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Seg, 19 Julho 2021 10:59

Saiba como o ensino de Libras incentiva a acessibilidade e a inclusão no Ensino Superior

A inserção da Língua Brasileira de Sinais como disciplina amplia a inclusão da comunidade surda no ambiente acadêmico 


No Brasil, a Libras foi reconhecida e oficializada como língua em 2002 (Foto: Getty Images)
No Brasil, a Libras foi reconhecida e oficializada como língua em 2002 (Foto: Getty Images)

Existem diversas formas de se comunicar. Ao longo de sua existência, o ser humano, versátil e adaptável, desenvolveu incontáveis maneiras de expressar o que pensa e o que sente. A língua falada é apenas uma delas, assim como a língua de sinais, meio de comunicação utilizado por comunidades surdas ao redor do mundo.

Porém, a língua de sinais não é universal. Não existe uma que englobe todos os países e culturas presentes no globo. Dessa forma, muitas nações desenvolveram a sua linguagem: nos Estados Unidos, as comunidades surdas utilizam a ASL (Língua Americana de Sinais, em tradução livre); na França, a LFS (Língua Francesa de Sinais); e, no Brasil, a Língua Brasileira de Sinais, mais conhecida como Libras.

Segundo Chrystiane Porto, especialista em Libras e Psicomotricidade, e professora do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz. "A Língua de Sinais permite ao surdo um desenvolvimento completo de sua linguagem, pois, sendo uma língua de modalidade espaço-visual, não há dificuldade para sua aquisição e, portanto, é aprendida espontaneamente pelo surdo, sem a necessidade de um treinamento específico", destaca. 

Regulamentar é necessário

No Brasil, a Libras foi reconhecida e oficializada como língua apenas em 2002, por meio da Lei de nº 10.436, que confirmou a linguagem utilizada pela comunidade surda brasileira como meio de comunicação e expressão. Três anos depois, essa mesma lei foi regulamentada através do Decreto 5.626/2005, que trouxe em sua legislação diversas decisões acerca do direito dos estudantes surdos à educação. 

Ambos os documentos oficiais tornaram obrigatória a inserção da disciplina de Libras nos cursos de licenciatura e pedagogia. No curso de Fonoaudiologia, o único fora da área de licenciatura, também ocorre a obrigatoriedade da presença da disciplina em sua matriz curricular. Além disso, Libras também foi inserida como cadeira optativa nos demais cursos oferecidos pelas universidades e instituições de ensino superior ao redor do Brasil. 

Libras no Ensino Superior 

Segundo a especialista, a inclusão da disciplina de Libras no ensino superior é fundamental para a comunidade surda, e pode ser considerada como uma porta de entrada para novas lutas e conquistas dos surdos. Além disso, o ensino dessa língua "é relevante tanto para a desmistificação de conceitos e atitudes equivocadas da comunidade ouvinte a respeito da surdez e do sujeito surdo, quanto para o favorecimento da formação de futuros profissionais com habilidades para comunicação com surdos usuários desta língua", afirma.

A professora também pontua o fato de que a presença da disciplina no ambiente acadêmico pode auxiliar os futuros profissionais ouvintes a interagirem de uma forma mais efetiva e respeitosa com a comunidade surda. "Quando a disciplina é ministrada no ensino superior, pode proporcionar a mobilização dos acadêmicos ouvintes, que passarão a respeitar a Libras como língua que possui a mesma função da língua oral. Ou seja, a comunicação por meio de um sistema linguístico que expressa ideias, sentimentos e ações, facilitando a inclusão educacional dos surdos usuários de língua de sinais", explica.

A luta não para por aí 

A inserção da Libras no ensino superior é uma enorme conquista para a comunidade surda brasileira. Porém, a luta não para por aí. Para que a comunidade acadêmica e o mercado de trabalho, se tornem mais acessíveis e inclusivos, Chrystiane considera relevante a ampliação da obrigatoriedade da disciplina para todos os cursos de graduação.

Além disso, a docente afirma que as barreiras nas comunicações e informações, conforme explicadas na Lei de Acessibilidade nº 5.296 de 2004, devem ser eliminadas. Para isso, "a proposição e o desenvolvimento de projetos pelos acadêmicos (futuros profissionais) nos campos da gestão, tecnologias, saúde e jurídico, orientados e supervisionados por seus professores, terá relevante impacto na inclusão e acessibilidade dos surdos", contempla a especialista.