.C. Ou seja, essa modalidade esportiva já existe há muito tempo. Mas, acredite ou não, o futebol feminino só foi legalizado no maior país da América do Sul na década de 1980, quase um século após sua chegada. 

Durante muitas décadas do século 20, o esporte era praticado de forma clandestina por mulheres ao redor do país. Isso aconteceu até a sua regulamentação, em 1983, o que marcou o surgimento dos primeiros times profissionais de futebol feminino no Brasil. Cinco anos depois, em 1988, a primeira seleção feminina foi convocada para participar de um torneio experimental na China, o que trouxe mais visibilidade para o time e para a modalidade. 

A partir daí, foi criada a Primeira Copa do Mundo Fifa de Futebol Feminino, e a categoria passou a fazer parte dos Jogos Olímpicos. Em 2009, aconteceu a primeira edição da Copa Libertadores da América de Futebol Feminino e, em 2013, surgiu o primeiro Campeonato Brasileiro voltado apenas para times femininos.

Hoje, no Brasil, os clubes de futebol que desejam participar e disputar em competições na categoria masculina, são necessariamente obrigados a ter times femininos, o que possibilitou  uma maior disseminação da modalidade no país, e abriu ainda mais portas para as praticantes do esporte e para todas as meninas e mulheres que tinham o sonho de entrar em campo. 

Futebol pela igualdade  

Ainda que, atualmente, as mulheres já encontrem mais possibilidades dentro do futebol, a história da modalidade feminina no Brasil é repleta de proibições, descasos e preconceitos, e alguns desses aspectos estão presentes até hoje. Mas, ao mesmo tempo, sua trajetória também é sobre superação, quebra de barreiras, representatividade e ocupação de espaços que são das mulheres por direito. 

Ao longo dos anos, diversas Organizações Não Governamentais (ONGs) e Institutos ao redor do país criaram projetos e desenvolveram iniciativas com o objetivo de possibilitar uma maior inclusão feminina no futebol e no universo dos esportes em geral. E foi com esse intuito que, em 2015, o Instituto Esporte Mais (IEMais), localizado em Fortaleza e comandado por três mulheres, criou o projeto Futebol pela Igualdade.  

De acordo com Jessyca Rodrigues, uma das líderes do IEMais, a iniciativa é o principal programa de mudança social do Instituto, e busca promover o acesso e a permanência ao esporte seguro e inclusivo para meninas e mulheres na capital cearense. De início, o projeto acontecia na Areninha do bairro José Walter, porém, em 2021 passou a funcionar também no Campo Society da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz.

Em quase seis anos de existência, o Futebol pela Igualdade já atendeu mais de 860 meninas e mulheres. No momento atual, o projeto conta com 100 participantes entre a faixa etária de 10 a 35 anos, idades compreendidas pelo programa. Um dos muitos diferenciais da iniciativa é a sua equipe multidisciplinar, constituída apenas por mulheres, para que o intuito do projeto seja ainda mais reforçado. 

As participantes, independente da idade, contam com o apoio de uma coordenação geral, uma Assistente Social, duas treinadoras de Futebol, duas estagiárias de Educação Física, além de profissionais de Nutrição e Psicologia. Segundo Rodrigues, o plano é aumentar essa equipe e agregar pessoas de outras áreas, como profissionais da Fisioterapia e da Comunicação, e trazer para as atletas oportunidades de cursos, formações de liderança e capacitações profissionalizantes. 

Assim, a iniciativa vai muito além de permitir o acesso de meninas e mulheres a um campo de futebol. "O projeto busca promover o empoderamento por meio da representatividade, oportunidades e conhecimento dos direitos", afirma Jessyca. Para isso, a metodologia utilizada envolve o ensino de habilidades esportivas, socioemocionais e profissionais, sempre visando o aumento da autoestima e da autoconfiança das participantes, e da oferta de esporte e atividade física para o público feminino da capital cearense. 

Para 2022, a meta é beneficiar ainda mais meninas e mulheres, e que, com o apoio de patrocinadores, o número de núcleos e modalidades ofertadas pelo programa, que hoje são duas - Futebol e Futebol de Sete -, possa ser ampliado. Atualmente, o Futebol pela Igualdade acontece às terças e quintas-feiras, das 15h às 18h, na Areninha do José Walter, e às segundas, quartas e sextas-feiras na Unifor, no mesmo horário. 

Para todas as que desejam participar, basta procurar a equipe do projeto nos locais de funcionamento, ou entrar em contato com as responsáveis em seu perfil do Instagram (@futebolpelaigualdade), e preencher a ficha de cadastro. De acordo com a idealizadora, dependendo do núcleo, tem chamada imediata. Porém, caso não haja vaga, a iniciativa possui um cadastro de reserva, e entrará em contato à medida que a disponibilidade aumentar.  

Segurança para chutar a bola

Jessyca conta que o projeto surgiu da indignação que ela e as outras líderes do IEMais, a Daiany Saldanha (criadora do Instituto), Patrícia Távila e Gioconda Paula, compartilham em relação à situação das mulheres no mundo futebolístico. Todas as três são profissionais de Educação Física e, durante a adolescência e a época da faculdade, jogavam futebol e futsal e enfrentavam diversos desafios, como o preconceito e o assédio. Infelizmente, estes obstáculos estão presentes até hoje, e afetam diretamente a participação feminina no esporte. 

"A gente meio indignada com essa situação, a partir da metodologia que trabalhamos, começamos a pensar em ideias de oficinas práticas para trabalhar os temas dos direitos das mulheres, da cultura de paz, da questão do fim da violência contra a mulher, entender o que era assédio, entender que nós não precisávamos aceitar tudo isso que a gente sofria, e que existia um jeito de praticar esporte e igualdade", explica a idealizadora.

Ela reforça que a escolha de trabalhar exclusivamente com o público feminino se deve ao difícil histórico de negligência e roubo de direitos sofrido por meninas e mulheres ao longo dos anos. A profissional de educação física menciona um relatório realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) sobre atividade física e esporte, no qual consta que o número de meninas e mulheres praticando esporte é 40% inferior ao dos homens. 

"Se a gente se aprofundar nesse estudo, vamos entender que uma das causas é meninas e mulheres não se sentirem seguras para a prática esportiva. Os relatos de violência no esporte, relatos de assédio, tudo isso, contribuem para que elas se afastem da atividade esportiva", explica Rodrigues. Dessa forma, o IEMais desenvolveu o programa com o intuito de oferecer um lugar seguro e inclusivo, tanto físico quanto emocionalmente, para a prática futebolística feminina.

Ao ser questionada sobre a importância do Futebol pela Igualdade para o Estado do Ceará, Jessyca pontua que a iniciativa contribui muito para a redução das desigualdades de gênero, e que a preocupação direta com as participantes em todas áreas de suas vidas é o que faz a diferença. Assim, as integrantes são tratadas de acordo com as suas necessidades, fazendo com que desenvolvam autonomia e fortaleçam a sua autoestima, contribuindo diretamente para o aumento da representatividade feminina no universo esportivo. 

A força do empoderamento 

A história de Emilisamara da Silva com o futebol começou ainda nos tempos de escola. "Comecei participando de um treino para participar do Interclasses, no qual fomos campeões, e desse dia em diante, nunca mais deixei o futebol. Jogava no meio dos meninos em um campinho de areia onde tinha vários cavalos, e tínhamos que tirá-los do meio para poder bater aquele racha de final de tarde", relembra. 

Hoje, a autônoma de 33 anos participa do Futebol pela Igualdade, e conta que descobriu o projeto graças à treinadora Mayra, que perguntou se Emilisamara e sua filha tinham interesse em fazer parte da iniciativa. Assim, em 14 de agosto deste ano, as duas passaram a ir aos treinos e, de acordo com a integrante, a paixão pelo futebol e pelo projeto só aumenta.

"Cada dia que passa, o projeto está crescendo mais e sendo reconhecido na nossa cidade. É muito gratificante fazer parte dessa grande família de mulheres e meninas que tem o objetivo de que o futebol feminino seja conhecido e tenha muito respeito no nosso estado. E, apesar de alguns países terem predominância na prática com homens, no Ceará o futebol feminino está crescendo e tendo algumas portas abertas", Emilisamara da Silva, participante do Futebol pela Igualdade. 

Nesses três meses, da Silva já não consegue mais contar nos dedos os benefícios que o programa trouxe para a sua vida. Além de muito aprendizado sobre o futebol, novas técnicas e agilidade, a atleta passou a conhecer os direitos das mulheres, e a se tornou uma mulher mais empoderada, com a autoestima lá em cima. Ela ainda menciona as rodas de aceitação e inclusão desenvolvidas pelo projeto, responsáveis por mostrar que não se deve ter preconceito com ninguém, independente de cor ou raça. 

Sobre o Instituto Esporte Mais

Nas palavras de Jessyca Rodrigues, o Instituto Esporte Mais é referência no Empoderamento de Meninas e Mulheres através do Esporte e participa de importantes redes nacionais como: ONU Mulheres, Rede Meninas e Igualdade de Gênero, Rede Esporte pela Mudança Social, Rede Treino Social e Coalizão de Impacto Coletivo pelas meninas e mulheres no esporte, sendo uma importante instituição que contribui para a redução das desigualdades de gênero.